Gosto muito de ouvir Cavaco Silva apontar os eloquentes dedos às autoridades guineenses. "não foi garantida a segurança do aeroporto numa ligação aérea com Lisboa. É obvio que isso é observado pelas múltiplas companhias aéreas do mundo inteiro. É fundamental que as autoridades guineenses apurem responsáveis pelas ações que foram desenvolvidas (...) se as companhias aéreas do mundo não tem a certeza que o aeroporto da Guiné Bissau garanta as condições de segurança, então as suas ligações ficam seriamente comprometidas. Espero, neste momento, que as autoridades guineenses façam o devido apuramento da responsabilidade do que aconteceu".
Se eu fosse guineense, não gostava. Mas este tipo de atitude só mesmo um bom psicanalista poderá explicar.
quinta-feira, dezembro 12, 2013
quinta-feira, dezembro 05, 2013
novamente o sr. crato
É praticamente impossível não falar do sr. Crato. Tido como um dos notáveis salvadores da causa educativa da nação, crítico do eduquês que teimava em grassar no interior das salas de aula, o sr. Crato emergiu naturalmente nas acéfalas cabecinhas do "ineer circle" do sr. Passos Coelho. Passos Coelho, recordemos, foi sumptuoso na crítica ao programa Novas Oportunidades lançado pelo anterior Governo. O argumentário baseava-se, tão-somente, na qualidade do ensino ministrado, aferido este na resposta quantitativa da empregabilidade prática dos discentes, como se o direito à educação, pura e simples, não bastasse para alguém decidir... estudar ou reestudar.
Assim, o sr. Crato pôs em marcha um saudosismo oculto, com a retoma de velhos princípios educativos como, por exemplo, uma espécie de austeridade pedagógica, onde o foco, agora, se centra, antes de tudo o resto, nos professores. Os mega agrupamentos, iniciados pela extraordinária Lurdes Rodrigues, são apenas uma resposta económica, sem qualquer enquadramento pedagógico válido. Não obstante, esta infeliz decisão teve devastadoras e irrecuperáveis consequências na vida de muitos professores. Depois, veio a história da mobilidade dos professores. Mais uma vez, não existe, aqui, quaisquer indícios de pensamento pedagógico. Os deves e haveres emanados do excel do ministério das finanças impunham-se!
De repente, talvez sugerido por uma qualquer luminária ainda maior do que o sr. Crato, eis que relampeja, descarada, uma prova de exame para os professores contratados, desinspiradamente denominada prova de avaliação de conhecimentos e capacidades dos professores contratados. Só o nome bastava para ridicularizar a coisa. Conhece-se a razão invocada: aferir a qualidade dos professores. É ridículo, obviamente. E mentiroso, acima de tudo. Se fosse essa a razão, então teria de ser alargada a todo o universo docente e não apenas a dez por cento, como se a suposta deformação dos ensinamentos escolares residisse, irrevogavelmente, nesta abnóxia percentagem. O sr. Crato recuou: em vez de todos os professores, farão a prova os que têm menos de cinco anos de serviço. Assim se afere a qualidade dos professores!
Por tudo isto, parece-me mais do que evidente que Nuno Crato é alguém absolutamente impreparado e incompetente para presidir ao que quer que seja, muito menos ao ministério da educação. Não lhe vou pedir que cumpra uma prova de avaliação de conhecimentos e de competência (vigiado, porventura, pelos seus colegas ministros), mas posso, como português que se preocupa com a causa pública, em geral, e educativa, em particular, implorar-lhe que se demita.
Assim, o sr. Crato pôs em marcha um saudosismo oculto, com a retoma de velhos princípios educativos como, por exemplo, uma espécie de austeridade pedagógica, onde o foco, agora, se centra, antes de tudo o resto, nos professores. Os mega agrupamentos, iniciados pela extraordinária Lurdes Rodrigues, são apenas uma resposta económica, sem qualquer enquadramento pedagógico válido. Não obstante, esta infeliz decisão teve devastadoras e irrecuperáveis consequências na vida de muitos professores. Depois, veio a história da mobilidade dos professores. Mais uma vez, não existe, aqui, quaisquer indícios de pensamento pedagógico. Os deves e haveres emanados do excel do ministério das finanças impunham-se!
De repente, talvez sugerido por uma qualquer luminária ainda maior do que o sr. Crato, eis que relampeja, descarada, uma prova de exame para os professores contratados, desinspiradamente denominada prova de avaliação de conhecimentos e capacidades dos professores contratados. Só o nome bastava para ridicularizar a coisa. Conhece-se a razão invocada: aferir a qualidade dos professores. É ridículo, obviamente. E mentiroso, acima de tudo. Se fosse essa a razão, então teria de ser alargada a todo o universo docente e não apenas a dez por cento, como se a suposta deformação dos ensinamentos escolares residisse, irrevogavelmente, nesta abnóxia percentagem. O sr. Crato recuou: em vez de todos os professores, farão a prova os que têm menos de cinco anos de serviço. Assim se afere a qualidade dos professores!
Por tudo isto, parece-me mais do que evidente que Nuno Crato é alguém absolutamente impreparado e incompetente para presidir ao que quer que seja, muito menos ao ministério da educação. Não lhe vou pedir que cumpra uma prova de avaliação de conhecimentos e de competência (vigiado, porventura, pelos seus colegas ministros), mas posso, como português que se preocupa com a causa pública, em geral, e educativa, em particular, implorar-lhe que se demita.
terça-feira, novembro 26, 2013
exortação à violência
Pois é, Mário Soares está muito bem acompanhado pelo Papa Francisco. O sr. Portas, o irrevogável, estará já neste momento a preparar uma declaração que será atempadamente entregue no patriarcado de Lisboa, porventura pelas mãos do extraordinário sr. Machete, agora convenientemente silencioso, expressando a sua mais profunda e católica indignação perante apelos tão pungentes à violência. Com efeito, o teor da exortação apostólica "Evangelii Gaudium", do Papa Francisco, é muito crítica aos atuais tempos que correm desregrados. Por exemplo, está lá escrito que a desigualdade e a exclusão social "geram violência" no mundo e podem provocar "uma explosão".
Como sabiamente diz o sr. Arnaut de Mário Soares, é preciso dar-lhe um desconto. Andamos nisto.
Como sabiamente diz o sr. Arnaut de Mário Soares, é preciso dar-lhe um desconto. Andamos nisto.
domingo, novembro 24, 2013
o irrevogável sr. portas
A política é, infelizmente, também uma escola de descaramento. Ouvir o sr. Paulo Portas criticar as palavras de Mário Soares, no tom irrevogável que o carateriza, é, de facto, coisa estranha. O desavergonhamento, para o vice-primeiro-ministro, situa-se para além do infinito.
quinta-feira, novembro 21, 2013
traidor
Não quero exagerar nos vocábulos. Vou, por isso ao dicionário: traidor significa aquele que trai. Fiquei ainda na suave expetativa. Retomo então a consulta com outra entrada, a correspondência verbal do nome. Assim, trair significa, de entre outros paralelismos semânticos, "faltar ao cumprimento de, trair os seus juramentos". Fiquei mais descansado. Afinal, o meu pensamento tinha fundamento linguístico cabal.
Penso na amargurada e fragilizada Constituição da República Portuguesa. Como qualquer Lei Fundamental de qualquer país Europeu, é dela que nascem os alicerces do Estado de Direito, por exemplo. Daí que me sinta particularmente revoltado quando vejo os sucessivos bombardeamentos que a Constituição tem sido alvo ao longo dos últimos tempos, tanto interna, como externamente.
Há um ator político que tem como principal função a defesa intransigente da Constituição. Lembro-me de o ver a jurar o rigoroso cumprimento dos preceitos dela emanados. Não sei se o Presidente da República Portuguesa pode ser considerado, dentro do registo sinonímico da palavra, um traidor. Sei, por certo, que a sua existência política se carateriza por uma não-existência. E isso é igualmente muito grave.
Penso na amargurada e fragilizada Constituição da República Portuguesa. Como qualquer Lei Fundamental de qualquer país Europeu, é dela que nascem os alicerces do Estado de Direito, por exemplo. Daí que me sinta particularmente revoltado quando vejo os sucessivos bombardeamentos que a Constituição tem sido alvo ao longo dos últimos tempos, tanto interna, como externamente.
Há um ator político que tem como principal função a defesa intransigente da Constituição. Lembro-me de o ver a jurar o rigoroso cumprimento dos preceitos dela emanados. Não sei se o Presidente da República Portuguesa pode ser considerado, dentro do registo sinonímico da palavra, um traidor. Sei, por certo, que a sua existência política se carateriza por uma não-existência. E isso é igualmente muito grave.
quarta-feira, novembro 20, 2013
ganhamos, vamos ao mundial!
Ponto final? Não, claro que não. E era precisamente nestes aspetos que deveríamos copiar o comedimento de outros povos. É óbvio que fiquei contente com o apuramento de Portugal para o Mundial no Brasil. Mas o que aí vem, de ora em diante, com Ronaldo a melhor do mundo, as razões e os recados deste e daquele, o brilhantismo dos comentadores, as televisões vergadas ao populismo mais ignóbil, etc., etc., etc. leva-me a concluir que tudo isto era, alegremente, desnecessário. Mais um sedativo para o povão.
quarta-feira, novembro 13, 2013
mário soares
De vez em quando aparecem pessoas de outras alturas que nos aclaram a alma, tão vilmente obscurecida por estes absolutos transgressores que nos calharam no carrossel da vida. Desta vez, foi Adriano Moreira, a respeito de Mário Soares: "Foi um combatente e parece que quer morrer a combater".
É assim a vida.
É assim a vida.
segunda-feira, novembro 11, 2013
deixem falar o homem
Rui Machete anda desgraçado. Quando abre a boca, sai a invariável asneira. Depois, há aquela sintomatologia dos outros que ouvem, como se as declarações do sr. Machete tivessem relevância nos mercados. Como se as declarações do sr. Portas tivessem relevância nos mercados. Como se as declarações do sr. Coelho e do sr. Seguro juntas tivessem alguma sinalética no mundo financeiro internacional, designadamente nos mercados. Para além disso, acaso teria dito alguma asneira o sr. Machete? Não tem a maioria dos países do euro, Alemanha incluída, taxas de juros baixas? Salva-nos o tradutor oficial do PSD, o sr. Marco António, para ficarmos devidamente esclarecidos.
segunda-feira, novembro 04, 2013
a privativação educativa
Vi a reportagem da TVI sobre as chamadas escolas contratualizadas. Fico abismado com o que é desgraçadamente óbvio: os favores e os desgovernos de uma fraca República. Para mim, bastaria uma pequena questão: como é possível um Estado laico financiar um colégio religioso?
No entanto, não é este o enfoque da reportagem. Esta, oportunamente, põe em causa a seriedade de gente formada num chico-espertismo nacional: ex-governantes que passam a presidentes e conselheiros de grupos de ensino, por exemplo. Escolas públicas capazes de receber turmas mas que as não recebe porque o Estado está a financiar o colégio mesmo ali ao lado. Apesar de toda a cartilha neoliberal deste Governo, isto não é liberdade de ensino. Até porque as diretrizes para estas escolas contratualizadas não diferem daquelas que são apresentadas à escola pública. O que diverge aqui diz respeito, fundamentalmente, às condições oferecidas a uma e a outra. E volta-se, sempre, à enviesada questão que tanto agrada a esta gente: por que razão os pais não podem escolher as escolas dos filhos?
No entanto, não é este o enfoque da reportagem. Esta, oportunamente, põe em causa a seriedade de gente formada num chico-espertismo nacional: ex-governantes que passam a presidentes e conselheiros de grupos de ensino, por exemplo. Escolas públicas capazes de receber turmas mas que as não recebe porque o Estado está a financiar o colégio mesmo ali ao lado. Apesar de toda a cartilha neoliberal deste Governo, isto não é liberdade de ensino. Até porque as diretrizes para estas escolas contratualizadas não diferem daquelas que são apresentadas à escola pública. O que diverge aqui diz respeito, fundamentalmente, às condições oferecidas a uma e a outra. E volta-se, sempre, à enviesada questão que tanto agrada a esta gente: por que razão os pais não podem escolher as escolas dos filhos?
a reforma do estado do sr. portas
Andamos há meio século a falar de reforma do Estado, já nos idos marcelistas. Foi pois necessário o surgimento deste verdadeiro D. Sebastião para que das trevas se fizesse luz. O Sr. Portas, valoroso e patriótico homem, prometeu. Prometeu e cumpriu. Finalmente, o documento que alterará as nossas vidas, o nosso Estado, a nossa República, entrou de um inchamento rompante nas telas televisivas. O sr. Passos não se ouve, as ululações centristas são variegadas e oportunas no comentário. Até o nosso presidente refletiu. Pela minha parte, humilde e interessado cidadão deste nosso canto europeu, desejo apenas saber se o documento que o sr. Portas zelosa e sabiamente concebeu é também da classe dos irrevogáveis.
quinta-feira, outubro 31, 2013
sinais e sacrifícios
Basta um pouco de lustro num qualquer indicador para o Governo vislumbrar um doce encanto de final da crise, da recessão, do desemprego. A par disso, o inestimável primeiro-ministro realça, no parlamento solene, o sacrifício (odiosa e hipócrita palavra) dos portugueses, verdadeiros heróis do nosso tempo. São, pois, os portugueses os autênticos obreiros deste Portugal moderno, os portugueses que emigraram, expulsos e envergonhados, os portugueses a quem lhes é oferecido um definitivo desemprego, os portugueses que passaram a substituir o jantar por um caldinho de legumes, os portugueses que deixaram de estudar, os portugueses que comem nas cantinas das escolas no tempo de férias, os portugueses que não compram os manuais escolares, os portugueses que esperam a morte, desamparados de qualquer segurança social, os portugueses que regressam a casa dos pais, os pais que regressam a lado nenhum. Gente ousada, diria novamente Camões deste nobre povo luso.
quarta-feira, outubro 30, 2013
a reforma do estado
O irrevogável Portas apresentou hoje, finalmente, a sua reforma do Estado português. Ouvi-o sem a atenção que o assunto naturalmente merece. O problema não é da reforma: é do reformador.
ronaldices
Hoje o dia tem sido marcado pela injúria de Blatter para com Portugal! Falta ainda ouvir o Presidente Cavaco, o da República.
Entretanto, urdiu-se de imediato uma afoita petição na internet com a patriótica exigência da demissão do senhor Blatter. Em poucas horas, o número dos portugueses indignados e atingidos alcançou os dez mil. Neste mesmo dia, um homem no limite (41 anos, desempregado, sem quaisquer rendimentos, doente e ainda em dívida para com a Segurança Social) campeou-se à porta do Palácio de Belém. Para este não existe petição nem indignação. Vivemos como queremos e provavelmente como merecemos. Adormecemos.
Entretanto, urdiu-se de imediato uma afoita petição na internet com a patriótica exigência da demissão do senhor Blatter. Em poucas horas, o número dos portugueses indignados e atingidos alcançou os dez mil. Neste mesmo dia, um homem no limite (41 anos, desempregado, sem quaisquer rendimentos, doente e ainda em dívida para com a Segurança Social) campeou-se à porta do Palácio de Belém. Para este não existe petição nem indignação. Vivemos como queremos e provavelmente como merecemos. Adormecemos.
aviso à navegação: as contas autárquicas e legislativas
Surpreendente foi, indubitavelmente, a coligação em Loures entre o o PCP de Bernardino Soares e o PSD. Uma das razões invocadas foi o inexcedível argumento da estabilidade governativa. Nada de novo, portanto. Todos os vencedores de eleições desafiam os vencidos para a estabilidade. Sócrates fê-lo, no seu último governo. Curiosamente, PCP e Bloco de Esquerda não aceitaram o desafio, em nome, é claro, das irrevogáveis fronteiras programáticas. Também sabemos que para o CDS-PP não existe o irrevogável. Dirão alguns, porventura os menos ideológicos, que importa abrir novos horizontes na política. Vejam o Porto, com Rui Moreira e Pizarro (Rui Moreira não tem filiação partidária, convém sempre notar). Outros defenderão o contrário, que Bernardino traiu o partido.
A minha opinião é simples: as autárquicas são autárquicas e as legislativas são legislativas. Tendo em conta esta "la palissada", tenho para mim que, neste contexto atual, o PCP jamais poderia coligar-se com qualquer indício laranja. Para isso, seria melhor um entendimento nacional com o PS.
A minha opinião é simples: as autárquicas são autárquicas e as legislativas são legislativas. Tendo em conta esta "la palissada", tenho para mim que, neste contexto atual, o PCP jamais poderia coligar-se com qualquer indício laranja. Para isso, seria melhor um entendimento nacional com o PS.
quarta-feira, outubro 23, 2013
o presidente merceeiro
Nunca tinha visto um presidente da República Portuguesa justificar a fiscalização preventiva ou sucessiva de um Orçamento de Estado com base nos custos para o país (a reiteração anedótica de Cavaco Silva - "muito, muito, muito, muito superior" -, ao lado de Passos Coelho e do quedo Machete, é verdadeiramente elucidativa do tom paroquial do discurso do presidente). Quando se trata de assuntos tão sérios como um Orçamento de Estado, estas coisas remetem-se para uma natural irrelevância. É que estamos no cerne da política. Não saberá isso Cavaco? Penso que sim, que sabe. Acontece que o cerne da política para Cavaco Silva não se sustém para além destes recadinhos.
sábado, outubro 19, 2013
o salvador da pátria
Cavaco, na sua aura de incontornável, lá deixa de vez em quando escapar qualquer percalço comunicativo, como muitas vezes lhe convém. Estamos habituados a ouvir, da sua boa, principalmente quando se encontra para além das fronteiras pátrias, o irrevogável não falo sobre assuntos nacionais fora de Portugal (e dentro de Portugal, cada vez menos, diga-se, de passagem). No entanto, ficamos a saber que logo nesse mesmo dia - o da comunicação provocatória de José Eduardo dos Santos proclamando o fim da cooperação estratégia com Portugal - Cavaco Silva telefonou ao seu homólogo angolano. Tudo não passará de um mal-entendido, sossegou-nos Cavaco. Ainda bem.
sexta-feira, outubro 18, 2013
o delegadozito português da comissão europeia
De seu nome Luíz Pessoa com "z", e de profissão delegado em Portugal da Comissão Europeia, permitiu-se fazer declarações (assinando um texto) sobre o Tribunal Constitucional, remetendo-o para uma responsabilização sobre o que poderá advir se forem chumbadas algumas normas do Orçamento de Estado. As expressões utilizadas não são ténues: o "ativismo político" do Tribunal Constitucional trará "consequências muito pesadas para o país", o qual "pode colocar em risco a implementação do Memorando de Entendimento".
Estas declarações não são graves: são gravíssimas. E são-no não pelo inócuo sr. Pessoa que ninguém sabe quem é, mas antes pela qualidade do executivo que nos pastoreia. Ou seja: cola-se aqui o aforismo "se não te dás ao respeito não esperes seres respeitado". Pessoalmente, não me incomoda absolutamente nada que os senhores Passos Coelho, Paulo Portas e Rui Machete sejam caricaturas. O que me comicha profundamente é a atitude destes senhores enquanto governantes, a qual permite que qualquer badameco se sinta outorgado de opinar desta maneira sobre a Constituição da República Portuguesa. Indiretamente, é o próprio Presidente da República que também está aqui vilipendiado, enquanto garante do cumprimento da nossa Lei Fundamental. Que eu saiba, foram já vários os normativos enviados para o Tribunal Constitucional pelo Presidente da República. Afinal, também Cavaco é uma força de bloqueio. E como estamos em época de aforismo, "pela boca morre o peixe".
Estas declarações não são graves: são gravíssimas. E são-no não pelo inócuo sr. Pessoa que ninguém sabe quem é, mas antes pela qualidade do executivo que nos pastoreia. Ou seja: cola-se aqui o aforismo "se não te dás ao respeito não esperes seres respeitado". Pessoalmente, não me incomoda absolutamente nada que os senhores Passos Coelho, Paulo Portas e Rui Machete sejam caricaturas. O que me comicha profundamente é a atitude destes senhores enquanto governantes, a qual permite que qualquer badameco se sinta outorgado de opinar desta maneira sobre a Constituição da República Portuguesa. Indiretamente, é o próprio Presidente da República que também está aqui vilipendiado, enquanto garante do cumprimento da nossa Lei Fundamental. Que eu saiba, foram já vários os normativos enviados para o Tribunal Constitucional pelo Presidente da República. Afinal, também Cavaco é uma força de bloqueio. E como estamos em época de aforismo, "pela boca morre o peixe".
terça-feira, outubro 15, 2013
orçamentos e sacrifícios
O Governo apresentou o Orçamento de Estado (OE) para 2014, através da inefável ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque. Desde logo, parece-me crível que o que ocorreu hoje, ao fim do dia, é uma mera parte de um Orçamento de Estado. Na verdade, tendo em conta que 2013 comporta, até à data, um OE e duas retificações, não me parece sequer sério olhar para o documento e não pensarmos que será insuficiente e que carecerá de óbvias retificações, tal como os seus congéneres dos anos anteriores. Apesar disto, é natural entendermos que este primeiro documento
traça, desde logo, a linha financeira do próximo ano.
Não obstante, o OE conduziu de imediato o país ao debate. Não o país propriamente dito, o da rua, o das pessoas que diariamente palmilham a sua vida, mas o país dos comentadores. E entre estes, surfam nas ondas mais altas os economistas. Estes têm aqui mais uma oportunidade de brilhar, através da discorrência de palavreado conjetural que desagua, inevitavelmente, no avaliamento de credores e devedores, nas alternativas e ausência destas, nas heranças e culpas próprias, nas causas e nos efeitos, nos investidores, nos mercados (claro), na criação de um ambiente saudável para as empresas, no cumprimento das regras, na dívida, etc. A mim interessa-me, todavia, uma palavra, várias vezes dita pela ministra na sua conferência: sacrifícios.
Um sacrifício é, na sua orientação epistemológica, um vocábulo vasto. Com efeito, existem sacrifícios que só com a própria morte se constroem. Por vezes, também se sacrificam animais. Presumo que o Governo e Maria Luís não ajuízam deste modo quando falam de sacrifícios. Dizem que o povo português é um grande povo, sereno, e que está, nesta fase da sua história, a fazer sacrifícios notáveis. Presumo que perder o emprego para toda a vida se enquadre legitimamente no âmbito sacrifical do Governo. É que a relação entre perder ad eternum o emprego e ficar diminuído de algumas concessões contratuais é demasiado óbvia e distante para ser enquadrada na mesma esfera semântica em torno da palavra sacrifício. Por isso, convém articular muito bem as palavras. Não a articulação física, sonora, pois a esta parece que nada há a apontar, mas sim articulação conteudística, aquela que faz a diferença entre o ser sério e o ser um mero bufarinheiro. Ou bufarinheira.
Não obstante, o OE conduziu de imediato o país ao debate. Não o país propriamente dito, o da rua, o das pessoas que diariamente palmilham a sua vida, mas o país dos comentadores. E entre estes, surfam nas ondas mais altas os economistas. Estes têm aqui mais uma oportunidade de brilhar, através da discorrência de palavreado conjetural que desagua, inevitavelmente, no avaliamento de credores e devedores, nas alternativas e ausência destas, nas heranças e culpas próprias, nas causas e nos efeitos, nos investidores, nos mercados (claro), na criação de um ambiente saudável para as empresas, no cumprimento das regras, na dívida, etc. A mim interessa-me, todavia, uma palavra, várias vezes dita pela ministra na sua conferência: sacrifícios.
Um sacrifício é, na sua orientação epistemológica, um vocábulo vasto. Com efeito, existem sacrifícios que só com a própria morte se constroem. Por vezes, também se sacrificam animais. Presumo que o Governo e Maria Luís não ajuízam deste modo quando falam de sacrifícios. Dizem que o povo português é um grande povo, sereno, e que está, nesta fase da sua história, a fazer sacrifícios notáveis. Presumo que perder o emprego para toda a vida se enquadre legitimamente no âmbito sacrifical do Governo. É que a relação entre perder ad eternum o emprego e ficar diminuído de algumas concessões contratuais é demasiado óbvia e distante para ser enquadrada na mesma esfera semântica em torno da palavra sacrifício. Por isso, convém articular muito bem as palavras. Não a articulação física, sonora, pois a esta parece que nada há a apontar, mas sim articulação conteudística, aquela que faz a diferença entre o ser sério e o ser um mero bufarinheiro. Ou bufarinheira.
domingo, outubro 13, 2013
finalmente, um esclarecimento nas pensões de sobrevivência, seguindo a premissa das condições de recurso
Noventa e seis por cento dos recetores das pensões de sobrevivência não sofrerão quaisquer cortes, como o sr. vice-primeiro-ministro repetiu, orgulhoso, ladeado de dois quedos ministros. Reiterou igualmente a chamada cabala contra o Governo, uma cabala sem escrúpulos, a qual erigira completas inverdades sobre o nível dos descontos. Afinal, nada de alarmismos. Somente será progressivamente afetado o despiciente número de quatro por cento dos cidadãos que recebem - porque assim foi confiado - as referidas pensões. Posto isto, o que dizer? Afinal, não era preciso tanta azáfama em torno de
tanta ninharia. A não ser que estejamos defronte mais um número de despistamento
por parte de um tão imaginativo vice-primeiro-ministro.
quinta-feira, outubro 10, 2013
o encerramento das finanças
Uma quantidade de serviços de finanças será fechada em algumas zonas do interior do país. Sabemos que Portugal é um país extraordinariamente desigual, assimétrico nos mais variados postulados de desenvolvimento: população, serviços, riqueza produzida, etc. Há autoestradas que rasgam, impávidas, serras e planícies, num assomo de aposta progressista.
Viajo até Bragança deslizando num proeminente e promissor alcatrão, limpo, célere, com divisão de autoestrada na faixa central. Espantosamente, consigo contar os veículos que circulam nos dois sentidos. O alcatrão desenvolvimentista! A autoestrada da justiça! O túnel, um dos maiores da Europa! O progresso para o interior, finalmente!
Nesta soberba pacoviamente delicodoce, uma questão me assalta, antes de tudo: quem, no seu perfeito juízo, se estabelece numa vila de Trás-os-Montes onde tudo se define pela ausência nos seus mais variados parâmetros: ensino, justiça, mobilidade, solidariedade, saúde, serviços públicos?
Desgraçadamente, não creio que estas decisões possam ser, no futuro, ligeiramente corrigidas. Os custos, nesse tempo, serão muito maiores. Ou então é deixar morrer o interior do país, como se deixam morrer os velhos que ainda lá residem.
Viajo até Bragança deslizando num proeminente e promissor alcatrão, limpo, célere, com divisão de autoestrada na faixa central. Espantosamente, consigo contar os veículos que circulam nos dois sentidos. O alcatrão desenvolvimentista! A autoestrada da justiça! O túnel, um dos maiores da Europa! O progresso para o interior, finalmente!
Nesta soberba pacoviamente delicodoce, uma questão me assalta, antes de tudo: quem, no seu perfeito juízo, se estabelece numa vila de Trás-os-Montes onde tudo se define pela ausência nos seus mais variados parâmetros: ensino, justiça, mobilidade, solidariedade, saúde, serviços públicos?
Desgraçadamente, não creio que estas decisões possam ser, no futuro, ligeiramente corrigidas. Os custos, nesse tempo, serão muito maiores. Ou então é deixar morrer o interior do país, como se deixam morrer os velhos que ainda lá residem.
quarta-feira, outubro 09, 2013
entrevista ao primeiro ministro
Sigo a entrevista de Passos Coelho na RTP1. Como foi prodigiosamente propagandeado, Passos Coelho responde às perguntas de vinte anónimos portugueses. Uma primeira conclusão a que chego, anódina, tem a ver com um certo perfil psicodramático do primeiro-ministro: gosta de se ouvir. Para além disso, há um certo "show off" em tudo aquilo. Não é que as perguntas não sejam interessantes e pertinentes. O lado monofónico da coisa é mesmo por culpa do Sr. Passos: fala, fala e diz muito pouco.
terça-feira, outubro 08, 2013
manchete no parlamento
O titular da pasta dos negócios estrangeiros do executivo liderado por Passos Coelho esteve hoje a prestar declarações, no Parlamento, no âmbito duma comissão parlamentar. Através dos ecos lidos na imprensa, já deu para perceber, pelo menos, duas coisas: a primeira é que não se demite; e a segunda diz respeito à sua capacidade de manter inalterada a jocosidade em assuntos de Estado tão profundamente sérios.
A este respeito, vale a pena deixar aqui as suas truciladas respostas a João Ramos, do PCP, e a Helena Pinto, do Bloco de Esquerda: "é pena que tanto talento se desperdice no Bloco de Esquerda" (para Helena Pinto); "[agradeceu] não ter exigido eleições antecipadas ou a queda do Governo (...) "É uma originalidade que aprecio" (para João Ramos).
Palavras para quê? É um artista português!
A este respeito, vale a pena deixar aqui as suas truciladas respostas a João Ramos, do PCP, e a Helena Pinto, do Bloco de Esquerda: "é pena que tanto talento se desperdice no Bloco de Esquerda" (para Helena Pinto); "[agradeceu] não ter exigido eleições antecipadas ou a queda do Governo (...) "É uma originalidade que aprecio" (para João Ramos).
Palavras para quê? É um artista português!
segunda-feira, outubro 07, 2013
as pensões de sobrevivência
Antes de começarmos todos a espingardear, a torto e a direito, importa, desde logo, definir o que é uma pensão de sobrevivência. É aceitável, obviamente, acabar com estas pensões a quem é, ele próprio, um reformado, digamos, topo de gama. O que resta, já não se afigura aceitável. É muito difícil perceber isso, mesmo que a mesma pensão adquira um posicionamento legalista de herança tributária?
correos de portugal
Advinha-se mais uma privatização nacionalizada de um ativo público português. Os correos de Espanha, serviço postal público espanhol, já relevou o seu interesse pelo seu congénere luso. O objetivo, afirma Ramón Aguirre, o presidente da empresa, é alargar à Península Ibérica o alcance espanhol. Em poucos meses pode concluir-se esta operação de nacionalização, acrescentou, divinamente, Ramón.
sábado, outubro 05, 2013
nao vale a pena aumentar o caso
Diz Passos Coelho que "não vale a pena aumentar o caso" Rui Machete. Já havia afirmado mais ou menos o mesmo em relação ao sr. Relvas. Este saiu por incapacidade psicológica. Machete percorrerá idêntico caminho. Estou em crer que lhe bastará ouvir o trautear de uma "Grândola".
rui machete, um verdadeiro artista
É sim, senhor, um verdadeiro artista. Andou pelos primórdios da política e ganhou nome, o tal que costuma ser um preciosíssimo bem para o posteriori. Depois, mergulhou e limou conhecimento na muito portuguesa área curricular do chico-espertismo, como convém a um ex-ministro do burgo. Andou, portanto, a fazer pela vida durante estes anos. Presidente de várias coisas, a várias coisas apontou o seu dedo de conselheiro. Não notou, porém, que a sua vaidade (só pode ter sido por vaidade a aceitação do ministerial cargo) desaguaria, nestes hodiernos tempos, na sua caricatura. Rui Machete é, de facto, uma entediante caricatura. Entediante e triste. O que até não vinha mal ao mundo, se acaso ele não fosse irresponsável. Brincar com os alicerces de um estado de direito, amalgamando, somente por que lhe deu jeito, os poderes judiciais e políticos , não lembraria ao diabo. Joana Marques Vidal, a procuradora-geral da República, esteve bem no desmentido, mas mal na ação: deveria ter apresentado o seu pedido de demissão. Talvez assim o senhor Presidente da República colocasse o sr. Rui Machete, digníssimo ministro de Estado, no olho da rua.
sexta-feira, outubro 04, 2013
e falou, avaliativamente, a troika
E expressou-se assim:
"No caso de algumas destas medidas virem a ser consideradas inconstitucionais, o Governo teria de reformular o projeto de orçamento a fim de cumprir a meta do défice acordada. Tal, contudo, implicaria riscos acrescidos no que se refere ao crescimento e ao emprego e reduziria as perspetivas de um regresso sustentado aos mercados financeiros".
E nós, simples mortais lusitanos, com uma mão no miserável bolso e com a outra a nada fazer, calamo-nos porque o melhor é andarmos caladinhos. Cavaco Silva, afinal, tem razão: somos uns masoquistas. Porém, uma nota interrogativa me assombra: para que serve mesmo um presidente da República?
"No caso de algumas destas medidas virem a ser consideradas inconstitucionais, o Governo teria de reformular o projeto de orçamento a fim de cumprir a meta do défice acordada. Tal, contudo, implicaria riscos acrescidos no que se refere ao crescimento e ao emprego e reduziria as perspetivas de um regresso sustentado aos mercados financeiros".
E nós, simples mortais lusitanos, com uma mão no miserável bolso e com a outra a nada fazer, calamo-nos porque o melhor é andarmos caladinhos. Cavaco Silva, afinal, tem razão: somos uns masoquistas. Porém, uma nota interrogativa me assombra: para que serve mesmo um presidente da República?
sábado, setembro 28, 2013
o caso rui machete e a política do antigamente
Não quero (nem sou muito propenso a tal) arrogar uma atitude clássica do antigamente é que era bom. Mas é voz comum que atualmente os políticos não se regem, como condição fundacional da sua ação, pela idoneidade. Este governo tem sido, a este respeito, fértil em casos. Três exemplos apenas (e são muitos) gritantes: Paulo Portas, Maria Luís Albuquerque e Rui Machete. Todos conhecemos as irrevogáveis sombras que os perseguem. E estas (as sombras) possuem uma caraterística comum a todos: a mentira.
Atentemos somente Rui Machete. Omitiu, apropriadamente, no seu currículo, a passagem pela SLN. Depois, substituiu semanticamente o verbo mentir pela engraçada expressão "incorreção factual", para agora lhe chamar "erro involuntário". Perante isto, como devemos nós, portugueses desta república, apelidar o sr. Rui Machete? Aldrabão? Incorretor factual? Involuntário no erro? É só escolher. Não seria, porém, necessária toda esta novela se o sr. Machete houvesse tido a única atitude digna que um ministro poderia tomar perante estes acontecimentos: a demissão. Mas a demissão a sério, e não como a brincadeira que o sr. Portas lançou (e alcançou) no início do verão. Apetece-me aduzir, para acabar, a cansada expressão: antigamente era assim que se fazia.
Atentemos somente Rui Machete. Omitiu, apropriadamente, no seu currículo, a passagem pela SLN. Depois, substituiu semanticamente o verbo mentir pela engraçada expressão "incorreção factual", para agora lhe chamar "erro involuntário". Perante isto, como devemos nós, portugueses desta república, apelidar o sr. Rui Machete? Aldrabão? Incorretor factual? Involuntário no erro? É só escolher. Não seria, porém, necessária toda esta novela se o sr. Machete houvesse tido a única atitude digna que um ministro poderia tomar perante estes acontecimentos: a demissão. Mas a demissão a sério, e não como a brincadeira que o sr. Portas lançou (e alcançou) no início do verão. Apetece-me aduzir, para acabar, a cansada expressão: antigamente era assim que se fazia.
terça-feira, setembro 24, 2013
o sr. crato
Nuno Crato começou como todos começam: reformar o ensino. Nesta ânsia, esqueceu-se, perigosamente, do seguinte: a escola pública, grosso modo, recomendava-se. A prova disso pode ser apegada aos últimos resultados dos testes internacionais no âmbito da avaliação em língua materna, ciências e matemática, nos quais ficamos à frente de países modelo como, por exemplo, a Alemanha. Mas Crato, como, aliás, outros antes de si, não quis saber. No pódio do seu gabarito de comentador televisivo, entendeu que podia reformar a escola atuando, ab integro, de acordo com um memorando de cortes quase bíblico. Infelizmente, tudo corre mal. Como é hoje já notório, o sr. Crato não tem uma ideia sobre o rumo que a escola pública deve seguir. Possui somente uma formatação de cortes com vista à apresentação de números reduzidos do seu ministério: cheque ensino, alargamento de número de alunos na turma, mega-agrupamentos, professores sem profissionalização na área curricular que lecionam, etc., tudo serve aqui como ementa exclusiva para pensar sobre a educação. Só que a educação não é, afortunadamente, isto.
domingo, setembro 22, 2013
a aura negativa da política
Atento na verve dos líderes partidários e candidatos camarários. Quanto mais ouço, mais vontade tenho de não votar. O que se apresenta absolutamente notório é a reiteração de uma linguagem pretensamente preditiva, abnóxia, cheia de lugares comuns. Linguagem essa que vem já dos confins dos nossos tempos políticos. Estive hoje num comício. Falaram todos: o mandatário, o candidato a presidente da Assembleia Municipal, o deputado pelo distrito, o líder do partido e, finalmente, o candidato. Uma seca. Devo notar que, nos dias comicieiros de hoje, cem pessoas perfazem uma multidão. Neste sentido, importa preciosamente desfrutar de uma esvoaçante bandeirinha. Nunca nenhum dos falantes tinha visto a praça tão composta de gente. Começam logo aqui a mentir.
sábado, setembro 21, 2013
estar caladinho é o melhor remédio
O que o prestimoso ministro do ambiente afirmou a respeito das críticas do seu correligionário partidário ao cinismo institucional (penso terem sido estas as palavras lavradas por Marco António) do FMI (e, por arrasto, da Troika), aconselhando-o a navegar em águas mais calmosas, diz mais sobre o Governo do que dele próprio. Ou seja: é neste não criar ondas, nesta aceitação das imposições aritméticas, nesta escola do bom aluno que Passos Coelho e Gaspar (este já foi, como sabemos), coadjuvados por outros doutos conselheiros, emergiram toda a sua estrutura de ação governativa. Neste sentido, ninguém melhor que o despovoado Passos Coelho para receber, ab integro, todo este formulário experimentalista neoliberalizante. O sr. Jorge Moreira da Silva mais não é do que uma voz feito importante pela nossa comunicação social. O que ele disse (e já agora, a tosca resposta de Marco António, com
essa coisa de ter mais liberdade de expressão agora que já não está no Governo,
serve também como exemplo de uma perfeita tontearia) é, no fundo, o resultado do que tem sido a ablepsia política desta gente, com pesadíssimos e complicadíssimos resultados para a vida das pessoas. Vi, por acaso, no dicionário, uma máxima latina que resume tudo isto: quidquid delirant reges, plectuntur Achivi.
sexta-feira, setembro 20, 2013
os números e o país
Estes políticos pelam-se por números. Não saem deste redondíssimo discurso. Daí que qualquer nota estrangeira, seja de algum país "aliado" e imperativo, ou de qualquer agência de rating, é sofregamente absorvida pelos vários quadrantes políticos. Sabem, obviamente, que os números são suscetíveis de desenvolvimentos criativos. E também sabem que esses desvios interpretativos têm uma relação direta com a confusão gerada no cidadão comum. Os números não costumam mentir, como dizem. E as pessoas aceitam essa verdade universal. Acontece que para além dos números está a vida das pessoas. A vida que, por sinal, só se vive uma vez. Daí que todo este processo de ajustamento esteja, desde
a primeira hora, erradamente gizado. Por mais contas que se façam, não se constroem novos paradigmas sociais em três ou quatro anos. Se os senhores da Europa, se os senhores que governam a nossa república não o sabem, então mais vale adequar a célebre frase de Salazar a este tempo: orgulhosamente sós. Pelo menos, poderíamos afirmar, com toda a propriedade, eventualmente com um pacto de regime: numa geração, seremos um novo país. Sem feridos nem mortes.
quinta-feira, setembro 19, 2013
esquizofrenias
O Sr. Relvas foi-se e veio o Sr. Maduro, com melhor currículo e, acima de tudo, doutor por extenso. Veio para aligeirar, pungentemente, a comunicação do Governo. Nunca me pareceu que fosse esse o mal do executivo. Como já aqui disse, falam todos muito bem. O Sr. Passos Coelho tem até uma bela voz. Entusiasma-se, é certo, mas isso não se afigura como um mal irrevogável. Por sua vez (e já que foi para aqui chamado o adjetivo), o Sr. Portas é também um dos que têm o chamado dom da palavra. Basta vê-lo agora em campanha, austero, histórico, descasacado e desgravatado, dedo e sobreolho carregados, para facilmente concluirmos que, se fossemos todos como o Sr. Portas, o país estaria há muito sem FMI's. Ele diz que tudo fará para que esta nação com nove séculos jamais necessite de encomendas tão penosas. Daí que ande agora de braço dado com a ministra das finanças, a tal que o fez demitir-se irrevogavelmente (se todos fossemos como o Sr. Paulo Portas!...).
Mas confesso que ando confuso. Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque jornadearam até ao centro da Europa no sentido de iniciarem um périplo de convergência relativamente à oitava e nona avaliações da Troika. Pelos vistos, não convergiram lá muito bem. Olli Rehn, o comissário europeu dos Assuntos Económicos desferiu de imediato um golpe de negação relativamente à aspiração do vice-primeiro-ministro em aumentar o défice do corrente ano para 4,5% do PIB. Entretanto, o próprio FMI (um dos braços poderosos da Troika) veio dizer que os países como Portugal devem evitar reduzir os défices orçamentais demasiado depressa, pois a emenda tornar-se-á, deste modo, pior do que o soneto. Não sei, sinceramente, onde para, aqui, a novidade. É evidente que há economias e economias. Não tenho grandes dúvidas, mesmo não sendo economista, que um plano de ajuda deste tipo se ajustaria naturalmente em países como a Alemanha, por exemplo, visto que são países com uma capacidade de gerar riqueza mais célere. Assim, tratar por igual o que é diferente nunca me pareceu um bom caminho a seguir. E depois, para além disso (o que me parece desastroso) somos obrigados a pseudo-negociar, intervalarmente, com funcionários enviados, os quais não têm, visivelmente, capacidade de fugir ao guião com que entram no ministério das finanças (ou no palácio das Laranjeiras).
Para além disso - e como se não bastasse - o PSD age como um partido da oposição, ao criticar, através do seu porta-voz, Marco António Costa, o FMI de ser inflexível nas negociações. António Costa, à Jerónimo de Sousa, sublinha mesmo a hipocrisia institucional da organização internacional presidida por Christine Lagarde.
Não sei se esta incapacidade de entendimento destes atores políticos se deve exclusivamente às minhas limitações. O que eu sei é que eleições e coerência política costumam partilhar o mesmo espaço na nossa praça política.
Mas confesso que ando confuso. Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque jornadearam até ao centro da Europa no sentido de iniciarem um périplo de convergência relativamente à oitava e nona avaliações da Troika. Pelos vistos, não convergiram lá muito bem. Olli Rehn, o comissário europeu dos Assuntos Económicos desferiu de imediato um golpe de negação relativamente à aspiração do vice-primeiro-ministro em aumentar o défice do corrente ano para 4,5% do PIB. Entretanto, o próprio FMI (um dos braços poderosos da Troika) veio dizer que os países como Portugal devem evitar reduzir os défices orçamentais demasiado depressa, pois a emenda tornar-se-á, deste modo, pior do que o soneto. Não sei, sinceramente, onde para, aqui, a novidade. É evidente que há economias e economias. Não tenho grandes dúvidas, mesmo não sendo economista, que um plano de ajuda deste tipo se ajustaria naturalmente em países como a Alemanha, por exemplo, visto que são países com uma capacidade de gerar riqueza mais célere. Assim, tratar por igual o que é diferente nunca me pareceu um bom caminho a seguir. E depois, para além disso (o que me parece desastroso) somos obrigados a pseudo-negociar, intervalarmente, com funcionários enviados, os quais não têm, visivelmente, capacidade de fugir ao guião com que entram no ministério das finanças (ou no palácio das Laranjeiras).
Para além disso - e como se não bastasse - o PSD age como um partido da oposição, ao criticar, através do seu porta-voz, Marco António Costa, o FMI de ser inflexível nas negociações. António Costa, à Jerónimo de Sousa, sublinha mesmo a hipocrisia institucional da organização internacional presidida por Christine Lagarde.
Não sei se esta incapacidade de entendimento destes atores políticos se deve exclusivamente às minhas limitações. O que eu sei é que eleições e coerência política costumam partilhar o mesmo espaço na nossa praça política.
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segunda-feira, setembro 16, 2013
ronaldos e estádios
Num outro tempo, porventura dentro de algumas dezenas de anos, o homem olhará para a história e deparar-se-á com o que foi a passagem finissecular que nos abriu as portas para o que agora respiramos. Verá, então, como eram os seus iguais. Iguais no género; diferentes no que resta. E o homem, de entre o seu paradigma social, pensará:
nesse tempo gastavam milhões e milhões de euros com desportistas e todos
aclamavam, encantados. Mas também demasiadas pessoas viviam muito mal, com
carências várias. Nesse tempo de milhões, falhava a educação e a saúde. Havia “swaps”
e “mainstreams” financeiros que levavam empresas e pessoas à falência. Nesse tempo,
não havia política porque esta estava confinada à economia e esta a esse “mainstream”.
Pensará então o homem do século XXII: ainda bem que vivo neste tempo.
quinta-feira, setembro 12, 2013
relvas homenageado
As coisas que ficamos a saber quando abrimos o computador! O Sr. Miguel Relvas tem emprego: é um (ou o?) Alto-Comissário da Casa Olímpica da Língua Portuguesa. Não sei nada sobre esta casa Olímpica, mas presumo que seja coisa fértil. Mas além de ter emprego na dita, foi alvo de uma homenagem. A liberdade é isto mesmo: podemos condecorar quem bem entendermos. No caso em apreço, deveu-se ao impetuoso trabalho do sr. Relvas no incremento das relações bilaterais ao longo deste ano (!) entre Portugal e Brasil.
Parece que o sr. Relvas foi vaiado quando entrava, com o seu resplandecente sorriso, no Museu Histórico Nacional, no centro do Rio de Janeiro, lugar da cerimónia. Consta que não se descompôs. É este, afinal, o traquejo dos verdadeiros estadistas.
Parece que o sr. Relvas foi vaiado quando entrava, com o seu resplandecente sorriso, no Museu Histórico Nacional, no centro do Rio de Janeiro, lugar da cerimónia. Consta que não se descompôs. É este, afinal, o traquejo dos verdadeiros estadistas.
quarta-feira, setembro 11, 2013
linguagens - tomo segundo
O senhor Passos Coelho, primeiro-ministro de Portugal, não está, obviamente, sozinho na sua encanecida jactância discursiva. Eis que me surge inesperadamente à frente um artigo do senhor João César das Neves, ilustre economista da nossa praça, hoje transposto no Diário de Notícias, no qual vale a pena passar por lá os olhos. Começa assim:
"Nos anos 1960, Portugal era um país pacato e trabalhador, poupado e prudente, que se sacrificava generosamente, labutando dia e noite para cumprir os deveres. Frequentemente emigrava e procurava vida melhor noutras terras. E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou americanos, gostavam dele, por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Havia quem abusasse da sua dedicação, e ele sabia-o. Sentia-se enganado, mas apesar disso trabalhava com afinco".
E segue, por caminhos felizes, a deleitosa e afincada prosa de César das Neves. De repente, e não sei por que razão, lembrei-me das abluentes palmas a que o senhor Passos Coelho teve direito numa igreja de Lisboa, aquando da cerimónia de aclamação do novo cardeal. Mas devo ser eu que ando para o esquisito.
"Nos anos 1960, Portugal era um país pacato e trabalhador, poupado e prudente, que se sacrificava generosamente, labutando dia e noite para cumprir os deveres. Frequentemente emigrava e procurava vida melhor noutras terras. E os patrões, franceses ou alemães, suíços ou americanos, gostavam dele, por ser pacato e trabalhador, poupado e prudente. Havia quem abusasse da sua dedicação, e ele sabia-o. Sentia-se enganado, mas apesar disso trabalhava com afinco".
E segue, por caminhos felizes, a deleitosa e afincada prosa de César das Neves. De repente, e não sei por que razão, lembrei-me das abluentes palmas a que o senhor Passos Coelho teve direito numa igreja de Lisboa, aquando da cerimónia de aclamação do novo cardeal. Mas devo ser eu que ando para o esquisito.
linguagens
O senhor Passos Coelho não prima por cuidados de linguagem. Possivelmente, será essa faceta uma das suas maiores virtudes, pensarão os seus seguidores. O homem, afinal, está a pôr o país na ordem. A compor o que os outros (leia-se: esse tal de Sócrates e que agora tem o desplante de andar a falar todos os domingos na RTP1 que é pública e que por causa disso muita gente assinou uma petição para impedir essa imposturice) descompuseram.
Há poucos dias, virou-se, ferinamente, para um grupo de populares que o apupavam (meu deus, o homem anda a compor o país e é assim que lhe agradecem, esses comunas) questionando-os, qual adminículo, se a Constituição já tinha feito alguma coisa pelos desempregados. Hoje, numa espécie de abertura do ano letivo, numa escola em Oliveira do Bairro, afirmou que é bom uma escola possuir boas condições de trabalho, mas "sem luxo" (esse desgraçado Sócrates e o Parque Escolar!... O dinheiro que aí se esbanjou!...). Continuou, depois, a sua prelucidação, desta vez para falar sobre as baixas qualificações de muitos desempregados, um atraso secular (lembram-se das Novas Oportunidades?) que faz com que uma parte significativa dos desempregados "não tenha sequer concluído o 9º ano e tenha mais dificuldades em se adaptar às novas circunstâncias". Rematou o senhor Passos Coelho desta forma: "isso paga-se e não podemos deixar de investir para recuperar desse atraso, mas temos de fazer as nossas contas".
Não sei o que há para dizer para com este tipo de registo discursivo de um primeiro-ministro. Só me vem à cabeça que se Salazar vivesse em democracia, neste tempo, seria muito parecido com o senhor Passos Coelho; ou então, se este tivesse as mesmas responsabilidades no tempo do ditador, as diferenças seriam, inexoravelmente, delidas.
Há poucos dias, virou-se, ferinamente, para um grupo de populares que o apupavam (meu deus, o homem anda a compor o país e é assim que lhe agradecem, esses comunas) questionando-os, qual adminículo, se a Constituição já tinha feito alguma coisa pelos desempregados. Hoje, numa espécie de abertura do ano letivo, numa escola em Oliveira do Bairro, afirmou que é bom uma escola possuir boas condições de trabalho, mas "sem luxo" (esse desgraçado Sócrates e o Parque Escolar!... O dinheiro que aí se esbanjou!...). Continuou, depois, a sua prelucidação, desta vez para falar sobre as baixas qualificações de muitos desempregados, um atraso secular (lembram-se das Novas Oportunidades?) que faz com que uma parte significativa dos desempregados "não tenha sequer concluído o 9º ano e tenha mais dificuldades em se adaptar às novas circunstâncias". Rematou o senhor Passos Coelho desta forma: "isso paga-se e não podemos deixar de investir para recuperar desse atraso, mas temos de fazer as nossas contas".
Não sei o que há para dizer para com este tipo de registo discursivo de um primeiro-ministro. Só me vem à cabeça que se Salazar vivesse em democracia, neste tempo, seria muito parecido com o senhor Passos Coelho; ou então, se este tivesse as mesmas responsabilidades no tempo do ditador, as diferenças seriam, inexoravelmente, delidas.
domingo, setembro 08, 2013
os outros números
Não me deixo embalar com a abertura dos noticiários sobre a leitura dos recentes números da economia portuguesa,
a qual interrompeu o ciclo recessivo patenteado nos últimos dois anos, baixando
tenuemente o número de desempregados (a que ajudou a percentagem em crescendo
de trabalhadores não remunerados, isto é, de “indivíduos que exercem uma atividade na
empresa/instituição e que, por não estarem vinculados por um contrato de
trabalho, sujeito ou não a forma escrita, não recebem uma remuneração regular”, segundo definição do Instituto Nacional de Estatística), aumentando as exportações e os carros
vendidos, etc.
Na verdade, eu sou daqueles que pensam que todo o programa de Passos Coelho e sua equipa passava, invariavelmente, por uma efetiva alteração do paradigma socioeconómico, o qual se encontrava, unívoca e estafadamente, ligado a uma redução da despesa do Estado. Por conseguinte, não se afigura necessário a proclamação insidiosa da aplicação do documento da Troika, assinado há dois anos, pois este, quando convém, é alterado sem pruridos de grande monta. Veja-se, por exemplo, o caso da educação.
Há, com efeito, uma comutação silenciosa em curso, a qual não passa, absolutamente, pela qualidade do ensino. É claro que o ministro Crato pode afirmar o contrário, que tudo passa para conferir à escola pública uma maior projeção qualitativa, mas o que resulta das suas afirmações é pura falsidade política e até intelectual. Nuno Crato sabe muito bem a matéria que tem à frente: uma classe amorfa e assustada e sindicatos levianos, cada vez mais ligados a uma realidade que não é a sua. Não admira, por isso, que os cortes neste ministério estejam, orgulhosamente, mais para além do que era preconizado pelo memorando de há dois anos.
Esta ideia tristemente prodigiosa de permitir ao privado entrar, sob o falseado signo de uma liberdade de escolha, por parte dos encarregados de educação, na escola pública é um verdadeiro retrocesso no ensino, em Portugal. E é-o porque estamos perante duas realidades educativas distintas, uma de cariz obrigacionista e outra mercantilista, embora esta última esteja escudada na diáfana mas sempre oportuna capa protecionista do Estado. Do mesmo modo, as escolas privadas não vão querer, naturalmente, entrar num quadro educativo que tem como base os princípios republicanos do livre acesso de todos à educação. De todos, sem exceção. É um pouco como o resultado das parcerias público-privadas que nos têm ajudado na nossa paulatina imersão: privatização dos lucros; estatização dos prejuízos. Até porque, sendo o ensino particular e cooperativo parte integrante da rede escolar nacional, é regido por legislação e estatuto próprios, tendo em conta a Lei de Bases do Sistema Educativo. Daí que não entenda como é que o estatuto próprio de algumas escolas privadas – o qual pode passar, por exemplo, por uma matriz católica – se se possa enquadrar no financiamento direto por parte do Estado que – note-se neste exemplo trazido aqui à colação – é laico. Mas o que paira na cabeça dos governantes desagua invariavelmente na fria aritmética. Adrede, uma coisa se afigura certa: a escola pública não vai necessitar de alguns milhares de professores, pois estes migrarão, naturalmente, para o outro lado, cada vez mais oportunista, do ensino privado. E isso é, sem dúvida, uma excelente notícia para o ministro Nuno Crato.
Entretanto, o ensino superior registou, este ano, um decréscimo de alunos caloiros, para valores do princípio do século. A este propósito, o retrocesso não é, obviamente, contabilístico. Os números representam, fundamentalmente, um retrato social.
adenda: a entrevista que Nuno Crato deu ao Correio da Manhã é das entrevistas mais miseráveis e mesquinhas que eu li na minha vida.
Na verdade, eu sou daqueles que pensam que todo o programa de Passos Coelho e sua equipa passava, invariavelmente, por uma efetiva alteração do paradigma socioeconómico, o qual se encontrava, unívoca e estafadamente, ligado a uma redução da despesa do Estado. Por conseguinte, não se afigura necessário a proclamação insidiosa da aplicação do documento da Troika, assinado há dois anos, pois este, quando convém, é alterado sem pruridos de grande monta. Veja-se, por exemplo, o caso da educação.
Há, com efeito, uma comutação silenciosa em curso, a qual não passa, absolutamente, pela qualidade do ensino. É claro que o ministro Crato pode afirmar o contrário, que tudo passa para conferir à escola pública uma maior projeção qualitativa, mas o que resulta das suas afirmações é pura falsidade política e até intelectual. Nuno Crato sabe muito bem a matéria que tem à frente: uma classe amorfa e assustada e sindicatos levianos, cada vez mais ligados a uma realidade que não é a sua. Não admira, por isso, que os cortes neste ministério estejam, orgulhosamente, mais para além do que era preconizado pelo memorando de há dois anos.
Esta ideia tristemente prodigiosa de permitir ao privado entrar, sob o falseado signo de uma liberdade de escolha, por parte dos encarregados de educação, na escola pública é um verdadeiro retrocesso no ensino, em Portugal. E é-o porque estamos perante duas realidades educativas distintas, uma de cariz obrigacionista e outra mercantilista, embora esta última esteja escudada na diáfana mas sempre oportuna capa protecionista do Estado. Do mesmo modo, as escolas privadas não vão querer, naturalmente, entrar num quadro educativo que tem como base os princípios republicanos do livre acesso de todos à educação. De todos, sem exceção. É um pouco como o resultado das parcerias público-privadas que nos têm ajudado na nossa paulatina imersão: privatização dos lucros; estatização dos prejuízos. Até porque, sendo o ensino particular e cooperativo parte integrante da rede escolar nacional, é regido por legislação e estatuto próprios, tendo em conta a Lei de Bases do Sistema Educativo. Daí que não entenda como é que o estatuto próprio de algumas escolas privadas – o qual pode passar, por exemplo, por uma matriz católica – se se possa enquadrar no financiamento direto por parte do Estado que – note-se neste exemplo trazido aqui à colação – é laico. Mas o que paira na cabeça dos governantes desagua invariavelmente na fria aritmética. Adrede, uma coisa se afigura certa: a escola pública não vai necessitar de alguns milhares de professores, pois estes migrarão, naturalmente, para o outro lado, cada vez mais oportunista, do ensino privado. E isso é, sem dúvida, uma excelente notícia para o ministro Nuno Crato.
Entretanto, o ensino superior registou, este ano, um decréscimo de alunos caloiros, para valores do princípio do século. A este propósito, o retrocesso não é, obviamente, contabilístico. Os números representam, fundamentalmente, um retrato social.
Lamentavelmente, há quem teime, “sem
ironias e cansaços”, apelidar isto de reforma do ensino.
adenda: a entrevista que Nuno Crato deu ao Correio da Manhã é das entrevistas mais miseráveis e mesquinhas que eu li na minha vida.
sexta-feira, setembro 06, 2013
a linguagem antiderivativa do pcp
Sabemos que o Partido Comunista Português (PCP) não é propriamente um partido que se deixe levar nas ondas derivantes de um mundo político cada vez mais espumoso. Fica-lhe bem. Para mal, já basta assim. No entanto, o que é demais, por vezes, cansa.
Vem isto a propósito da reação do PCP, pela voz do apático revolucionário Jorge Cordeiro, decorrente da decisão do Tribunal Constitucional (TC) em dar seguimento às candidaturas autárquicas repetentes, embora em territórios diferenciados. Congratulou-se, pois, o partido. De que forma? Com expressões que servem para tudo (para a vitória e para a derrota). Guardo uma: deriva antidemocrática.
É evidente que o PCP tem interesses autárquicos, precisamente pela considerada intervenção dos seus presidentes de câmara. Daí que a possibilidade agora decretada pelo TC abra mais uma janela de oportunidade de o partido alargar a sua influência no domínio camarário.
Eu só gostava de ver a conceção da deriva antidemocrática do partido se, por exemplo, Alberto João Jardim se candidatasse à Presidência da Região Autónoma dos Açores.
Vem isto a propósito da reação do PCP, pela voz do apático revolucionário Jorge Cordeiro, decorrente da decisão do Tribunal Constitucional (TC) em dar seguimento às candidaturas autárquicas repetentes, embora em territórios diferenciados. Congratulou-se, pois, o partido. De que forma? Com expressões que servem para tudo (para a vitória e para a derrota). Guardo uma: deriva antidemocrática.
É evidente que o PCP tem interesses autárquicos, precisamente pela considerada intervenção dos seus presidentes de câmara. Daí que a possibilidade agora decretada pelo TC abra mais uma janela de oportunidade de o partido alargar a sua influência no domínio camarário.
Eu só gostava de ver a conceção da deriva antidemocrática do partido se, por exemplo, Alberto João Jardim se candidatasse à Presidência da Região Autónoma dos Açores.
terça-feira, setembro 03, 2013
novo governo
Remeto-me numa única expressão que o jornalista fez a António José Seguro: novo Governo. Desde quando é que estamos perante um novo Governo? Eu sei que dá jeito a Portas e Passos a fermentação desta ideia. O que acho miseravelmente mau é que os jornalistas estacionem cada vez mais numa encefalia púdica e desenvolvam este tipo de tendência (é defeito, presumo) profissional.
Na verdade, o Governo tem novo visual. Basta somente olharmos para os passeios (sem sentido pejorativo, obviamente) que Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas andam a fazer por essa Europa fora. O estilista é valioso e experiente. Afinal, estamos a entrar numa nova estação.
Na verdade, o Governo tem novo visual. Basta somente olharmos para os passeios (sem sentido pejorativo, obviamente) que Maria Luís Albuquerque e Paulo Portas andam a fazer por essa Europa fora. O estilista é valioso e experiente. Afinal, estamos a entrar numa nova estação.
segunda-feira, setembro 02, 2013
debater a constituição
Rui Machete segue a linha passista: a Constituição deve ter em conta o momento do país. Obviamente, não deve. O texto constitucional existe como um pilar fundamental do Estado de Direito e não deve seguir uma linha interpretativa literária. O texto, escrito num outro tempo mas no mesmo espaço, já foi alvo de várias reformulações, as quais obrigam, como deve ser, a uma ampla maioria de dois terços dos deputados eleitos pelo povo português. Daí que a ideia primeira deste atual primeiro-ministro de rever a Constituição tenha sentido. Na verdade, haverá aspetos que não são compagináveis com a nossa sociedade deste início de século. Mas é para estas coisas que a cultura democrática é exigida. E é também para estas coisas que servem os partidos, os deputados e a Assembleia da República.
passos de coelho
Não ouvi a célebre frase de Passos Coelho sobre a suposta culpa do texto constitucional relativamente ao número crescente de desempregados portugueses, na Universidade de Verão do Partido Social Democrata. Porém,
vi, perante um grupo de brigantinos que o vaiavam (queriam trabalhar não tinham
trabalho, segundo entendi), a sua resposta, num registo não-verbal, que foi
equivalente à exposta no encontro entre os jovens do partido, a qual se pode
sintetizar numa só expressão: paciência, é vida!
Passos Coelho não tem respeito pela Constituição da República Portuguesa, isso já sabíamos. O que parece já não o incomodar - se é que algum dia o incomodou - é o número de desempregados resultantes da política de extermínio que leva a cabo desde há dois anos, em nome de uma espécie de regulamento imposto pela Troika.
Cavaco Silva, presidente da República, é o garante da defesa da nossa lei fundamental. Jurou-o por duas vezes, quando a maioria dos portugueses lhe deu essa prerrogativa. Por conseguinte, o mínimo que se lhe exige, perante este ataque à Constituição, é o uso da palavra, tantas vezes prometida nos idos eleitorais da primeira campanha.
Passos Coelho não tem respeito pela Constituição da República Portuguesa, isso já sabíamos. O que parece já não o incomodar - se é que algum dia o incomodou - é o número de desempregados resultantes da política de extermínio que leva a cabo desde há dois anos, em nome de uma espécie de regulamento imposto pela Troika.
Cavaco Silva, presidente da República, é o garante da defesa da nossa lei fundamental. Jurou-o por duas vezes, quando a maioria dos portugueses lhe deu essa prerrogativa. Por conseguinte, o mínimo que se lhe exige, perante este ataque à Constituição, é o uso da palavra, tantas vezes prometida nos idos eleitorais da primeira campanha.
terça-feira, agosto 27, 2013
telejornalisticamente
Ainda a tempo de acrescentar algo ao que aqui escrevi, ontem ou anteontem foi notícia de telejornal o percurso que um grupo e amigos efetuou de bicicleta entre Odivelas e Lisboa, com paragem para umas cervejas no Bairro Alto.
paulo portas, o irrevogável
Este tempo estival atrasa a vida. Só agora tive oportunidade de ver a fotografia oficiosa do nosso Paulo Portas no seu gabinete ovalizado. Sentado, compenetrado, contraído e diminuído, o vice-primeiro-ministro escuta uns papéis que se estendem sobre a sua secretária.
Paulo Portas é, profundamente, um verdadeiro cromo.
Paulo Portas é, profundamente, um verdadeiro cromo.
sábado, agosto 24, 2013
dias de estio
Sabemos que são dias imensamente patéticos os das férias grandes. E talvez assim seja o melhor. O que ficamos também a saber é que se governa mais em agosto, quando todos dormem, como praticamente nos restos dos meses do ano. O governo, ainda a banhos, vai laborando meticulosamente os estragos: em nome das boas notícias que uma estúpida comunicação social televisiva vem escoando, a meta das metas despoleta um tendencioso e perigoso alcance: arrumar o país. Mas como o país não existe sem o humano que o compõe, há que arrumar estes animais que, embora racionais, não têm já pachorra nem forças para aguentar os Portas, os Pedros, os Cavacos, os agora Pires de Lima da nossa Lusitânia pátria.
sexta-feira, julho 26, 2013
novos governos
Desde que o louco D. Sebastião resolveu vingar como mata-mouros real em Alcácer-Quibir, forçados fomos a esperar por alguém saído dum frondoso nevoeiro que nos empurrasse para a abastança. Entretanto, tivemos vários D. Sebastiões. Cavaco, por exemplo, continua a ser, para muitos, um deles. O sr. Borges, outro, agora merecidamente desaparecido. O último parece ser Pires de Lima. E ele parece que gosta do cargo real. Ao contrário da maioria da opinião publicada (começa a cansar ler os jornais), não consigo entrar na onda. Nem simpatizo, nem antipatizo. É, simplesmente, mais um para quem o ser um ex-ministro lhe fará, decerto, muito jeito.
adenda: quanto à introdução em cima do joelho do experimentadíssimo Rui Machete, agora elevado a senador da República, tenho somente a acrescentar o seguinte: quem passou e foi pago por um cargo tão importante como o de presidente do Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a dona do Banco Português de Negócios (BPN), "onde o Estado português injetou a fundo perdido cerca de 4 mil milhões de euros" (Público) não pode exercer quaisquer funções num estado republicano. Não é por acaso que estes senhores eliminam esta experiência nos seus currículos profissionais.
adenda: quanto à introdução em cima do joelho do experimentadíssimo Rui Machete, agora elevado a senador da República, tenho somente a acrescentar o seguinte: quem passou e foi pago por um cargo tão importante como o de presidente do Conselho Superior da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), a dona do Banco Português de Negócios (BPN), "onde o Estado português injetou a fundo perdido cerca de 4 mil milhões de euros" (Público) não pode exercer quaisquer funções num estado republicano. Não é por acaso que estes senhores eliminam esta experiência nos seus currículos profissionais.
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segunda-feira, julho 22, 2013
os bons exemplos portugueses, segundo cavaco
Cavaco é expectável. E é mais um para o clube dos irrevogáveis. De facto, o que há uma semana implicava eleições antecipadas para junho, depois da saída da troika, para se "iniciar um novo ciclo político", virou agora em nada: o Governo cumprirá a legislatura. Ou seja: eclipsou-se a razão que o Presidente da República tinha dado por indeclinável para a realização de eleições legislativas. A dúvida consistiria, por isso, em saber se as eleições antecipadas por Cavaco há oito dias seriam ainda mais antecipadas, isto é, se convocaria eleições já para setembro.
Mas Cavaco Silva é Cavaco Silva. A sua arrumadinha cabeça está já planando no justo descanso do guerreiro, com mais um dever cumprido, mais um alto serviço prestado à pátria e, já agora, a ele próprio. Engana-se redondamente se pensa que depende dele a convocação de eleições. Em democracia ninguém governa contra o povo. E o povo português, por costume hodierno demasiado apático, pode começar a não achar piada a esta baixa política.
Cavaco Silva, na sua alocução ao país, não resistiu em confrontar exemplos de outros países europeus. Salientou mesmo que "75% dos países de média dimensão, como Portugal, são governados com base em entendimentos políticos". É verdade. Mas também é verdade que não existe nenhum país cujo Governo se mantenha em funções com a demissão dos dois exclusivos ministros de Estado.
Mas Cavaco Silva é Cavaco Silva. A sua arrumadinha cabeça está já planando no justo descanso do guerreiro, com mais um dever cumprido, mais um alto serviço prestado à pátria e, já agora, a ele próprio. Engana-se redondamente se pensa que depende dele a convocação de eleições. Em democracia ninguém governa contra o povo. E o povo português, por costume hodierno demasiado apático, pode começar a não achar piada a esta baixa política.
Cavaco Silva, na sua alocução ao país, não resistiu em confrontar exemplos de outros países europeus. Salientou mesmo que "75% dos países de média dimensão, como Portugal, são governados com base em entendimentos políticos". É verdade. Mas também é verdade que não existe nenhum país cujo Governo se mantenha em funções com a demissão dos dois exclusivos ministros de Estado.
domingo, julho 21, 2013
crise e salvação ou salvação e crise
Sabemos que o acordo não vingou. Sabemos que se iniciou de imediato o habitual passa-culpas. Sabemos que o comentário político continuou na venal senda que o tem caraterizado (haja pelo menos alguém que passe ao lado da crise!...). Afinal, o que não sabemos? De facto, parece não existir nada que não saibamos. As teorias são diversas e têm contribuído, de certo modo, para o deslindar da situação presente. Da história económica à política, passando pela social e das mentalidades, anotando costumes e conjeturas personalísticas, tudo tem sido repassado nos jornais, televisões e rádios.
A democracia é também sinónimo de pactos, sejam eles partidários ou sociais. Daí que a proposta do presidente tivesse sido considerada uma mais-valia para o arranjo político-partidário que fomentaria uma verdadeira salvação nacional. Se tivermos em conta os quarenta anos da nossa democracia, por exemplo, não podemos deixar de considerar válida esta asserção. Ainda há dois anos, com a assinatura do famoso memorando, se criou um pacto entre a troika portuguesa e a troika estrangeira e antes se havia criado, embora não escrito, um outro pacto entre a direita e a esquerda mais esquerdista no sentido de não-aceitação do PEC 4, com o consequente derrube do Governo, derrube esse que conduziria, como se hoje claramente se sabe, à intervenção estrangeira, sob a forma de resgaste (sabemos também que tudo seria diferente, mais próximo da situação de Espanha ou Itália, que não foram miseravelmente intervencionadas, se não houvesse tido lugar essa convergência de interesses partidários, poupando-nos também à mais mentirosa campanha eleitoral da história democrática portuguesa por parte do partido vencedor). Acontece que, inteiramente por culpa da incompetência e de algum deslumbramento do Governo, ocasionada pelas magnânimas influências de Vítor Gaspar e de António Borges na tenebricosa cabecinha de Passos Coelho, o que foi acordo tripartido deixava paulatinamente de o ser, quando o PS e Seguro eram remetidos para a parte do problema e nunca para a que configurava a solução. O próprio CDS, parceiro in limine do PSD, foi muitas vezes empurrado para esse lado da contenda, atestada com a perlocutória paciência de Paulo Portas. Assim, foi o PSD quem se demarcou daquilo que era um acordo de regime (ou de salvação nacional) ao ir mais além do que a troika delineava (é o nosso programa de Governo, queremos ir mais além do que a troika, diziam, então embasbacados).
Depois de incontáveis meses de uma governança presidencial abnóxia, eis que surge Cavaco Silva, à sua boa maneira, travestido de o garante de um certo equilíbrio mental da nação, visto que a Constituição, esse documento ao qual jurou fidelidade e tantas vezes chamado à contenda, há muito que deixou de ser lido à letra. Mas Cavaco equivocou-se, mais uma vez, na sua leitura dos sinais, principalmente aquele que, por ora, mais contava: o reconhecimento da sua própria imagem política enquanto presidente da República capaz de congregar forças advindas. Façamos a leitura doutra maneira: tivéssemos nós um sólido Presidente da República e, naturalmente, esta sua salvífica aspiração jamais deixaria de ser ouvida e executada. Como sabemos, ficou só pela audição e levada a cabo por mero exercício de cálculo político-partidário.
E agora? É a pergunta que todo o povo ainda não divorciado destes atores políticos coloca. Agora, senhor Presidente, só mesmo eleições antecipadas para setembro. E basta uma razão: em vez de salvação nacional, o melhor é mesmo uma catarse nacional. E esta só acontecerá com eleições antecipadas. Ao contrário do que Passos Coelho afirma, eleições não são sinónimo de incerteza. Na verdade, qualquer forma de eleição, nesta quadratura social, configura antes uma sinonímia mais próxima da certeza: a certeza de que é ao povo que compete decidir qual o caminho a seguir. O resto são meras interpretações. E destas temo-las aos montes.
A democracia é também sinónimo de pactos, sejam eles partidários ou sociais. Daí que a proposta do presidente tivesse sido considerada uma mais-valia para o arranjo político-partidário que fomentaria uma verdadeira salvação nacional. Se tivermos em conta os quarenta anos da nossa democracia, por exemplo, não podemos deixar de considerar válida esta asserção. Ainda há dois anos, com a assinatura do famoso memorando, se criou um pacto entre a troika portuguesa e a troika estrangeira e antes se havia criado, embora não escrito, um outro pacto entre a direita e a esquerda mais esquerdista no sentido de não-aceitação do PEC 4, com o consequente derrube do Governo, derrube esse que conduziria, como se hoje claramente se sabe, à intervenção estrangeira, sob a forma de resgaste (sabemos também que tudo seria diferente, mais próximo da situação de Espanha ou Itália, que não foram miseravelmente intervencionadas, se não houvesse tido lugar essa convergência de interesses partidários, poupando-nos também à mais mentirosa campanha eleitoral da história democrática portuguesa por parte do partido vencedor). Acontece que, inteiramente por culpa da incompetência e de algum deslumbramento do Governo, ocasionada pelas magnânimas influências de Vítor Gaspar e de António Borges na tenebricosa cabecinha de Passos Coelho, o que foi acordo tripartido deixava paulatinamente de o ser, quando o PS e Seguro eram remetidos para a parte do problema e nunca para a que configurava a solução. O próprio CDS, parceiro in limine do PSD, foi muitas vezes empurrado para esse lado da contenda, atestada com a perlocutória paciência de Paulo Portas. Assim, foi o PSD quem se demarcou daquilo que era um acordo de regime (ou de salvação nacional) ao ir mais além do que a troika delineava (é o nosso programa de Governo, queremos ir mais além do que a troika, diziam, então embasbacados).
Depois de incontáveis meses de uma governança presidencial abnóxia, eis que surge Cavaco Silva, à sua boa maneira, travestido de o garante de um certo equilíbrio mental da nação, visto que a Constituição, esse documento ao qual jurou fidelidade e tantas vezes chamado à contenda, há muito que deixou de ser lido à letra. Mas Cavaco equivocou-se, mais uma vez, na sua leitura dos sinais, principalmente aquele que, por ora, mais contava: o reconhecimento da sua própria imagem política enquanto presidente da República capaz de congregar forças advindas. Façamos a leitura doutra maneira: tivéssemos nós um sólido Presidente da República e, naturalmente, esta sua salvífica aspiração jamais deixaria de ser ouvida e executada. Como sabemos, ficou só pela audição e levada a cabo por mero exercício de cálculo político-partidário.
E agora? É a pergunta que todo o povo ainda não divorciado destes atores políticos coloca. Agora, senhor Presidente, só mesmo eleições antecipadas para setembro. E basta uma razão: em vez de salvação nacional, o melhor é mesmo uma catarse nacional. E esta só acontecerá com eleições antecipadas. Ao contrário do que Passos Coelho afirma, eleições não são sinónimo de incerteza. Na verdade, qualquer forma de eleição, nesta quadratura social, configura antes uma sinonímia mais próxima da certeza: a certeza de que é ao povo que compete decidir qual o caminho a seguir. O resto são meras interpretações. E destas temo-las aos montes.
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sábado, julho 20, 2013
não há salvação
Salvação foi o vocábulo mais ouvido nos últimos oito dias. Culpa do Presidente da República. Como os jornais, em geral, adoram alimentar folhetins (definitivamente não entendo o que fazem os repórteres das televisões e rádios à porta dos lugares aonde se irá realizar uma reunião, quando, invariavelmente - e com pré-aviso -, a resposta é um não vou dizer nada até ao fim das negociações), há que, simplesmente, lamentavelmente, inventar. E foi de invenções atrás de invenções que nos alimentaram esta semana. Mas eis que hoje, solenemente, pela voz de Seguro, surge a notícia, a não-invenção, portanto: não há acordo.
De imediato, iniciou-se outra narrativa ficcionada, outra invenção: o Governo irá até ao fim da legislatura e o Presidente irá aceitar a remodelação proposta por Passos Coelho, depois do ex-irrevogável Portas se ter demitido. Ninguém sequer pensou que a proposta de um acordo de salvação nacional por parte de Cavaco surge precisamente quando essa remodelação é apresentada, não tendo sequer o Presidente se referido a ela. Por outro lado, Cavaco Silva foi claríssimo ao alinhavar um novo ciclo eleitoral depois do abandono da Troika do nosso país. Mas nada disso conta para esta gente: importa inventar, inventar, emergir com novas narrativas. Estamos em crise.
De imediato, iniciou-se outra narrativa ficcionada, outra invenção: o Governo irá até ao fim da legislatura e o Presidente irá aceitar a remodelação proposta por Passos Coelho, depois do ex-irrevogável Portas se ter demitido. Ninguém sequer pensou que a proposta de um acordo de salvação nacional por parte de Cavaco surge precisamente quando essa remodelação é apresentada, não tendo sequer o Presidente se referido a ela. Por outro lado, Cavaco Silva foi claríssimo ao alinhavar um novo ciclo eleitoral depois do abandono da Troika do nosso país. Mas nada disso conta para esta gente: importa inventar, inventar, emergir com novas narrativas. Estamos em crise.
quarta-feira, julho 17, 2013
salvação
Sinto-me atenuadamente sufocado com esta conversa da salvação nacional levada a cargo pelos - vejam só - os imparáveis Seguro, Passos e Portas. Os jornais, é claro, babam-se com tanta reunião e com tanta não-informação. Entretanto, iniciou-se, logo desde a tentativa de conluio do Presidente Cavaco, nesses órgãos de informação e (des)formação que são as televisões, invocar os benefícios de um acordo entre o famoso arco do poder. De entre estes, a troika encima a pirâmide, vêm depois os famosos parceiros europeus e, sub-repticiamente, a Alemanha. O povo português não entra, determinantemente, nestas conjunturas políticas.
O acordo é, obviamente, possível. Aliás, o difícil é não o conseguir, dada a similitude entre a gente que compõe o grupelho. Estamos, afinal, para todos os efeitos (para o bom e para o mau, mas, principalmente, para o mau), no reino do centrão.
Deixamos de falar no país real. Estou mesmo propenso a crer que ninguém lá das negociações salvíficas saberá o que isso é. Lembro-me, logo numa das primeiras aparições de Passos Coelho no Parlamento, há dois anos, Jerónimo ter acusado o primeiro-ministro de não saber o que era a vida. A resposta veio pronta e constitui, de certo modo, um paradigma de uma geração política, formada no âmago de juventudes partidárias, verdadeiras fabriquetas de moldes humanos, envelhecidos à pressa: sei, senhor deputado, sem muito bem o que é a vida. Seria bom se todos soubéssemos o que era a vida, segundo Passos Coelho.
O acordo é, obviamente, possível. Aliás, o difícil é não o conseguir, dada a similitude entre a gente que compõe o grupelho. Estamos, afinal, para todos os efeitos (para o bom e para o mau, mas, principalmente, para o mau), no reino do centrão.
Deixamos de falar no país real. Estou mesmo propenso a crer que ninguém lá das negociações salvíficas saberá o que isso é. Lembro-me, logo numa das primeiras aparições de Passos Coelho no Parlamento, há dois anos, Jerónimo ter acusado o primeiro-ministro de não saber o que era a vida. A resposta veio pronta e constitui, de certo modo, um paradigma de uma geração política, formada no âmago de juventudes partidárias, verdadeiras fabriquetas de moldes humanos, envelhecidos à pressa: sei, senhor deputado, sem muito bem o que é a vida. Seria bom se todos soubéssemos o que era a vida, segundo Passos Coelho.
quinta-feira, julho 11, 2013
governo de perdição
O que até aqui foi um Governo de gestão (sempre o foi, não nos queiram iludir), transformou-se agora num Governo de perdição. O sr. Hélder Rosalino, Secretário de Estado da Administração Pública, afirmou hoje que a requalificação não implica despedimento, contrariando o que ele próprio dissera há tempos: "eu não assumiria isso [a requalificação como antecâmera do despedimento] como uma crítica, assumiria isso como uma realidade
objetiva". Desta vez, advoga que "não é uma lei para despedir (...) é uma mudança de paradigma".
Um outro membro do Governo, o sr. Aguiar-Branco, Ministro da Defesa, é uma espécie de coro grego do executivo, com repuxadas tiradas moralizantes. Quando abre a boca é para isto: "o Governo fala sempre a verdade (a propósito das anotadas contradições da atual ministra das Finanças relativamente à mal explicada ingerência nos contratos swap), ou "o que conduz sempre o Governo no seu todo e o primeiro-ministro em particular é o interesse nacional" (a propósito da atual crise). Será que ninguém diz ao sr. Aguiar-Branco que já estamos noutra?
Um outro membro do Governo, o sr. Aguiar-Branco, Ministro da Defesa, é uma espécie de coro grego do executivo, com repuxadas tiradas moralizantes. Quando abre a boca é para isto: "o Governo fala sempre a verdade (a propósito das anotadas contradições da atual ministra das Finanças relativamente à mal explicada ingerência nos contratos swap), ou "o que conduz sempre o Governo no seu todo e o primeiro-ministro em particular é o interesse nacional" (a propósito da atual crise). Será que ninguém diz ao sr. Aguiar-Branco que já estamos noutra?
ainda a declaração de cavaco
Quando anda meio mundo a tentar decifrar a mensagem do presidente, arrematando conjeturas atrás de complicadas fórmulas personalísticas, ainda ninguém tocou no que seria o resultado mais óbvio, estivéssemos nós perante outros protagonistas políticos: a demissão de Passos Coelho ou de Paulo Portas ou dos dois. Na verdade, o Presidente da República não aceitou, irrevogavelmente, o desenho governativo proposto pelos dois representantes dos partidos da maioria. Perante esta ingerência de Cavaco, a qual, note-se, é de todo aceitável, visto que foram os outros dois que forçaram o presidente a isso, empurrando o país para o agravamento da crise política, o resultado poderá passar por eleições ainda mais antecipadas. O que o Presidente, afinal, não queria.
quarta-feira, julho 10, 2013
a desempenada declaração de cavaco
Cavaco Silva surpreendeu com a declaração das oito e meia. E a surpresa veio pelo desassossego que a mensagem provocou. O Presidente falou do risco de eleições e exemplificou com o que se passou nos últimos dias, com a instabilidade dos inevitáveis (irrevogáveis) mercados, como
se estes fossem particularmente distinguidos pelo seu elevado grau de estabilidade, tendo, especialmente, em conta os
últimos três ou quatro anos. Salientou que, com eleições, teríamos um Governo de gestão durante dois meses e o Orçamento Geral do Estado para 2014 entraria somente em vigor lá para março, como se os últimos Orçamentos tivessem sido caraterizados pela sua capacidade de irrevogabilidade. Há também os empréstimos contraídos que vencem em 2014 (ainda bem). Avisou para a possível suspensão das transferências das parcelas da troika, como se um ato eleitoral num país com uma democracia plena e, portanto, civilizada, constituísse um subsequente problema. Anotou também que os sinais de recuperação económica iriam, decerto, regredir, assim como seria mau para o desemprego.
Passou para as consequências políticas da decisão (e é elucidativo que tivesse começado pelas económicas), as quais se podem resumir em dois pontos: as eleições trariam um forte clima de tensão e crispação e uma dificultada formação de um Governo sólido.
Por isso, Cavaco Silva decidiu juntar os três partidos que assinaram o memorando, como se este ainda tivesse em vigor, como se o PS, PSD e CDS-PP não se tivessem demarcado já do documento, aquele por não concordar com os vários descomedimentos dos partidos da maioria e estes pela razão oposta (ir para além da troika, esgoelava há dois anos Passos Coelho, com o beneplácito tático de Portas).
De qualquer modo, não vejo de todo que foi tudo mau na mensagem: Cavaco não aceitou os infantis joguetes de bastidores de Portas e Passos.
Ficamos também a saber que, apesar da recuperação da economia e do desagravamento de desemprego, vivemos uma situação de emergência nacional, que requer um desempanado Governo de salvação nacional. É talvez este o nosso destino, o de viver no interior de aparentemente irrevogáveis paradoxos discursivos.
Passou para as consequências políticas da decisão (e é elucidativo que tivesse começado pelas económicas), as quais se podem resumir em dois pontos: as eleições trariam um forte clima de tensão e crispação e uma dificultada formação de um Governo sólido.
Por isso, Cavaco Silva decidiu juntar os três partidos que assinaram o memorando, como se este ainda tivesse em vigor, como se o PS, PSD e CDS-PP não se tivessem demarcado já do documento, aquele por não concordar com os vários descomedimentos dos partidos da maioria e estes pela razão oposta (ir para além da troika, esgoelava há dois anos Passos Coelho, com o beneplácito tático de Portas).
De qualquer modo, não vejo de todo que foi tudo mau na mensagem: Cavaco não aceitou os infantis joguetes de bastidores de Portas e Passos.
Ficamos também a saber que, apesar da recuperação da economia e do desagravamento de desemprego, vivemos uma situação de emergência nacional, que requer um desempanado Governo de salvação nacional. É talvez este o nosso destino, o de viver no interior de aparentemente irrevogáveis paradoxos discursivos.
o irrevogável portas
Paulo Portas continua a sua caminhada rumo a qualquer coisa que apareça. Hoje, no Parlamento, falou de estabilidade governativa. E havemos de ouvi-lo muito mais, com aquele seu ar de orgulhoso conservador, de fina têmpera portuguesa. Paulo Portas é chacota política. Pior: a palavra caráter deixou de lhe encobrir qualquer veleidade discursiva. Conhecíamo-lo no episódio da fotocópias tirada a fugir, agachou-se agora a coberto do seu grau de irrevogabilidade.
tontearias do presidente da silly season
Já sabemos que as pessoas são livres de disparatar, mesmo que o disparate esteja integrado no cerimonial das audiências solicitadas pelo Presidente da República. O sr. Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), apresentou magnificamente a Cavaco a sua teoria, a qual, suponho, é doidamente seguida pelos seus confrades CTP. Diz então Calheiros que eleições lá para outubro é mau. E porquê? Razão simples, singela: afasta os turistas, visto que estes escolherão um país com maior estabilidade.
O sr. Calheiros (nome apropriado para assinar por baixo a frase) estava a falar a sério. Presumo que ele passe mais do seu precioso tempo em Burkina Faso do que em Portugal. Espanta-me que Cavaco Silva convoque estes energéticos Calheiros para uma audição em Belém.
O sr. Calheiros (nome apropriado para assinar por baixo a frase) estava a falar a sério. Presumo que ele passe mais do seu precioso tempo em Burkina Faso do que em Portugal. Espanta-me que Cavaco Silva convoque estes energéticos Calheiros para uma audição em Belém.
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segunda-feira, julho 08, 2013
a discussão política em torno do novo governo
A discussão política em torno do novo Governo saído das exauridas conversações entre Portas e Passos tem desembocado, invariavelmente, no desenho do renovado leitmotiv político do mesmo. Deste modo, todos passam por cima do mais importante: a dignidade que a política deve possuir. Com este triste episódio, chegamos a um grau zero da dignidade política. Por conseguinte, jamais Paulo Portas poderia aceitar um retorno, independentemente das benesses oferecidas. Um pedido de demissão de um membro de qualquer Governo - com a agravante de se tratar aqui de um ministro de Estado - representa sempre um limite, o último recurso. Daí que ninguém o formule sem a devida ponderação. Neste sentido, a carta (ou missiva) que Paulo Portas escrevinhou foi, evidentemente, o resultado de uma longa e solitária maturação. Só assim se percebe a utilização de palavras carregadíssimas de um forte valor moral e ético, como o são, por exemplo, irrevogável, consciência, dissimulação. Na política a palavra deve valer muito. Cavaco Silva tem-no dito. Baseou, aliás, toda a sua campanha eleitoral - a primeira, principalmente - na pedagogia do valor da palavra.
Um dia, um ministro colocou uns corninhos em cima da sua cabeça e virou-se, estimuladamente, para um deputado do PCP. No dia seguinte, já não era ministro. Outro, dezasseis anos antes, contara, empolgadamente, uma infeliz anedota a respeito das mortes causadas pela contaminação por alumínio das águas que abastecia um centro de hemodiálise. Deixou de ser ministro do ambiente no próprio dia. Mais próximo de nós, José Sócrates pediu a exoneração do cargo de primeiro-ministro ao presidente da República pelo chumbo do PEC4. Cavaco aceitou. Estes três exemplos (podiam ser muitos mais) são reveladores que, no que toca à vertente edificativa da política, não vale tudo, pelo simples facto de que se pode perder tudo.
Por tudo isto, a atitude de Paulo Portas adquire, porém, um certo grau de pedagogia, a qual se insere, construtivamente, no campo da baixa política.
Um dia, um ministro colocou uns corninhos em cima da sua cabeça e virou-se, estimuladamente, para um deputado do PCP. No dia seguinte, já não era ministro. Outro, dezasseis anos antes, contara, empolgadamente, uma infeliz anedota a respeito das mortes causadas pela contaminação por alumínio das águas que abastecia um centro de hemodiálise. Deixou de ser ministro do ambiente no próprio dia. Mais próximo de nós, José Sócrates pediu a exoneração do cargo de primeiro-ministro ao presidente da República pelo chumbo do PEC4. Cavaco aceitou. Estes três exemplos (podiam ser muitos mais) são reveladores que, no que toca à vertente edificativa da política, não vale tudo, pelo simples facto de que se pode perder tudo.
Por tudo isto, a atitude de Paulo Portas adquire, porém, um certo grau de pedagogia, a qual se insere, construtivamente, no campo da baixa política.
o outro assunto
É muito interessante presenciarmos o nascimento de comentadores, todos economicamente diplomadíssimos, convergentes na análise nua e crua dos dados económicos do país. Por exemplo, há dias ouvi José Gomes Ferreira, jornalista justamente considerado da SIC, analisar o desempenho de Gaspar do seguinte modo: nem tudo foi mau, muitas coisas foram até muito boas. Depois, espalhou dois ou três ponteiros estatísticos relativamente ao dinheiro em caixa, balança comercial e pouco mais. Perante isto, o seu interlocutor retorquiu-lhe: e os custos humanos? Resposta pronta de José Gomes Ferreira (e aqui coloco-a entre aspas): "isto é outra história".
Esta colateralidade do humano tornou-se, de facto, emergente na sábia voz desta gente. Infelizmente, é fundamentalmente este posicionamento que está errado. Basta olharmos, relançadíssimos, para a declaração Universal dos Direitos Humanos, nascida no pós-guerra, solenemente adotada e proclamada, em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ou mesmo para o fundamento do nascimento, em 1951, da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, ou, antes disso tudo, para o famoso discurso de Churchill, em Zurique, no rescaldo do pós-guerra, onde exorta os países europeus para a criação dos Estados Unidos da Europa. Deixo aqui apenas um pequeníssimo excerto desse discurso, no sentido de percebermos quão longe estamos destas vontades: "Se a Europa alguma vez se unisse na partilha da sua herança comum, não haveria limite para a felicidade, a prosperidade e a glória de que os seus trezentos ou quatrocentos milhões de pessoas gozariam. (...). Só assim poderão centenas de milhões de pessoas que mourejam recuperar as alegrias simples e as esperanças que fazem com que valha a penas viver a vida".
Estadistas que não olham para o ser humano como principal objeto do seu trabalho têm um nome: ditadores. Pelo menos, é isto que a história nos vem dizendo.
Esta colateralidade do humano tornou-se, de facto, emergente na sábia voz desta gente. Infelizmente, é fundamentalmente este posicionamento que está errado. Basta olharmos, relançadíssimos, para a declaração Universal dos Direitos Humanos, nascida no pós-guerra, solenemente adotada e proclamada, em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ou mesmo para o fundamento do nascimento, em 1951, da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, ou, antes disso tudo, para o famoso discurso de Churchill, em Zurique, no rescaldo do pós-guerra, onde exorta os países europeus para a criação dos Estados Unidos da Europa. Deixo aqui apenas um pequeníssimo excerto desse discurso, no sentido de percebermos quão longe estamos destas vontades: "Se a Europa alguma vez se unisse na partilha da sua herança comum, não haveria limite para a felicidade, a prosperidade e a glória de que os seus trezentos ou quatrocentos milhões de pessoas gozariam. (...). Só assim poderão centenas de milhões de pessoas que mourejam recuperar as alegrias simples e as esperanças que fazem com que valha a penas viver a vida".
Estadistas que não olham para o ser humano como principal objeto do seu trabalho têm um nome: ditadores. Pelo menos, é isto que a história nos vem dizendo.
domingo, julho 07, 2013
a razão das eleições antecipadas
Não vale a pena insistirmos mais no retumbante momento político a que assistimos nestes últimos dias. O tempo encarregar-se-á de recolocar na sua trama a importância do mesmo. Tenho para mim que os políticos, de uma forma geral, subestimam o povo que os elegem. Muitas vezes estas contas saem-lhe alteradas. Mas também é verdade que, por vezes, isso não se passa e que o aforismo de que o povo tem a memória curta se mostra perfeitamente enlaçado.
Existe, portanto, outro Governo na República Portuguesa, embora o primeiro-ministro seja o mesmo. Com isto - e ajuntando a carta de Gaspar - há também uma assunção do fracasso da ação governativa destes dois anos. Na verdade, tanto Portas como Gaspar - adversários internos do conselho de ministros - convergem nessa análise derrotista. Conseguintemente, o paradigma narrativo de agora é novo e revolucionário, se tivermos obviamente em conta o que se finou. O tempo - anotem bem, dizia Gaspar - é de investimento, isto é, de recolocação da economia no lugar cimeiro do executivo. Por isso, Portas e Coelho reuniram horas a fio e desenharam uma nova orgânica de Governo. O titular das finanças, por exemplo, outrora a cargo do todo-poderoso Gaspar, passa agora para uma espécie de Barreto Xavier, o extraordinariamente visível secretário de estado da cultura. Maria Luís Albuquerque já demonstrou que se encaixa admiravelmente neste papel ao aceitar, simpática e descontraidamente, todo este rebuliço em redor da sua nomeação. Neste propósito, o mínimo sentido de Estado impunha que apresentasse, desde logo, a sua demissão ao primeiro-ministro.
Pelo contrário, Paulo Portas, outrora cirurgicamente desligado do núcleo duro governativo, mas dando sempre conta, aos jornalistas, do seu papel opositivo, é agora o novo Gaspar elevado a vice-primeiro-ministro, alegremente encarregado da economia, das negociações com a troika, da reforma do Estado, e de mais outras coisas de somenos importância. Grande Portas, que conseguiu ampliar a semântica do adjetivo irrevogável!
Perante isto, é legítimo considerar que a única opção acordável com o próprio regime democrático seja a antecipação das eleições legislativas. Com elas, os partidos terão a oportunidade de apresentar aos portugueses o seu modus operandi relativamente a uma série de construções relacionais com outras instituições, designadamente com a desgraçada troika. Mais do que isso, mostrarão qual o grau de consideração que o povo lhes merece. A este propósito, basta olharmos para a agora inenarrável campanha eleitoral de Passos Coelho de há dois anos para facilmente descortinarmos a elevada estima e consideração que tem pelo povo.
Nesta fotografia fica igualmente muito bem Paulo Portas.
Existe, portanto, outro Governo na República Portuguesa, embora o primeiro-ministro seja o mesmo. Com isto - e ajuntando a carta de Gaspar - há também uma assunção do fracasso da ação governativa destes dois anos. Na verdade, tanto Portas como Gaspar - adversários internos do conselho de ministros - convergem nessa análise derrotista. Conseguintemente, o paradigma narrativo de agora é novo e revolucionário, se tivermos obviamente em conta o que se finou. O tempo - anotem bem, dizia Gaspar - é de investimento, isto é, de recolocação da economia no lugar cimeiro do executivo. Por isso, Portas e Coelho reuniram horas a fio e desenharam uma nova orgânica de Governo. O titular das finanças, por exemplo, outrora a cargo do todo-poderoso Gaspar, passa agora para uma espécie de Barreto Xavier, o extraordinariamente visível secretário de estado da cultura. Maria Luís Albuquerque já demonstrou que se encaixa admiravelmente neste papel ao aceitar, simpática e descontraidamente, todo este rebuliço em redor da sua nomeação. Neste propósito, o mínimo sentido de Estado impunha que apresentasse, desde logo, a sua demissão ao primeiro-ministro.
Pelo contrário, Paulo Portas, outrora cirurgicamente desligado do núcleo duro governativo, mas dando sempre conta, aos jornalistas, do seu papel opositivo, é agora o novo Gaspar elevado a vice-primeiro-ministro, alegremente encarregado da economia, das negociações com a troika, da reforma do Estado, e de mais outras coisas de somenos importância. Grande Portas, que conseguiu ampliar a semântica do adjetivo irrevogável!
Perante isto, é legítimo considerar que a única opção acordável com o próprio regime democrático seja a antecipação das eleições legislativas. Com elas, os partidos terão a oportunidade de apresentar aos portugueses o seu modus operandi relativamente a uma série de construções relacionais com outras instituições, designadamente com a desgraçada troika. Mais do que isso, mostrarão qual o grau de consideração que o povo lhes merece. A este propósito, basta olharmos para a agora inenarrável campanha eleitoral de Passos Coelho de há dois anos para facilmente descortinarmos a elevada estima e consideração que tem pelo povo.
Nesta fotografia fica igualmente muito bem Paulo Portas.
sexta-feira, julho 05, 2013
governam os mercados
Os mercados sentem-se bem assim, elevados a Júpiter, vivendo no Olimpo. Por um lado, Gaspar sai do Governo, num assomo único de humildade no reconhecimento do falhanço. Por outro, Paulo Portas escreve uma missiva reconhecendo a obtusidade governativa, da qual foi conivente durante dois anos. E o resultado de tudo isto é a extraordinária queda das nossas empresas na bolsa e a subida dos juros da dívida pública. Mas eis que Portas e Passos se reúnem. Bendita hora, gloriosa reunião: os mercados respondem: a bolsa dispara 3% e os juros da dívida pública a 10 anos estacionam nos 7%. Fico, assim, perplexo, na minha incredulidade: não foi isto que aconteceu na outra semana? Não é isto, este sobe e desce que vem acontecendo de há muito tempo para cá? Não são, afinal, os mercados, isto? Onde está aqui a singularidade?
quinta-feira, julho 04, 2013
ainda o discurso
Pois, ainda o discurso de Passos Coelho. Uma frase, uma apenas para nos deslumbrarmos com a pertinência ilocutória da coisa: "Não me demito, não me peçam para abandonar o meu país."
Pelo que julgo saber (até porque o ouvi e vi na solenidade televisiva), Passos Coelho sugeriu precisamente o abandono do país a muitos dos seus concidadãos. Por isso não entendo esta teimosia em permanecer na sua zona de conforto.
adenda: não resisto a mais uma tirada: "coligação que goza do apoio da maioria do povo" (para além de Coelho, só mesmo o Presidente da República pensará o mesmo).
adenda 2: acabo aqui: "o país está primeiro".
Pelo que julgo saber (até porque o ouvi e vi na solenidade televisiva), Passos Coelho sugeriu precisamente o abandono do país a muitos dos seus concidadãos. Por isso não entendo esta teimosia em permanecer na sua zona de conforto.
adenda: não resisto a mais uma tirada: "coligação que goza do apoio da maioria do povo" (para além de Coelho, só mesmo o Presidente da República pensará o mesmo).
adenda 2: acabo aqui: "o país está primeiro".
quarta-feira, julho 03, 2013
o discurso
A apresentada razão de Passos Coelho, ontem, perante milhões de telespetadores, foi porventura a peça política mais idiota que eu já ouvi em toda a minha vida. Aquilo não tem, verdadeiramente, ponta por onde se lhe pegue. Cavaco Silva já nos brindou, nos últimos largos tempos, com panoramas silogísticos deste teor. Estão, pois, bem um para o outro.
a crise política
Convém não esquecer: antes da presente crise política havia já uma crise política. Por outras palavras: andamos a ser cabalmente enganados, com remessas de cinismo político no seu estado mais refinado. Ouvi vezes sem conta Paulo Portas, Passos Coelho, ministros e ministras, secretários de estado jurarem a pé juntos sobre a credibilidade e validação do executivo, o qual estaria mais fortalecido do que o próprio colosso de Rodes e do que toda a oposição junta. Afinal, era só fumaça.
Quero, porém, anotar um pormenor, não de somenos importância: somos donos e senhores do nosso destino coletivo. Com efeito, não houve necessidade de pedir a bênção à troika. Paulo Portas teria, só por esta razão, o meu apoio. Mas tem-no também pela principal razão invocada, que se encontra malogradamente ligada à ascensão da enfraquecida e gasparista Maria Luís Albuquerque de secretária de estado do tesouro a ministra das finanças, sem haver uma auscultação àquele que deveria ser o número dois do Governo, como hoje é inexoravelmente claríssimo (basta ver a definição de coligação em qualquer dicionário).
Para mal dos nossos pecados, vivemos uma conjugação de variadíssimos fatores humanos, os quais se resumem a uma palavra só: desgraça. António José Seguro é um ex-jota; Passos, idem. Quase almas siamesas, portanto. Podem estar preparados para tudo, mas não me parece que o estejam para governar. Estou em crer que não me parece sequer razoável, sob o ponto de vista legal, a entrada para estas organizações antes da maior idade. De qualquer modo, Seguro tem, obviamente, o benefício da dúvida, assim como o teve Passos. Vamos ver. Terceiro fator humano: Cavaco Silva, a pior desgraça que apareceu em Portugal, politicamente, desde a revolução de abril. Tudo isto teria sido evitado se o Presidente da República tivesse a capacidade de ler os sinais advindos da sociedade, do povo, que tão distante está do Palácio de Belém, a não ser que Cavaco considere como representantes do povo os prestigiadíssimos economistas que convidou para discutir (analisar, talvez) o estado do Estado.
Portugal não é a Grécia, Portugal não é a Irlanda, mas Portugal também não é a Alemanha. E ainda bem. Quando se exigia uma concertação de esforços, Cavaco escondia-se no seu minimalismo institucional. É defeito, é feitio, é incompetência.
Quero, porém, anotar um pormenor, não de somenos importância: somos donos e senhores do nosso destino coletivo. Com efeito, não houve necessidade de pedir a bênção à troika. Paulo Portas teria, só por esta razão, o meu apoio. Mas tem-no também pela principal razão invocada, que se encontra malogradamente ligada à ascensão da enfraquecida e gasparista Maria Luís Albuquerque de secretária de estado do tesouro a ministra das finanças, sem haver uma auscultação àquele que deveria ser o número dois do Governo, como hoje é inexoravelmente claríssimo (basta ver a definição de coligação em qualquer dicionário).
Para mal dos nossos pecados, vivemos uma conjugação de variadíssimos fatores humanos, os quais se resumem a uma palavra só: desgraça. António José Seguro é um ex-jota; Passos, idem. Quase almas siamesas, portanto. Podem estar preparados para tudo, mas não me parece que o estejam para governar. Estou em crer que não me parece sequer razoável, sob o ponto de vista legal, a entrada para estas organizações antes da maior idade. De qualquer modo, Seguro tem, obviamente, o benefício da dúvida, assim como o teve Passos. Vamos ver. Terceiro fator humano: Cavaco Silva, a pior desgraça que apareceu em Portugal, politicamente, desde a revolução de abril. Tudo isto teria sido evitado se o Presidente da República tivesse a capacidade de ler os sinais advindos da sociedade, do povo, que tão distante está do Palácio de Belém, a não ser que Cavaco considere como representantes do povo os prestigiadíssimos economistas que convidou para discutir (analisar, talvez) o estado do Estado.
Portugal não é a Grécia, Portugal não é a Irlanda, mas Portugal também não é a Alemanha. E ainda bem. Quando se exigia uma concertação de esforços, Cavaco escondia-se no seu minimalismo institucional. É defeito, é feitio, é incompetência.
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Pedro Passos Coelho
terça-feira, julho 02, 2013
o extraordinário elogio de barroso a gaspar
O excelso presidente da Comissão Europeia veio a público panegiricar Gaspar. E fê-lo desta maneira: "Admiro muito qualquer pessoa que aceite ser ministro das Finanças de Portugal nas atuais circunstâncias, quer o dr. Vítor Gaspar, quer, agora, a dra. Maria Luís Albuquerque". É raro vermos, na verdade, este tipo de prova de humildade e de autocrítica, ainda para mais vindo de um político. Assim, convém não esquecer que Durão Barroso abandonou Portugal quando este "estava de tanga" e quando ele era, vejam só, primeiro-ministro. Podemos então formular o seguinte esforçado silogismo: Durão Barroso não admira os que fogem às responsabilidades perante o país. Durão Barroso descartou-se do país. Logo, Durão Barroso não admira Durão Barroso.
Posso, no entanto, com tudo isto, reformular o meu entendimento aristotélico face a este episódio de Gaspar, o qual se pode resumir ao seguinte: andamos no reino da mais perfeita hipocrisia política, a começar, desde logo, por onde não poderia existir: a presidência da república.
Posso, no entanto, com tudo isto, reformular o meu entendimento aristotélico face a este episódio de Gaspar, o qual se pode resumir ao seguinte: andamos no reino da mais perfeita hipocrisia política, a começar, desde logo, por onde não poderia existir: a presidência da república.
segunda-feira, julho 01, 2013
gaspar sai, gaspar saiu; passos em Belém
É a notícia do dia: Vítor Gaspar sai do Governo. Avizinha-se mais uma reunião extraordinária e mais uma bênção de Cavaco. A altura é a pior: as swaps e as aldrabices que daí sobrevieram. No entanto, se tiver consistência a notícia, só espero que ninguém se defenda no estafado argumento dos motivos de ordem pessoal. Gaspar, desde muito cedo me pareceu em desconformidade absoluta com o cargo que ocupa, sendo, portanto, um incompetente. No entanto, a aldrabice como forma de ganhar a vida nunca esteve na sua curta existência política. E isso já é um ponto a seu favor.
sexta-feira, junho 28, 2013
trabalho e não-trabalho; greves e não-greves
Passos Coelho igual a ele próprio, também um pouco à Cavaco Silva: "o país precisa de trabalho, não de greves". A frase é dúbia, como quase tudo na cabeça do primeiro-ministro. Se o país precisa de trabalho, por que razão se despedem pessoas com a rapidez de uma assinatura decretória? Por outro lado, poderemos entender a frase se tivermos em conta que há trabalhadores que, de facto, trabalham pouco (curiosamente, há trabalhadores que exercem o seu emprego de borla, como é o caso dos presidentes Cavaco e Assunção Esteves, os quais optaram por receber a reforma da função pública) e que são merecedores de uma requalificação. Mas serão estes que vão para o desemprego? Provavelmente, alguns irão; outros porém, ficarão nos seus postos de trabalho, enquanto que muitos estão de tal modo desprotegidos que não têm sequer hipóteses de entrar na discussão da permanência nos seus postos de trabalho. As coisas são feitas assim: criteriosamente à molhada.
quarta-feira, junho 19, 2013
défices e défices
A recente visita de Seguro a Paris, onde proferiu uma interessante declaração sobre o desemprego, torna relevante a questão da alternativa democrática. Quem levanta este problema fá-lo somente tendo em conta os bitaites comunicativos (a hora do Telejornal, como agora os deputados social-democratas se habituaram a referenciar, indo à boleia das declarações de Pedro Passos Coelho). Em democracia, há sempre alternativa. Mais: em democracia, exige-se sempre uma alternativa.
Seguro declarou, em francês, que deveria haver um limite, nos países da União, para o desemprego. Não posso estar mais de acordo. Por que razão se dá mais importância a outro tipo de défice e não se equaciona, prioritariamente, o défice que se revê na parte humana de uma sociedade? Acaso será o défice público mais importante que o número elevado de desempregados? Estou em crer que não, embora muitas advoguem - a credito que o façam honestamente - que a questão do desemprego só se resolve com boas contas públicas. Porém, a questão terá de ser de prioridades: primeiro, o ser humano, a humanização da sociedade; depois, que venham os défices. Por muitas voltas que se deem, só assim se pode construir a União Europeia.
Seguro declarou, em francês, que deveria haver um limite, nos países da União, para o desemprego. Não posso estar mais de acordo. Por que razão se dá mais importância a outro tipo de défice e não se equaciona, prioritariamente, o défice que se revê na parte humana de uma sociedade? Acaso será o défice público mais importante que o número elevado de desempregados? Estou em crer que não, embora muitas advoguem - a credito que o façam honestamente - que a questão do desemprego só se resolve com boas contas públicas. Porém, a questão terá de ser de prioridades: primeiro, o ser humano, a humanização da sociedade; depois, que venham os défices. Por muitas voltas que se deem, só assim se pode construir a União Europeia.
segunda-feira, junho 17, 2013
triste espetáculo...
... este, que eu vi hoje, com o ministro da educação e os seus secretários de estado, de crachazito na lapela, a tentarem defender o indefensável, com alucinados números dos professores "faltosos" e, decorrentemente, das provas de exame realizadas. Foi, então, 70% os exames realizados, segundo o ministério. Quem seguiu moderadamente os telejornais dos três canais não pôde deixar de esboçar um sorriso.
Entretanto, o Bloco de Esquerda já pediu a demissão do ministro. Fez bem. Sabemos que não existe, neste Governo, um pendor ético acentuado e que, portanto, a demissão não entra nos paradigmas da ação governativa. No entanto, é preciso notar, do ponto de vista político, que há consequências políticas.
adenda: depois disto, é lícito perguntar: por que razão Nuno Crato não marcou de imediato nova data depois das reunião com os sindicatos? A aparente prova de força resulta, assim, numa incontornável atitude de fraqueza.
Entretanto, o Bloco de Esquerda já pediu a demissão do ministro. Fez bem. Sabemos que não existe, neste Governo, um pendor ético acentuado e que, portanto, a demissão não entra nos paradigmas da ação governativa. No entanto, é preciso notar, do ponto de vista político, que há consequências políticas.
adenda: depois disto, é lícito perguntar: por que razão Nuno Crato não marcou de imediato nova data depois das reunião com os sindicatos? A aparente prova de força resulta, assim, numa incontornável atitude de fraqueza.
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domingo, junho 16, 2013
simplificando
A "narrativa" era a seguinte, até 2010: os Estados europeus deveriam apostar no investimento público para impulsionar a economia. Em abril de 2010, na cimeira de Madrid, uns académicos de Harvard - o italiano Alberto Alesina e o norte-americano Kenneth Rogoff - preconizaram outra senda: a austeridade, baseada fundamentalmente em cortes da despesa pública, resultaria numa fase de expansão económica. Num novo mundo, portanto.
Sempre tive a sensação que andamos por aqui encurralados na nossa gaiola laboratorial.
Sempre tive a sensação que andamos por aqui encurralados na nossa gaiola laboratorial.
sábado, junho 15, 2013
má comunicação
O Governo não comunica mal, como muitos querem fazer crer, como se o seu mal capital aí residisse, como se a superfície se tornasse mais importante do que a fundação e esta mais importante ainda do que as ações. Basta ouvi-los. Explicam bem e convencem: o país não tem dinheiro; deixaram-nos de tanga (senhor Barroso, desculpe lá); temos consciência social porque pagamos os subsídios de férias aos que auferem menos de 600 euros; é essencial pensar no pós-troika; não gostamos da austeridade; é necessário pensar no investimento, na economia e no desemprego jovem; a culpa é também da chuva; etc.; etc. A mim convencem. Acontece simplesmente isto: todo o discurso é coberto por um manto diáfano no seu mais elevado grau de hipocrisia. O mal é que andamos nisto há tempo demasiado e não temos, infelizmente, Presidente da República.
alunos e turmas
Curioso ponto de convergência entre os manifestantes, hoje, em Lisboa: há alunos por turma a mais. De facto, os alunos têm, paulatinamente, vindo a aumentar nos últimos anos. Neste campo, existem teorias e números para ambos os lados: o Governo diz que temos alunos por turma consideravelmente inferior ao restantes países; os sindicatos afirmam o contrário; os professores acompanham. Não me parece credível nem séria a estatística governamental. Dá jeito, na verdade, ajuntar, à Marques Mendes, os diversos ciclos de ensino para fins estatísticos. É a teoria da galinha: eu como duas e tu nenhuma. No final, ficamos ambos com duas no papo.
quinta-feira, junho 13, 2013
os professores, a greve e os sindicatos
Os professores de Portugal são uma classe sui generis. Alargada em número, só a partir do ensino superior é que começa a existir uma efetiva diferenciação de classe. Ora, este estado de hierarquização está, a meu ver, visceralmente errado.
Em primeiro lugar, porque um professor educador de infância não se pode compaginar, no que diz respeito ao modus faciendi laboral, a um professor do primeiro ciclo, e este a um do segundo ou do terceiro e estes a um do secundário. Adrede, esbocei este ajuntamento. Na verdade, existem orgânicas laborais diferenciadas nestes ciclos. Se não causará absolutamente nenhuma estremeção olharmos para um professor do segundo e do terceiro ciclos de modo a que se note um efetivo grau de continuidade pedagógico-didática, o mesmo já não se passa de forma tão óbvia no ensino secundário. Aqui, o trabalho é, de facto, desenvolvido afrentando, essencialmente, o próximo passo, o qual se encontra já ao virar da esquina: o acesso ao ensino superior, ou então a entrada, como técnico especializado (e bem qualificado), no mundo do trabalho. São, portanto, paradigmas diferentes, onde se exige, naturalmente, dinâmicas diferenciadas. Mesmo as disciplinas de índole mais prática têm, no nível secundário, um caráter teórico mais realçado. Daí que não me provocar absolutamente nenhuma estranheza que certas disciplinas, ao nível do segundo e terceiros ciclos, abarquem uma carga letiva de trinta horas, situação marcadamente impossível com outras disciplinas de desenvolvimento mais teorético e pós-laboral (o famoso trabalho de casa dos professores). Como é evidente, isso não seria possível no secundário. Aliás, não era, decerto, por acaso que a carga letiva neste ciclo contemplava, até há pouco tempo, vinte horas de trabalho em sala de aula, ao contrário dos outros ciclos (segundo e terceiros), que se ajustavam (e assim continua) nas vinte e duas horas letivas. Não se pode, pois, tratar por igual o que é diferente. Por vezes, as reformas educativas dão-se com pequenos passos, os quais podem resultar em inexoráveis saltos para o país. Infelizmente, não é isso que se tem passado durante os vários e rotativos governos desta segunda República, os quais são marcadamente e implicantes no que diz respeito a deixar uma inelutável marca pretensamente mirífica e salvadora.
Dito isto, importa acrescentar que a greve dos professores tem, na sua índole, apontamentos de total hipocrisia de ambos os lados. Em primeiro lugar, a questão da mobilidade especial. Os sindicatos são, como sabemos, frontalmente contra. Os professores do quadro também. Os contratados, coitados, já andam em mobilidade há anos e não têm, a este respeito, genuína oportunidade de intervenção. Anda para aí um estafado argumento, nascido no meio sindical, de que a mobilidade afeta indiretamente os professores contratados. É claro que afeta, mas noto particularmente o uso desassossegado do advérbio, uma amostra da elevada estima que estes professores desfrutam no meio da classe, especialmente da parte dos sindicatos (um verdadeiro anacronismo, visto que os professores contratados são, de longe, os melhores professores das escolas públicas). Deste modo, questiono por que por que razão os sindicatos não se insurgiram com a redução das vinte e três zonas pedagógicas - existentes desde há muito tempo - para dez. Não configura isso uma efetiva mobilidade dos professores (alargamento de uma zona implica alargamento na mobilidade…)? Não entendo, sinceramente, esta vertente contestatária.
Por outro lado, o ministério fala, através do seu extraordinário ministro Nuno Crato (um verdadeiro caso para os perdidos e achados) de homogeneização dos funcionários públicos ao nível dos direitos e dos deveres. Então por que razão não vinculam os professores contratados que andam há anos, angustiadamente, a batalhar por uma luz de estabilidade e dignidade profissionais, que lhes deveriam ser, por direito, outorgados, a fim de pôr termo à maior injustiça laboral que existe em Portugal? Não é isso que se passa com a restante função pública?
Em primeiro lugar, porque um professor educador de infância não se pode compaginar, no que diz respeito ao modus faciendi laboral, a um professor do primeiro ciclo, e este a um do segundo ou do terceiro e estes a um do secundário. Adrede, esbocei este ajuntamento. Na verdade, existem orgânicas laborais diferenciadas nestes ciclos. Se não causará absolutamente nenhuma estremeção olharmos para um professor do segundo e do terceiro ciclos de modo a que se note um efetivo grau de continuidade pedagógico-didática, o mesmo já não se passa de forma tão óbvia no ensino secundário. Aqui, o trabalho é, de facto, desenvolvido afrentando, essencialmente, o próximo passo, o qual se encontra já ao virar da esquina: o acesso ao ensino superior, ou então a entrada, como técnico especializado (e bem qualificado), no mundo do trabalho. São, portanto, paradigmas diferentes, onde se exige, naturalmente, dinâmicas diferenciadas. Mesmo as disciplinas de índole mais prática têm, no nível secundário, um caráter teórico mais realçado. Daí que não me provocar absolutamente nenhuma estranheza que certas disciplinas, ao nível do segundo e terceiros ciclos, abarquem uma carga letiva de trinta horas, situação marcadamente impossível com outras disciplinas de desenvolvimento mais teorético e pós-laboral (o famoso trabalho de casa dos professores). Como é evidente, isso não seria possível no secundário. Aliás, não era, decerto, por acaso que a carga letiva neste ciclo contemplava, até há pouco tempo, vinte horas de trabalho em sala de aula, ao contrário dos outros ciclos (segundo e terceiros), que se ajustavam (e assim continua) nas vinte e duas horas letivas. Não se pode, pois, tratar por igual o que é diferente. Por vezes, as reformas educativas dão-se com pequenos passos, os quais podem resultar em inexoráveis saltos para o país. Infelizmente, não é isso que se tem passado durante os vários e rotativos governos desta segunda República, os quais são marcadamente e implicantes no que diz respeito a deixar uma inelutável marca pretensamente mirífica e salvadora.
Dito isto, importa acrescentar que a greve dos professores tem, na sua índole, apontamentos de total hipocrisia de ambos os lados. Em primeiro lugar, a questão da mobilidade especial. Os sindicatos são, como sabemos, frontalmente contra. Os professores do quadro também. Os contratados, coitados, já andam em mobilidade há anos e não têm, a este respeito, genuína oportunidade de intervenção. Anda para aí um estafado argumento, nascido no meio sindical, de que a mobilidade afeta indiretamente os professores contratados. É claro que afeta, mas noto particularmente o uso desassossegado do advérbio, uma amostra da elevada estima que estes professores desfrutam no meio da classe, especialmente da parte dos sindicatos (um verdadeiro anacronismo, visto que os professores contratados são, de longe, os melhores professores das escolas públicas). Deste modo, questiono por que por que razão os sindicatos não se insurgiram com a redução das vinte e três zonas pedagógicas - existentes desde há muito tempo - para dez. Não configura isso uma efetiva mobilidade dos professores (alargamento de uma zona implica alargamento na mobilidade…)? Não entendo, sinceramente, esta vertente contestatária.
Por outro lado, o ministério fala, através do seu extraordinário ministro Nuno Crato (um verdadeiro caso para os perdidos e achados) de homogeneização dos funcionários públicos ao nível dos direitos e dos deveres. Então por que razão não vinculam os professores contratados que andam há anos, angustiadamente, a batalhar por uma luz de estabilidade e dignidade profissionais, que lhes deveriam ser, por direito, outorgados, a fim de pôr termo à maior injustiça laboral que existe em Portugal? Não é isso que se passa com a restante função pública?
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ERT-RTP
A televisão pública grega (ERT) foi inauditamente encerrada a mando da Troika. Sem aviso prévio (e isso interessa?) , o rotativista governo grego de há décadas encerrou a televisão à noite. A única vez que isso aconteceu foi na Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação da Alemanha nazi. Fiquei naturalmente perplexo. Uma televisão pública é património de qualquer país. Se há necessidade de uma restruturação, deve, pensadamente, fazer-se.
Interroguei-me: chegaremos a este estado, em Portugal? A minha resposta foi imediata e dissociável: só se não se lembrarem. Acrescentei: tomara o Governo ter de acatar um corte deste tipo. É quase uma lotaria: de um dia para o outro, veem-se livres de uma sensacional despesa pública! Tudo em nome do projeto da Troika que por isto se percebe que só percebe de aritmética. O próximo passo poderá ser o extermínio metódico dos velhos: não produzem e só dão despesa.
Ah!, mas o povo português jamais deixaria que tal acontecesse. Os velhos e a televisão.
Interroguei-me: chegaremos a este estado, em Portugal? A minha resposta foi imediata e dissociável: só se não se lembrarem. Acrescentei: tomara o Governo ter de acatar um corte deste tipo. É quase uma lotaria: de um dia para o outro, veem-se livres de uma sensacional despesa pública! Tudo em nome do projeto da Troika que por isto se percebe que só percebe de aritmética. O próximo passo poderá ser o extermínio metódico dos velhos: não produzem e só dão despesa.
Ah!, mas o povo português jamais deixaria que tal acontecesse. Os velhos e a televisão.
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segunda-feira, junho 10, 2013
supremo interesse nacional
Cavaco Silva fala, em entrevista, no superior interesse nacional. "Aconteça o que acontecer, defenderei sempre o supremo interesse nacional", afirma. Fico confuso porque, de repente, fico sem saber o que é o interesse nacional, vindo ou não atributado de supremo. É que eu pensava que o supremo interesse nacional começava e iniciava-se nos portugueses. Porém, para Cavaco Silva, o interesse nacional fica-se pelos supremos interesses dos mercados. "Estamos a regressar aos mercados", diz o presidente. Maravilha.
o fantástico dia de portugal
Penduricalhos à parte, este 10 de junho correu como corre o rio: vai indo. Ajudou à festa o discurso de Cavaco Silva. Falou da agricultura e dos tomates e do clima. Teve ainda tempo de esvoaçar duas ou três ideias com o denominador comum do compromisso.
Cavaco Silva já desde há muito que nos embala numa espécie de desígnio (ou agenda) pessoal que tem a ver com o seu próprio ajustamento com a história. Ele quer ficar na história como o "the special one", ou, numa hipótese mais desconsolada, como o avisado ("eu bem avisei"). Daí que tenha inteirado o seu momento discursivo, no palanque camoniano, com cansadas e desconexas alusões ao passado, a 1986, data da nossa aventura comunitária. Afinal, ele não cedeu perante a CEE relativamente à nossa agricultura (quem diria); afinal, tudo melhorou e agora produzimos mais e melhor, embora a produção esteja mais concentrada em meia dúzia de produtores (não é na concentração de riqueza que reside um dos pontos basilares do retrato do país?). Afinal...
Quanto às atuais preocupações dos portugueses, nada. O 10 de junho cavaquista começou e acabou no próprio.
Cavaco Silva já desde há muito que nos embala numa espécie de desígnio (ou agenda) pessoal que tem a ver com o seu próprio ajustamento com a história. Ele quer ficar na história como o "the special one", ou, numa hipótese mais desconsolada, como o avisado ("eu bem avisei"). Daí que tenha inteirado o seu momento discursivo, no palanque camoniano, com cansadas e desconexas alusões ao passado, a 1986, data da nossa aventura comunitária. Afinal, ele não cedeu perante a CEE relativamente à nossa agricultura (quem diria); afinal, tudo melhorou e agora produzimos mais e melhor, embora a produção esteja mais concentrada em meia dúzia de produtores (não é na concentração de riqueza que reside um dos pontos basilares do retrato do país?). Afinal...
Quanto às atuais preocupações dos portugueses, nada. O 10 de junho cavaquista começou e acabou no próprio.
sexta-feira, junho 07, 2013
gaspar errou!
O Sr. Vítor Gaspar não para, ultimamente, de surpreender. Depois de um longo período de austeridade letárgica, decretou, ao lado do seu olvidado colega da pasta dos assuntos económicos, o tempo do investimento. "Tomem nota", demarcou Gaspar na sua oficial voz ministerial. Presumo que todos anotamos e também prevejo que esta declaração mudará o céu e a terra portuguesas. Afinal, Gaspar é Gaspar e não é todas as legislaturas que temos a sorte de sermos governados por um brilhante e respeitado académico de Bruxelas. Mas... eu disse governados? Então não é Passos Coelho o primeiro-ministro? O líder do Governo? Aquele que giza as diretrizes políticas do executivo? A voz última?
Deveria ser. O Sr. Gaspar teima em disparatar. Estou em crer que a tendência para o disparate anda de mãos dadas com a involução dos resultados de dois anos de ação governativa. Hoje, no Parlamento, Vítor Gaspar afirmou que errou. E o seu maior erro terá sido não ter começado pela reforma do Estado, em vez da austeridade. Numa frase, o Senhor Gaspar mostrou toda a sua incompetência. Em primeiro lugar, porque não foi por falta de avisos que ele não seguiu um rumo diferente. Depois, eu pensava que a reforma do Estado não se posicionava na esfera exclusiva do Ministério das Finanças. Mais do que isso, a frase lapidar de Gaspar apresenta-se como uma espécie de atestado de apatia política para os restantes ministros, principalmente os que têm acrescidamente essa responsabilidade. E estou a falar, obviamente, de Paulo Portas e de Passos Coelho. Este último era expetável, apesar de tudo. Porém, Paulo Portas acordou, decididamente, tarde. Anda a tratar da vidinha, ultimamente. E não a encontrará, decerto, nos seus pares do conselho.
Deveria ser. O Sr. Gaspar teima em disparatar. Estou em crer que a tendência para o disparate anda de mãos dadas com a involução dos resultados de dois anos de ação governativa. Hoje, no Parlamento, Vítor Gaspar afirmou que errou. E o seu maior erro terá sido não ter começado pela reforma do Estado, em vez da austeridade. Numa frase, o Senhor Gaspar mostrou toda a sua incompetência. Em primeiro lugar, porque não foi por falta de avisos que ele não seguiu um rumo diferente. Depois, eu pensava que a reforma do Estado não se posicionava na esfera exclusiva do Ministério das Finanças. Mais do que isso, a frase lapidar de Gaspar apresenta-se como uma espécie de atestado de apatia política para os restantes ministros, principalmente os que têm acrescidamente essa responsabilidade. E estou a falar, obviamente, de Paulo Portas e de Passos Coelho. Este último era expetável, apesar de tudo. Porém, Paulo Portas acordou, decididamente, tarde. Anda a tratar da vidinha, ultimamente. E não a encontrará, decerto, nos seus pares do conselho.
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quinta-feira, junho 06, 2013
cavaco silva, o antigrevista ativo
Cavaco Silva, desta vez, imiscuiu-se no combate político-partidário. E fê-lo a reboque das ideias apresentadas por Nuno Crato, o estafado e baralhado ministro da educação. As premissas identificadas por ambos prendem-se, essencialmente, com o superior interesse dos alunos, como se os milhares de professores não tivessem milhares de filhos em idade escolar, muitos deles com exame final agendado.
Mas têm razão no ponto "os superiores interesses dos alunos". Ao contrário do que se quer fazer crer - e a comunicação social tem dado uma ajudinha -, a luta dos professores é unívoca e desagua, inexoravelmente, na pretensão de uma escola de excelência, com sinais de progresso que possam conduzir os alunos portugueses a ombrear com os índices de aprendizagem dos países de referência. Aliás, esta evolução da escola pública portuguesa nos últimos anos tem sido uma realidade escondida pelo ministério de Crato, se tivermos em conta os derradeiros testes internacionais (relatórios TIMSS e PIRLS 2011, por exemplo) no âmbito das ciências, matemática e leitura.
No entanto, mais importante do que tudo o resto é arranjar uma compensação financeira advinda das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional. É, portanto, neste desígnio que reside, para o Governo, o "superior interesse dos alunos".
Mas têm razão no ponto "os superiores interesses dos alunos". Ao contrário do que se quer fazer crer - e a comunicação social tem dado uma ajudinha -, a luta dos professores é unívoca e desagua, inexoravelmente, na pretensão de uma escola de excelência, com sinais de progresso que possam conduzir os alunos portugueses a ombrear com os índices de aprendizagem dos países de referência. Aliás, esta evolução da escola pública portuguesa nos últimos anos tem sido uma realidade escondida pelo ministério de Crato, se tivermos em conta os derradeiros testes internacionais (relatórios TIMSS e PIRLS 2011, por exemplo) no âmbito das ciências, matemática e leitura.
No entanto, mais importante do que tudo o resto é arranjar uma compensação financeira advinda das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional. É, portanto, neste desígnio que reside, para o Governo, o "superior interesse dos alunos".
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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...