O Sr. Relvas foi-se e veio o Sr. Maduro, com melhor currículo e, acima de tudo, doutor por extenso. Veio para aligeirar, pungentemente, a comunicação do Governo. Nunca me pareceu que fosse esse o mal do executivo. Como já aqui disse, falam todos muito bem. O Sr. Passos Coelho tem até uma bela voz. Entusiasma-se, é certo, mas isso não se afigura como um mal irrevogável. Por sua vez (e já que foi para aqui chamado o adjetivo), o Sr. Portas é também um dos que têm o chamado dom da palavra. Basta vê-lo agora em campanha, austero, histórico, descasacado e desgravatado, dedo e sobreolho carregados, para facilmente concluirmos que, se fossemos todos como o Sr. Portas, o país estaria há muito sem FMI's. Ele diz que tudo fará para que esta nação com nove séculos jamais necessite de encomendas tão penosas. Daí que ande agora de braço dado com a ministra das finanças, a tal que o fez demitir-se irrevogavelmente (se todos fossemos como o Sr. Paulo Portas!...).
Mas confesso que ando confuso. Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque jornadearam até ao centro da Europa no sentido de iniciarem um périplo de convergência relativamente à oitava e nona avaliações da Troika. Pelos vistos, não convergiram lá muito bem. Olli Rehn, o comissário europeu dos Assuntos Económicos desferiu de imediato um golpe de negação relativamente à aspiração do vice-primeiro-ministro em aumentar o défice do corrente ano para 4,5% do PIB. Entretanto, o próprio FMI (um dos braços poderosos da Troika) veio dizer que os países como Portugal devem evitar reduzir os défices orçamentais demasiado depressa, pois a emenda tornar-se-á, deste modo, pior do que o soneto. Não sei, sinceramente, onde para, aqui, a novidade. É evidente que há economias e economias. Não tenho grandes dúvidas, mesmo não sendo economista, que um plano de ajuda deste tipo se ajustaria naturalmente em países como a Alemanha, por exemplo, visto que são países com uma capacidade de gerar riqueza mais célere. Assim, tratar por igual o que é diferente nunca me pareceu um bom caminho a seguir. E depois, para além disso (o que me parece desastroso) somos obrigados a pseudo-negociar, intervalarmente, com funcionários enviados, os quais não têm, visivelmente, capacidade de fugir ao guião com que entram no ministério das finanças (ou no palácio das Laranjeiras).
Para além disso - e como se não bastasse - o PSD age como um partido da oposição, ao criticar, através do seu porta-voz, Marco António Costa, o FMI de ser inflexível nas negociações. António Costa, à Jerónimo de Sousa, sublinha mesmo a hipocrisia institucional da organização internacional presidida por Christine Lagarde.
Não sei se esta incapacidade de entendimento destes atores políticos se deve exclusivamente às minhas limitações. O que eu sei é que eleições e coerência política costumam partilhar o mesmo espaço na nossa praça política.
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