É muito interessante presenciarmos o nascimento de comentadores, todos economicamente diplomadíssimos, convergentes na análise nua e crua dos dados económicos do país. Por exemplo, há dias ouvi José Gomes Ferreira, jornalista justamente considerado da SIC, analisar o desempenho de Gaspar do seguinte modo: nem tudo foi mau, muitas coisas foram até muito boas. Depois, espalhou dois ou três ponteiros estatísticos relativamente ao dinheiro em caixa, balança comercial e pouco mais. Perante isto, o seu interlocutor retorquiu-lhe: e os custos humanos? Resposta pronta de José Gomes Ferreira (e aqui coloco-a entre aspas): "isto é outra história".
Esta colateralidade do humano tornou-se, de facto, emergente na sábia voz desta gente. Infelizmente, é fundamentalmente este posicionamento que está errado. Basta olharmos, relançadíssimos, para a declaração Universal dos Direitos Humanos, nascida no pós-guerra, solenemente adotada e proclamada, em 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, ou mesmo para o fundamento do nascimento, em 1951, da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, ou, antes disso tudo, para o famoso discurso de Churchill, em Zurique, no rescaldo do pós-guerra, onde exorta os países europeus para a criação dos Estados Unidos da Europa. Deixo aqui apenas um pequeníssimo excerto desse discurso, no sentido de percebermos quão longe estamos destas vontades: "Se a Europa alguma vez se unisse na partilha da sua herança comum, não haveria limite para a felicidade, a prosperidade e a glória de que os seus trezentos ou quatrocentos milhões de pessoas gozariam. (...). Só assim poderão centenas de milhões de pessoas que mourejam recuperar as alegrias simples e as esperanças que fazem com que valha a penas viver a vida".
Estadistas que não olham para o ser humano como principal objeto do seu trabalho têm um nome: ditadores. Pelo menos, é isto que a história nos vem dizendo.
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