Tem sido assim ao longo dos tempos. Os "ajudantes" de Cavaco, a certa altura, começaram a vociferar que não havia alternativas à maioria absoluta cavaquista. Com Guterres, já não havia ajudantes, mas uma e outra voz lá se levantava, e, timidamente, não resistiam a entrar pela mesma linha de orientação programática. Depois, houve um apaziguamento deste tipo de retórica, embora os dislates discursivos não tivessem abrandado, pois Barroso inaugurou o famoso discurso da tanga e Santana decretou o fim da crise. Agora, no consulado de José Sócrates, novamente num governo de maioria absoluta, já não vislumbramos os ajudantes cavaquistas, pelo menos com foram definidos pelo actual Presidente da República. No entanto, este governo acarreta o peso de uma maioria e, assim, afigura-se tarefa quase impossível suprimir, na totalidade, este tipo de assistentes iluminados, pois vivem, quais peixes pegadores evocados pelo Padre António Vieira no seu sermão na cidade de São Luís do Maranhão, em 1654, parasitando ao redor da ilusão dos votos. Por isso, não se coíbem em elaborar raciocínios apurados e pretensiosamente estratégicos, os quais resultam, afinal, em dedutivas boçalidades. Parece que grande parte desta incumbência, neste governo, fica a cargo de Vitalino Canas, porta-voz do PS e, segundo estranhamente se avalia, também do governo. Deste modo, Vitalino Canas apossou-se de uma das mais infelizes frases feitas que pode existir num regime democrático, que é o de afirmar, desinibida e arrogantemente, que não existe uma alternativa política a este governo PS.
Ora, como toda a gente sabe (menos o Vitalino Canas), em democracia há sempre uma alternativa. Na verdade, ele não vê que este tipo de raciocínio tubiforme constitui, numa leitura levada às últimas consequências, uma espécie de enxovalho para o Presidente da República. Até porque este continua com o poder, que a constituição lhe confere (artigo 133), de dissolver a Assembleia da República e de convocar novas eleições, ou até de eleger um governo de iniciativa presidencial. Para além disso, convém nunca esquecer – e parece que os políticos actualmente não relevam este facto – que a soberania da República reside, constitucionalmente, no povo. Por isso, em democracia, a última e definitiva resposta caberá sempre ao povo que, através do voto, elege mas também pune os governos.
Deste modo, quando alguém próximo dos governos, ajudante ou não, começa a definir uma estratégia de exclusividade (ou nós ou o caos), o resultado é, em geral, funesto para o executivo. Por isso, só me espanta como é que esta gente não tem aprendido ao longo destes anos. O curioso é que, depois de perderem as eleições, todos são capazes de vislumbrar o que agora, por mero oportunismo político, não conseguem atingir. Será, assim, o tempo das análises sectoriais, dos dedos apontados ao chefe, das acusações de insensibilidade, das obsessões irrelevantes, das inabilidades, dos deslumbramentos, em suma, da acusação que o governo não foi capaz de escutar e de olhar frontalmente para as pessoas, ou melhor, para o povo, substituindo-o, antes, por números. E é este mesmo povo que, sentindo-se desprezado por um governo que não governa tendo em conta, primeiramente, as necessidades das pessoas, faz uso daquilo que, em democracia, é a sua arma. E é assim que as eleições se perdem.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 12/06/2008)
1 comentário:
Há um novo partido a emergir. Um partido que não tem ligações a nenhuma empresa dessas que têm gerado milhões de lucro durante as crises. Dessas onde param alguns dos nossos ex-políticos do PSD e PS. Esqueçam um pouco as touradas e os futebois e a mania que somos grandes. Os partidos não podem ser vistos como uma religião ou como um clube. Mudem!
Não consigo entender como pode um trabalhador ter qualquer receio de ser governado por uma ideologia comunista radical (mesmo que existisse em Portugal)! O que perderia? Mas a nossa esquerda (excluindo o PS que quer a todo o custo ser considerado esquerda) é liberal, protege a liberdade e não deixa os ricos ficarem tão ricos. Eu voto BE. Pena que os seus dirigentes sejam demasiados políticos…Mas os outros ainda são mais.
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