terça-feira, junho 24, 2008

a confiança dos portugueses

O Eurobarómetro da Primavera revelou (se é que se pode designar de revelação) que os portugueses são os menos confiantes dos 27 Estados da União Europeia quanto ao seu futuro próximo (12 meses). Em Outono do ano passado, idêntico inquérito posicionou Portugal mais acima do que agora explanam os resultados. Vamos então olhá-los (a fonte é o DD):

  • 15% dos portugueses acreditam que, em termos gerais, Portugal estará melhor dentro de 1 ano (a média europeia é de 32% e no ano passado 35% dos portugueses acreditavam numa melhoria do seu nível de vida);
  • 11% dos portugueses acreditam em melhorias quanto ao seu agregado familiar (a média europeia é de 22% e no ano passado 32% estavam mais optimistas);
  • 8% dos portugueses acreditam que o emprego, no país, se modificará para melhor (a média na Europa é de 21%, mas ficamos à frente dos húngaros e dos gregos com 5 e 7%, respectivamente, mas em Outubro do ano passado a confiança dos portugueses neste item era de 36%);
  • 10% dos portugueses acredita que estaremos melhor, economicamente, dentro de 1 ano (é o terceiro valor mais baixo, pois estamos à frente da Irlanda e Finlândia, com 9% e da Hungria, com 8%).

Por tudo isto, facilmente se percebe que no topo das preocupações dos portugueses se encontra o que diz respeito ao (des)emprego, sendo mesmo um caso único dentro da União, com 49% dos portugueses a revelarem essa desassossego (a inflação e a subida dos preços também é merecedor de pódio, com 42%). Ora, são estes dados que melhor reflectem o estado mental do país, designadamente daquela classe média que Manuela Ferreira Leite quer, segundo espelhou no Congresso do seu partido, agora, apostar. Convém, naturalmente, não esquecer os tais dois milhões de pobres que por aí andam perdidos, desalentados, com uma esperança ainda mais diminuta do que os remediados. Mais do que o brilho os TGV's e das pontes e dos aeroportos e das frentes ribeirinhas (curioso, tudo ao redor de Lisboa...) e do maior túnel da Ibéria, importa brilharmos através doutros métodos. E não basta, para que isso aconteça, o folclore habitual de manifestações de interesses que mais não servem do que alimentar uma imprensa cada vez mais habituada a não reflectir. Torna-se, portanto, necessário olhar ao país como um todo numa aposta clara no conhecimento, na educação e, sobretudo, no combate sem tréguas à desigualdade que cada vez é mais gradativa no país. Tudo para que dentro de um ano ou dois, os 75% dos desacreditados se tornem mais crentes num país que deve ser para todos. E o Governo tem, obviamente, um papel primordial para que isso aconteça, ao contrário do que o discurso positivo do primeiro-ministro por vezes teima em negar. Na verdade, a famosa frase de Kennedy que todos os políticos neo-liberais e social-democratas gostam de citar "não perguntes o que o teu país pode fazer por ti, mas sim o que tu podes fazer pelo teu país", não é, nos tempos que correm em Portugal, suficientemente motivadora para que os mais necessitados.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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