Os números apresentam-se frios e secos. Segundo relatórios oficiais, dezassete moçambicanos morreram e mais de trinta mil voltaram ao país, na sequência de ataques contra estrangeiros na África do Sul. Estes tiveram, no entanto, consequências ainda mais desastrosas que se saldaram em mais de sessenta mortos e a fuga de milhares de estrangeiros para centros de refugiados internos e países vizinhos.
Deste modo, a pergunta que se impõe é igualmente seca e - por que não? - provocadora: o que leva cidadãos que foram vítimas de um dos mais vergonhosos regimes que se desenvolveram, durante décadas, no século XX - que os obrigava, por exemplo, a medidas tão simplórias de ter que apanhar um autocarro próprio para pretos - a tornarem-se, agora, a finalizar o primeiro decénio deste século, em fomentadores de ódios segregativos e xenófobos, ao ponto de, com uma violência extrema, espancarem e matarem cidadãos pelo simples facto de serem... estrangeiros? Não faço a mínima ideia de como é que esta questão pode ser abordada.
Também na Europa, esse berço da civilização ocidental, vi há bem poucos dias, na televisão, um grupo de romanos a festejarem, com o braço direito bem hirto, denotando, desassombrados, a saudação fascista de Mussolini, a vitória do seu candidato - Gianni Alemanno, da Aliança Nacional - que os levou à presidência da Câmara Municipal de Roma. As diferenças não são, portanto, assim tantas. Sejam brancos ou pretos, haverá sempre razões que a própria razão desconhece.
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