Leio na imprensa regional que, após mais de duas décadas de espera, a população de Mondim de Bastos vai ter finalmente uma ligação à EN210, o que constitui uma vantagem não só na redução do tempo do percurso percorrido até à estrada nacional, mas também um aumento indubitável da segurança. Se tivermos em conta que esta ligação, esperada há décadas, tem um alcance de apenas três quilómetros de extensão e um investimento de 11 milhões de euros, não nos é difícil perceber o alheamento que os sucessivos governos têm dado às regiões que, à falta de melhor nomeação, são apelidadas de interior. Os exemplos abundam. Cavaco Silva, também ele culpado da excessiva centralização que o país desenha, chamou há pouco tempo atenção para este infeliz desígnio nacional. Em Trás-os-Montes, por exemplo, há uma via rápida que vai de Amarante a Bragança (que agora o governo quer transformar em auto-estrada, para gáudio pacóvio dos autarcas desse percurso) e o resto, isto é, o que vai da IP4 para dentro, é uma verdadeira aberração rodoviária. No entanto, desde há muito que está também previsto uma ligação a esta via rápida. Mas já se fizeram auto-estradas, pontes, já se projectaram aeroportos e vias ferroviárias e esses escassos quilómetros (25) continuam no limbo das intenções políticas. Os deputados destas regiões não se ouvem, não sei se por pura inabilidade política, se por que não se fazem ouvir (o que vai dar ao mesmo) ou se por que os não deixam falar (o que vai dar igualmente ao mesmo). Os autarcas também deixaram de reivindicar, ora por que o governo lhes acena por outro tipo de projectos, ora por que estão simplesmente cansados (o que é grave), ora por que são incapazes de se afirmarem perante os seus colegas de autarquias contíguas, as tais que salivam perante a visão profética da auto-estrada à porta de casa.
Deste modo, aparece-nos um país demasiado desigual para o seu tamanho. Já o disse aqui que as desigualdades socio-económicas que o país apresenta não se coadunam com os seus pouco mais dos 90000 km2. Assim, enquanto os governos centrais não forem capazes de efectuar uma verdadeira descentralização - que resultará num desenvolvimento homogéneo influenciando, assim, os governantes que têm responsabilidades mais restritas (mas não menos responsáveis e importantes), precisamente aqueles que gritam alto contra o governo porque são objectivamente prejudicados, mas se calam quando, devido à vozearia produzida, prejudicam implacavelmente os seus vizinhos e companheiros na antiga e mais que justa luta a favor duma afirmação regional cada vez mais consentânea com os padrões europeus contemporâneos - enquanto não forem capazes, dizia, Portugal posicionar-se-á sempre no anedotário Europeu como um dos países mais pequenos da União que consegue construir Expo's e Centros Culturais e Euros de futebol, mas que, no chamado interior quase amazónico, as populações esperam vinte anos para que possam usufruir duma estrada de três quilómetros que lhes permite alcançar, literalmente, um certo grau de felicidade.
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