quinta-feira, julho 31, 2008
mais um tabu de cavaco
Sabemos que o nosso presidente é, desde há muito, dado a tabus. Criou agora um, em nome do estatuto político-administrativo dos Açores. Não sei se Cavaco Silva tinha a nobre intenção de clarificar alguma coisa. O que eu sei é que a maioria dos portugueses, que aguardou, ansiosamente, a declaração televisiva, ficou, na melhor das hipóteses, na mesma. A Assembleia da República era o melhor lugar para ouvir este recado do presidente. Esta dramaturgia espreita, até certo ponto, uma tentativa de inventar alguma coisa, de deixar algum tipo de marca diferenciadora, do tipo uma presidência de aproximação com o povo. Talvez Cavaco Silva pense que é assim que se garante uma vitória eleitoral. No fundo, foi assim, com este paulatino e paciente trabalho de bastidores, que Cavaco ganhou as eleições presidenciais. A dois ou três anos de distância. E não é ele político!...
quarta-feira, julho 30, 2008
obama na europa
Barak Obama, o candidato democrata à presidência dos Estados Unidos, efectuou, como se sabe, uma visita (extraordinária) à Europa. Para um país que se estende, tentacularmente, por todo o mundo, com o estandarte irredutível de se constituir como a única super-potência à escala mundial, esta visita deveria constituir um motivo de natural orgulho. Mesmo que o mesmo se tivesse passado com o candidato republicano. No entanto, o que se viu foi uma quebra abrupta de Obama nas sondagens. Com efeito, uma das últimas sondagens, publicada pela USA Today/Gallup (retirado via http://politica2008.wordpress.com/) dá uma vantagem a Mccain, com 49% contra 45% de Barack Obama. A sondagem foi conduzida entre os dias 25 e 17 de Julho, durante os últimos dias da digressão internacional de Obama. É, pois, paradigmático do modo excessivamente umbilical como os estadounidenses se revêem no mundo.
segunda-feira, julho 28, 2008
parecer de freitas do amaral e o interesse público
Invocar uma medida como o interesse público para contestar as providências cautelares interpostas pelo Boavista, ainda para mais quando, por trás desta decisão, está um parecer que o jurista Freitas do Amaral elaborou é, a meu ver, desastroso. Em primeiro lugar, por que a definição de interesse público ligada à prática do futebol, parece-me exagerada. Na verdade, integrar como interesse público a descida do Boavista (e a consequente repescagem do Paços de Ferreira) e a suspensão de Pinto da Costa por dois anos só se justifica se tivermos em conta que estes senhores da Federação Portuguesa de Futebol - a começar pelo seu presidente - andam, realmente, muito confusos e perdidos. Depois, o que Freitas do Amaral estudou nunca deveria assumir um carácter vinculativo que foi, no fundo, o que aconteceu. Ainda para mais quando sabemos que outros juristas, igualmente idóneos, constituíram opinião contrária ao do ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
É, pois, este o mundo do futebol: pessoas que andam por aí a tomarem decisões importantes para as quais estão, visível e desgraçadamente, inadaptados.
É, pois, este o mundo do futebol: pessoas que andam por aí a tomarem decisões importantes para as quais estão, visível e desgraçadamente, inadaptados.
direcção comercial de luxo
O que Manuel Pinho disse este fim de semana do governo, ao compará-lo a uma espécie de direcção comercial de luxo de uma empresa, não causou, infelizmente, grande eco na comunicação social nem nos líderes da oposição. É que além do notório mau gosto, a frase é reveladora do que vai na cabeça deste governante e, por arrastamento, do governo. Uma direcção comercial de luxo!...
o abandono de carlos dantas
Carlos Dantas foi, até hoje, presidente da distrital de Setúbal do CDS-PP. Abandonou o partido porque, segundo as suas próprias palavras, "passados três meses do termo do meu [seu] mandato e de no último dia termos apresentado um projecto de desenvolvimento do partido não obtivemos qualquer proposta. Como não gosto de estar em instituições de braços cruzados a assistir entendi que o melhor seria desfilar-me do CDS". Depois, 30 jovenzitos PP's seguiram-lhe as pisadas, numa manfestação de solidariedade.
Ora, abandonar um partido por causa das razões que invoca dá vontade de rir. O homem apresentou um projecto de desenvolvimento e não obteve qualquer proposta da direcção. Só isso? Não sabia esperar mais um pouco? Por acaso telefonou a alguém? Fez mais alguma diligência? O sr. Dantas deve explicar-se. Tem obrigação de o fazer com maior rigor de análise e deixar-se de balelas quando sublinha, a respeito da excursão dos jovens populares, que "ainda há jovens que acreditam em valores como a amizade, lealdade e [o] compromisso".
Explique-se, homem, e não queira ficar como uma espécie de pré-futuro-apoiante de Manuela Ferreira Leite.
Ora, abandonar um partido por causa das razões que invoca dá vontade de rir. O homem apresentou um projecto de desenvolvimento e não obteve qualquer proposta da direcção. Só isso? Não sabia esperar mais um pouco? Por acaso telefonou a alguém? Fez mais alguma diligência? O sr. Dantas deve explicar-se. Tem obrigação de o fazer com maior rigor de análise e deixar-se de balelas quando sublinha, a respeito da excursão dos jovens populares, que "ainda há jovens que acreditam em valores como a amizade, lealdade e [o] compromisso".
Explique-se, homem, e não queira ficar como uma espécie de pré-futuro-apoiante de Manuela Ferreira Leite.
os deputados silenciosos
No Expresso vem uma interessante reportagem sobre os deputados que passaram uma inteira sessão legislativa sem solicitar qualquer intervenção no plenário. É verdade que alguns estiveram medianamente activos noutras tarefas, designadamente nas comissões parlamentares. No entanto, o que convém determinar é se os outros empregos que muitos destes deputados têm (por exemplo, comentador nas televisões, como são os casos de Freire Antunes e Miguel Relvas) não lhes roubam tempo na preparação do trabalhinho no hemiciclo. É que tanto Relvas como Antunes já demonstraram que não é por falta de qualidade que não intervêm. É certo que muitos haverão (destes silenciosos) que não abrem o bico simplesmente por que o fazem penetrantemente somente nas horas das refeições. Todavia, estou certo que não é o caso destes dois. Basta ouvi-los, por exemplo, nas televisões para verificarmos que seriam um contributo importante para substanciar a qualidade das intervenções no Parlamento. Há, portanto, que escolher. Como muitos cidadãos deste país fazem, aliás.
sexta-feira, julho 25, 2008
o acordo do oeste
Ainda em acrescento ao post anterior, deparei-me agora com o acordo entre o governo e os autarcas do Oeste, o que fez com que estes designassem, através do presidente da Associação de Municípios do Oeste, o dia 25 de Julho como "um dia histórico para o Oeste e para os municípios da Lezíria". E o caso não é para menos. O desadequado ministro Mário Lino resolveu prendar esta região (que, como sabemos, não é de todo das mais pobres do país) com um programa de requalificação que envolverá diversas áreas como a saúde (construção de novos hospitais), o desporto, as linhas ferroviárias (com ligação a Alcochete, claro), as barragens, etc. Tudo isto a rondar os 2100 milhões de euros de investimentos, dos quais 1400 milhões da iniciativa do Governo e 660 milhões de iniciativa municipal.
Ora, a pergunta que se deve colocar é a seguinte: e as outras regiões, as que se encontram realmente mais desfavorecidas?
Na verdade, este tipo de governação à vista (que se pode equacionar na simplicidade que resulta de acordos do tipo desculpem lá aquilo da Ota, mas peguem lá isto, que ainda é melhor...) não pode continuar a ser apanágio dos governos desta terceira república. Neste sentido, urge que o Presidente da República (que sublinhou, recentemente, as desigualdades regionais que o país, desgraçadamente, deixou que se edificassem de um modo verdadeiramente perverso) tenha um posicionamento adequado às suas próprias palavras. O país continua a ser uno. Não a unicidade salazarista (que continua a ser a que nos rege, tendo em conta os índices de desenvolvimento regionais apresentados), mas uma projectada e verdadeira unicidade civilizacional, a qual nos deve permitir um verdadeiro sentido de solidariedade entre as diversas regiões. No fundo, este sentido de harmonia civilizacional inter-regional não é mais do que está na base teorética do edifício que se tem vindo a construir e que é a União Europeia.
(publicado no jornal Público no dia 2/8/08)
Ora, a pergunta que se deve colocar é a seguinte: e as outras regiões, as que se encontram realmente mais desfavorecidas?
Na verdade, este tipo de governação à vista (que se pode equacionar na simplicidade que resulta de acordos do tipo desculpem lá aquilo da Ota, mas peguem lá isto, que ainda é melhor...) não pode continuar a ser apanágio dos governos desta terceira república. Neste sentido, urge que o Presidente da República (que sublinhou, recentemente, as desigualdades regionais que o país, desgraçadamente, deixou que se edificassem de um modo verdadeiramente perverso) tenha um posicionamento adequado às suas próprias palavras. O país continua a ser uno. Não a unicidade salazarista (que continua a ser a que nos rege, tendo em conta os índices de desenvolvimento regionais apresentados), mas uma projectada e verdadeira unicidade civilizacional, a qual nos deve permitir um verdadeiro sentido de solidariedade entre as diversas regiões. No fundo, este sentido de harmonia civilizacional inter-regional não é mais do que está na base teorética do edifício que se tem vindo a construir e que é a União Europeia.
(publicado no jornal Público no dia 2/8/08)
os caminhos da europa para portugal
Leio na imprensa regional que, após mais de duas décadas de espera, a população de Mondim de Bastos vai ter finalmente uma ligação à EN210, o que constitui uma vantagem não só na redução do tempo do percurso percorrido até à estrada nacional, mas também um aumento indubitável da segurança. Se tivermos em conta que esta ligação, esperada há décadas, tem um alcance de apenas três quilómetros de extensão e um investimento de 11 milhões de euros, não nos é difícil perceber o alheamento que os sucessivos governos têm dado às regiões que, à falta de melhor nomeação, são apelidadas de interior. Os exemplos abundam. Cavaco Silva, também ele culpado da excessiva centralização que o país desenha, chamou há pouco tempo atenção para este infeliz desígnio nacional. Em Trás-os-Montes, por exemplo, há uma via rápida que vai de Amarante a Bragança (que agora o governo quer transformar em auto-estrada, para gáudio pacóvio dos autarcas desse percurso) e o resto, isto é, o que vai da IP4 para dentro, é uma verdadeira aberração rodoviária. No entanto, desde há muito que está também previsto uma ligação a esta via rápida. Mas já se fizeram auto-estradas, pontes, já se projectaram aeroportos e vias ferroviárias e esses escassos quilómetros (25) continuam no limbo das intenções políticas. Os deputados destas regiões não se ouvem, não sei se por pura inabilidade política, se por que não se fazem ouvir (o que vai dar ao mesmo) ou se por que os não deixam falar (o que vai dar igualmente ao mesmo). Os autarcas também deixaram de reivindicar, ora por que o governo lhes acena por outro tipo de projectos, ora por que estão simplesmente cansados (o que é grave), ora por que são incapazes de se afirmarem perante os seus colegas de autarquias contíguas, as tais que salivam perante a visão profética da auto-estrada à porta de casa.
Deste modo, aparece-nos um país demasiado desigual para o seu tamanho. Já o disse aqui que as desigualdades socio-económicas que o país apresenta não se coadunam com os seus pouco mais dos 90000 km2. Assim, enquanto os governos centrais não forem capazes de efectuar uma verdadeira descentralização - que resultará num desenvolvimento homogéneo influenciando, assim, os governantes que têm responsabilidades mais restritas (mas não menos responsáveis e importantes), precisamente aqueles que gritam alto contra o governo porque são objectivamente prejudicados, mas se calam quando, devido à vozearia produzida, prejudicam implacavelmente os seus vizinhos e companheiros na antiga e mais que justa luta a favor duma afirmação regional cada vez mais consentânea com os padrões europeus contemporâneos - enquanto não forem capazes, dizia, Portugal posicionar-se-á sempre no anedotário Europeu como um dos países mais pequenos da União que consegue construir Expo's e Centros Culturais e Euros de futebol, mas que, no chamado interior quase amazónico, as populações esperam vinte anos para que possam usufruir duma estrada de três quilómetros que lhes permite alcançar, literalmente, um certo grau de felicidade.
Deste modo, aparece-nos um país demasiado desigual para o seu tamanho. Já o disse aqui que as desigualdades socio-económicas que o país apresenta não se coadunam com os seus pouco mais dos 90000 km2. Assim, enquanto os governos centrais não forem capazes de efectuar uma verdadeira descentralização - que resultará num desenvolvimento homogéneo influenciando, assim, os governantes que têm responsabilidades mais restritas (mas não menos responsáveis e importantes), precisamente aqueles que gritam alto contra o governo porque são objectivamente prejudicados, mas se calam quando, devido à vozearia produzida, prejudicam implacavelmente os seus vizinhos e companheiros na antiga e mais que justa luta a favor duma afirmação regional cada vez mais consentânea com os padrões europeus contemporâneos - enquanto não forem capazes, dizia, Portugal posicionar-se-á sempre no anedotário Europeu como um dos países mais pequenos da União que consegue construir Expo's e Centros Culturais e Euros de futebol, mas que, no chamado interior quase amazónico, as populações esperam vinte anos para que possam usufruir duma estrada de três quilómetros que lhes permite alcançar, literalmente, um certo grau de felicidade.
quinta-feira, julho 24, 2008
o preconceito em relação ao ensino universitário privado
Convém lembrar ao sr. António Almeida Dias, presidente da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário (CESPU) que quem ajudou a criar o preconceito relativamente ao ensino superior privado foram as próprias instituições que têm vindo a ministrar, ao longo dos anos iniciados pelos governos do actual Presidente da República, um número extravagante de cursos, devidamente homologados pelo ministério que tutela o ensino superior. Os casos são muitos e podemos pegar, a título de um tortuoso exemplo, na famosa Universidade Independente, a tal em que José Sócrates, tão abnegadamente, se licenciou.
Por isso, a decisão do governo em atribuir à Universidade do Algarve o novo curso de medicina (que se iniciará dentro de dois anos), em detrimento das outras três candidaturas privadas, revela-se, tendo em conta a importância do curso (imaginem um médico formado pela Independente...), uma escolha acertada. Pode, no entanto, haver um certo grau de injustiça nestas decisões (a Universidade do Algarve foi a única universidade pública a concurso, contra três privadas). Daí que ainda seja preciso percorrer algum caminho, por parte destas cooperativas de ensino superior, para que não se construa, aprioristicamente, uma imagem que, muitas vezes, não se coaduna com o que é excelentemente oferecido.
Por isso, a decisão do governo em atribuir à Universidade do Algarve o novo curso de medicina (que se iniciará dentro de dois anos), em detrimento das outras três candidaturas privadas, revela-se, tendo em conta a importância do curso (imaginem um médico formado pela Independente...), uma escolha acertada. Pode, no entanto, haver um certo grau de injustiça nestas decisões (a Universidade do Algarve foi a única universidade pública a concurso, contra três privadas). Daí que ainda seja preciso percorrer algum caminho, por parte destas cooperativas de ensino superior, para que não se construa, aprioristicamente, uma imagem que, muitas vezes, não se coaduna com o que é excelentemente oferecido.
quarta-feira, julho 23, 2008
a ratificação do acordo ortográfico e a visão de vasco graça moura
Sabemos que Vasco Graça Moura sempre se posicionou - de forma veemente, aliás - contra o Acordo Ortográfico. No entanto, é curioso verificar o seu posicionamento relativamente à ratificação do Acordo pelo Presidente da República. Começa assim o seu escrito no DN: "É possível que o Presidente da República não tivesse outro remédio formal que não fosse o de ratificar o segundo protocolo modificativo do Acordo Ortográfico". Ora, este posicionamento hilariante do deputado europeu revela a sua incapacidade de se desmembrar do chamado cavaquismo, do qual Graça Moura foi (e continua a ser) um destacado e obsessivo apoiante. Por isso afirma, envergonhado, que o Presidente da República (possivelmente) não tinha outro remédio senão o de oferecer o seu assentimento formal ao Governo.
Por tudo isto, fico surpreendido por verificar em que conta o reputado escritor coloca Cavaco Silva.
Por tudo isto, fico surpreendido por verificar em que conta o reputado escritor coloca Cavaco Silva.
segunda-feira, julho 21, 2008
a questão fracturante
Bem espremidinhas, as declarações estranhíssimas de Manuela Ferreira Leite ao esboçar um grau de cumplicidade objectiva entre o casamento e a procriação resultaram naquilo que vai ser a grande questão fracturante no combate político-ideológico que se avizinha. No entanto, penso que se os partidos forem por aí (e esses invulgares rapazes e raparigas das juventudes já deram sinais disso), o caminho que trilham não vai ser objectivamente o melhor. Por umas simples razão: as pessoas não estão necessariamente preocupadas com o objectivo primeiro do casamento (se é a procriação ou se é a fornicação ou se não é nenhuma delas), nem com a legalização dos casamentos entre homossexuais. Até porque os partidos podem sempre (como, aliás, fizeram com o aborto) afirmar que tudo isto é uma questão de consciência e, como tal, não deve ser remetido para a esfera modelar do partido. Fica bem e é sempre uma maneira elegante de nada dizer. Na verdade, mesmo no âmbito destas questões melindrosas existe um abatimento ideológico, em que a direita e a esquerda continuam nos seus paulatinos esvaziamentos. Quantos comunistas é que haverá que não concordam (o PCP nunca conviveu muito bem com este tipo de "desvios" sexuais) com o casamento homossexual? Por outro lado, quantos democratas cristãos não votarão a favor desse mesmo tipo de união, mesmo que contrarie os mandamentos católicos? É, de facto, na igreja, com o seu caminhar sustentado para o abismo, que reside a grande vertente oposicionista a esta questão. Adivinha-se, por isso, mais uma derrota para a alta (e pequena) patente eclesiástica.
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sábado, julho 19, 2008
o apoio do governo à candidatura de barroso
O que eu realmente não gosto é de ver o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Portugal, o sr. Luís Amado, apoiar a candidatura de Durão Barroso nestes termos: "Nós temos toda a vantagem em ter como Presidente da Comissão Europeia um português, neste caso o dr. Durão Barroso. O governo português não tem nenhuma hesitação relativamente ao apoio a dar ao dr. Durão Barroso (...) Achamos que é importante para o país ter no topo da Comissão Europeia um português com o prestígio e com o currículo do dr. Durão Barroso. Não há nenhuma ambiguidade nem nenhuma hesitação do governo português sobre essa matéria".
Ora, eu não subscrevo as palavras de Luís Amado.
Em primeiro lugar, pelo provincianismo emanado. De facto, afirmar que é importante para o país ter Barroso como Presidente da União revela uma paralisia intelectual aberrante. O que se revela importante para o país e para os restantes membros da União é ter como Presidente da Comissão alguém que seja capaz de visionar aquilo que outros não conseguem. E, neste campo, Durão Barroso não se mostrou, ao longo destes anos na União, nem melhor nem pior que os outros, pois todos os mandantes que delineiam os destinos da Europa mostram, a cada dia que passa, uma incapacidade desmoralizante.
Depois, esta coisa de falar no prestígio e no currículo de Durão Barroso, sabendo que foi uma pessoa que fugiu às suas responsabilidades enquanto primeiro-ministro português é, simplesmente, ridículo. O que Luís Amado, com esta disparatada declaração revelou foi somente aquilo que paira na sua cabecinha, isto é, preconceitos retóricos que não se dignam alcançar mais do que meras conveniências. O que, bem espremido, dá nada.
Ora, eu não subscrevo as palavras de Luís Amado.
Em primeiro lugar, pelo provincianismo emanado. De facto, afirmar que é importante para o país ter Barroso como Presidente da União revela uma paralisia intelectual aberrante. O que se revela importante para o país e para os restantes membros da União é ter como Presidente da Comissão alguém que seja capaz de visionar aquilo que outros não conseguem. E, neste campo, Durão Barroso não se mostrou, ao longo destes anos na União, nem melhor nem pior que os outros, pois todos os mandantes que delineiam os destinos da Europa mostram, a cada dia que passa, uma incapacidade desmoralizante.
Depois, esta coisa de falar no prestígio e no currículo de Durão Barroso, sabendo que foi uma pessoa que fugiu às suas responsabilidades enquanto primeiro-ministro português é, simplesmente, ridículo. O que Luís Amado, com esta disparatada declaração revelou foi somente aquilo que paira na sua cabecinha, isto é, preconceitos retóricos que não se dignam alcançar mais do que meras conveniências. O que, bem espremido, dá nada.
candidatura de barroso
Vem este post a propósito da disponibilidade manifestada pelo nosso Durão Barroso em se candidatar a mais um mandato como presidente da Comissão Europeia. Numa altura em que as respostas politicamente correctas passam, quase como uma espécie de maldição, pelo "ainda estamos longe das eleições", ou "um ano é muito tempo, veremos o que vai acontecer...", esta atitude objectiva de Barroso é de louvar. É o que estes estágios "lá fora" fazem aos nossos políticos. Cavaco, o iniciador daquilo que os jornalistas, deliciados, denominam de tabu, não teve essa sorte. Ou porque não foi convidado, ou porque (o que será mais acertado) a Europa, nesse tempo, respirava uma atmosfera qualitativamente mais favorecida, a começar, obviamente, pelo factor humano (convém lembrar que Barroso está onde está porque outros, antes dele, recusaram o cargo). Assim, esperemos que estes tempos de falsas reflexões em torno de qualquer decisão política (alguém acredita que José Sócrates se encontre num estado de profunda meditação relativamente à opção que irá tomar dentro de mais ou menos um ano?...) sejam, manifestamente, desajustadas nos tempos que correm. Pelos vistos, Barroso compreende esta (nova) sintomatologia político-social (estamos já todos um pouco fartos dos silêncios estratégicos, por isso, há que aconselhar melhor Manuela Ferreira Leite...). Mas um dia ele regressará a Portugal. E quase que aposto que teremos o mesmo Barroso que uma dia aviou, num ápice, as malas para Bruxelas.
quinta-feira, julho 17, 2008
A entrega de armas ilegais
Rui Pereira, o cada vez mais confundido Ministro da Administração Interna, declarou hoje que não aceita um novo prazo de entrega voluntária de armas ilegais por que os portugueses não devem pensar que o Estado não leva a sério os prazos que equaciona. Vai mesmo mais longe e conjectura uma interessante teoria que é revelador do que Rui Pereira pensa dos portugueses. Assim, para o Ministro da Administração Interna, um novo prolongamento de entregas voluntárias de armas só faz com que o seus compatriotas pensem que também desta vez a coisa não é para valer e que atrás de uma nova proposta vem outra. Deste modo, os portugueses acabariam por nunca entregar as armas que eventualmente têm em casa.
Confesso que não entendo o pensamento do ministro. Se existem ainda, provavelmente, mais de um milhão de armas ilegais, dever-se-ia iniciar uma nova recolha voluntária, até que esta opção ficasse definitivamente posta de parte. Daí que este tipo de paternalismo fátuo não é mais do que uma espécie de doutrina completamente anacrónica.
Confesso que não entendo o pensamento do ministro. Se existem ainda, provavelmente, mais de um milhão de armas ilegais, dever-se-ia iniciar uma nova recolha voluntária, até que esta opção ficasse definitivamente posta de parte. Daí que este tipo de paternalismo fátuo não é mais do que uma espécie de doutrina completamente anacrónica.
O apoio berlusconiano a barroso
O vice-presidente do grupo socialista do Parlamento Europeu (PE), o austríaco Hannes Swoboda, criticou Durão Barroso por este ter aceite o apoio do sr. Berlusconi na sua reeleição à frente da Comissão Europeia. Confesso que me custa entender estes senhores que, de vez em quando têm estes rasgos de verticalidade política, ao ponto de desejarem que José Manuel Durão Barroso rejeite o apoio do primeiro-ministro italiano. Não só porque o Parlamento Europeu se deveria preocupar com assuntos que neste momento pairam na agenda internacional bem mais motivantes e urgentes – a começar pela paulatina degradação das classes médias na Europa –, mas também porque, conhecendo a disposição ideológico-política de Barroso, Berlusconi encaixa, com uma perfeição sibilina, na sua composição. Parece que, aos poucos, José Manuel Durão Barroso, vai deixando a sua marca na Comissão Europeia. E isto funciona um pouco como os presidentes da república: no primeiro mandato ondulam suavemente em mantos diáfanos de fantasia para, na derradeira oportunidade, aguçarem as unhas e deixarem a marca. Uma qualquer. Mesmo que seja inoportuna. Neste sentido, pode a esquerda do Parlamento Europeu ficar descansada que vai ter ainda mais Barroso pela frente. Mais que não seja por que vai precisar duma apoteose qualquer para, no regresso ao torrão natal, ser aclamado pelos correligionários partidários como um ex-primeiro ministro que não chegou a sê-lo porque a Europa precisava dele. E ele, como é óbvio, não é homem de virar a cara às dificuldades. Principalmente quando a vaidade fala mais alto do que tudo.
quarta-feira, julho 16, 2008
capitalismo
Bancos a falirem e o Estado a pegar neles. Já foi assim em Inglaterra e agora na pátria do capitalismo, com o decretar da falência do Banco IndyMac, o nono no ranking de financiamento imobiliário nos Estados Unidos. Por mais teorias que os experts em economia desenvolvam, não haverá, decerto, uma solução para esta economia de casino (na feliz expressão de Mário Soares) se a mesma não for edificada tendo em conta, principalmente, a sociedade na sua vertente mais humana, o que implica, necessariamente, um combate persistente à pobreza, às desigualdades sociais e profissionais, ao desemprego, etc. Ou seja: há que criar uma crescente politização da economia (e não o contrário, isto é, a economia a sobrepor-se à política) para que esta passe a estar ao serviço das pessoas.
terça-feira, julho 15, 2008
A Quinta da Fonte
Afinal, havia já um estudo que previa um possível descalabro social neste bairro. A crer no semanário Sol, o Observatório da Imigração realizou uma investigação, que foi divulgada em Março do ano passado, que concluiu que o "bairro aparece como tendo de facto muitos problemas, nomeadamente insegurança, carências económicas e sociais das famílias e jovens e vários conflitos de vizinhança", e que esses problemas de insegurança são motivados pelo "insuficiente policiamento face à criminalidade verificada e a alguns conflitos de vizinhança". Alertou também o estudo para os "riscos de agravamento das condutas desviantes, dos conflitos e da criminalidade grupal", etc. etc. etc.
Ora, o que tudo isto revela é que não é por falta de estudos que não vamos lá. Acontece que entre o estudar e o agir a distância é cada vez maior e cada vez mais irremediável. Infelizmente, não são raros em Portugal este tipo de situações, em que se descobre, a posteriori, que havia um estudo que alertava para o perigo de... Foi assim com a ponte de Entre-os-Rios e continua a ser assim, por exemplo, nos casos sistemáticos em que muitas crianças são entregues aos pais biológicos, apesar destes, muitas vezes, não possuírem condições físicas e mentais para educar uma criança. Depois, aparece sempre um estudo que vem iluminar tardiamente o que foi mal delineado.
Ora, o que tudo isto revela é que não é por falta de estudos que não vamos lá. Acontece que entre o estudar e o agir a distância é cada vez maior e cada vez mais irremediável. Infelizmente, não são raros em Portugal este tipo de situações, em que se descobre, a posteriori, que havia um estudo que alertava para o perigo de... Foi assim com a ponte de Entre-os-Rios e continua a ser assim, por exemplo, nos casos sistemáticos em que muitas crianças são entregues aos pais biológicos, apesar destes, muitas vezes, não possuírem condições físicas e mentais para educar uma criança. Depois, aparece sempre um estudo que vem iluminar tardiamente o que foi mal delineado.
segunda-feira, julho 14, 2008
o livro sobre scolari
É um sinal dos tempos estes livros sobre as personagens do futebol. Agora é Scolari o visado. E, como não podia deixar de ser, é um jornalista que toma em mãos este nobre trabalho de verter em letra o pensamento do ex-seleccionador nacional. Assim, José Carlos Freitas, actualmente jornalista do Record e antigo assessor de imprensa da FPF entre Agosto de 1999 e Abril de 2003 (que grandes tachos estes indivíduos arranjam!), escrevinhou um livro com o piroso título Luiz Felipe, o homem por trás de Scolari. Aliás, esta titulação encaixa na perfeição com o protagonista, o sr. Scolari. No entanto, podemos encontrar um lado positivo nesta emergência dogmática relativamente ao profundo conhecimento de Scolari sobre o ser humano (desde sempre considerado o grande trunfo deste líder de homens) mas, principalmente, sobre o futebol. Basta olharmos para as suas justificações da não convocatória de Vítor Baía. Diz então Filipão, segundo o jornalista José Carlos Freitas, que foram as queixinhas dos jogadores, a par do que Mourinho disse sobre o guarda-redes do FCP (ao considerá-lo, de longe, o melhor guarda-redes português), que o influenciaram na escolha do guardião da baliza da selecção. No caso de Mourinho, Scolari sentiu que, se convocasse Baía, estaria a dar um sinal de cedência a pressões exteriores.
Foi, portanto, assim, com estes estratagemas de café, que Scolari andou por aqui a ganhar, durante cinco anos, milhares e milhares de euros. O mais interessante de tudo isso é ouvirmos os nossos comentadores desportivos opinarem sobre estas estratégias do treinador do Chelsea (que, como é óbvio, nada têm de relevante no que concerne à prática do futebol) como se de grandes e arrojadas decisões se tratassem. Andámos cinco anos nisto. Foi preciso este livro vir a lume para realmente vermos as grandes opções tácticas de Luiz Filipe Scolari, o Filipão.
Foi, portanto, assim, com estes estratagemas de café, que Scolari andou por aqui a ganhar, durante cinco anos, milhares e milhares de euros. O mais interessante de tudo isso é ouvirmos os nossos comentadores desportivos opinarem sobre estas estratégias do treinador do Chelsea (que, como é óbvio, nada têm de relevante no que concerne à prática do futebol) como se de grandes e arrojadas decisões se tratassem. Andámos cinco anos nisto. Foi preciso este livro vir a lume para realmente vermos as grandes opções tácticas de Luiz Filipe Scolari, o Filipão.
sexta-feira, julho 11, 2008
a reeleição de cavaco, segundo gama
O que Jaime Gama quis dizer quando afirmou que Cavaco tem a reeleição garantida, com a postura política que tem seguido (nas elogiosas e estranhas palavras do Presidente da Assembleia da República, "uma linha [...] organizada em função do seu programa e da sua actuação, uma linha de funcionamento independente, árbitro do sistema político, garante da Constituição e isso tem-no feito com elevada qualidade") é um sinal claro da racionalidade aritmética e da vacuidade que o cargo de Presidente da República suscita nesta gente. Gama, neste ponto, é de uma honestidade (ingenuidade?) exemplar, pois chega a sublinhar que "é [através] dessa conduta que o Presidente pode aspirar a uma reeleição confortável e isso também tem significado político". Estamos conversados.
quinta-feira, julho 10, 2008
o bastonário
Marinho Pinto deu mais uma entrevista à RTP. Importa, desde logo, sublinhar que, pelas palavras do bastonário da Ordem dos Advogados, somos levados a acreditar que o mundo da justiça, em Portugal, é tudo menos límpido. De facto, arrepia só de imaginarmos que o que ele diz seja verdade. Algumas frases, retiradas do Sol:
- muitos dos magistrados, principalmente juízes, agem como se fossem divindades e actuam como donos dos tribunais, locais em que os cidadãos são tratados como servos e os advogados como súbditos;
- A cultura de prepotência e de arbítrio dos tribunais plenários da ditadura generalizou-se nos tribunais comuns na democracia;
- o sindicalismo nas magistraturas é uma aberração e constitui uma das principais causas para a degradação do sistema judicial português porque tudo está organizado em função dos benefícios dos agentes internos do sistema;
- O sindicato dos magistrados, como qualquer sindicato, apenas pretende mais regalias para os seus associados, ou seja, mais dinheiro e menos trabalho, e isso subverteu um dos valores mais elementares do direito democrático.
debate "estado da nação" (4)
Silva Pereira encerra o debate. Retoma o discurso de Sócrates e o deve e haver entre a anterior legislatura e a presente. Fala como se o país não existisse, ou seja, com se fosse outro o país. Se é tudo tão cor-de-rosa (ele não aceita a cor negra para analisar o estado social do país, como referiu), por que será que é precisamente através de um descontentamento social que os portugueses, de uma maneira geral, se fazem ouvir? Antes dele, Vera Jardim teve uma boa peça retórica, mas não mais do que isso. Valeu pelas gargalhadas proporcionadas à bancada socialista (do que se ri esta gente?). No entanto, o que disse foi igual a zero.
Decididamente, estas pessoas, representantes do povo, têm um discurso esgotadíssimo. Paulatinamente, os portugueses (aqui está uma boa coisa que a educação pode e deve proporcionar, isto é, uma percepção mais racional das questões políticas...) se vão percebendo que nada mudará enquanto tudo for espuma discursiva. É que não pode haver, de um lado, um partido que, por estar no governo, é senhor da razão e um outro que, por querer se governo, ataca tudo quanto o governo edifica. Depois, quando a moldura política se modifica, o governo passa a oposição e esta a governo. E trocam - literalmente - os papéis.
Decididamente, estas pessoas, representantes do povo, têm um discurso esgotadíssimo. Paulatinamente, os portugueses (aqui está uma boa coisa que a educação pode e deve proporcionar, isto é, uma percepção mais racional das questões políticas...) se vão percebendo que nada mudará enquanto tudo for espuma discursiva. É que não pode haver, de um lado, um partido que, por estar no governo, é senhor da razão e um outro que, por querer se governo, ataca tudo quanto o governo edifica. Depois, quando a moldura política se modifica, o governo passa a oposição e esta a governo. E trocam - literalmente - os papéis.
debate "estado da nação" (3)
Louçã e Sócrates lá fizeram o seu número habitual. Ridículo para os dois. Até porque se percebe que aquilo não é política, mas meras impressões que extravasam completamente o âmbito de um debate parlamentar para se imobilizarem em divergências de carácter.
debate "estado da nação" (2)
Percebe-se por que razão o PCP se encontra, nas sondagens mas principalmente na opinião pública, a transfigurar uma imagem demasiado imutável na sua concepção política. Jerónimo de Sousa ganhou (se é que se pode utilizar esta terminologia), a meu ver, este debate. Mais que não seja por que realçou que muitos das medidas sociais do governo tinham já sido aventadas por este partido.
debate "estado da nação"
Acompanho o debate da Assembleia da República sobre o "Estado da Nação". José Sócrates abriu os discursos. É inacreditável como não há, da parte deste, um rasgo de inovação temático-discursiva. Tem sido assim desde há três anos: o passado (o que os outros fizeram mal feito), o presente (o que o governo está a fazer bem, segundo o seu ponto de vista) e o futuro, no qual os outros (o PSD), não têm legitimidade moral em apresentar propostas que visam, essencialmente, destruir todo o programa de obras públicas que o governo PS se propõe erigir.
terça-feira, julho 08, 2008
tratado de lisboa aprovado na holanda
Durão Barroso bem pode congratular-se com a aprovação do Tratado de Lisboa pelo Senado holandês, ainda para mais quando, em 2005, o povo rejeitou um anterior documento que, segundo a opinião dos especialistas na matéria, é o mesmo texto mas um bocadinho mais complicado. A aprovação do documento foi, aliás, alvo de uma larga maioria, com 60 dos 75 elementos a votarem favoravelmente.
No entanto, este resultado vem só comprovar a distância que separa, nas democracias europeias, os eleitos dos cidadãos, pois não é crível que, se tivesse existido um referendo na Holanda, este resultaria num desfecho semelhante. Assim, o que esta manifestação regozijadora de Barroso revela é, sobretudo, a incapacidade dos actuais governantes europeus em chegarem com ênfase programático aos cidadãos. Ou seja: estamos perante a construção de uma Europa contrária aos princípios basilares da sua fundação, que se resume, concretamente, numa União virada para os europeus.
No entanto, este resultado vem só comprovar a distância que separa, nas democracias europeias, os eleitos dos cidadãos, pois não é crível que, se tivesse existido um referendo na Holanda, este resultaria num desfecho semelhante. Assim, o que esta manifestação regozijadora de Barroso revela é, sobretudo, a incapacidade dos actuais governantes europeus em chegarem com ênfase programático aos cidadãos. Ou seja: estamos perante a construção de uma Europa contrária aos princípios basilares da sua fundação, que se resume, concretamente, numa União virada para os europeus.
o incêndio
Um incêndio destruiu um velho prédio devoluto e fez estragos num outro contíguo. Foi em Lisboa, na Avenida da Liberdade. Houve directos e interrupções televisivas e vimos também Alberto Costa, o presidente da autarquia, com um colete amarelo, falar, às duas da manhã, para os canais de televisão. Passados dois dias, ainda se ouve o "rescaldo do incêndio" nos telejornais. O que ardeu foi - repito - um prédio devoluto. Não mais que isso. Será que se alargou, temporalmente, a silly season?
celeridade da justiça
Vale e Azevedo foi hoje ouvido pela polícia britânica. Pagou fiança e espera em casa por novo julgamento. Por que é que a justiça, em Portugal, não funciona, no que diz respeito à celeridade processual (até porque este caso abrangeu situações verdadeiramente constrangedoras para a justiça portuguesa, como tivemos oportunidade de ver através das televisões quando o ex-presidente do Benfica gozou dois minutos de liberdade entre um caso e outro), sempre assim?
um novo paradigma para portugal
Manuela Ferreira Leite trouxe, para o debate político, uma dúvida, a qual se relaciona com a verdadeira necessidade dos mega-empreendimentos que o governo tanto aposta. Desde já, deve-se sublinhar que é positivo que o debate em torno desta temática se (re)inicie. Por outro lado, o governo não deve apostar nos estafados argumentos de que o país precisa de quem decida e que já há não sei quantos anos os projectos se estudam sem que desses estudos resultem deliberações.
O mundo actual (convém não esquecer) presenteia-nos com quadros socio-económicos demasiado mutáveis, em que as verdades de hoje depressa morrem ou se transfiguram. Deste modo, temos, em Portugal, projectos que vão do TGV ao aeroporto e a umas mais não sei quantas auto-estradas que nos colocam, a serem concretizados, numa posição de primeiro plano, no que à componente de aérea-ferro-rodoviária diz respeito, relativamente à Europa. Estaremos mesmo à frente de países considerados paradigmas civilizacionais, como são, por exemplo, os do norte do continente europeu. Mas será realmente isso que Portugal precisa? Estou em crer que não. Portugal só será verdadeiramente um país com índices de civilização condignos se, de uma vez por todas, crescer homogeneamente, isto é, não apostar num TGV que custa 7, 5 mil milhões de euros para poupar 15 ou 20 minutos de Lisboa ao Porto, ao mesmo tempo que deixa apodrecer o comboio no interior do país, onde praticamente a opção ferroviária deixou de ser uma realidade. Ou não gastar seis mil milhões de euros num novo aeroporto quando o actual está longe de deixar de responder às necessidades.
Portugal é um país à beira-mar plantado. Só que, inacreditavelmente, nunca conseguimos que o mar chegasse a mais do que 25 ou 30 quilómetros adentro. Basta olharmos para os vários indicadores de desenvolvimento regionais para depressa verificarmos que o país não parece ter os 89 015 Km2 que realmente tem. Pelo contrário, as disparidades regionais que Portugal apresenta assemelham-no a países com dimensões muitíssimo superiores.
Tudo isto para repetir o que é realmente a minha convicção de desenvolvimento para o país e que passa pelo seguinte: enquanto não formos capazes de expulsar das nossas abstracções mentais a ideia de um país dividido entre um litoral e um interior, entre um deserto (Mário Lino ofereceu-nos um exemplo digno de um oportuno case study, visto ter saído da sua boca, enquanto ministro das Obras Públicas, esta imagem dicotómica do país) e um oásis (outra imagem de um não menos extraordinário ministro, desta vez da ordem cavaquista), enquanto não formos capazes, dizia, dessa verdadeira catarse nacional, nunca conseguiremos alcançar os patamares superiores de qualquer país verdadeiramente civilizado. Por mais auto-estradas e aeroportos e pontes e TGV's e expo's e campeonatos de futebol se instituam.
O mundo actual (convém não esquecer) presenteia-nos com quadros socio-económicos demasiado mutáveis, em que as verdades de hoje depressa morrem ou se transfiguram. Deste modo, temos, em Portugal, projectos que vão do TGV ao aeroporto e a umas mais não sei quantas auto-estradas que nos colocam, a serem concretizados, numa posição de primeiro plano, no que à componente de aérea-ferro-rodoviária diz respeito, relativamente à Europa. Estaremos mesmo à frente de países considerados paradigmas civilizacionais, como são, por exemplo, os do norte do continente europeu. Mas será realmente isso que Portugal precisa? Estou em crer que não. Portugal só será verdadeiramente um país com índices de civilização condignos se, de uma vez por todas, crescer homogeneamente, isto é, não apostar num TGV que custa 7, 5 mil milhões de euros para poupar 15 ou 20 minutos de Lisboa ao Porto, ao mesmo tempo que deixa apodrecer o comboio no interior do país, onde praticamente a opção ferroviária deixou de ser uma realidade. Ou não gastar seis mil milhões de euros num novo aeroporto quando o actual está longe de deixar de responder às necessidades.
Portugal é um país à beira-mar plantado. Só que, inacreditavelmente, nunca conseguimos que o mar chegasse a mais do que 25 ou 30 quilómetros adentro. Basta olharmos para os vários indicadores de desenvolvimento regionais para depressa verificarmos que o país não parece ter os 89 015 Km2 que realmente tem. Pelo contrário, as disparidades regionais que Portugal apresenta assemelham-no a países com dimensões muitíssimo superiores.
Tudo isto para repetir o que é realmente a minha convicção de desenvolvimento para o país e que passa pelo seguinte: enquanto não formos capazes de expulsar das nossas abstracções mentais a ideia de um país dividido entre um litoral e um interior, entre um deserto (Mário Lino ofereceu-nos um exemplo digno de um oportuno case study, visto ter saído da sua boca, enquanto ministro das Obras Públicas, esta imagem dicotómica do país) e um oásis (outra imagem de um não menos extraordinário ministro, desta vez da ordem cavaquista), enquanto não formos capazes, dizia, dessa verdadeira catarse nacional, nunca conseguiremos alcançar os patamares superiores de qualquer país verdadeiramente civilizado. Por mais auto-estradas e aeroportos e pontes e TGV's e expo's e campeonatos de futebol se instituam.
domingo, julho 06, 2008
as entrevistas de manuela e sócrates
Na larga moldura de análises comparativas que se tem vindo a esboçar das entrevistas que Sócrates e Manuela Ferreira Leite concederam às televisões, aquele como primeiro-ministro e esta como líder do maior partido da oposição, há um ponto em que todas elas, praticamente, coincidem: a crítica do actual PSD ao despesismo das obras públicas. Convém realçar que Ferreira Leite tem razão quando sublinha a aparente inutilidade de algumas infra-estruturas, ainda para mais quando o país se encontra numa crise financeira gravíssima. Não só o país como a Europa. De facto, não se entende a urgência de um aeroporto quando a Portela se encontra muito longe do seu limite de esgotamento. Do mesmo modo, torna-se igualmente de difícil entendimento o TGV para unir Lisboa e Porto, ou uma auto-estrada Amarante-Bragança (com a construção de um túnel de 6 km, um dos maiores da Ibéria), quando um alargamento da IP4, em toda a sua extensão, revelar-se-ia uma opção mais adequada. Mas os presidentes das autarquias de Vila Real, Mirandela, Macedo e Bragança começaram já a salivar, vendo o aceno do progresso a vir por auto-estrada. Contentam-se com bem pouco, estes senhores. Aliás, estes autarcas que hoje estão à frente de câmaras municipais vozeiam quando acusam o governo de ser centralizador, mas piam baixinho quando umas toneladas de alcatrão lhes passam mesmo à porta de casa, isto é, junto à sede de concelho. Assim já podem ir a Lisboa ou ao Porto, no seu carrinho com motorista, com o conta-quilómetros colado nos 180 ou 200, enquanto eles, no banco de trás, despacham uns papéis para adiantar trabalho. Afinal, se os outros fazem isso, por que é que eles o não podem também fazer?
Voltemos aos nossos líderes nacionais, ou melhor, aos dois partidos do regime e sublinhemos um aspecto que se torna naturalmente relevante para o debate político. Mas para isso precisamos de fazer um ligeiríssimo exercício de imaginação: troquemos os lugares daqueles dois e coloquemos Manuela Ferreira Leite como primeiro-ministro e Sócrates como líder do PS na oposição. Penso que já viram todos onde quero chegar. Aliás, basta recuarmos um pouco no tempo e verificarmos de que maneira é que Guterres conseguiu vencer o cavaquismo: os portugueses não são números, lembram-se? Era o tempo das Expo's e dos Centros Culturais e... das auto-estradas. Mas é disto que se fala quando se fala do centrão. Alguém acredita mesmo que o PSD resistiria a tudo isto?
(publicado no jornal Público em 9/07/2008)
Voltemos aos nossos líderes nacionais, ou melhor, aos dois partidos do regime e sublinhemos um aspecto que se torna naturalmente relevante para o debate político. Mas para isso precisamos de fazer um ligeiríssimo exercício de imaginação: troquemos os lugares daqueles dois e coloquemos Manuela Ferreira Leite como primeiro-ministro e Sócrates como líder do PS na oposição. Penso que já viram todos onde quero chegar. Aliás, basta recuarmos um pouco no tempo e verificarmos de que maneira é que Guterres conseguiu vencer o cavaquismo: os portugueses não são números, lembram-se? Era o tempo das Expo's e dos Centros Culturais e... das auto-estradas. Mas é disto que se fala quando se fala do centrão. Alguém acredita mesmo que o PSD resistiria a tudo isto?
(publicado no jornal Público em 9/07/2008)
sábado, julho 05, 2008
música e silêncio
Quero deixar aqui o meu contributo relativamente ao artigo de Fernanda Câncio no Notícias Magazine de 29 de Junho, em que ela aborda, exemplarmente, a verdadeira obsessão que constituiu, nos nossos dias, uma espécie de ditadura da música. De facto, não existe praticamente lugar algum do país em que não convivamos com maiores ou menores decibéis de uma qualquer coluna de som. Já fiz várias reclamações/sugestões em alguns sítios. As respostas, estupidamente invariáveis, são sempre no sentido de que não podem agradar a toda a gente. Os nossos jovens, esses, com tantos melodias na cabeça, não se habituam a ouvir - a contemplar - o silêncio. De certo modo, mais uma vez, os jogadores de futebol servem de exemplo, pois uma imagem de marca destes rapazes da selecção foi vê-los com aquelas coisas nos ouvidos, mesmo durante uma entrevista. Pela minha parte, até podiam ir para o campo de i'pods. E os alunos? Muitos já ouvem música nas aulas. São estes os sinais dos nossos tempos.
o mundo fantástico do futebol
Existe, em Portugal, uma dimensão (desculpem esta junção vocabular) psicossocioprofissional paralela à que os cidadãos comuns absorvem no seu quotidiano. É o futebol. No entanto, apesar desta espécie de twilight zone, este desporto ocupa, nas televisões, um lugar incontestado. Não só nas televisões, mas na generalidade da imprensa. Os jornalistas que gravitam em redor do fenómeno defendem-se afirmando que o mesmo se passa nos outros países. No entanto, estou propenso a crer que não é bem assim. Em Portugal, o futebol adquire contornos (quase) patológicos. Viu-se no recente campeonato europeu, em que tudo o que era importante deixou de o ser o jogo, como, por exemplo, a crítica às opções do treinador e o desempenho de alguns jogadores, para passarmos a ser inundados com o irrelevante, nomeadamente com as transferências dos jogadores, com as namoradas e mulheres destes, com o assentimento contratual de Scolari face ao clube londrino Chelsea (o treinador espanhol também assinou publicamente com o clube turco Fenerbahçe antes ou durante o europeu e não foi por isso que deixou de ser campeão, nem tão pouco se construiu, na imprensa espanhola, em momento algum, alguma espécie de desconfiança face ao seu trabalho) e, sobretudo, com a exposição desavergonhada, por parte das televisões, duma certa imagem de um Portugal parolo, através do que algumas pessoas (nos seus quinze minutos de fama que falava Andy Wharol) tão prodigiosamente alcançaram. Muitas vezes, os jornalistas não se coibiam de alcançar os resultados majestáticos do seu trabalho explorando, impudicamente, os sentimentos naturais das pessoas que ainda se encontram, mentalmente, "lá fora", no estrangeiro, a ganhar a vida, com saudades do Verão português. Por isso, vimos muitos "beijinhos para a minha mãe, para os meus amigos que ficaram lá na terra", ou o "diz adeus, filha, diz adeus para a televisão". A tudo isso assistimos, impávidos e serenos, em nome do futebol. Tudo isso passou como água que corre debaixo da ponte. É a chamada espuma televisiva.
Neste sentido, entendo que a televisão, nos dias de hoje, tem uma profundíssima responsabilidade educativa. Daí que, sejam elas privadas ou públicas, não podem ser orientadas tendo como intuito exclusivo o lucro que advém da receita publicitária. Por isso, não creio que o estafado argumento que é à televisão do Estado que compete o estabelecimento de uma maior consciencialização de certos valores que devem fazer parte da nossa vida enquanto povo autónomo, e que os outros - os privados - são livres para iniciarem uma demanda desenfreada ao lucro, independentemente dos meios que usam, seja um bom ponto de partida para uma regularização do meio informativo audiovisual. Pelo contrário, o que temos visto é que as três televisões de canal aberto existentes em Portugal (deixo de fora a 2) são guiadas pela mesma cartilha. E não vejo mal algum nisso. Só que esta (a cartilha) deve ser alterada. E não basta uma regularização pseudo-púdica que orienta ilusoriamente os filmes e alguns programas supostamente atentatórios à moral pública. Com efeito, torna-se necessária uma intervenção objectiva de quem tem competência legal para o fazer (para que serve, verdadeiramente, a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social?) para que os diferentes blocos informativos não constituam, no seu conjunto, uma espécie de força de bloqueio (obrigado, sr. presidente Cavaco) a um desenvolvimento verdadeiramente qualitativo dos portugueses. E é principalmente nestas épocas de "festa futebolística" que urge intervir, sem qualquer receio da palavra. No fundo, a pergunta que se deve colocar é só uma: Afinal, que país queremos?
Reparei agora que iniciei este post com um objectivo ligeiramente contrário ao que se desenvolveu. Na verdade, era minha intenção descrever a impressão que me causou a recente reunião do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol relativamente aos casos do Boavista e de Pinto da Costa. O fio narrativo encaminhou-se, portanto, noutro sentido. Mas o início deste artigo pode ser recuperado: a dimensão fantástica (no sentido literário do termo) que o futebol ocupa na nossa sociedade. Ficámos, assim, a saber que o presidente do Conselho de Justiça deu a reunião por encerrada, deixando o seu termo registado em acta, assinada por ele e por quem a secretariou. No entanto, os restantes elementos, não se convencendo dos argumentos apresentados pelo presidente, continuaram reunidos e deliberaram não só punir o Boavista e o Pinto da Costa, como também instituir um processo disciplinar ao presidente do Conselho de Justiça, precisamente o que tinha orientado, durante toda a tarde, a reunião. Por outro lado, ficámos a saber o grau de envolvimento e desconfiança que esta gente nutre uns pelos outros, ora seja do ponto de vista político, ou desportivo, ou - o que é mais grave - humano. Ouçamo-los, olhamo-los e depressa vislumbramos que tudo não passa de mais uma discussão de café, em que um (um qualquer juiz conselheiro, pois parece que esta é uma casta proeminente nestes órgãos) diz uma coisa, e outro, desconfiado, reflecte uma outra qualquer verdade irrefutável. Depois, no final, todos sabemos que nem sempre ganha quem joga melhor. São as regras do futebol.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes, em 10-7-08)
Neste sentido, entendo que a televisão, nos dias de hoje, tem uma profundíssima responsabilidade educativa. Daí que, sejam elas privadas ou públicas, não podem ser orientadas tendo como intuito exclusivo o lucro que advém da receita publicitária. Por isso, não creio que o estafado argumento que é à televisão do Estado que compete o estabelecimento de uma maior consciencialização de certos valores que devem fazer parte da nossa vida enquanto povo autónomo, e que os outros - os privados - são livres para iniciarem uma demanda desenfreada ao lucro, independentemente dos meios que usam, seja um bom ponto de partida para uma regularização do meio informativo audiovisual. Pelo contrário, o que temos visto é que as três televisões de canal aberto existentes em Portugal (deixo de fora a 2) são guiadas pela mesma cartilha. E não vejo mal algum nisso. Só que esta (a cartilha) deve ser alterada. E não basta uma regularização pseudo-púdica que orienta ilusoriamente os filmes e alguns programas supostamente atentatórios à moral pública. Com efeito, torna-se necessária uma intervenção objectiva de quem tem competência legal para o fazer (para que serve, verdadeiramente, a ERC – Entidade Reguladora para a Comunicação Social?) para que os diferentes blocos informativos não constituam, no seu conjunto, uma espécie de força de bloqueio (obrigado, sr. presidente Cavaco) a um desenvolvimento verdadeiramente qualitativo dos portugueses. E é principalmente nestas épocas de "festa futebolística" que urge intervir, sem qualquer receio da palavra. No fundo, a pergunta que se deve colocar é só uma: Afinal, que país queremos?
Reparei agora que iniciei este post com um objectivo ligeiramente contrário ao que se desenvolveu. Na verdade, era minha intenção descrever a impressão que me causou a recente reunião do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol relativamente aos casos do Boavista e de Pinto da Costa. O fio narrativo encaminhou-se, portanto, noutro sentido. Mas o início deste artigo pode ser recuperado: a dimensão fantástica (no sentido literário do termo) que o futebol ocupa na nossa sociedade. Ficámos, assim, a saber que o presidente do Conselho de Justiça deu a reunião por encerrada, deixando o seu termo registado em acta, assinada por ele e por quem a secretariou. No entanto, os restantes elementos, não se convencendo dos argumentos apresentados pelo presidente, continuaram reunidos e deliberaram não só punir o Boavista e o Pinto da Costa, como também instituir um processo disciplinar ao presidente do Conselho de Justiça, precisamente o que tinha orientado, durante toda a tarde, a reunião. Por outro lado, ficámos a saber o grau de envolvimento e desconfiança que esta gente nutre uns pelos outros, ora seja do ponto de vista político, ou desportivo, ou - o que é mais grave - humano. Ouçamo-los, olhamo-los e depressa vislumbramos que tudo não passa de mais uma discussão de café, em que um (um qualquer juiz conselheiro, pois parece que esta é uma casta proeminente nestes órgãos) diz uma coisa, e outro, desconfiado, reflecte uma outra qualquer verdade irrefutável. Depois, no final, todos sabemos que nem sempre ganha quem joga melhor. São as regras do futebol.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes, em 10-7-08)
sexta-feira, julho 04, 2008
o pcp
Mais uma vez, o PCP enrodilha-se numa retórica pasmada e anacrónica ao não se congratular com a libertação de Ingrid Bettencourt pelas forças do exército colombiano. É bom que os comunistas portugueses percebam, de uma vez por todas, que este tipo de registo discursivo só prejudica o crescimento do partido. Na verdade, uma coisa é não concordar com o regime que o presidente Uribe implantou no seu país, ainda para mais quando tem como aliado o incompetente Bush; outra é ser-se incapaz de vislumbrar que um rapto constitui, no que tem a ver com a luta política e bélica, uma verdadeira obscenidade. Tenho pena que este partido seja incapaz de efectuar qualquer linha programática que origine um desenvolvimento catártico. Deste modo, torna-se insuficiente (contraproducente) a sistematização dos protestos, em tudo quanto é manifestação, que se é contra isto e aquilo (muitas vezes tendo como base prepotências originárias do uso indevido do poder). É preciso adequar as realidades. E estas, por vezes, não são assim tão diferenciadas.
interior do país
Fico deveras sensibilizado com o alerta lançado por Cavaco Silva na sua visita ao norte alentejano. É que a razão está completamente do seu lado, visto sermos um país que reflecte desastradamente parâmetros de desigualdades sociais atrozes. E quando o Presidente da República compara as reivindicações desta gente (por exemplo, a Assembleia Municipal de Portalegre fez chegar a Belém uma nota de descontentamento relativamente às vias rodoviárias da zona) com as obras faraónicas que por aí se anunciam (todos seguindo uma idiossincrasia bem definida que passa por uma cada vez maior "litoralização" do país), o absurdo que tem sido a perda continuada de verdadeiras oportunidades de desenvolvimento homogéneo do país torna-se, factualmente, vergonhoso. De facto, nunca soubemos interpretar o verdadeiro desígnio do 25 de Abril, nem das ajudas monetárias que têm vindo a ser desenvolvidas pela União Europeia. Pelo contrário, estes anos de "democracia europeia" tornaram Portugal no que sempre foi: desigual.
quinta-feira, julho 03, 2008
o tratado que todos queriam
Afinal, bastou o voto dos irlandeses contra esta imposição que se chama Tratado de Lisboa para que alguns dos senhores que pernoitaram na capital portuguesa para assinar o documento passassem, agora, ao ataque em desfavor do dito. Por isso, as perguntas que se devem fazer aos senhores Lech Kaczynski e Vaclav Klaus são as seguintes: por que é que alinharam, com tanta pompa, em Lisboa, ao lado dos outros ministros e presidentes da república? Afinal, só agora é que notaram que a rebaptizada Constituição Europeia é prejudicial no que concerne à autonomia de cada estado em tomadas individuais de decisão, como lembra o presidente checo?
De facto, estes senhores são exímios representantes das convicções políticas que pairam por essa Europa fora.
De facto, estes senhores são exímios representantes das convicções políticas que pairam por essa Europa fora.
ministra junta ex-ministros
Confesso a minha admiração por aqueles que tutelaram a pasta da educação nos últimos trinta e tal anos e que aceitaram o convite de Maria de Lurdes Rodrigues na inauguração de uma galeria em honra de todos que, desde 1870 (segundo a TSF), tiveram o privilégio de chefiar este ministério. Este meu tributo deve ser entendido, obviamente, de forma irónica. Na verdade, o que verdadeiramente sinto é que todos eles - principalmente os dos últimos dois decénios, revelam um despudor extraordinário. É que o estado a que isto chegou não se coaduna com homenagens deste teor. Também ficámos a saber, neste encontro, por intermédio da ministra, uma daquelas pacovices que se costumam evocar nestes encontros (principalmente por pessoas que muito pouco têm a transmitir), mas que nos permite aferir alguma coisa sobre os limites cognitivos da personagem. De facto, Maria de Lurdes Rodrigues "confidenciou que costuma aconselhar-se junto de antigos ministros da pasta, a quem costuma telefonar muitas vezes para ouvir as suas opiniões, porque há problemas que não são novos". Só não disse a quem é que costuma telefonar mais vezes, ou se existe mesmo alguém a quem nunca lhe foi dada essa honra receptadora. De qualquer maneira, estes senhores que por lá pairaram na inauguração de si próprios também não nos oferecem grande capacidade de escolha. Lembrei-me agora de Manuela Ferreira Leite, a actual líder do PSD e que também foi ministra da educação. Será que foi convidada? Será que atende o telefone?
Uma nota última: isto foi uma desconsideração para os secretários de estado. Também os houve de grande gabarito. Os últimos que temos não descuram o género.
Uma nota última: isto foi uma desconsideração para os secretários de estado. Também os houve de grande gabarito. Os últimos que temos não descuram o género.
quarta-feira, julho 02, 2008
a entrevista de sócrates vista pelos comentadores
Tenho-me insurgido relativamente aos comentadores desportivos, um espécime de homus mediaticus que têm vindo a proliferar nos canais de televisão e que são caracterizados, essencialmente, pela extraordinária capacidade de comunicarem, unidireccionalmente, durante horas sem nada dizerem.
Pelos vistos, esta tendência arrasta-se a outras áreas do comentário televisivo, como é o caso do político. Tudo a propósito das declarações dos comentadores a respeito da entrevista de José Sócrates à RTP. Com efeito, o acessório foi o que mais abundou nas justificações destes profissionais. Neste pressuposto, não podia deixar de vir o estafado raciocínio de que "José Sócrates começou hoje a campanha eleitoral", o "tabu" do primeiro-ministro (se se candidata ou não em 2009), a "segurança nos argumentos", etc. Nada de relevante estes senhores disseram sobre a entrevista. Aliás, estou em crer que todos nós já esquecemos o que é uma boa entrevista televisiva.
Pelos vistos, esta tendência arrasta-se a outras áreas do comentário televisivo, como é o caso do político. Tudo a propósito das declarações dos comentadores a respeito da entrevista de José Sócrates à RTP. Com efeito, o acessório foi o que mais abundou nas justificações destes profissionais. Neste pressuposto, não podia deixar de vir o estafado raciocínio de que "José Sócrates começou hoje a campanha eleitoral", o "tabu" do primeiro-ministro (se se candidata ou não em 2009), a "segurança nos argumentos", etc. Nada de relevante estes senhores disseram sobre a entrevista. Aliás, estou em crer que todos nós já esquecemos o que é uma boa entrevista televisiva.
o milagre de Vitorino de Piães
Todos nos lembramos daquela funcionária que há uns meses percorreu o país, através dos telejornais, relatando, na primeira pessoa, a desumanidade do mundo, do governo, da junta médica. Teve o apoio incondicional da Junta de Freguesia e - estou em crer - da maioria dos portugueses. A história conta-se numa frase: Ana Maria Brandão alegava incapacidade para o trabalho (vivia presa a uma cadeira de rodas, por instabilidade física).
Acontece que, numa visita a Braga, ao Bom Jesus, a senhora alega ter sido embebida por um milagre, ao ponto das mazelas terem desaparecido completamente, configurando, de imediato, a possibilidade de regressar ao trabalho. No entanto, parece que ninguém acredita, desgraçadamente, na funcionária da junta de Freguesia de Vitorino de Piães
Confesso que não entendo muito de milagres, mas também gostava de saber por que raio esta senhora não pôde ter sido vítima de um milagre? Não são assim que eles se fazem?!...
Acontece que, numa visita a Braga, ao Bom Jesus, a senhora alega ter sido embebida por um milagre, ao ponto das mazelas terem desaparecido completamente, configurando, de imediato, a possibilidade de regressar ao trabalho. No entanto, parece que ninguém acredita, desgraçadamente, na funcionária da junta de Freguesia de Vitorino de Piães
Confesso que não entendo muito de milagres, mas também gostava de saber por que raio esta senhora não pôde ter sido vítima de um milagre? Não são assim que eles se fazem?!...
terça-feira, julho 01, 2008
A4 e barragem do sabor: dois símbolos antagónicos
Não há governo que resista a umas boas obras de regime. Daí que o actual governo liderado por José Sócrates se apresente, neste pressuposto, igual aos restantes. Acontece que, muitas vezes, a cegueira conduz, de forma irreversível, a disparates. Entendo, no entanto, que existem explicações para todos os gostos. Há mesmo partidos – como é o caso do PSD – que têm uma capacidade extraordinária de transfiguração ideotemática, ao defenderem determinadas orientações programáticas quando se encontram a governar, e outras – muitas vezes opostas – quando estão na oposição. O exemplo do aeroporto revela-se, neste sentido, paradigmático (nunca se entendeu muito bem qual a posição deste partido sobre este assunto). Mas muitos outros se podiam inventariar, como por exemplo, a surpreendente colagem de Manuela Ferreira Leite a preocupações que lhe estiveram sempre (aparentemente?) distantes, como é o caso dos mais desfavorecidos da nossa sociedade. É claro que ela tem o direito de uma reorientação na sua forma de estar na vida política. Mas não deixa de soar a uma certa hipocrisia que, a pouco mais de um ano das eleições legislativas e com uma classe média cada vez mais pobre e com os pobres cada vez mais pobres, a líder do principal partido da oposição se remeta a uma posição que ninguém – nem mesmo os seus correligionários políticos – lhe estava habituado a ver.
Esta espécie de fusão ideológica apresenta-se na sua plenitude quando se trata de obras públicas, tornando-se muito difícil fazer uma distinção entre PS e PSD. Como sabemos, o governo apresentou, para Trás-os-Montes, duas obras emblemáticas: a continuação da auto-estrada Porto-Amarante até Bragança e a Barragem do Sabor. Ambientalistas à parte (não é que devam estar à parte, mas confesso que me é difícil entender esta gente, principalmente quando os argumentos evocados começam a entrar numa fase de delírio), no meu entender bastaria o argumento da água para que esta obra se apresente quase como uma espécie de manau dos deuses. Convém não esquecer que toda a área geográfica em que se insere a barragem é, tradicionalmente, uma das que maior sofrimento teve ao longo décadas de seca. Há uns anos não muito distantes, a água que corria nas torneiras só durava duas ou três horas e, durante esse escasso período de tempo, era um ver se te avias no enchimento de tachos, panelas e alguidares. Por outro lado, há que considerar o aproveitamento das energias alternativas, com muito bem justificou José Sócrates. Na verdade, não podemos estar num permanente sobressalto em relação à nossa própria independência, pois nos dias que correm, o perigo deixa de ser bélico (ninguém acredita que a Espanha comece a entrar por aí adentro com tropas e viaturas blindadas) para passar a ser económico (como se viu com a recente greve dos camionistas em que nos vimos, de um dia para o outro, completamente desaustinados, sem gasolina e gasóleo).
No entanto, este mesmo pressuposto desenvolvimentista já não se adequa relativamente à auto-estrada até Bragança, com a construção de um túnel de seis quilómetros de extensão – o maior do país e um dos maiores da Europa (como aliás, convém ao nosso ego). Ficamos, pois todos contentes, a começar pelo governo e acabando, evidentemente, nos autarcas que, muitos deles, têm uma visão de desenvolvimento homogéneo que deixa muito a desejar. A pergunta que se coloca é, quanto a mim, pertinente: para quê uma auto-estrada até Bragança? Com efeito, o fluxo de trânsito na IP4 não justifica de todo a transformação desta via numa auto-estrada. Não seria melhor canalizar estes 350 milhões de euros para um melhoramento da rede rodoviária (incluindo, naturalmente a IP4, com o seu alargamento em toda a extensão) e ferroviária (que praticamente deixou de existir) do distrito de Bragança? É que Trás-os-Montes não é só o eixo Vila Real-Bragança. De facto, continua a ser uma vergonha as acessibilidades que o interior transmontano apresenta. Só que enquanto existirem autarcas que criticam a centralização quando não lhes convém e aplaudem-na quando lhes é favorável, o país continuará a existir como um dos mais desiguais da Europa.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 3/07/2008)
Esta espécie de fusão ideológica apresenta-se na sua plenitude quando se trata de obras públicas, tornando-se muito difícil fazer uma distinção entre PS e PSD. Como sabemos, o governo apresentou, para Trás-os-Montes, duas obras emblemáticas: a continuação da auto-estrada Porto-Amarante até Bragança e a Barragem do Sabor. Ambientalistas à parte (não é que devam estar à parte, mas confesso que me é difícil entender esta gente, principalmente quando os argumentos evocados começam a entrar numa fase de delírio), no meu entender bastaria o argumento da água para que esta obra se apresente quase como uma espécie de manau dos deuses. Convém não esquecer que toda a área geográfica em que se insere a barragem é, tradicionalmente, uma das que maior sofrimento teve ao longo décadas de seca. Há uns anos não muito distantes, a água que corria nas torneiras só durava duas ou três horas e, durante esse escasso período de tempo, era um ver se te avias no enchimento de tachos, panelas e alguidares. Por outro lado, há que considerar o aproveitamento das energias alternativas, com muito bem justificou José Sócrates. Na verdade, não podemos estar num permanente sobressalto em relação à nossa própria independência, pois nos dias que correm, o perigo deixa de ser bélico (ninguém acredita que a Espanha comece a entrar por aí adentro com tropas e viaturas blindadas) para passar a ser económico (como se viu com a recente greve dos camionistas em que nos vimos, de um dia para o outro, completamente desaustinados, sem gasolina e gasóleo).
No entanto, este mesmo pressuposto desenvolvimentista já não se adequa relativamente à auto-estrada até Bragança, com a construção de um túnel de seis quilómetros de extensão – o maior do país e um dos maiores da Europa (como aliás, convém ao nosso ego). Ficamos, pois todos contentes, a começar pelo governo e acabando, evidentemente, nos autarcas que, muitos deles, têm uma visão de desenvolvimento homogéneo que deixa muito a desejar. A pergunta que se coloca é, quanto a mim, pertinente: para quê uma auto-estrada até Bragança? Com efeito, o fluxo de trânsito na IP4 não justifica de todo a transformação desta via numa auto-estrada. Não seria melhor canalizar estes 350 milhões de euros para um melhoramento da rede rodoviária (incluindo, naturalmente a IP4, com o seu alargamento em toda a extensão) e ferroviária (que praticamente deixou de existir) do distrito de Bragança? É que Trás-os-Montes não é só o eixo Vila Real-Bragança. De facto, continua a ser uma vergonha as acessibilidades que o interior transmontano apresenta. Só que enquanto existirem autarcas que criticam a centralização quando não lhes convém e aplaudem-na quando lhes é favorável, o país continuará a existir como um dos mais desiguais da Europa.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 3/07/2008)
recusa do presidente polaco
A coincidência é desconcertante: no dia em que a França assume a presidência da União Europeia, o presidente polaco, Lech Kaczynski, recusa assinar o Tratado de Lisboa, o qual já tinha sido ratificado pelo parlamento polaco. Advoga Kaczynski, estranhamente, que o documento assinado na capital portuguesa se encontra, agora, sem substância. Por outro lado, Sarkozy já afirmou que pretende circunscrever o problema da ratificação à Irlanda, secundarizando, portanto, a recusa do presidente da Polónia (Durão Barroso tinha, a seu tempo, felicitado as forças políticas deste país aquando da ratificação do tratado).
O que também não deixa de ser curioso é que o olhar negativo relativamente ao Tratado de Lisboa se posiciona, politicamente, numa espécie de paradoxo: de um lado, os conservadores (por vezes com deslizamentos para a extrema direita); do outro, os que estão mais à esquerda da esquerda política.
O que também não deixa de ser curioso é que o olhar negativo relativamente ao Tratado de Lisboa se posiciona, politicamente, numa espécie de paradoxo: de um lado, os conservadores (por vezes com deslizamentos para a extrema direita); do outro, os que estão mais à esquerda da esquerda política.
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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...