O abnóxio discurso do líder do PSD e primeiro-ministro de Portugal na apresentação da candidatura autárquica de Carlos Silva, em Amadora, institui-se num verdadeiro paradigma de registo governativo. Mostra, para além de tudo, a ação inerme de um executivo cada vez mais isolado do país, cada vez mais isolado dos portugueses. Não obstante, Passos Coelho regozija, desconfortavelmente, na tribuna, com tiradas como esta: somos vistos "como gente trabalhadora e honrada".
Estou propenso
a crer que esta frase ultrapassa o autor. É todo um programa de Governo:
passado e iniciático (queremos ir mais além do memorando, diziam há dois anos,
obviamente para atingir o obsessivo enfoque na plácida honradez vista de fora),
mas também presente (é o que resta, simplesmente: somos um país de confiança,
sem ondas contestatárias, cumpridor, honrado).
Presumo que
outros não se enquadrem na categoria da honradez deste nosso perdido
primeiro-ministro, se tentar depreender algum sentido das suas palavras.
Implicitamente, todos nós pensamos na Grécia, que conseguiu um imperativo e
orgulhoso (por que não?) perdão de parte da dívida, junto dos credores. Porém,
nós não somos os gregos. Nem os alemães, já agora (foram estes também estrondosamente
perdoados há 60 anos, em milhões de marcos).
Noto, apesar de tudo, mudanças: ao contrário de outros tempos, Passos Coelho já fala em recuperação lenta. E faz bem. É que 2012 ("estamos a caminhar para o equilíbrio das contas", afirmava perentório) e 2013 ("um ano de inversão na situação da atividade económica em Portugal", corrigia, no apertado Pontal) já lá vão, desgraçadamente.
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