sábado, outubro 09, 2010

a falsa questão do orçamento

Aprova-se; não se aprova?... Dá-se mais uma volta e retornamos a esta bifurcação retórica. A maioria corre atrás do politicamente correto: pois com certeza que sim que se deve aprovar o Orçamento de Estado; o país não pode viver de duodécimos; que pensará de nós aquela gente de Bruxelas; entramos numa crise política; o Presidente não pode fazer nada, visto que se encontra numa espécie de coartação constitucional; e por aí fora.
Custa-me este letargo. Custa-me que os responsáveis primeiros por esta situação ainda se arroguem numa espécie de somos nós a salvação (a teoria do caos do tempo de Cavaco ministro deu frutos e ainda pesponta). A equação é, pois, simples. Pelo menos deveria sê-la, se tivéssemos clarividência e desassombramentos.
O último Governo de Sócrates, com uma confortável e prometedora maioria parlamentar, não foi capaz de nos tornar melhores e mais prósperos, enquanto país. Falhou, por isso. Ao invés, preferiu maquilhar todos os percalços e conjeturas de crise. O resultado é o que se vê.
O Governo moldou-se a José Sócrates. Este sempre soube, todavia, uma coisa importante: é imperioso a construção de uma imagem de homem providencial. Tivemo-los na nossa história recente: desde os mitos da República à imagem de Sidónio Pais enquanto presidente-rei, passando, obviamente, por Salazar e desaguando em Cavaco. Todos foram salvadores, verdadeiros impulsionadores da nossa úlcera sebastianina. O atual primeiro-ministro alicerçou tentacularmente esta imagem, rodeando-se de homens decerto academicamente resolutos, mas fracos na alma. Basta olhar para eles. O que vemos em Santos Silva, por exemplo, para além de um espécie de ateador de fogos parlamentares? E no Silva Pereira, uma espécie de pajem travestido de braço direito? E os Laurentinos? E os Albertos Martins? E o próprio Teixeira dos Santos (todos os ministros das finanças são considerados os que encaram a coisa, a res publica, de forma mais gravemente comprometedora)? E as senhoras da Educação? O que tem esta gente para mostrar ao país? Nada. Não têm nada, absolutamente nada. Esgotaram já o nada que eventualmente possuíam. Ainda assim, José Sócrates conseguiu o feito de secar o que poderia ainda florescer à sua volta.
O que importa, agora, é protegê-lo. Afinal, ainda poderemos vir a precisar dele, numa insignificante manhã de nevoeiro.

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vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


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