Em Portugal existiu sempre uma áurea ligada aos quadros empresariais. Então se tiver o adjetivo superior colado, fica tudo dito. Tirar o cursozinho, ser doutor foi tradicionalmente o ponto de chegada de muitas famílias portuguesas. Daí até aos quadros é um pequeno passo. Ouvi mesmo há tempos um suposto quadro exibir, perante as câmaras de televisão, um adrede e inolvidável pedantismo, ao sugerir que os elevados ordenados dos quadros superiores têm uma explicação simplista, a qual se liga à suposta exiguidade dos mesmos.
Nesta linha de sentido, o Governo, compaginado envergonhadamente com o Partido Social-Democrata, decidiu abrir uma obscena exceção aos cortes salariais previstos no âmbito da execução do Orçamento Geral do Estado. As exceções são alguns quadros de algumas empresas públicas, os quais vendo-se assim tão desprotegidos nos seus 10% de corte salarial, poderiam mudar-se para uma empresa privada. Lembrei-me logo de alguns destes quadros como Armando Vara, Rui Pedro Soares, Mira Amaral, Ferreira do Amaral, ou outras centenas de nomes que, durante décadas de política neoliberal, ora a cargo do PSD, ora por interposto Partido Socialista, têm feito do Estado (direta ou indiretamente) uma espécie de fazedores de quadros. Desde logo, um ponto notoriamente comum: carreirismo partidário, isto é, a política como mero instrumento propulsionador de ávidas personalidades em busca de sonhos eventualmente desenhados, em muitos deles, imberbemente.
O que verdadeiramente me choca, no meio de todo este desnorte político, é este olhar sobredimensionado para esta gente. Pela minha parte, qualquer destes quadros deve sair se assim o entender. Não só por fazer parte de uma ambição legítima, mas também por que, nas dezenas de milhares de desempregados muito qualificados, haverá quem, possivelmente, os supere. Não em experiência, infelizmente.
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