Uma das notas extraordinárias da política diz respeito às metamorfoses, sejam elas impostas ou oriundas de um processo francamente interiorizado. Cavaco é talvez o político no ativo com maior predominância decisória. Foi primeiro-ministro num tempo muito especial - o das chamadas vacas gordas -, num tempo em que nos contentávamos com o estatuto de bom aluno dos ditames de Bruxelas; é Presidente da República e foi ainda, há já muitos anos, um irrelevante ministro das finanças. Tem, portanto, uma enormíssima quota-parte de culpa relativamente ao estado a que isto chegou.
Estamos em campanha eleitoral e com ela o regabofe demagógico. Cavaco, o político que não gosta de o parecer, desavergonha-se perante os portugueses e esbofeteia-os com coisas como esta: Portugal deve voltar a ser um "país respeitado e credível na cena internacional", adiantando que não ser este um "tempo de experimentalismos, aventuras ou fantasias". Por isso, diz ainda o candidato que se for eleito será um presidente ativo e dinâmico mas (mas... mas...) simultaneamente prudente. Mais: "um presidente da República não é responsável pela governação do país, mas também não é uma figura meramente decorativa ou simbólica. É, desde logo, o garante da independência nacional, da unidade do Estado e do regular funcionamento das instituições". Advoga ainda que tem ideias claras e realistas para o país e que não estará ao servilo de ideologia alguma.
Ficámos, pois, entendidos, senhor presidente da República. Mas eu não acredito em si.
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