Um dos esperados argumentos socialistas relativamente à proposta de revisão constitucional social-democrata diz respeito ao timing. Silva Pereira, um dos mais notáveis porta-vozes socráticos foi claríssimo e duro, porventura demasiado enclavinhado: "querer debater candidaturas presidenciais ao mesmo tempo que se discute, e altera, a duração do mandato e a extensão dos poderes do Presidente que está para ser eleito é uma ideia absolutamente estapafúrdia, que não há memória de alguma vez ter sido proposta por um líder político irresponsável". Não tem razão neste ponto. A meu ver, faz todo o sentido os candidatos a presidente da República, que juram solenemente fazer cumprir a Constituição, tenham oportunidade de se demarcarem ou emparelharem nas diferentes visões constitucionais. Passos Coelho demonstrou, não sei se por ingenuidade política ou se por autenticidade, que quer de fato alterar o status quo político que se tem planado na sociedade portuguesa ao longo destes anos. É, neste sentido, diferente dos demais líderes. O retorque de Silva Pereira é revelador desta sintomatologia demasiado calculista, artificial.
Eu não concordo com as propostas que são já conhecidas do grupo de estudos do PSD que tem a cargo este anteprojeto de revisão constitucional. No entanto, penso que a política partidária não deve estar refém de quaisquer eleições ou mesmo de crises económicas. Aliás, estas propostas são também (pelo menos assim deveriam ser encaradas) formas de agrupar pontos de vista (ainda que discordantes) para que o país consiga ultrapassar este já demasiado longo lamaçal social que costuma ser apelidado de crise que vem de fora.
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