domingo, maio 30, 2010

o triste apoio a alegre

Eu já não fico espantado com José Sócrates. Bastou vê-lo na Madeira, naquele diálogo anfractuoso com Alberto João Jardim, para ter a certeza que o homem não merece, de facto, o governo do país. E é por isso que ele vai perder categoricamente as eleições. Estou mesmo em crer que Sócrates representa aquilo que de pior tem a política: o cinismo, a mentira e a falsidade.
Como é possível que ele se transfigure num apoiante fervoroso de Alegre? Sócrates pensa o contrário daquilo que diz. Neste sentido, ao afirmar que é seu desejo que o ex-deputado ganhe as eleições, o que ele realmente quer que aconteça é o oposto. O mesmo se aplica ao seu apoio convicto.

sábado, maio 29, 2010

recurso do ministério da educação

Que o Ministério da Educação recorra da decisão do Tribunal Administrativo e Fiscal de Beja que manteve uma providência cautelar para travar o concurso de docentes enquadra-se na legitimidade própria de um Estado de Direito. Agora que invoque, como justificativa, os interesses dos professores é que já me parece notoriamente abusivo e delirante.

j p sá couto favorecida

A Comissão Parlamentar de inquérito redigiu já o seu parecer final sobre o negócio em torno dos computadores Magalhães. O que concluiu é muito simples e inequívoco (este último adjectivo foi mesmo empregue pela própria comissão para atestar o seu grau de certeza): houve favorecimento do Governo direcionado para a empresa J P Sá Couto. Mais: a criação da Fundação para as Comunicações Móveis teve um fito determinado: fugir à obrigação do concurso público internacional. Enquanto isso, a empresa faturou como nunca pensara que seria possível. Entretanto, os responsáveis pela estrangeirinha andam por aí (anda muita gente por aí), refutando, com a venalidade dos mais variados argumentos - entre os quais aquele que Sócrates se especializou ao longo destes anos: até aqui, milhares de crianças não tinham acesso à internet e foi graças ao computador Magalhães, etc. etc. etc. -, mais este cozinhado político.
O relatório da comissão será enviado para o Tribunal de Contas e para a Comissão Europeia.
Será isso suficiente para o Presidente da República tomar uma atitude? É que eu não queria dar razão a Santana Lopes quando reitera o seu permanente e angustiante estado de exonerado político. De fato, ele foi à vida por bem menos...

novo rumo para o ps

O que Vasco Pulido Valente evoca hoje no Público já aqui foi defendido. De facto, o PS não pode, se quiser continuar no alçapão do poder, apresentar josé Sócrtes como candidato a primeiro-ministro nas próximas legislativas, sejam elas antecipadas ou ordinárias. Aliás, não vinha mal ao mundo se Sócrates apresentasse a sua demissão e Cavaco aceitasse um primeiro-ministro socialista. Isso é que era um verdadeiro passo patriótico de toda esta gente.

sexta-feira, maio 28, 2010

o futebol, outra vez

Não tenho obviamente seguido os pindéricos directos televisivos e reportagens televisivas a respeito da nossa selecção. Mas calha às vezes olhar para a televisão e ver treinadores, jogadores ora num carambolar sorrridente, ora a matraquilhar, ora ainda a reportar com a ajuda de um infeliz jornalista. Carlos Queiroz pensa que é assim que se ganha espírito de grupo. Neste sentido, não anda muito longe de Scolari com as suas bandeirinhas nas varandas e nos automóveis circundantes. O espírito da coisa foi substituída por uma pirosa música que reflecte um qualquer sentimento onírico ("i gotta a felling"). É por estas e por outras que Carlos Queiroz nunca passou da mediania enquanto treinador de futebol, mediania essa que conviveu desde sempre com uma áurea despropositada de professor. Lembro-me de o ver um dia na televisão a ser entrevistado no Manchester United. O que me ficou dessa conversa foi o debitar orgulhoso de números relacionados com as perfomances físicas dos jogadores. O homem tinha aquilo tudo apontado. Será nisto que ele porventura se distingue. O que é muito pouco.

quinta-feira, maio 27, 2010

psd à beira da maioria absoluta

Afinal não foi necessário muito tempo para que se visse o descalabro do Partido Socialista. Segundo o último barómetro TSF-Diário Económico, o partido de Passos Coelho encontra-se à beira da maioria absoluta. O que não deixa de ser interessante se tivermos em conta que o líder do PSD é uma espécie de co-autor das recentes medidas de austeridade que apontam, para os próximos meses e anos, para um agravamento das condições de vida daqueles que contam com os famigerados e agora discriminados apoios sociais. Ora, o que esta projecção essencialmente revela é que os portugueses estão já fartos de Sócrates. De facto, só com alguma imaginação é que se podem extrair outras conclusões. Mais uma vez, optamos não por uma alteração denotadora de políticas, mas antes por uma mudança de rostos. O problema é que andamos nisto há já demasiado tempo.

domingo, maio 23, 2010

escutar as escutas

Salva-se a pátria com comissões parlamentares de inquérito? Não. São elas importantes? Sim. Servem depois para alguma coisa? Não sei.
A comissão parlamentar de inquérito respeitante ao caso PT/TVI (sabia ou não José Sócrates previamente do intuito da PT em adquirir a estação de televisão?...) acabou. Mota Amaral, vetusto deputado e presidente desta comissão, recusou a divulgação das escutas que o premiado Pacheco Pereira teve acesso e que o próprio, ligeiramente, as definiu como sendo "avassaladoras". Ora o que naturalmente se pergunta é por que razão permitiu Mota Amaral a Pacheco Pereira escutar as escutas se sabia que não haveria possibilidade constitucional (justificação que não colhe unanimidade) de as tornar públicas?

quinta-feira, maio 20, 2010

auto-contraditório

Sei que é fora do tempo, mas o que acabei de ler na Visão merece aqui uma pequeníssima nota. Diz respeito a Miguel Frasquilho, deputado do economês social-democrata e, nas horas que presumo vagas, quadro do Espírito Santo Research. Defende então Frasquilho, o deputado, que Jorge Lacão, o Ministro dos Assuntos Parlamentares, lhe fez recordar o ex-ministro da propaganda de Saddam, que insistia, até à última, que as tropas americanas ainda não se encontravam em Bagdade, quando na verdade já se ouviam o rufar dos tambores vitoriosos. Mas o Frasquilho quadro do BES diz o seguinte: a situação atual "não justifica as preocupações dos mercados", ao mesmo tempo que elogia o esforço de consolidação das contas do Governo. E o que diz o Frasquilho comentador de si próprio? Isto: "Não me parece que nesta altura devesse usar [para fora] os mesmos argumentos da arena política".
O que eu não entendo é o alvoroço em torno das eventuais mentiras de José Sócrates, as quais merecem honras de comissão de inquérito. É ou não é uma escola?...

quarta-feira, maio 19, 2010

prioridades

O problema são, efectivamente, as prioridades dos actuais políticos europeus. Sócrates foi sincero ao responder aos jornalistas da RTP que a sua prioridade é o relançamento da economia, numa altura em que o desemprego em Portugal atinge o número bastante redondo de 700 mil desempregados. Mas também quanto a prioridades elas já foram tantas e variadas que é impossível levá-los a sério: a ele e às prioridades.

terça-feira, maio 18, 2010

a moção de censura

O PCP vai apresentar uma moção de censura ao Governo. Nada mais natural em democracia. Quero salientar somente a diferença em relação à recente atitude de resignação de Cavaco Silva. Seguindo o mesmo princípio presidencialista, o PCP não deveria tê-lo feito, pois sabe de antemão o resultado da sua acção.

os desempregados e o psd

Vivemos numa sociedade em que as cambiantes socioculturais se metamorfoseiam de forma cada vez mais única, estranha e perigosa. Não há muito tempo, o desemprego constituía um momento determinado no tempo individual e colectivo e que urgia, o mais rapidamente possível, ultrapassar. O desenho político-partidário orientava-se também nesse sentido, isto é, é-se desempregado impositivamente e não por opção de vida.
Todavia, o que agora certas franjas partidárias teimam em sublinhar, nesta alucinação económica que vivemos, resume-se no contrário daquele paradigma. Agora, o desempregado pouco mais é do que um malandro que gosta de o ser e que, como o é, acata deleitosamente o subsídio mensal que uma coisa chamada Estado Providência - uma conquista civilizacional europeia - lhe proporciona.
Não seria grave a assunção deste padrão teorético se se ficasse somente pelas franjas. Em Portugal, um partido que se chama de social-democrata e que até reivindica este estatuto lembrou-se do seguinte: os desempregados com mais de 18 anos e menos de 60 devem contribuir com o chamado "tributo solidário" (o nome: tributo solidário), o qual consiste na obrigação de trabalhar entre 15 a 20 horas semanais (distribuído por 3 ou 4 dias úteis, consoante o subsídio recebido, isto é, de desemprego ou social) de serviço social ou formação profissional. Trabalho esse que não deverá ser remunerado. Mais: "A recusa injustificada de assinatura" ou "a violação reiterada e injustificada do acordo do tributo solidário" impede os cidadãos de acederem aos subsídios de desemprego e social de desemprego de acederem até à "constituição de novo prazo de garantia" e ao subsídio social de inserção durante "25 meses".
Quem por estes dias ficar sem emprego, a primeira coisa que decerto pensará será o de passar a pertencer a um clube de malandros.

segunda-feira, maio 17, 2010

cavaco, o resignado

Se estivéssemos na realeza medieva, o cognome de Cavaco Silva, o rei, seria o de "o resignado". Na verdade, o nosso Presidente da República tem revelado uma vertente demasiado complacente. Desta vez - como sempre, aliás - a sua justificação para a promulgação do decreto-lei que permite a legalização do casamento homossexual foi os dos superiores interesses do país. Adiantou ainda que, se a sua atitude se apoiasse na rejeição da proposta dos partidos de esquerda, o mais certo seria que estes mesmos partidos recolocassem de novo este assunto para promulgação, agora obrigatória, do Presidente. E depois, sr. Presidente? É esta a mensagem que passa ao país? O que Cavaco Silva verbalizou esquematiza-se num raciocínio simples e objectivo: não concorda, mas para acabar com isto de vez, promulga.
O país merece um presidente sem medo de perder nas suas convicções. Estas devem ser defendidas até ao fim, mesmo que isso implique um remar opinativamente obstinado contra a maré. Se os nossos políticos fundadores do regime fossem confluentes deste tipo de linhagem, imagine-se onde é que ainda estaríamos...

domingo, maio 16, 2010

o caso da professora que posou para a playboy

Em Mirandela, uma professora do 1º ciclo decidiu posar para a revista Playboy. Uma ofendida vereadora deslocalizou-a, abusivamente, para um serviço de secretariado.
O que todo este caso revela, para além duma pacovice latente, é a profunda arbitrariedade que poderá constituir aquilo que, aparentemente, se encontra há muito desenhado do ponto de vista da estruturação dos concursos de professores, ao alargar para as autarquias e para as escolas esse valimento.

casamento canino

Manual de jornalismo: não é notícia o cão morder o homem. No entanto, o contrário já se afigura como tal. Hoje o dia dos telejornais foi marcado por um casamento, bastante formalizado, entre dois canídeos brasileiros, um macho e uma fêmea. É notícia? Provavelmente é. Mas também o é as nossas televisões, no âmbito dos seus espaços mais nobres de informação - os telejornais - enveredarem por uma estupidificação crescente.

sábado, maio 15, 2010

educação sexual

O nosso "rei", D. Duarte Pio: "Tornar obrigatório o ensino da educação sexual resume-se a dizer: forniquem à vontade, divirtam-se, façam o que quiserem mas com higiene".
Eu também sou contra a criação desta disciplina nas escolas. É, digamos, um forte exemplo daquilo que se chama eduquês. Uma vitória dos nossos pedagogos de meia-tigela, a começar pelo inquestionável Daniel Sampaio, o principal guru e defensor da tese de que educar é também educar na sexualidade. Nada a opor neste ponto. Só que bastaria olhar para os conteúdos programáticos duma disciplina que se chama Ciências da Natureza e depressa se concluiria que, afinal, os nossos alunos iniciam uma educação sexual desde muito cedo, designadamente desde o 2º ciclo de escolaridade, continuando no 3º e, depois, no secundário, com uma disciplina que se chama Biologia. Mas esta perspetiva fatual não interessa nada para estas sumidades das ciências da educação. É preciso uma disciplina de Educação Sexual e pronto. Despreconceituosamente, metem-se uns preservativos numa banana esverdeada, convidam-se uns alunos a realizarem imaculadamente esta tarefa e, entretanto, a aula acaba. Na próxima haverá mais.

os candidatos mudos

Cavaco Silva ainda não é candidato, é certo. Mas é Presidente da República. Manuel Alegre já se desvinculou do seu próprio gradeamento epistemológico-político. Ambos são mudos relativamente às medidas veiculadas pelo Governo para combater a crise, ou melhor, o défice (são coisas diferentes, penso, e uma não implica necessariamente a outra: eu preferiria de longe que o verdadeiro escopo se centrasse na crise social). Compreendo a posição de Cavaco Silva, enquanto Presidente da República que não se deve imiscuir nas decisões governamentais (mas porquê?...). Já não entendo Manuel Alegre - sinais do tempo: apoio, a quanto obrigas!... - que fantasia um oportuno silêncio sobre o tema.
Valha-nos Fernando Nobre (por isso é que é, por ora, o meu candidato: despartidário, sem compromissos com nenhum partido) que já sublinhou o seguinte: "ninguém questiona a necessidade de o país adoptar medidas correctivas, o que me questiono é sobre temas específicos como a questão da não existência de uma discriminação positiva ao nível do IVA e do IRS", ao mesmo tempo que propõe um corte de 10% nos salários superiores a 10 mil euros e que os salários inferiores a 700 euros não devem sofrer qualquer penalização em matéria de IRS.
O combate desenfreado (obsessivo: afinal, já não vão ser 8,3% em 2010 mas sim 7,3% e, em 2011, 4,6%!...) ao défice não deve ser feito à custa duma crescente miséria social. Neste ponto, é óbvio que os mais pobres se encontram bem mais próximos do que os que ganham razoavelmente e dos que recebem salários milionários. Convém referir que pobres, em Portugal, estão contabilizados em cerca de 2 milhões (pasme-se: muitos destes são trabalhadores com salários vergonhosamente infames). Para além destes, existem outros tantos que se posicionam no fio da navalha, isto é, um pouco acima do limiar da pobreza. Ora, este agravamento fiscal não vai trazer ao país (à sociedade) uma maior homogeneidade social. Infelizmente, penso que os nossos governantes, estejam eles em coligação ou a governar sozinhos (e eles lá sabem com quem se coligam... é fácil pedir desculpa quando se continua a viver bem) pensam mais em cifras do que em pessoas (desculpem, mas vem-me sempre à minha vertente neurolinguística o grito de António Guterres a Cavaco Silva quando lhe trombeteou que os portugueses não são números...).
É, portanto, necessário, de uma vez por todas, que a fundação política assente naquilo que o padre Anselmo Borges apelidou, apropriadamente, de inteligência social. Sem ela, os portugueses não passarão, inevitável e desconsoladamente, de números rascas.

sexta-feira, maio 14, 2010

medidas entusiasmantes

As recentes medidas de austeridade preconizadas pelos vários Governos europeus parece não terem entusiasmado os mercados financeiros, em especial no nosso país. O que se passa é que se olha para estes orgulhosos líderes e não se vislumbra qualquer sombra de um pensamento estruturado, uma visão para o país. Vamos vivendo com medidas avulsas como as que foram agora implementadas. Pior do que isto: estes sinais pseudo-directores são, de facto, o resultado dos desvarios dos mesmos que originaram todo este imbróglio socio-económico-financeiro. Infelizmente, parece que nada, efectivamente, tende a mudar.

quinta-feira, maio 13, 2010

sócrates e passos

Sejamos claros: o que se tem vindo a passar na política portuguesa em nome da crise é verdadeiramente vergonhoso. Sócrates sempre defendeu que o Governo não aumentaria os impostos; Passos Coelho sempre criticou essa mesma possibilidade. Conhecíamos Sócrates (do ponto de vista personalista, a amigação que resultou do dílúvio madeirense é exemplo maior); ficámos, agora, a divisar Passos. Afinal, onde pára a mudança? Mas interessa também focar o seguinte ponto: o aumento da carga fiscal recai mais pesadamente sobre os contribuintes de menores recursos. Basta somente seguir alguns exemplos: é bem mais apetecível deixar de usufruir de algumas dezenas de milhares de euros por ano para quem ganha 3 milhões do que 200 euros para quem tem um ordenado de pouco mais de 1000 euros por mês. Mas estes senhores já enchem o peito e afirmam que é possível descer o défice mais do que o previsto (penso que Sócrates falou em 4, 3% em 2011). Parece o Mexia da EDP com a conversa dos objectivos atingidos. Assim, também eu.

adenda: Passos Coelho pediu desculpas aos portugueses por assinar este acordo com o Governo. Remeto o leitor para a primeira frase deste post.

as medidas

O acordo está iminente: Passos e Sócrates reúnem-se hoje a fim de decretar as esperadas medidas de austeridade para os trabalhadores. Acontece que há trabalhadores e trabalhadores. Um gestor de uma empresa pública, que ganha dezenas de milhares de euros por mês, é um trabalhador. Do mesmo modo, o porteiro do Ministério das Finanças é também um trabalhador. Acontece que entre o porteiro e o gestor existe um profundo abismo remuneratório. Ou entre, por exemplo, um professor, um engenheiro e esse mesmo senhor gestor. No entanto, o que este rotativismo prevê é que o gestor tenha um aumento da sua carga fiscal de 1,5% e o porteiro, porque ganha mais do que o salário mínimo, seja implicado em 1%. Ora, no meu modesto entendimento, o que isto preconiza não é um combate ao profundo fosso social existente no nosso país. Ou estes senhores não sabem fazer contas, ou os seus conceitos de justiça social ficam muito aquém daquilo que seria, no mínimo, exigível. Podem os dois políticos olhar - porque não? - para a doutrina social da igreja (a qual é, diga-se desde já, confluente com o discurso inerente às centrais sindicais) e reflectir . Na verdade, tanto a igreja como as centrais sindicais têm como fundamento primeiro, dentro de uma lógica de abrangência diferenciada, a defesa dos mais pobres, isto é, dos que ganham menos.
O que estas medidas de agravo fiscal comprovam é que o combate às assimetrias sociais não é, infelizmente, uma prioridade. E, para piorar esta visão descrente, aparece, vigoroso e observador, o rotativismo, agora com uma variante (nova) de pré-cozinhado.

quarta-feira, maio 12, 2010

sócrates e coelho

Esta intimidade latente entre os dois líderes parece-me demasiado plastificada. Não que não se afigure útil e profícua, pelo menos na aparência política e mediática. Acontece que estes dois partidos que se têm revezado no poder ao longo desta segunda república, hostilizam propositada e estrategicamente os restantes partidos parlamentares. É que medidas como as que foram propostas por Passos Coelho, as quais passam invariavelmente por uma distribuição racionalizada de uma diminuição dos salários dos funcionários públicos (com políticos e gestores de empresas públicas e de parcerias público-privadas à cabeça) e de uma discriminação positiva para os que auferem salários mais baixos, poderiam ser subscritas por todos os partidos, desde o CDS-PP (que foi o primeiro partido a focar este ponto, o que nos leva a acreditar que o espaço mediático de Paulo Portas está paulatinamente a ser ocupado pelo mais telegénico Passos Coelho) até à esquerda parlamentar. Mas talvez seja esta mesma esquerda (e porque não, o próprio CDS-PP) que os dois partidos temem. Afinal, o rotativismo não pode acabar.

a imbecilidade jornalística (parte 2)

O mesmo zeloso jornalista desta vez interrompe um rastejar lacrimoso de uma mulher com uma filha ao colo. Esboça novamente o que julga como alto jornalismo:
- Por que está a cumprir a sua promessa?

a imbecilidade jornalística

- Quando acendeu ali a sua vela o que é que pensou? - questiona modelarmente o jornalista, apontando o microfone inquiridor. A pobre da mulher respondeu como pôde: o filho, o marido, a doença...
Entusiasmado, remeteu em direcção a outra mulher:
- E a senhora? O que é que pensou?...

terça-feira, maio 11, 2010

portugal é dos mais católicos países da UE

Surpreendem-me os números do último Inquérito Social Europeu, realizado em 2008: apenas 12, 4% dos portugueses não pertencem a qualquer religião; 84% de católicos; destes, 32% vai à missa pelo menos uma vez por semana; ao invés, 52% raramente ou mesmo nunca põe lá os pés.
O que me apraz reflectir de imediato é esta forma de reconciliação espiritual, a qual pode ser equacionada do seguinte modo: sou católico porque sim (ou porque fui educado assim), mas isso de o ser na prática (ecuménica, por exemplo) não me cativa tanto. Somos do tipo mais reflexivos, portanto.
Eu, que sou agnóstico, creio não ser esta a melhor maneira de pertencer a qualquer religião. Esta faz-se, na sua essência ritualista, de participação. Espiritual, é certo, mas também física.

segunda-feira, maio 10, 2010

aumento de impostos não é quebra de compromisso eleitoral

Ouvi agora Augusto Santos Silva reforçar a ideia do título destas linhas: o aumento (o eventual aumento, isto é: o efectivo aumento) de impostos não é uma quebra de qualquer compromisso eleitoral. Gostaria de saber se Augusto Santos Silva crê realmente se existe alguma alma portuguesa que se preocupe com os descompromissos eleitorais do Partido Socialista. Na verdade, vir o Ministro da Defesa e também porta-voz do PS enfocar o seguimento da linha orientadora do programa eleitoral do PS parece-me, simplesmente, uma ordinarice política. É que depois de o PS ter ganho as eleições foram já tantas as curvas e contra-curvas directoras que ninguém - mesmo dentro do próprio partido - considera a legitimidade deste documento pseudo-programático.

domingo, maio 09, 2010

futebol: benfica campeão

É um exagero! Tudo que gira à volta do futebol é um exagero. As televisões, educadores primeiros do povo, ajudam à festa. Os telejornais antecipam a abertura para oferecer aos ávidos telespectadores a notícia: o Benfica é campeão. De imediato, o país deixa de existir para dar lugar a uma boçalidade colectiva. As entrevistas de rua alimentam essa mesma bruteza de alma com tempos de antena que nos devem envergonhar a todos. Passa-se assim em todos os países europeus? Não! Talvez na Grécia!

sábado, maio 08, 2010

hino à selecção

O costume: um conjunto de pseudo-personalidades públicas, cheias de sorrisos, pulos e cachecóis ondulantes, lá se juntou na RTP para gravar um hino de apoio à selecção de futebol. Nisto, estamos em primeiros.

laranjinhas na escola

Numa escola pública de Vila Real, a JSD irá realizar - com a denominação jovialmente apropriada de "tangerina" - um conjunto de acções de formação com um fito muito preciso e "nobre": levar os jovens a aderir à política e também a uma renovação dos quadros desta juventude partidária. Esperem!... Vou voltar atrás: renovação dos quadros da Juventude Social-Democrata! Reforço o meu custoso entendimento da coisa: um director de uma escola pública autorizou uns miúdos (parece mesmo que existe uma estrela sub18, como eles próprios a denominaram, isto é, um rapazola que se fez militante desta estrutura partidária e que desde muito cedo - desde muito cedo!... - "acompanha as campanhas eleitorais"...) a exercerem uma acção de sensibilização política que visa a angariação de militantes para a sua causa? Um partido político em acção directa no interior duma escola pública? Nunca tal vi. Mas, como dizem, há sempre uma primeira vez para tudo.

obras emblemáticas adiadas

Não é que mudar de opinião seja sinónimo de alguma espécie de fraqueza. Em política (como, aliás, em tudo na vida) pode até configurar uma atitude inteligente. A questão é outra e tem a ver com a própria comunicação política. Há uma semana atrás, ouvindo o primeiro-ministro a respeito deste tema, o que resultava era qualquer coisa como isto: o adiamento destas empreitadas não é solução; é tempo de Portugal respeitar os compromissos inadiáveis que são a base de desenvolvimento do país. Hoje, porém, é o oposto o que ele diz, embora - coisa extraordinária! - ele diga que não, que não existe contradição, que defende os mesmos princípios de investimentos públicos.
Como é possível defender veementemente uma ideia e o seu oposto em simultâneo, sem que a máscara diáfana da fantasia se obscureça? Quais as consequências que estes tipos de acções originam na política? Não estaremos, com estes políticos (poderia acrescentar uns tantos, desde o PC ao CDS-PP), num crescendo de desacreditação política? Andarão a política e a falsidade de mãos dadas?
Não sei, sinceramente, responder a estas perguntas, provavelmente retóricas. Mas conjecturo, sem qualquer presunção, que os estados de alma destes senhores não são compagináveis com aquilo que a política, na sua génese, representa.

sexta-feira, maio 07, 2010

promessas de fátima

Com tanto rigor epistemológico em relação a várias procedimentos sociais e religiosos, parece-me oportuno questionar a igreja católica, e em particular os responsáveis pelo Santuário de Fátima, para quando a proibição (repito: proibição) do rastejamento em nome de um qualquer agradecimento de fé?

a fome e as presidenciais e mário soares

Há momentos que nos incrustam a alma, que se apegam a nós como decisores de algo: um amor, um olhar, um qualquer sentido. Mário Soares é pródigo, como grande político que é, na transmissão de um devir colectivo e popular. Basta lê-lo. Ou - melhor ainda - simplesmente ouvi-lo. Retive dois desses momentos, duas anotações que escutei de Soares em que o seu interlocutor ou ouvinte era precisamente o povo.
A primeira foi quando ganhou as suas primeiras presidenciais e proclamou, no alto da sua sede de candidatura, ao Saldanha que a sua vitória era a da tolerância, a da liberdade. Duas simples anotações, duas simples ideias podem configurar toda uma vida. E estou convencido que são precisamente a tolerância e a liberdade o leit motiv político do ex-presidente. Já durante o exercício do seu primeiro mandato, aquando de uma visita que não sei precisar, o presidente era arrastado por uma pequena multidão. Olhando para uma criança, Soares pára a comitiva e ordena de imediato a um dos seus assessores que vá com o miúdo a uma sapataria para lhe comprar uns sapatos. Não era admissível, segundo o próprio, que uma criança do seu país, em final do século XX, andasse com os pés descalços.
Quero com este pequeníssimo apontamento chegar à actualidade. E esta aponta desgraçadamente para um estado de regressão social. O ex-presidente e ex-candidato presidencial derrotado salientou ontem que o PS não deve posicionar as eleições presidenciais de 2011 como uma prioridade, pois existem outros assuntos mais prementes que devem preocupar os responsáveis deste país. Um deles é a fome.
A fome! Há portugueses a passarem fome! E passar fome é não ter de comer, é ir para a escola sem qualquer alimento ingerido, é a vergonha. Não sei quem é que o Partido Socialista elegerá como "seu" candidato presidencial, se Alegre ou Nobre. Mas o que eu sei é que os presentes candidatos deveriam ter as mesmíssimas preocupações de Mário Soares. De facto, ninguém em Portugal deveria passar fome. Mesmo que andem calçados.

nota: não sou, no entanto, tão ingénuo ao ponto de não ligar esta "despreocupação" de Soares relativamente às presidenciais a uma espécie de birra. Eu sei que o apoio (inevitável, presumo, segundo as cabecinhas bem-pensantes daquela gente e da maioria dos jornalistas) do PS a Alegre configura uma segunda derrota (ou o arrastar da de há quatro anos) para o histórico líder socialista. Mas o que é verdadeiramente importante é que um ex-presidente da República, apoiante (desproporcionado, a meu ver) de Sócrates, apareça com um registo discursivo antitético face ao que é erigido pelo Governo. A fome, assim sentenciada por um ex-presidente, deveria merecer, por parte dos nossos jornalistas, um melhor e mais profícuo acompanhamento. Simplesmente porque ninguém, no despontar do século XXI, deveria passar fome em Portugal.

quinta-feira, maio 06, 2010

o habilidoso furto de ricardo rodrigues

Eu vi a adelgaçada arteirice com que o vice-presidente da bancada socialista, de seu nome Ricardo Rodrigues, furtou os gravadores ("os aparelhos de gravação digital", como ele próprio os identificou) dos jornalistas que o entrevistavam. E confesso que fiquei impressionado com o método utilizado pelo prevaricador: levantou-se como quem vai buscar um papel ali ao lado, não sei mesmo se não trauteava algum assobio apaziguador e desconcertante, e, sem se dar por isso (se não fosse a bolinha no ecrã televisivo a rodear a mão larápia do deputado eu não daria por nada) tinha já os gravadores no bolso das calças (ou do casaco?). Extraordinário!

Presumo que Ricardo Rodrigues, membro da Comissão Parlamentar de Ética e coordenador para a área da justiça do PS (as pitadas de ironia, em política, nunca fizeram, como os caldos de galinha, mal a ninguém, mas este PS tem desenvolvido, ao longo dos tempos, uma verdadeira especialização na área...), se encontrava ali de livre vontade. Presumo também que não havia alguma condição de obrigatoriedade nas questões absolutamente legítimas apresentadas pelos jornalistas. Santana Lopes já um dia se levantou de uma entrevista em directo na televisão. As suas razões foram perfeitamente adequadas ao contexto. O deputado socialista podia simplesmente ter feito o mesmo. Sem roubar nada.

quarta-feira, maio 05, 2010

eleições presidenciais

Tenho defendido que a introdução de uma lógica partidária nas eleições presidenciais é um absurdo, uma incongruência, um paradoxo. As eleições para a Presidência da República são, por definição constitucional, unipessoais. Candidatam-se pessoas e não partidos. Neste ponto de vista, os candidatos posicionam-se acima dos partidos. Por isso é que, na praxe eleitoral, o candidato vencedor é categórico ao afirmar, logo no seu discurso de encerramento e de vitória, que a maioria que o apoiou se dissolve nesse preciso momento. Do mesmo modo, os deveres do Presidente da República não se alargam consoante o vencedor: o mais alto representante da nação jura fazer cumprir a constituição da República.
Há os estilos, evidentemente. Mas estes não são só por si suficientes para partidarizar o cargo. Creio mesmo que o apoio cego e "partidário" dos partidos políticos, perdoem-me a redundância, seja contraproducente para os próprios. Acaso José Sócrates prefere Alegre a Cavaco Silva? Podem crer, meus caros leitores, que não. E o PS vai apoiar este antigo deputado socialista. Do mesmo modo, convive bem o PSD com Cavaco Silva em Belém? A resposta é a mesma no que concerne ao actual líder do PSD.
Voltemos, pois, aos estilos. Mesmo estes são difusos e difíceis de catalogar (deixemos de fora traços personalísticos, que a perspectiva analítica dos nossos comentadores tanto vislumbram). Cavaco é acusado amiudadas vezes de ser um mero espectador, de não ser proactivo, de dizer banalidades. É verdade quanto a este último ponto, o qual parece, no entanto, ser uma inevitabilidade inerente ao cargo. É que eu já vi Manuel Alegre criticar Cavaco quando este anotou negativamente a aposta imediata nas grandes empreitadas públicas. Isto não é ser interventivo? Calar-se-ia Alegre se pensasse o mesmo? Nesta mesma perspectiva crítica, o Bloco de Esquerda também não arranjou melhor argumento na reacção ao discurso do presidente na sessão comemorativa do 25 de Abril na Assembleia da República, do que criticar o chefe de Estado quando este introduziu a cidade do Porto numa crítica ao endémico centralismo excessivo que padece o país (poderia ter ido mais longe, para o interior, por exemplo). Um presidente da República não se deve incrustar na esfera de competências do Governo, advogou o presidente do grupo parlamentar bloquista.
Um presidente tem de ter voz e esta tem de se fazer ouvir. Imiscuindo-se os partidos na eleição presidencial é uma forma desta se desvirtuar. Neste pressuposto teorético, só um candidato merece o epíteto de apartidário e que é Fernando Nobre. E a razão é muito simples: é o único que não anda com partidos atrás. Nem à frente. Nem tão pouco a suplicar apoios partidários.

número de alunos por turma

Circula presentemente uma petição, já com perto de 10 mil signatários, a favor da redução do número de alunos por turma. É, a meu ver, um ponto de vista óbvio e justo. Qualquer professor do 2º, 3º ciclo ou secundário, com uma turma mediana, trabalha melhor (com um aproveitamento discente superior) se a turma não extravasar um número razoável de alunos, o qual pode ser balizado nas duas dezenas. Exigirão convenientemente alguns: estudos, por favor, apresentem-se os estudos. Fácil: perguntem a qualquer professor destes níveis de ensino e prontamente se esboça o início, o meio e o fim do estudo.

Pelo contrário, o secretário de estado da educação recusou já esse intento peticionário. Diz ele que não existe uma correlação entre o aproveitamento escolar e o número de alunos por turma. Estudos, por favor, sr. João Mata. Desoladamente, não os tem. Apresenta uns dados numéricos, secos, descontextualizados, sensaborões. Não divide os ciclos (o 1º ciclo não é igual ao 2º; este ao 3º; e ainda este ao secundário), relaciona banalidades ("uma ideia falsa ancorada no senso comum", sentenciou) e não respeita as idiossincrasias (as escolas não são todas iguais, as famílias também não...). Para além disso, entra em completo e triste desacordo consigo próprio, quando indica que o fenómeno do insucesso passa sobretudo pelos projectos educativos das escolas, pela qualidade do sistema, pela liderança da escola e gestão da escola. Entretanto, vai dizendo a estas mesmas escolas que redução do número de alunos por turma nem pensar…

segunda-feira, maio 03, 2010

os senhores refer's

Pensava eu candidamente que disto já não havia nos tempos difíceis e conturbados que correm. Pensava, de facto, e pensava mal.
Uma empresa existe, neste país plantado à beira mar, que floresce nos bolsos dos seus administradores. A REFER decretou um aumento de 13% no pessoal administrador. Assim, cinco destes senhores administradores ganharam mais 53 244 euros do que no ano anterior. As remunerações principais da empresa subiram (de 306 para 457 mil euros); as acessórias desceram. O maior e mais contundente aumento coube ao Presidente do Conselho da Administração, o sr. Luís Pardal (mais 10 445 euros: de 91 mil em 2008 passou a ganhar 101 mil em 2009). A REFER (lendo o pressuposto fundacional da sua existência, não se entende muito bem por que motivo subsiste, ou melhor, por que razão não pertence à CP o que é visionado por esses mesmos pressupostos), teve um prejuízo de 113 milhões de euros em 2009. Em Portugal, o salário médio não chega aos 13 mil euros anuais. Não tenho dúvidas que muitos destes trabalhadores médios são melhores (mais capazes) que muitos Pardais ou, já agora, Mexias. E um país não pode ser isto.

inês prescinde

Inês de Medeiros já não quer a comparticipação do Estado que custeariam as suas deslocações para Paris, onde reside. Afinal, derramou-se tanto verve na Assembleia da República para nada, para a sr.ª deputada afirmar, ainda mais eloquente que não, que não quer, ou que não precisa, ou que quis dar exemplo cabal aos deputados do CDS-PP, os quais, diligentes, preparavam-se para alterar uma lei que obriga ao pagamento destas viagens. "Há limites para tudo...", solenizou a deputada. Acontece que este brio, este visionamento de boas intenções bem que podia ter sido esboçado antes, principalmente quando Jaime Gama, ao aceitar este precedente (o Conselho de Administração da Assembleia pagaria um montante semelhante ao custo das viagens para o ponto açoreano mais distante do terrão continental), há três semanas atrás, foi lesto a avisar que a decisão não devia ser válida para futuros casos, deixando a possibilidade da lei vir a ser alterada e o despacho, consequentemente, revogado. No fundo, as razões invocadas pelo CDS-PP são as mesmas que as do Presidente da Assembleia da Republica.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...