sábado, maio 31, 2008
passos coelho ganhou o futuro
o ataque de menezes
Mas o mais interessante, a meu ver, destas asserções menezistas, liga-se ao facto de ter garantido que, com ele na disputa da liderança, ganharia com larga margem de diferença face aos restantes candidatos. Ora, esta divagação leva-nos, invariavelmente, à seguinte pergunta: se tinha tanta fé na vontade e crença dos militantes, por que é que não se candidatou? A resposta reside, portanto, na auto-análise que o líder cessante faz do seu percurso como presidente do partido. Mais: com estas declarações, o autarca de Gaia remeteu-se, de forma definitiva (embora ele acredite ou tente passar a mensagem que assim não será), para o feudo autárquico. Deste modo, o presidente da Câmara de Gaia salientou o engano que foi a sua eleição a líder do partido. É, sem dúvida, um digno rebate de consciência que vai mesmo contra, segundo o próprio, a vontade dos militantes.
quinta-feira, maio 29, 2008
a moção de censura
Por isso, ouvir o José Sócrates dizer que a moção de censura do CDS-PP é "puro oportunismo político" parece-me um argumento demasiado pobre e tubular. Até porque, obviamente, uma moção de censura representa, dentro do desenho estrutural de um grupo parlamentar, um acto político ou, se quisermos, um acto de oportunismo político. Mas não é por aí que o primeiro-ministro se deveria encostar. Uma moção de censura é um acto demasiado sério para ser discutido desse modo. De facto, com esta atitude pavorosamente superficial (se tivermos em linha de conta que Sócrates é o primeiro responsável do governo), José Sócrates contribuiu, decididamente, para a construção duma imagem que se posiciona entre a leveza e a saturação ou, se quisermos, entre um autismo e alguns tipos de tiques que completam aquilo que Mário Soares chamou, em tempos, ao governo de Cavaco Silva, ditadura da maioria.
E para ajudar à festa, veio o Alberto Martins, líder bem-falante da maioria parlamentar socialista, com aquela pérola da "linguagem imagética animalesca" referindo-se, sem ironia, a Francisco Louçã.
outra vez a avaliação
Na verdade, o que, ao longo destes últimos anos, se tem andado a debater não é educação. Neste sentido, é paradigmático como é que este despacho que define a percentagem dos "Muitos Bons", dos "Bons", dos "suficientes", etc. que cada escola deve estabelecer, foi apresentado, em conjunto, pelos ministérios da Educação e da Finanças. Curioso, não é?
quarta-feira, maio 28, 2008
o aviso de soares
Mas o que estas declarações do ex-presidente da República revelam é que, afinal, Sócrates não conseguiu, ao eleger Mário Soares como o candidato natural do PS às presidenciais (e desastradamente anuído por este), fazer com que esta "voz incómoda" (obviamente já se imaginava que a "esquerda moderna", slogan de Sócrates nas directas do PS, colidia com o perfil identitário do partido, que Soares é o primeiro responsável) se tornasse uma "voz amansada". Seria, de facto, um resultado surpreendente, para quem conhece o pensamento político do fundador do Partido Socialista. Por outro lado, é também sintomático que, afinal, Alegre e Soares - os dois candidatos socialistas derrotados - fazem parte da mesma esquerda que, não sendo moderna, à Tony Blair, é, sobretudo, social. Por isso é que, em 2006, houve um confronto contranatura entre estes dois militantes socialistas. Daí que, paulatinamente, a reconstrução (vocábulo, porventura, demasiado carregado) do Partido Socialista se torne, cada vez mais, uma realidade. Nem que para isso seja necessário perder as eleições em 2009.
ribau apoia santana
(resposta a um leitor anónimo)
Mas o que se debate, aqui neste espaço, não é propriamente estados enlevados de alma. O que realmente interessa contemplar, neste nosso tempo, é o estado social da nossa contemporaneidade, com especial inclinação para a nossa portugalidade. Ou seja: importa debruçarmo-nos, atenta e lucidamente, sobre nós próprios, enquanto povo e país secular que já deu provas de grandes conquistas civilizacionais (não estou a falar de futebol) e tentar ultrapassar sintomatologias sociais negativas, as quais, devido à sua transversalidade, afectam, de modo igualmente negativo, o cidadão e, principalmente o país.
É por isso que eu, ser originariamente positivo, não posso olhar, com o mesmo optimismo com que nasci, a saúde, a educação e a justiça do meu país. Só para dar alguns exemplos padronizados. Por mera proposta intelectual, aconselho o meu leitor anónimo a ler o artigo do Mário Soares no DN de hoje. Ainda para mais quando se sabe que o ex-presidente da República de pessimista tem muito pouco.
terça-feira, maio 27, 2008
desigualdades sociais
o faz tudo
Mas o que realmente me assusta é esta vertente de tudo querer abarcar, o que pode ser revelador de um sintoma de fragilidade. Para além disso, parece óbvio que a confiança nos seus "ajudantes" (foi assim que Cavaco, um dia, se referiu aos seus ministros) já teve melhores dias.
segunda-feira, maio 26, 2008
domingo, maio 25, 2008
o neto de ferreira leite
Apetece-me lembrar o episódio em que Mário Soares, com visita agendada à Hungria (?), recebeu a notícia que o seu filho se encontrava entre a vida e a morte, quando o avião que o transportava caiu em terras africanas. Mesmo assim, o então Presidente da República não adiou a visita oficial ao país da Europa Central. É por estas e por outras que a política anda como anda.
Neste sentido, podemos esboçar uma análise comparativa destes dois tempos ou destas duas espécies de políticos tendo em conta a derivação semântica de uma só palavra: missão. Ou de duas: causa pública.
culto ao líder
O que é de todo inconcebível, no meio desta poeira retórica e eleitoralista, é que o sr. Vitalino Canas, porta-voz do PS, venha, em defesa de Sócrates, erigir um saloio e inadequado culto ao líder do PS e líder do governo. Diz ele que não gostou de ouvir Santana e que esta expressão é de "baixíssimo nível". Para além disso, acrescentou que compreende que Santana não goste de Sócrates porque este já lhe infringiu uma pesada derrota eleitoral. É tudo, portanto, para Vitalino Canas, uma questão de sensibilidades e percepções vocabulares e semânticas. Não deveria, pois, Vitalino Canas ir por aí, logo numa altura em que o líder do seu partido foi condenado pelo tribunal a uma indemnização de 10000 euros a António Cerejo, jornalista do Público, precisamente por lhe ter apontado, em artigo escrito, sintagmas adjectivais que desprestigiam a honra e a idoneidade pessoal e profissional do jornalista. Pelo menos, foi assim que sentenciou o tribunal.
as justificações de jardim
Só que Alberto João Jardim não é - nunca foi - um exemplo de coerência. Neste artigo, não deixa de deixar portas abertas para um futuro próximo. Ou seja: do mesmo modo que arrisca afirmar, categórico, que não aceita posicionamentos calculistas, pede, poucas linhas adiante, calma às centenas de cidadãos que, do continente, lhe enviaram mensagens de apoio. E a justificação que nos apresenta para esse pedido é que "estamos a atravessar uma situação que é um mero episódio". Ora, esta fase episódica, na razão do líder madeirense, terá o seu fim desejável no congresso do partido, que se realizará depois das directas.
Desgraçadamente, Jardim sonha com um levantamento nacional que levante o seu nome a um ponto incontornável. E para que isso aconteça, ele sabe que o melhor é ir espalhando, no seio desta família que é o PSD, ou melhor, as suas afamadas bases, pérolas retóricas que não fazem mais do que, como atrás referi, mistificar aquilo que não é mistificável.
sexta-feira, maio 23, 2008
desigualdades sociais
Não é, de todo, surpreendente, o resultado desta estatística. Confesso que, embora me sinta amargurado vendo que Portugal se posiciona em último lugar numa lista que é, provavelmente, a que maior pertinência possui para avaliar os índices civilizacionais de um país (basta reparar nos países do terceiro mundo e depressa verificamos que, no que diz respeito a desigualdades sociais, conseguem-nos superar), o que me realmente me espanta (e é espanto mesmo) é ouvir a justificativa do Secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, ao remeter o estudo do Eurostat para o ano de 2004 salientando que, actualmente, estas discrepâncias estão já diminuídas. Tem razão o Secretário de Estado: o mesmo estudo, mas reportando-se agora ao ano de 2006, coloca Portugal à frente da Letónia. Acrescenta ainda o membro do governo os desconchavos do costume, como a aposta em áreas prioritárias de intervenção, as quais se constringem a três: melhoria das qualificações (Programa Novas Oportunidades), rendimentos (com o salário mínimo "a atingir aumentos sem precedentes") e protecção social (apoio às famílias mais carenciadas).
Não creio que estas medidas, embora sejam consensuais e positivas, façam com que a situação social, em Portugal, se altere significativamente. Na verdade, com o aumento generalizado dos bens de consumo, a precariedade crescente nos empregos (recibos verdes, contratos a prazo ad eternum, etc.), os ordenados congelados e deploráveis, o mais certo é a verificação de um agravamento das desigualdades sociais, o que conduzirá, inevitavelmente, a um crescimento progressivo e preocupante daquilo que os cientistas sociais apelidam de exclusão social, entendida esta como a fase extrema dum paulatino processo de marginalização. Ora, como é fácil entender, a exclusão social, embora não esteja directamente ligada à pobreza (podemos ser pobres sem nos sentirmos socialmente excluídos), é, contudo, maioritariamente fomentada por situações de carência monetária, pois os recursos das famílias pobres ficam tão seriamente abaixo da média nacional que aquelas ficam, de facto, excluídas dos padrões de vida, costumes e actividades correntes, isto é, de alguns dos sistemas sociais básicos. Dentro desta perspectiva padronizada dos sistemas sociais básicos, podemos destrinçar, por exemplo, a área social (famílias, vizinhança, associativismo, mercado de trabalho, etc.), o domínio económico (salário, poupanças, etc.), o domínio institucional (sistemas educativo, de saúde, de justiça, direitos cívicos, etc.), o domínio territorial (o caso concreto das zonas marginalizadas das grandes cidades como os bairros de lata, ou, em concelhos rurais, as freguesias esquecidas pelo poder central, o que, muitas vezes, conduz a uma migração crescente para zonas mais desenvolvidas) e, finalmente, as chamadas referências simbólicas, isto é, uma dimensão subjectiva do fenómeno da exclusão, a qual se traduz numa perda de referências importantes que o excluído sofre, como a sua própria identidade social, a auto-estima, a auto-confiança, a capacidade de iniciativa, o sentido de pertença à sociedade e, sobretudo, a capacidade de visionar positivamente o futuro.
Assim, é importante relevar que a exclusão social, estimulada pelas desigualdades sociais, é também um problema político, pois constitui, eventualmente num primeiro plano, um problema de cidadania. Daí que a responsabilização do governo (e de todos os cidadãos, evidentemente) deva ser encarada como prioritária no sentido de atenuar as repercussões individuais (e colectivas) desta sombria conjuntura social. No entanto, os sinais que o actual governo tem vindo a esboçar neste combate fundamental para o equilíbrio civilizacional do país (através, por exemplo, da recusa em intervir na regulação de alguns nichos de mercado, como os combustíveis) são, ainda, muito ténues.
Veremos, pois, se conseguimos empreender, enquanto país, de uma vez por todas, um verdadeiro combate a situações que nos devem a todos envergonhar.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 29/maio/2008)
quinta-feira, maio 22, 2008
a condenação de sócrates
Deixando de lado a sentença do tribunal (condenou, está condenado, ponto final e parágrafo), debrucei-me sobre a carta de José Sócrates publicada no Público, em 1 de Março de 2001. Na verdade, naquela carta-resposta do ainda inexperiente Ministro do Ambiente de Guterres prenunciava-se já o estilo verrinário, de pose altiva, do actual primeiro-ministro. Transcrevo apenas o primeiro e o último parágrafos:
"Quando um trabalho jornalístico tem imprecisões e falsidades, podemos legitimamente pensar que o jornalista foi simplesmente leviano e incompetente".
"Finalmente, o que este caso revela de mais preocupante é a forma tão leviana como se põem de lado valores básicos do jornalismo (…). Impressiona a ligeireza e a irresponsabilidade com que se coloca o poder que a comunicação social hoje detém e que devia estar ao serviço dos leitores, ao serviço de preconceitos, dos caprichos, de meras opiniões e da sublimação de várias frustrações".
quarta-feira, maio 21, 2008
importação de alimentos
- apenas 16 por cento das necessidades são colmatadas pela agricultura portuguesa.
- O país importa mais de 90 por cento do trigo e de cevada, cerca de 70 por cento do milho e mais de 60 por cento do centeio.
- Há 18 anos, os campos nacionais de cereais e arroz produziam quase metade do que os portugueses consumiam.
- Actualmente (treze anos depois), a produção destes produtos diminuiu, cobrindo apenas 27,4 por cento do consumo anual.
- Há quase duas décadas, os portugueses produziam mais de metade das leguminosas secas necessárias. Em 2003, 87 por cento era importado.
Ora, olhando para estes extraordinários números, não é difícil percebermos que, também na agricultura (reforço o também, pois estou a lembrar-me do estado da educação em Portugal), os diversos governos que nos lideraram não tiveram, nunca, a capacidade de negar as tentações programáticas vindas de Bruxelas. Por isso, em vez de campos agrícolas (temos, provavelmente, o melhor clima agrícola da U. E.), fabricamos campos de golfe (temos, provavelmente, o melhor clima turístico da U. E.) e projectos de interesse nacional, os famosos PIN.
Na verdade, estes dados são reveladores da qualidade dos políticos e dos governos que, de há trinta anos para cá, têm vindo a delinear o futuro do nosso país.
penhorado por dívida de 75 euros
Ora, não é difícil descortinar que, num caso destes, ou melhor, com uma dívida ridícula como esta, a penhora não é o processo que melhor se enquadra, tendo em conta uma óptica resolúvel do problema. Fundamentalismos.
portugal em sétimo lugar nos países mais seguros
o preço da gasolina
Sempre me pareceu que um país que opte, no combate a défices e também como fonte de receita básica, por uma carga de impostos elevada, é um país que não tem confiança em si próprio, pois o raciocínio inerente será sempre o da receita garantida. Por isso, o capital de risco que os cidadãos são constantemente convidados a aderir, não é seguido pelo próprio Estado. E isso é um óbvio sinal de desencanto civilizacional, pois o sufoco que é diariamente exercido sobre o comum dos cidadãos, torna-se, gradualmente, insuportável.
moção de censura chumbada na madeira
domingo, maio 18, 2008
josé sócrates
"futebóis"
Do mesmo modo, imagino que, no que diz respeito às estrelas do desporto, se viva, nos Estados Unidos, uma situação análoga à que se assiste na Europa, com o basquetebol, basebol, futebol americano, etc. Por isso, estou certo que não me engano se afirmar que a massa popular que segue, com fervor, os diversos campeonatos destas modalidades seja, na interpretação obsessiva que a caracteriza, semelhante à Europa do futebol. Neste sentido, Portugal não foge, portanto, à regra (esta afirmação é exposta sem certezas, pois não sei exactamente se a parolice que grassa no nosso país relativamente à visão do fenómeno do futebol tem paralelo com os restantes países da União Europeia). Mas gostava, sinceramente, que as coisas se não passassem exactamente assim. Neste sentido, a educação escolar (que muitas vezes tem as costas largas) terá, aqui, um papel preponderante. Mas quando a própria escola não resiste ao impacto mediático da modalidade quando, por exemplo, convida uma estrela de futebol a visitá-la, fazendo desse dia feriado escolar, torna-se, assim, parte do problema e não da solução. A cultura da irrelevância grassa, também, no meio escolar.
Nunca mais me esqueço do dia em que me cruzei, na estrada, com o autocarro da selecção. Batedores à frente, de mota, mandando encostar os automobilistas que guiavam em sentido contrário. Mais batedores, de carro, com todas as luzinhas ligadas, com o mesmo sentido persecutório. Finalmente, o autocarro a ocupar mais de metade da estrada, a alta velocidade. Um espanto! A selecção iniciava, arrebatadamente, o seu estágio, em Chaves (não se deslocava, portanto, para jogo algum. A tarde findava e os jogadores, provavelmente, não podiam chegar atrasados para o... jantar). Os automobilistas que transitavam na estrada, ora em sentido contrário, ora no mesmo encaminhamento da selecção (acompanhar o autocarro era tarefa de muita dificuldade, visto que a velocidade ultrapassava, em muito, os limites legais) eram completamente marginalizados pela própria Brigada de Trânsito. Na cabeça dos polícias, o fito era apenas um: fazer com que o autocarro que transportava os jogadores chegasse a tempo ao que os jornalistas desportivos (uma outra espécie curiosíssima pindérica no panorama jornalístico) apelidam de quartel-general.
Agora, com novo euro, uma outra dose de futilidades assoma. Sabemos já os luxos exageradíssimos que esta gente tem em Viseu, nas pessoas que vão esperar horas e horas e horas para ver um autocarro cheio de pressa e cheio de assinaturas de famosos (os nosso famosos são uns pacóvios). O circo começa. O povo assiste. O governo agradece.
Por tudo isto, gostaria que a nossa diferença, enquanto povo e nação secular, se iniciasse precisamente na construção duma realidade social diferente, em que a inocuidade informativa não tivesse, conscientemente, lugar nas chamadas grelhas editoriais. Neste sentido, aposta de Portugal, enquanto país deste espaço europeu, deveria também enquadrar-se num âmbito sócio-cultural mais interveniente e, porque não, inovador. Seria, sem dúvida, uma boa forma de exportação. E quem sabe de receitas.
(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 22/05/2008)
sexta-feira, maio 16, 2008
as surpresas, segundo santana lopes
o cigarrito de sócrates
Mas convém lembrar ao sr. primeiro-ministro que não são só os fumadores que podem, involuntariamente, transgredir. Por exemplo, no outro dia fui multado por conduzir a 100 km/hora quando não podia ultrapassar os 90. Deste modo, fiquei também a saber que os condutores podem, inconscientemente, ultrapassar limites de velocidade (eu juro que não sabia e prometo que não volta a acontecer).
quinta-feira, maio 15, 2008
quanto vale menezes?
quarta-feira, maio 14, 2008
pcp
jardim não se candidata
terça-feira, maio 13, 2008
a coação, a corrupção, o futebol
Não sou um apreciador do Valentim Loureiro. Não gosto da maneira como ele se orienta nas várias opções profissionais que desde há muito mantém. No entanto, não posso de lhe dar razão nos argumentos por ele evocados neste processo. Houve, de facto, uma interpretação abusiva, por parte dos decisores, na condenação tanto do Boavista como de Pinto da Costa. Uma coisa é a coação (que deve ser condenada), outra é o resultado dessa coação. E, pelos vistos, os jogos em que o Boavista participou impregnados de desconfiança arbitral, não foram avaliados como sendo favoráveis a este clube, isto é, os membros encarregues de avaliar a actuação do árbitro ajuizaram que este teve uma acção, durante o jogo, normalíssima, errando ora para um lado, ora para o outro (o melhor árbitro é aquele que erra menos, convém nunca esquecer isto).
Quanto a Pinto da Costa, a lógica é a mesma. Se dúvida houvesse sobre o que paira em redor do presidente do FC Porto e do seu presidente, dissiparam-se quando o advogado Dias Ferreira entrou em cena, com uma postura hipócrita, realçando que o que julga são factos e os factos dizem que Pinto da Costa recebeu um árbitro, em véspera de um jogo, em sua casa. Logo, o outro senhor, Dias da Cunha, até este momento envergonhado, iniciou também, titubeante, a sua tese, na qual a única coisa que se compreendeu foi que existem dirigentes há tempo a mais no futebol.
Deste modo, estes dois senhores contribuíram, decididamente, para uma clarificação do problema. Li o artigo de António Barreto no Público no último domingo. Pensava que estes dois ex-dirigentes do Benfica e do Sporting fossem mais capazes e não optassem por uma postura tão óbvia nas suas conjecturas e, consequentemente, não dessem razão ao que António Barreto escreveu na crónica.
Não sei se Lisboa convive mal com a hegemonia do FCP no futebol. O que tenho a certeza é que o ódio que certas personalidades destilam contra o Porto e, especialmente, contra Pinto da Costa, é, por demais, notória. Há gente que anda há demasiado tempo no futebol? Pois deve haver. Mas quem?
segunda-feira, maio 12, 2008
votou psd?
sábado, maio 10, 2008
o chefe da asae e a asae
Ora, o que me preocupa, no meio de tudo isto, é pensar se será este o procedimento, no que concerne aos objectivos a cumprir, das outras polícias. Logo eu que pensava que ainda há polícias compreensíveis na análise de determinadas situações de eventual transgressão. Afinal, os "compreensíveis" só o são porque já têm a sua quota de multas preenchida, presumivelmente por algumas semanas. Por outro lado, os outros, coitados, os que ainda não multaram, são os maus da fita, mas, na verdade, só estão a fazer pela vida, isto é, a cumprir, desesperadamente, a sua quota. Vou passar, daqui para diante, a enxergá-los com um maior entendimento.
durão barroso, o embaixador de portugal
Não sei se os portugueses olham para Durão Barroso e o sentem como alguém que representa Portugal. Estou em crer, sinceramente, que não. Conhecendo a personagem (o último no activo da "Cimeira das Lages", tirando Bush, em final de carreira), a única representação eficaz que o Presidente da Comissão Europeia é capaz de digerir é a ele próprio.
as chaves de lisboa para barroso
Mas quem disse a António Costa que constitui uma honra par Portugal? Que ele, como cidadão e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, se sinta orgulhoso por ter Barroso como presidente da Comissão Europeia é um assunto que só a ele (e à Câmara) diz respeito. O que não pode é falar em nome do país.
Pela parte que me toca, continuo a achar que o que Durão Barroso fez, naquele ano de 2004, ao combinar, com o Presidente da República Jorge Sampaio uma ida para Bruxelas (depois de outros primeiros-ministros, de outros países, terem consciente e patrioticamente recusado o cargo de presidente da Comissão), com a condição de deixar a chefiar o governo o inenarrável Santana Lopes, representou uma vergonha para o país, visto que foi eleito um primeiro-ministro que, ao mínimo aceno, virou as costas a um mandato para o qual tinha sido escolhido. É que isto de ser primeiro-ministro de Portugal não é o mesmo que ser treinador de futebol, em que, de uma maneira ou de outra, todos sonham em treinar o Manchester United. Até porque, para um português que se preze - e, felizmente, ainda deve haver muitos - poder estar à frente de um governo da República deve constituir, acima de tudo, uma honra que só com um forte sentido de missão deve ser desempenhado. Durão Barroso demonstrou, portanto, que, em Portugal, só serve mesmo para ficar com umas chaves no bolso. Ainda que não abram porta alguma.
(esboço do artigo publicado na Voz de Trás-os-Montes em 15/5/2008)
quinta-feira, maio 08, 2008
manuela ferreira leite
quarta-feira, maio 07, 2008
o regresso de vasco graça moura
- "Em todo o País renasce não só uma esperança mobilizadora dos sociais-democratas, mas também, para muitos mais, uma expectativa de mudança eficaz do protagonismo da vida política e da governação que se ficará a dever ao seu empenho"
- "Tem dado provas mais do que sobejas de coerência, de isenção, de coragem e de militância"
- Ferreira Leite afirmou as posições que defende com a simplicidade, a decisão, a firmeza e a elegância que a caracterizam".
E é isto que vamos ter, até ao fim da campanha, do escritor e cronista. No entanto, convém notar que a mesma exuberância verbal que utiliza na caracterização de Manuela Ferreira Leite é proporcional à empregada para denegrir os seus (Manuela) adversários. Até 31 de Maio vamos ter, decerto, mais Vasco.
terça-feira, maio 06, 2008
a ministra e a educação
Ouvi há pouco a entrevista da ministra e não a entendi. Por mais voltas que dê, Maria de Lurdes Rodrigues não passa do "é preciso arranjar soluções e motivações", seja para os alunos, para os professores, para a escola, para os pais, para a autarquia... em suma, para todo o sistema. Mas é no que concerne ao insucesso escolar que esta frase é mais redita. Só que estamos, mais uma vez, no meio privilegiado do eduquês. Não a ouvi, por exemplo, no sentido de diminuir o insucesso (não os níveis de reprovação, obviamente, pois estes já estão num "bom" patamar estatístico), sublinhar que é preciso alterar os currículos (tanta Formação Cívica, tanto Estudo Acompanhado, tanta Área do Projecto!...), reformar completamente determinados níveis de ensino (a estrutura curricular do 2º ciclo é simplesmente absurda e incoerente), acompanhar, se necessário fôr, individualmente os alunos, diminuir drasticamente o número de alunos por turma (mais uma vez o 2º ciclo) e, finalmente, deixarmo-nos de experimentalismos pedagógicos. Por falar em experimentalismos, não há-de tardar para nos depararmos com uma disciplina chamada Educação Sexual (basta, para isso, continuarmos a ouvir, reverentemente, Daniel Sampaio), o que originará, indubitavelmente, mais um reajustamento curricular por causa destes hibridismos não disciplinares. A insignificância desta proto-disciplina reside, numa lógica antagónica, numa outra que se chama Ciências da Natureza. Com efeito, basta olharmos para o programa de Ciências dum 6º ano para verificarmos que a importância duma educação para a sexualidade pode muito bem ser ministrada no âmbito programático da disciplina de Ciências da Natureza. Até porque o corpo humano, na sua vertente sexual, faz já parte dos conteúdos da disciplina. Daí a pertinência da pergunta: o que se ensinará numa suposta Educação Sexual que não possa ser ensinado nas Ciências da Natureza.
à procura duma legitimidade
Santana anda perdido e afunda-se nas suas contradições. É evidente que nunca se deixará submergir completamente: a sua áurea permanecerá, não só na sua própria cabeça, com também na cabecinha de alguns indefectíveis. O problema é que ele se auto-convence dos seus argumentos absurdos. Daí a sua incapacidade de discernir que o desastre do seu espantoso governo, após a fuga de Barroso, não teve a ver com legitimidade. Afinal, quanto vale um Presidente da República se nem para conferir legitimidade institucional a um governo serve?!... O problema do seu governo residiu, simplesmente, na previsível incompetência de Santana em chefiar um governo da República sem, primeiramente, se deslumbrar. E o deslumbramento, quando encima o nosso entendimento, é sempre sinal de inaptidão. Santana jura que está, agora, mais previsível. Eu acredito, obviamente, nele.
segunda-feira, maio 05, 2008
crises
sábado, maio 03, 2008
o que vale alberto joão jardim
E a culpa é, obviamente, de todos, mas, principalmente de alguns. À cabeça estão, naturalmente, os diversos chefes de governo e presidentes da república que nunca foram capazes de discernir a pacovice de Alberto João Jardim. A última visita de Cavaco Silva à Madeira pode ilustrar o que acabo de afirmar. Depois, embora numa posição mais secundária, os jornalistas que, apesar dos espasmos sistemáticos de alguns, sempre olharam para Alberto João como muitos olham para o Benfica e o seu presidente: vende bem.
Deste modo, olhamos para o senhor da Madeira e vemos uma personagem já apagada que não faz mais, neste momento, do que lutar por si próprio, para não cair cada vez mais num ridículo que nem mesmo os seus súbditos da ilha lhe possam valer, pois até estes, sentido o ocaso do chefe, serão os primeiros a sair à rua, gargalhando como nunca o tinham feito anteriormente.
o impulsivo santana
Ontem, questionado por uma jornalista sobre uma eventual desistência a favor de Alberto João Jardim, respondeu desta maneira: "Desistir? Eu?... Sorry?!..."
Pela minha parte, é-me difícil escolher qual das duas declarações do candidato melhor o ilustram. Fica, pois, ao critério de quem as ler.
sexta-feira, maio 02, 2008
um anacronismo
Uma delas tem a ver com a própria fundamentalização do problema. Se é verdade que antigamente havia a ideia que bastava estar quietinho no seu posto de trabalho e deixar, simplesmente, o tempo fazer o seu percurso normalizado até ao momento que, por imperativo da própria natureza humana, a reforma surgisse como o término de toda uma vida profissional (e muitas vezes pessoal), também é verdade que criar uma espécie de fundamentalismo liberal, em que aparece como paradigma económico a ideia que não há empregos para toda a vida se torna, efectivamente, uma falsidade. Primeiro, porque, felizmente, continuam a existir empregos para toda a vida. Aliás, não me parece crível que um indivíduo que esteja num emprego com dedicação e que, ao longo da sua vida, se dedique a um melhoramento da sua actividade profissional através, por exemplo, de leituras, de acções de formação, etc., se veja, agora, remetido para uma mudança de emprego pela simples mudança de teorização laboral. Se assim for, não tenho dúvidas que mudou - no que diz respeito à realidade profissional - para pior.
É preciso, pois, não criar esta ideia de contínua precariedade profissional (social, psicológica, etc.) e fomentar um emprego que pode ser, realmente, para toda a vida.
(Nota final: é curioso verificar que os paladinos destes normativos são pessoas que, na sua maior parte, se mantêm nos seus empregos há décadas, como, por exemplo, alguns directores e comentadores de jornais...).
(esboço do artigo publicado em A Voz de Trás-os-Montes do dia 8/5/2008)
quinta-feira, maio 01, 2008
confusão social democrata
Vem isto a propósito do primeiro debate de ideias que a candidatura de Pedro Passos Coelho promoveu. O tema era sugestivo e direccionável: "Portugal, que Futuro na Economia". O que me surpreendeu (e baralhou), lendo na imprensa o resumo do encontro, foi os argumentos apresentados pelos mais próximos do candidato relativamente às críticas expostas ao actual executivo PS e também à mais directa rival na campanha, Manuela Ferreira Leite.
Assim, foram perfilhados pontos de vista admiráveis como, por exemplo, quando se defendeu que a solução para a actual crise económica não passa por opções contabilísticas, mas antes pela "estratégia e visão de estadista" (Nogueira Leite, antigo Secretário de Estado de... Guterres, Mira Amaral e Miguel Frasquilho). Passos Coelho foi mais longe: "Portugal fixou-se na obsessão do défice, estamos a reduzir o défice, mas a destruir a economia e as empresas".
Confesso que já tive mais certezas quanto ao que vai sair das directas do PSD. Não sei o que aquela gente pensará disto tudo. Ou, pelo contrário, será isto que faz o PSD reconhecidamente o partido mais popular de Portugal?
a hipervalorização das casas em portugal
Fiquei surpreendido. Não tenho dados que me permitam comparar a realidade portuguesa e espanhola quanto à compra e venda de casas. Mas afirmar que, em Portugal, não existe uma hipervalorização na construção de casas revela um desconhecimento preocupante não do sector (tenho a certeza que Sócrates, antes da sua entrada no Parlamento, fez duas ou três perguntitas sobre quanto custava um apartamento de três assoalhadas em Lisboa, no Porto, em Bragança, etc.), mas da realidade socioeconómica da maioria das famílias portuguesas. Bastaria olhar para duas vertentes: os sinais de riqueza dos empreiteiros (dos grandes e dos pequenos) e os empréstimos à habitação concedidos pelos bancos, que já alastraram o prazo do empréstimo para os... cinquenta anos. Se isto não é um sinal de gravíssima crise no sector (no sentido da hipervalorização e da especulação imobiliária, claro), então o que será?