quinta-feira, novembro 27, 2014

a pós-detenção de sócrates

José Sócrates já começou a falar. A este propósito, fazem todo o sentido as palavras de Miguel Sousa Tavares sobre o objetivo da clausura do ex-primeiro-ministro: tinham medo que ele se defendesse na praça pública. Sabendo como é Sócrates, estou em crer que o "animal feroz" não se vai deixar intimidar. Pela minha parte, espero que não. Independentemente do resultado final (inocência ou culpabilidade), o que se passou não deve ser deixado no limbo processual. A justiça, através do ministério público, começou mal.
Uma outra questão que gostaria de anotar tem a ver com a nossa escatológica tendência para os homens providenciais. O juiz Carlos Alexandre não é, seguramente, um deles.

terça-feira, novembro 25, 2014

a detenção de socrates e a justiça

Ontem José Sócrates foi preventivamente preso , aguardando, por isso, julgamento na cadeia de Évora. Os crimes que lhe são apontados são graves: corrupção, branqueamento de capitais e lavagem de dinheiro. O que me importa, no entanto, destacar aqui não tem a ver com a suposta culpa ou inocência do agora detido. Qualquer um de nós, sendo acusado do que quer que seja, afigura-se como inocente até prova em contrário. É um princípio sagrado de um estado de direito democrático. Acontece que todo o processo relativamete a este caso, desde a detenção na manga do avião, até a este processo mediático de interrogatório, enviabiliza determinantemente a presunção da inocência e até, se formos imparciais, a presunção da competência do juíz de instrução. Vivemos um período conturbado, com forte inclinação para um tipo de justicialismo popular e radical. Os exemplos recentes são, infelizmente, notórios, desde os quatro dias de interrogatório a um suspeito sobre o caso dos vistos gold, até às aparentementes excessivas penas de dezassete anos de prisão a um sucateiro e de cinco anos a outros arguidos do mesmo processo, passando pela estranheza da inevitável mediatização de outras detenções de inúmeras personalidades públicas.
O povo gosta destas coisas. Até que enfim, dizem. Infelizmente, não se percebem que este não é o caminho que leva Portugal para os cumes civilizacionais. Estou triste. Triste porque acho tudo excessivo; triste porque via (e vejo, até prova em contrário) em Sócrates um patriota; triste porque acredito nas pessoas; finalmente, triste porque gostaria de acreditar na justiça do meu país.

domingo, novembro 23, 2014

a detenção de sócrates

Não há, de facto, nesta altura (nem em outra, presumo), muito a dizer sobre a detenção do ex-primeiro-ministro José Sócrates. Somente se deve constatar a presunção: da inocência, de um lado; da competência e imparcialidade, do outro. Daí que o modus operandi da polícia, ao deter Sócrates à saída do avião, me seja tenuemente indiferente. Mas o mesmo já não posso afirmar relativamente aos jornais e comentadores de algumas televisões. Sócrates está a ser vítima, neste aspeto, de um linchamento público inadmissível e deplorável num país que se julga civilizado. Porém, o mal não reside nas patetices destes senhores e destas senhoras, coitados. Onde se encontra o enviesamento noticioso é quem supostamente deveria tutelar, deontologicamente, esta gente. Falo, por exemplo, na ERC, Entidade Reguladora para a Comunicação Social. Neste caso, a designação diz tudo: ou é reguladora ou não é. Tem é que se definir.

segunda-feira, novembro 10, 2014

as críticas de cavaco

Cavaco Silva expandiu hoje uma séria crítica relativamente ao estado comatoso da que foi, outrora, uma empresa de orgulho nacional. Referiu-se aos acionistas e gestores da PT no seguinte modo: "o que é que andaram a fazer os acionistas e os gestores desta empresa"? Sinceramente, eu, cidadão anónimo deste país que se chama Portugal, não sei responder com relevância à questão do presidente, a qual penso não se resumir a mera retórica política. Mas esperava que o Presidente da República do meu país não tivesse sequer o ensejo de a formular como, de resto, vimos e ouvimos nos canais televisivos.
Santana Lopes teve, há alguns anos, após uma expetável derrota eleitoral, uma das suas célebres tiradas conceituais: vou andar por aí. Ora, o que este périplo cavaquista na Presidência da República potenciou foi precisamente um presidente que se limitou a andar por aí, seja através das estonteantes metáforas dos vislumbrados sorrisos dos focinhos das vacas açorianas ou simplesmente num sentido único de escrever, ele próprio, a história sociopolítica contemporânea, onde o lugar de protagonista cabe, naturalmente, ao ex-primeiro ministro e atual Presidente da República.
Infelizmente para ele, a história remetê-lo-á para umas poucas e insignificantes linhas de alguém que teve tudo para fazer muito, mas que fez muito pouco em prol de Portugal.

quarta-feira, novembro 05, 2014

merkel diz: portugal tem licenciados a mais

Diz e há que arrepiar caminho, portanto... Mas não... desta vez Nuno Crato, Ministro da Educação, retorquiu e, timidamente, salientou que não concorda com a chanceler da Europa, perdão, da Alemanha. Claro que a opinião de Crato vale o que vale nos dias de hoje e não é certo que tivesse sido honesto nesta sua derivação opiniática. Mas o que se torna efetivamente relevante, nas palavras de Merkel, é a leviandade com que temos sido, nos últimos três anos, orientados através dos ditakts duma União Europeia que mais não foi (não é) do que uma transversalidade alemã. A realidade é outra em Portugal e esta é uma verdade límpida e simples (segundo os dados mais recentes do Eurostat, relativos a 2013, Portugal tem 17,6% de licenciados, enquanto a Alemanha regista uma percentagem de 25,1%, ficando em 25,3% no conjunto dos 28 países da União Europeia).
Para além disso, é preciso conhecer o país humano e não o país das folhas de cálculo. E era isto que se esperaria dos representantes nacionais eleitos pelo povo. No fundo, com o paradigma de uma União Europeia alargadíssima, torna-se cada vez mais pertinente o reforço em prol das vidas das pessoas. Daí que não deveria a sr.ª Merkel enviar este tipo de recados para o espaço europeu. Felizmente, estou propenso a crer que a sua voz se torna, paulatinamente, mais fraca e inaudível. Mas para isso é preciso que os líderes de Portugal e Espanha (os países visados) ajam com mais independência e denodo e menos como meros representantes da política alemã nos seus países.

segunda-feira, novembro 03, 2014

barroso condecorado

José Manuel Durão Barroso foi, naturalmente, condecorado pelo Presidente da República. E a condecoração não foi parca na forma e no conteúdo. Barroso foi agraciado com o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique, uma distinção reservadíssima para chefes de Estado estrangeiros e a pessoas com feitos de natureza extraordinária e especial relevância para Portugal. O discurso do agraciado e do agraciador foram paupérrimos e provincianos. Cavaco afirmou, negligentemente, que a homenagem era "justíssima", visto que estávamos perante o português que exerceu o cargo internacional mais elevado alguma vez exercido por um nacional. Adiantou ainda que "Portugal muito beneficiou pelo facto de termos à frente da União Europeia um português, conhecedor da realidade portuguesa, conhecedor do mundo, e com o prestígio de Durão Barroso". E acrescentou, desavergonhadamente, que ele próprio pôde "testemunhar quanto Portugal beneficiou da ação" de Durão Barroso à frente da Comissão (...) [e] "fê-lo com elevada competência, com sabedoria e dedicação ao projeto europeu, prestigiou Portugal e muito ajudou Portugal.
Já com a condecoração pendurada ao pescoço, o ex-presidente da Comissão Europeia agradeceu salientando que estava "sem palavras" e que a homenagem que Cavaco Silva lhe prestava é uma forma de reconhecimento do país. A comprovar que, afinal, a história não o esquecerá, disse, concludentemente, que a sua decisão de 2004 fora, afinal, a correta.
Durão Barroso é um aproveitador, como salientou Miguel Veiga em entrevista ao jornal Expresso. Não é o único, evidentemente. Infelizmente, este qualificativo tem servido como um fator identitário da nossa avilanada classe política. Como aproveitador que é - e dos melhores - aproveitou bem o que  a política lhe concedeu. Mas, para mal dos seus pecados, o seu feito mais notável, nas suas expetáveis linhas biográficas, ficará sempre aquele em que decidiu abandonar o cargo de primeiro-ministro do seu país para ser Presidente da Comissão Europeia.
Na verdade, Cavaco Silva, na sua enviesada leitura dos factos, até consegue expandir uma razoável verdade, visto que outros portugueses jamais alcançariam tão elevados cargos, pela simples razão que, nas mesmas circunstâncias, jamais os aceitariam.

quarta-feira, outubro 29, 2014

a comissão machete de inquérito

Rui Machete acabou por desafiar o Parlamento sobre as suas declarações a respeito de portugueses que pululam no chamado Estado Islâmico. Venha daí, pois, a Comissão de Inquérito, desafia o ministro. A oposição, impulsionadora burilenta da reunião, tem depois estes paradoxos: a reunião será realizada de portas abertas. Mas... afinal... já não entendo nada... A matéria em análise da comissão de inquérito prende-se, sobretudo, com matéria muito sensível para a vida dos portugueses que por lá andam e que deram já ensejos de regressar à pátria-mãe. Logo, este mesmo propósito deveria ser a razão primeira para a comissão se realizar com as portas não só fechadas mas trancadíssimas. Afinal, estamos ou não estamos preocupados com esses incautos jovens? Por outro lado, tudo isto poderá até vir a ser útil para os futuros jovens que pretendem adquirir um protagonismo néscio com incursões deste tipo. A partir de agora, sabem que em Portugal existe um departamento de contrainformação poderoso. Não estão, pois, seguros por lá... Portugal pode até ser, neste ingular caso caseiro, um ponto de partida para este tipo de migração. Machete e companhia não dormem.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...