sexta-feira, junho 28, 2013

trabalho e não-trabalho; greves e não-greves

Passos Coelho igual a ele próprio, também um pouco à Cavaco Silva: "o país precisa de trabalho, não de greves". A frase é dúbia, como quase tudo na cabeça do primeiro-ministro. Se o país precisa de trabalho, por que razão se despedem pessoas com a rapidez de uma assinatura decretória? Por outro lado, poderemos entender a frase se tivermos em conta que há trabalhadores que, de facto, trabalham pouco (curiosamente, há trabalhadores que exercem o seu emprego de borla, como é o caso dos presidentes Cavaco e Assunção Esteves, os quais optaram por receber a reforma da função pública) e que são merecedores de uma requalificação. Mas serão estes que vão para o desemprego? Provavelmente, alguns irão; outros porém, ficarão nos seus postos de trabalho, enquanto que muitos estão de tal modo desprotegidos que não têm sequer hipóteses de entrar na discussão da permanência nos seus postos de trabalho. As coisas são feitas assim: criteriosamente à molhada.

quarta-feira, junho 19, 2013

défices e défices

A recente visita de Seguro a Paris, onde proferiu uma interessante declaração sobre o desemprego, torna relevante a questão da alternativa democrática. Quem levanta este problema fá-lo somente tendo em conta os bitaites comunicativos (a hora do Telejornal, como agora os deputados social-democratas se habituaram a referenciar, indo à boleia das declarações de Pedro Passos Coelho). Em democracia, há sempre alternativa. Mais: em democracia, exige-se sempre uma alternativa.
Seguro declarou, em francês, que deveria haver um limite, nos países da União, para o desemprego. Não posso estar mais de acordo. Por que razão se dá mais importância a outro tipo de défice e não se equaciona, prioritariamente, o défice que se revê na parte humana de uma sociedade? Acaso será o défice público mais importante que o número elevado de desempregados? Estou em crer que não, embora muitas advoguem - a credito que o façam honestamente - que a questão do desemprego só se resolve com boas contas públicas. Porém, a questão terá de ser de prioridades: primeiro, o ser humano, a humanização da sociedade; depois, que venham os défices. Por muitas voltas que se deem, só assim se pode construir a União Europeia.

segunda-feira, junho 17, 2013

triste espetáculo...

... este, que eu vi hoje, com o ministro da educação e os seus secretários de estado, de crachazito na lapela, a tentarem defender o indefensável, com alucinados números dos professores "faltosos" e, decorrentemente, das provas de exame realizadas. Foi, então, 70% os exames realizados, segundo o ministério. Quem seguiu moderadamente os telejornais dos três canais não pôde deixar de esboçar um sorriso.
Entretanto, o Bloco de Esquerda já pediu a demissão do ministro. Fez bem. Sabemos que não existe, neste Governo, um pendor ético acentuado e que, portanto, a demissão não entra nos paradigmas da ação governativa. No entanto, é preciso notar, do ponto de vista político, que há consequências políticas.

adenda: depois disto, é lícito perguntar: por que razão Nuno Crato não marcou de imediato nova data depois das reunião com os sindicatos? A aparente prova de força resulta, assim, numa incontornável atitude de fraqueza.

domingo, junho 16, 2013

simplificando

A "narrativa" era a seguinte, até 2010: os Estados europeus deveriam apostar no investimento público para impulsionar a economia. Em abril de 2010, na cimeira de Madrid, uns académicos de Harvard - o italiano Alberto Alesina e o norte-americano Kenneth Rogoff - preconizaram outra senda: a austeridade, baseada fundamentalmente em cortes da despesa pública, resultaria numa fase de expansão económica. Num novo mundo, portanto.
Sempre tive a sensação que andamos por aqui encurralados na nossa gaiola laboratorial.

sábado, junho 15, 2013

má comunicação

O Governo não comunica mal, como muitos querem fazer crer, como se o seu mal capital aí residisse, como se a superfície se tornasse mais importante do que a fundação e esta mais importante ainda do que as ações. Basta ouvi-los. Explicam bem e convencem: o país não tem dinheiro; deixaram-nos de tanga (senhor Barroso, desculpe lá); temos consciência social porque pagamos os subsídios de férias aos que auferem menos de 600 euros; é essencial pensar no pós-troika; não gostamos da austeridade; é necessário pensar no investimento, na economia e no desemprego jovem; a culpa é também da chuva; etc.; etc. A mim convencem. Acontece simplesmente isto: todo o discurso é coberto por um manto diáfano no seu mais elevado grau de hipocrisia. O mal é que andamos nisto há tempo demasiado e não temos, infelizmente, Presidente da República.

alunos e turmas

Curioso ponto de convergência entre os manifestantes, hoje, em Lisboa: há alunos por turma a mais. De facto, os alunos têm, paulatinamente, vindo a aumentar nos últimos anos. Neste campo, existem teorias e números para ambos os lados: o Governo diz que temos alunos por turma consideravelmente inferior ao restantes países; os sindicatos afirmam o contrário; os professores acompanham. Não me parece credível nem séria a estatística governamental. Dá jeito, na verdade, ajuntar, à Marques Mendes, os diversos ciclos de ensino para fins estatísticos. É a teoria da  galinha: eu como duas e tu nenhuma. No final, ficamos ambos com duas no papo.

quinta-feira, junho 13, 2013

os professores, a greve e os sindicatos

Os professores de Portugal são uma classe sui generis. Alargada em número, só a partir do ensino superior é que começa a existir uma efetiva diferenciação de classe. Ora, este estado de hierarquização está, a meu ver, visceralmente errado.
Em primeiro lugar, porque um professor educador de infância não se pode compaginar, no que diz respeito ao modus faciendi laboral, a um professor do primeiro ciclo, e este a um do segundo ou do terceiro e estes a um do secundário. Adrede, esbocei este ajuntamento. Na verdade, existem orgânicas laborais diferenciadas nestes ciclos. Se não causará absolutamente nenhuma estremeção olharmos para um professor do segundo e do terceiro ciclos de modo a que se note um efetivo grau de continuidade pedagógico-didática, o mesmo já não se passa de forma tão óbvia no ensino secundário. Aqui, o trabalho é, de facto, desenvolvido afrentando, essencialmente, o próximo passo, o qual se encontra já ao virar da esquina: o acesso ao ensino superior, ou então a entrada, como técnico especializado (e bem qualificado), no mundo do trabalho. São, portanto, paradigmas diferentes, onde se exige, naturalmente, dinâmicas diferenciadas. Mesmo as disciplinas de índole mais prática têm, no nível secundário, um caráter teórico mais realçado. Daí que não me provocar absolutamente nenhuma estranheza que certas disciplinas, ao nível do segundo e terceiros ciclos, abarquem uma carga letiva de trinta horas, situação marcadamente impossível com outras disciplinas de desenvolvimento mais teorético e pós-laboral (o famoso trabalho de casa dos professores). Como é evidente, isso não seria possível no secundário. Aliás, não era, decerto, por acaso que a carga letiva neste ciclo contemplava, até há pouco tempo, vinte horas de trabalho em sala de aula, ao contrário dos outros ciclos (segundo e terceiros), que se ajustavam (e assim continua) nas vinte e duas horas letivas. Não se pode, pois, tratar por igual o que é diferente. Por vezes, as reformas educativas dão-se com pequenos passos, os quais podem resultar em inexoráveis saltos para o país. Infelizmente, não é isso que se tem passado durante os vários e rotativos governos desta segunda República, os quais são marcadamente e implicantes no que diz respeito a deixar uma inelutável marca pretensamente mirífica e salvadora.
Dito isto, importa acrescentar que a greve dos professores tem, na sua índole, apontamentos de total hipocrisia de ambos os lados. Em primeiro lugar, a questão da mobilidade especial. Os sindicatos são, como sabemos, frontalmente contra. Os professores do quadro também. Os contratados, coitados, já andam em mobilidade há anos e não têm, a este respeito, genuína oportunidade de intervenção. Anda para aí um estafado argumento, nascido no meio sindical, de que a mobilidade afeta indiretamente os professores contratados. É claro que afeta, mas noto particularmente o uso desassossegado do advérbio, uma amostra da elevada estima que estes professores desfrutam no meio da classe, especialmente da parte dos sindicatos (um verdadeiro anacronismo, visto que os professores contratados são, de longe, os melhores professores das escolas públicas). Deste modo, questiono por que por que razão os sindicatos não se insurgiram com a redução das vinte e três zonas pedagógicas - existentes desde há muito tempo - para dez. Não configura isso uma efetiva mobilidade dos professores (alargamento de uma zona implica alargamento na mobilidade…)? Não entendo, sinceramente, esta vertente contestatária.
Por outro lado, o ministério fala, através do seu extraordinário ministro Nuno Crato (um verdadeiro caso para os perdidos e achados) de homogeneização dos funcionários públicos ao nível dos direitos e dos deveres. Então por que razão não vinculam os professores contratados que andam há anos, angustiadamente, a batalhar por uma luz de estabilidade e dignidade profissionais, que lhes deveriam ser, por direito, outorgados, a fim de pôr termo à maior injustiça laboral que existe em Portugal? Não é isso que se passa com a restante função pública?

ERT-RTP

A televisão pública grega (ERT) foi inauditamente encerrada a mando da Troika. Sem aviso prévio (e isso interessa?) , o rotativista governo grego de há décadas encerrou a televisão à noite. A única vez que isso aconteceu foi na Segunda Guerra Mundial, durante a ocupação da Alemanha nazi. Fiquei naturalmente perplexo. Uma televisão pública é património de qualquer país. Se há necessidade de uma restruturação, deve, pensadamente, fazer-se.
Interroguei-me: chegaremos a este estado, em Portugal? A minha resposta foi imediata e dissociável: só se não se lembrarem. Acrescentei: tomara o Governo ter de acatar um corte deste tipo. É quase uma lotaria: de um dia para o outro, veem-se livres de uma sensacional despesa pública! Tudo em nome do projeto da Troika que por isto se percebe que só percebe de aritmética. O próximo passo poderá ser o extermínio metódico dos velhos: não produzem e só dão despesa.
Ah!, mas o povo português jamais deixaria que tal acontecesse. Os velhos e a televisão.

segunda-feira, junho 10, 2013

supremo interesse nacional

Cavaco Silva fala, em entrevista, no superior interesse nacional. "Aconteça o que acontecer, defenderei sempre o supremo interesse nacional", afirma. Fico confuso porque, de repente, fico sem saber o que é o interesse nacional, vindo ou não atributado de supremo. É que eu pensava que o supremo interesse nacional começava e iniciava-se nos portugueses. Porém, para Cavaco Silva, o interesse nacional fica-se pelos supremos interesses dos mercados. "Estamos a regressar aos mercados", diz o presidente. Maravilha.

o fantástico dia de portugal

Penduricalhos à parte, este 10 de junho correu como corre o rio: vai indo. Ajudou à festa o discurso de Cavaco Silva. Falou da agricultura e dos tomates e do clima. Teve ainda tempo de esvoaçar duas ou três ideias com o denominador comum do compromisso.
Cavaco Silva já desde há muito que nos embala numa espécie de desígnio (ou agenda) pessoal que tem a ver com o seu próprio ajustamento com a história. Ele quer ficar na história como o "the special one", ou, numa hipótese mais desconsolada, como o avisado ("eu bem avisei"). Daí que tenha inteirado o seu momento discursivo, no palanque camoniano, com cansadas e desconexas alusões ao passado, a 1986, data da nossa aventura comunitária. Afinal, ele não cedeu perante a CEE relativamente à nossa agricultura (quem diria); afinal, tudo melhorou e agora produzimos mais e melhor, embora a produção esteja mais concentrada em meia dúzia de produtores (não é na concentração de riqueza que reside um dos pontos basilares do retrato do país?). Afinal...
Quanto às atuais preocupações dos portugueses, nada. O 10 de junho cavaquista começou e acabou no próprio.

sexta-feira, junho 07, 2013

gaspar errou!

O Sr. Vítor Gaspar não para, ultimamente, de surpreender. Depois de um longo período de austeridade letárgica, decretou, ao lado do seu olvidado colega da pasta dos assuntos económicos, o tempo do investimento. "Tomem nota", demarcou Gaspar na sua oficial voz ministerial. Presumo que todos anotamos e também prevejo que esta declaração mudará o céu e a terra portuguesas. Afinal, Gaspar é Gaspar e não é todas as legislaturas que temos a sorte de sermos governados por um brilhante e respeitado académico de Bruxelas. Mas... eu disse governados? Então não é Passos Coelho o primeiro-ministro? O líder do Governo? Aquele que giza as diretrizes políticas do executivo? A voz última?
Deveria ser. O Sr. Gaspar teima em disparatar. Estou em crer que a tendência para o disparate anda de mãos dadas com a involução dos resultados de dois anos de ação governativa. Hoje, no Parlamento, Vítor Gaspar afirmou que errou. E o seu maior erro terá sido não ter começado pela reforma do Estado, em vez da austeridade. Numa frase, o Senhor Gaspar mostrou toda a sua incompetência. Em primeiro lugar, porque não foi por falta de avisos que ele não seguiu um rumo diferente. Depois, eu pensava que a reforma do Estado não se posicionava na esfera exclusiva do Ministério das Finanças. Mais do que isso, a frase lapidar de Gaspar apresenta-se como uma espécie de atestado de apatia política para os restantes ministros, principalmente os que têm acrescidamente essa responsabilidade. E estou a falar, obviamente, de Paulo Portas e de Passos Coelho. Este último era expetável, apesar de tudo. Porém, Paulo Portas acordou, decididamente, tarde. Anda a tratar da vidinha, ultimamente. E não a encontrará, decerto, nos seus pares do conselho.

quinta-feira, junho 06, 2013

cavaco silva, o antigrevista ativo

Cavaco Silva, desta vez, imiscuiu-se no combate político-partidário. E fê-lo a reboque das ideias apresentadas por Nuno Crato, o estafado e baralhado ministro da educação. As premissas identificadas por ambos prendem-se, essencialmente, com o superior interesse dos alunos, como se os milhares de professores não tivessem milhares de filhos em idade escolar, muitos deles com exame final agendado.
Mas têm razão no ponto "os superiores interesses dos alunos". Ao contrário do que se quer fazer crer - e a comunicação social tem dado uma ajudinha -, a luta dos professores é unívoca e desagua, inexoravelmente, na pretensão de uma escola de excelência, com sinais de progresso que possam conduzir os alunos portugueses a ombrear com os índices de aprendizagem dos países de referência. Aliás, esta evolução da escola pública portuguesa nos últimos anos tem sido uma realidade escondida pelo ministério de Crato, se tivermos em conta os derradeiros testes internacionais (relatórios TIMSS e PIRLS 2011, por exemplo) no âmbito das ciências, matemática e leitura.
No entanto, mais importante do que tudo o resto é arranjar uma compensação financeira advinda das inconstitucionalidades decretadas pelo Tribunal Constitucional. É, portanto, neste desígnio que reside, para o Governo, o "superior interesse dos alunos".

passos: o discurso

O abnóxio discurso do líder do PSD e primeiro-ministro de Portugal na apresentação da candidatura autárquica de Carlos Silva, em Amadora, institui-se num verdadeiro paradigma de registo governativo. Mostra, para além de tudo, a ação inerme de um executivo cada vez mais isolado do país, cada vez mais isolado dos portugueses. Não obstante, Passos Coelho regozija, desconfortavelmente, na tribuna, com tiradas como esta: somos vistos "como gente trabalhadora e honrada".
Estou propenso a crer que esta frase ultrapassa o autor. É todo um programa de Governo: passado e iniciático (queremos ir mais além do memorando, diziam há dois anos, obviamente para atingir o obsessivo enfoque na plácida honradez vista de fora), mas também presente (é o que resta, simplesmente: somos um país de confiança, sem ondas contestatárias, cumpridor, honrado).
Presumo que outros não se enquadrem na categoria da honradez deste nosso perdido primeiro-ministro, se tentar depreender algum sentido das suas palavras. Implicitamente, todos nós pensamos na Grécia, que conseguiu um imperativo e orgulhoso (por que não?) perdão de parte da dívida, junto dos credores. Porém, nós não somos os gregos. Nem os alemães, já agora (foram estes também estrondosamente perdoados há 60 anos, em milhões de marcos).
Noto, apesar de tudo, mudanças: ao contrário de outros tempos, Passos Coelho já fala em recuperação lenta. E faz bem. É que 2012 ("estamos a caminhar para o equilíbrio das contas", afirmava perentório) e 2013 ("um ano de inversão na situação da atividade económica em Portugal", corrigia, no apertado Pontal) já lá vão, desgraçadamente.

quarta-feira, junho 05, 2013

tempo de antena psd

Vi hoje um tempo de antena do PSD, antecedendo, por minutos, o Telejornal. Começou assim: o país mudou nestes dois anos. Nada mais acertado. Depois, a abrir os telejornais, as notícias: desemprego, défice, dívida, recessão... Tudo, de facto, mudou nestes dois anos. Estes tipos afinal, não mentem.

ps. a TVI elaborou uma preciosa amostra destes 24 meses de Passos e Gaspar, contrapondo as promessas eleitorais com a realidade funesta. Cada vez entendo menos a razão da permanência deste conselho de ministros a conduzir o país.

ps2. Há pouco escrevi propositadamente conselho de ministros. Estou um bocado cansado de isentar de culpas os "bons" ministros (o da saúde, dizem, é bom...). Um completo desacerto este raciocínio. Como é que alguém, especialmente ´"não políticos", aceita fazer parte deste executivo?

os zeinales e os barrosos, lusitanos orgulhosos que honram a pátria

Pensava que era história passada, essa pacovice do Durão Barroso honrar o país com a sua fuga para presidente da Comissão Europeia. A este propósito, nunca é demais relembrar que o senhor Barroso jurou perante o Presidente da República respeitar o mandato que o povo português lhe outorgou através de eleições legislativas, expressão máxima de dignificação de qualquer democracia. Do mesmo modo, é bom sublinhar que antes do senhor Barroso, havia sido convidado para o mesmo cargo o primeiro-ministro do Luxemburgo, não tendo este aceitado tão enobrecido cargo. Todavia, parece que há sempre alguém que persiste nestas coisas da dignificação do chão pátrio lá fora, por interpostos cargos do desenho da política internacional. Foi o caso do embaixador António Monteiro, que afirmou isto: "para mim, é hoje claro que é uma boa notícia para nós, para Portugal, tê-lo a ele [Durão Barroso], e não a uma pessoa de uma nacionalidade qualquer, ou com um caráter distinto, naquele cargo, sobretudo na altura em que temos esta crise gravíssima, e em que, no fundo, delegamos poderes a uma ‘troika’ que é apenas resultante da nossa incapacidade para acautelarmos o futuro" adiantando que "talvez a única maneira que nós tenhamos agora de acautelá-lo seja ter gente em posições-chave que possa, com diplomacia e com bom senso, defender posições que sejam boas para a Europa e boas para Portugal”. Não satisfeito, o senhor António Monteiro salientou que Barroso tem exercido o cargo com dignidade, distinção e - pasme-se - "até com honra", seja lá o que isto signifique, na cogitação do embaixador. Empolgado com o registo encomiástico, rematou: “[Durão Barroso] é um trunfo ainda largamente por explorar na perspetiva da afirmação do interesse nacional e que conviria não desperdiçar no contexto atual" (fim de citação, ufa!...).
Pasmo com toda esta retórica e não me apetece sequer ir mais além do que isto: a atitude de Barroso de não submissão (respeito) ao voto popular foi um ato altamente inqualificável e demonstrativo da estirpe de alguns líderes partidários que, durante demasiados anos, nos têm calhado no carrossel político.
Um outro exemplo, simplesmente colateral a este propósito, vem hoje espelhado nos jornais a respeito da nomeação de Zeinal Bava para presidente da congénere brasileira da PT, OI. Rodrigo Costa, concorrente direto de Zeinal devido a ser presidente executivo da ZON, plasmou o seu precioso raciocínio sobre esta escolha brasileira com um "honra Portugal" (mais uma vez, fim de citação).

terça-feira, junho 04, 2013

ctt

Vejo na televisão o encerramento de várias estações de correios. A maior parte delas em zonas socialmente deprimidas devido ao abandono humano e institucional. Na mesma televisão, vejo os substitutos dessas estações: minimercados, floristas e juntas de freguesias. Por sua vez, sabemos que os CTT são para privatizar. Vivemos um tempo de esplêndidas anormalidades.

a minha manifestação

Estive numa manifestação. O alvo era o Governo na pessoa do primeiro-ministro. Tirei duas ilações. A primeira prende-se com o enorme número de polícias, com farda e sem farda, omnipresentes. Conseguintemente, conclui que será, felizmente, ténue a percentagem de pessoas desempregadas nesta área. Para além disso, contribuem estes polícias (presumo pertencentes a uma qualquer categoria de força especial, pois não andavam fardados como os polícias "de giro"), oportunamente, para a valorização do grau de felicidade do país, dada a boa disposição reinante entre eles.
A segunda ilação é, decerto, bem mais premente. Olhava desencantado à minha volta à procura de jovens desempregados. Afinal, são já cerca de 40% os que não conseguem entrar no mundo laboral. Para além disso, na juventude está o futuro da nação. E quanto mais apático for este grupo, menor será a probabilidade de Portugal se estender, ufanamente, para o concerto dos países civilizados. Por isso é que a educação sempre foi o ponto chave para qualquer teoria desenvolvimentista (escolhe teoricamente melhor quem mais escolarizado for, por exemplo). Dizia então a respeito da triste manifestação que esta era composta, tristemente, pelos pais dos jovens. Não sei se estes eram, maioritariamente, desempregados. Mas o que sei é que estavam preocupados. Por eles e pelos seus filhos.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...