domingo, março 29, 2009

Uma reportagem no Expresso

Confesso que me custou a entender a prosa pretensamente poética do jornalista Bernardo Mendonça inserida na revista Única de 28 de Março último, na qual o autor desenvolve uma reportagem cujo título é, significativamente, “Tony, olha como é brutal o mar!”. O que se quis provar com tudo aquilo? Que há miúdos, no interior do país, que tratam os professores por “vai para o c…” e que nunca viram o mar?... Só isso? Deveria o jornalista dar também uma volta por esses recantos de Lisboa e facilmente encontrará uns miúdos que tratam o professor com um excelente “vai para o c…” e que nunca viram os planaltos transmontanos ou as serras da beira, ou ainda os verdejantes montes minhotos. A suposta exemplaridade da reportagem seria, pois, igual. Sem poesia.

falar claro

Gostei de ver e ouvir Lula da Silva, presidente do Brasil, dirigir-se para o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e para o vice-presidente dos Estados Unidos da América, Joseph Biden, com a seguinte metáfora ferroviária: "locomotivas têm mais responsabilidades que os vagões". Com efeito, dirigindo-se para estes dois líderes ocidentais, com fortes responsabilidades no que o mundo se tornou neste princípio de século, e em português (o que deve ser também considerado de uma grande relevância), Lula da Silva apontou objectivamente o dedo para o modelo de certo modo isolacionista (ou mesmo imperialista) que os Estados Unidos, coadjuvados pelo Reino Unido de Tony Blair, levaram a cabo no Ocidente. O resultado foi, portanto, o que se está a verificar em todo o mundo, com a falência completa de um sistema pretensamente liberal de matriz social. Assim, a importância deste discurso do presidente brasileiro - que correu o mundo - vai ao encontro do que se exige de um líder de um qualquer país sem pretensões hegemónicas. De facto, a ideia, a palavra, tão apregoada em eleições eleitorais, não passa disso mesmo: vãs promessas eleitorais. Alguém viu, por exemplo, Cavaco Silva ou José Sócrates falar assim, tão desassombradamente, em cimeiras internacionais? A resposta só pode ser um rotundo advérbio de negação. Acontece que nos acostumámos consumir um tipo de registo discursivo dos nossos líderes, o qual se liga exclusivamente com uma perspectiva interna. Somos o país que somos, dirão alguns, sem peso no teatro das nações. Nada mais falso. Em primeiro lugar, os países, tal como os homens, não se devem medir aos palmos. Depois, a nossa força deve residir precisamente na palavra, na ideia. Foi, aliás, esta força interior que fez com que Vítor Hugo, em carta ao jornalista do Diário de Notícias Eduardo Coelho, em 1867, elogiasse o povo português pelo pioneirismo demonstrado na abolição da pena de morte. E não foram parcas as suas palavras laudatórias: "Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história. (...) Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Viva a vida! Ódio ao ódio. A liberdade é uma cidade imensa da qual todos somos concidadãos". Daí que os políticos que nos regem devam assumir, sem complexos de inferioridade, o que de peito aberto divulgam cá dentro, principalmente em períodos eleitorais. Quando ouvi Lula da Silva falar desse modo em português, senti-me muito mais orgulhosamente português do que quando vejo os nossos legítimos representantes discursar, vaidosa e propagandisticamente, nos mais diversos fóruns internacionais. E se me permitem um conselho, devem, em primeiro lugar, começar pela língua. Só assim é que entendemos que ela é, de facto, a nossa pátria.

(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes, em 02/04/2009)

sábado, março 28, 2009

uma petição por uma boa ideia

O presidente do Conselho Executivo do Agrupamento de Escolas de Darque iniciou uma petição que visa o seguinte: responsabilizar os encarregados de educação dos alunos em caso de absentismo, abandono escolar e indisciplina. Eu já assinei. É só clicar em www.peticao.com.pt/responsabilizacao.

quinta-feira, março 26, 2009

as sobras

Se a lei o permitia, Isaltino está, quanto a esta acusação, ilibado. Mas é muito interessante debruçarmo-nos um pouco nisto: como foi possível esta abrangência legal, a qual permitia que um candidato autárquico ficasse com os restos dos donativos da campanha eleitoral? No caso de Isaltino Morais são sobras de 400 mil euros que foram colocados num banco suíço. Como Isaltino desavergonhadamente afirma, foi uma prática corrente (porque legal) de muitos candidatos autarcas. O que se faz em nome da legalidade!

quarta-feira, março 25, 2009

o encerramento da linha do corgo

Afigura-se demasiado óbvio que o encerramento supostamente limitado no tempo da linha do Corgo não passa de mais uma manobra de espalhamento retórico de promessas vãs. Trata-se, simplesmente, da continuação de uma desertificação progressiva ao nível do colectivo emocional do interior do país. Começou há muitos anos com o encerramento da linha do Douro até Barca D´Alva e depois até ao Pocinho. Decididamente, falta, por parte de quem nos tem vindo a governar, sentir verdadeira e genuinamente o país. E este mundo não é fácil abrir-se para quem demanda, de forma globalizada, respostas para o que é demasiado localizado.

o jogo, ainda

Ouvi hoje na rádio os últimos (espero) suspiros da final da Taça da Liga. O que se torna mais extraordinário, no meio deste exagero intentado pelo Sporting, é que todas estas exigências (demissões, proibições de apitar jogos, etc.) vem de um clube que há poucas semanas perdeu por 12 a 1 em dois jogos. Que eu saiba, ninguém se demitiu lá para os lados de Alvalade. Ou seja: os dirigentes do Sporting têm precisamente o mesmo comportamento daqueles adeptos que escrevinharam as paredes da academia após a vinda da equipa de futebol de Munique. Só que um dirigente (e, já agora, um ex-conselheiro presidencial, que anda metido, desavergonhadamente, nestas coisas ) não tem que ser igual a um adepto. Se assim fosse na sociedade, voltariam naturalmente as fogueiras, ou, pelo menos, os linchamentos públicos. Tenham vergonha.

segunda-feira, março 23, 2009

ainda o jogo

O jogo de ontem continua hoje. Em Portugal é assim. O Benfica já meteu o FCP ao barulho, afirmando que está de conluio com o Sporting para desacreditar o clube da Luz. Estas pessoas não sabem que todo este barulho à volta deste jogo, à volta de um erro normal de um árbitro (quantos árbitros, nos vários campeonatos do mundo, não tomariam a mesma decisão que Lucílio Baptista) só desacredita o futebol português. É verdadeiramente estonteante ouvir estes senhores, que acham normal, por exemplo (e refiro-me agora ao Sporting) que um jogador atire, já depois de um certo tempo passado, com a medalha para o chão. Isto é tão simples como isto: se por acaso não tivesse havido aquele lance e o jogo terminasse com os penalties, como terminou, todos diriam que o árbitro até fez uma boa exibição. Por outro lado, tudo isto é também revelador da importância pacóvia e deslustrada que os três grandes clubes adquiriram ao longo de décadas de hegemonia. Alguém de bom senso pensa que tudo isto aconteceria com o Estrela da Amadora?

domingo, março 22, 2009

um jogo de futebol

É verdadeira e patologicamente extraordinário, tendo como ponto de partida o grau de sanidade mental de um povo, o que um jogo de futebol representa para essa mesma grande massa populacional. Vi agora uma coisa extraordinária, que deveria envergonhar a estação de televisão SIC. Refiro-me à abertura do Telejornal da estação com uma entrevista com o árbitro que apitou o jogo da final da taça da liga. Como se não bastasse os comentários paranóicos dos dirigentes, jogadores e treinadores (o presidente do Sporting chegou mesmo a afirmar que nunca mais falava com o Lucílio Batista), a mediocridade grassa também nas televisões. E digo televisões porque tenho a certeza que tanto TVI como a RTP se portariam do mesmo modo, se tivessem sido eles a passar o directo do jogo. Nisto tudo, ninguém consegue ver o óbvio: tão grave como a marcação pelo árbitro do jogo de um não penalti é a não marcação de um penalti por um jogador. E eu vi, no final, uma série deles falhados.

sexta-feira, março 20, 2009

o anúncio

Tenho andado meio distraído e não conhecia o anúncio que o grupo RTP dispôs aos ouvintes da Antena 1. Não pude deixar de pensar no seguinte: se alguém procura indícios do que pode representar a ausência de qualquer sentido de decoro que uma maioria transfigurada estimula (consciente ou inconscientemente) na cabeça de alguns yes men do regime, que são sistematicamente espalhados no mundo público empresarial, tem aqui um belíssimo exemplo. Na verdade, basta olharmos para o anúncio para resumir a necedade da coisa. É grave e um regime democrático normal só tem um caminho a seguir: exigir responsabilidades e demissões.

sábado, março 14, 2009

o partido do arco governativo

A expressão que titula este post é de Paulo Portas. Costuma, pois, o líder do CDS-PP afirmar, eloquentemente, que o seu partido é um dos três partidos com assento parlamentar que se posiciona no arco do poder, isto é, um dos que têm uma vocação peculiar para gerir os destinos do país. Daí que o partido fundado por Freitas do Amaral tenha sido, ao longo da terceira república, uma autêntica muleta. Foi assim com o PS e com o PSD. Acontece que, desta vez, ao salientar que estará pronto para uma coligação com o PS, Paulo Portas foi demasiado leviano. Ou, dito por outras palavras, houve uma clara prostituição política na mensagem do líder democrata cristão. E da mais reles.

quarta-feira, março 11, 2009

jorge sampaio e a maioria absoluta

Ouvi ontem Jorge Sampaio defender a estabilidade governativa, sugerindo que esta só tem o seu encontro com uma maioria absoluta, seja qual for o partido que a atingir. O ex-presidente da república nunca foi homem de grandes rasgos, é verdade, mas recalcar um discurso demasiado repisado ao longo dos últimos vinte anos, é, convém dizê-lo, no mínimo, dizer nada. Pois eu defendo exactamente o contrário: superaríamos melhor tudo isto se o governo não fosse de maioria parlamentar. Mais: seria também uma maneira de amadurecermos politicamente que é, de facto, um dos nossos maiores males.

terça-feira, março 10, 2009

a lei da violência doméstica

Pinto Monteiro esteve muito bem ao apontar a hilariante redacção da lei que visa a regulação do crime de violência doméstica. É, aliás, um mal que afecta transversalmente a sociedade portuguesa. De facto, basta olharmos para as redacções dos diversos decretos que inundam o mundo laboral para verificarmos, sem grande esforço, que somos um país repleto de alíneas.

adenda: numa conversa amiga, o meu interlocutor afirmou, prudententemente, que o Procurador Geral da República, embora cheio de razão, escusava de ter feito a reprimenda em público, ainda por cima jocosamente. Não pude deixar de lhe dar razão.

a crise nos prós e contras

Fala-se na crise no programa de Campos Ferreira. Penso que se estão a esquecer de um aspecto importante: dos pobres, dos verdadeiramente pobres, dos excluídos. Houve até um que disse: "se não pode comprar um BMW não compre..."

sábado, março 07, 2009

os erros do computador magalhães

Revelou-se um bom exemplo os variadíssimos e hilariantes erros de português anexados ao muito célebre computador Magalhães, principalmente no que diz respeito ao olhar disseminado do Ministério da Educação para com a educação. Neste sentido paradigmático, nada mais natural do que escutarmos a resposta de um senhor que, dizem, tem a nobre função de assessorar o gabinete do primeiro-ministro, no que concerne à comunicação social. Diz então Luís Bernardo o seguinte: "O Magalhães é um programa de sucesso fantástico, ganha prémios e é um caso exemplar em termos mundiais, por isso o primeiro-ministro se associou a ele (!). Agora, questões concretas sobre conteúdos e eventuais deficiências, isso é com o Ministério da Educação e o das Obras Públicas (!)". Evidentemente que houve também, por parte da equipa de Maria de Lurdes Rodrigues, o óbvio, isto é, que os erros detectados "têm de ser corrigidos". No entanto, permanece a questão de fundo: não devia ser obrigação do ministério da educação rever todo o software do Magalhães antes de o entregar às escolas?
Na verdade, o que tenho vindo a dizer há muito patenteia-se, aqui, de forma indubitável: a educação, para este ministério, não ultrapassa uma série de medidas externas, as quais, inserindo-se legitimamente no âmbito do programa do governo em matéria de educação, não mergulha nunca (ou raras vezes isso acontece) na pedagogia "pura e dura". Rever o funcionamento do Magalhães na sua vertente operacional (e entende-se aqui a operacionalidade no seu todo, isto é, informaticamente, mas também do ponto de vista conteudístico, em que as várias multifuncionalidades da língua devem estar rigorosamente presentes de forma correcta) seria uma excelente e proveitosa acção pedagógica. Mas antes de serem entregues às escolas, naturalmente.

(publicado no jornal Público, em 10/03/2009)

o imbróglio da escolha do provedor de justiça

Estamos, de facto, num imbróglio político. O PSD e o PS, em nome de acordos supostamente tácitos e igualitários (ou democráticos), não se entendem acerca do nome que deve presidir à instituição da República que dá pelo nome de Provedoria da Justiça. Estando o cargo de Provedor de Justiça alicerçado essencialmente num âmbito que visa a justiça social (nas mais variadas variantes que a sociedade contempla), não se entende a razão deste impasse vergonhoso. O que está aqui em causa é, tão-somente, alguém que dê voz às queixas dos cidadãos, quando estes se sentem, de certo modo, colocados à margem de uma sociedade que se deseja cada vez mais justa. É, portanto, um importante espaço que, em nome do Estado de Direito, a República contempla aos cidadãos que vivem em território português. Ora, a questão que se coloca aqui tem um nome: imaturidade política. Na verdade, se estes acordos tácitos tinham alguma razão de existir nos primeiros anos da nossa democracia, agora, com novos percursos que a sociedade tem vindo a trilhar, não faz qualquer sentido este tipo de embirração política. Aliás, os portugueses, em geral, nos quais eu me incluo, não entendem de que modo pode um Provedor da Justiça, marcar, de forma acentuada, o rumo normalizado do nosso regime democrático. Estranha-se, por isso, o silêncio perturbador do Presidente da República, o qual é também, de certa forma, um Provedor da Justiça.

(publicado no jornal Público, em 14/03/2009)

quarta-feira, março 04, 2009

a petição do PP e as dívidas ao Estado

Se há exemplo de como não se deve comportar um partido que apoia maioritariamente qualquer governo, o PS, ao declarar o chumbo a uma petição proposta pelo CDS-PP, a qual obriga a publicitação das dívidas do Estado a particulares e a empresas, acaba de expor um verdadeiro paradigma comportamental, do ponto de vista ético-político. Basta reflectir no seguinte: teria o PS o mesmo pressuposto se estivesse na oposição (não vale a pena equacionar o contrário, isto é, se o CDS-PP enquanto partido do governo votaria favoravelmente uma proposta da oposição do mesmo teor)? É evidente que não. Aliás, todos os restantes partidos concordam com esta petição, a qual já conta com mais de cinco mil assinaturas. Convém referir que o PS é um partido político e não o governo. E faz mal - muito mal, mesmo - se se deixa aglutinar pelo canto da sereia da estrutura governativa.

estrela da amadora e o exemplo do futebol português

O Estrela da Amadora é um clube que, muito provavelmente, deixará de existir a curto prazo. Os salários em atraso - que já contam sete meses - serão, portanto, o carrasco primeiro do clube. Puro engano.
Desde há muito tempo que reflicto no seguinte: Portugal, futebolisticamente falando, é um país provinciano. Um exemplo: cabe na cabeça de alguém com bom senso que os principais programas desportivos sejam quase em exclusivo dedicados à análise dos três grandes clubes portugueses? Os das televisões (SIC e TVI) vão ao ponto de desfrutarem de comentadores residentes que defendem, assumidamente, o Benfica, o Sporting ou o FCP. Do mesmo modo, a televisão pública, que deveria ter a obrigação profissional de dar o mesmo tempo de análise a qualquer jogo, embarca no mesmo trilho. Depois, temos os comentadores que são hilariantes. É só perder um pouco de tempo a ouvi-los e depressa chegamos à conclusão que muitas das opiniões expelidas são fruto de uma total ausência de racionalidade, isto é, motivadas em exclusivo pelo pulsar da "lógica" inflamada da paixão. Mas falam, conversam, discorrem, muitos monologam longos e cansativos minutos. Só vê quem quer, dirão alguns. E também é verdade. Acontece que o país - a grande massa social do país - vive há muito neste ambiente deprimente. Os jornais consumidos pelos portugueses são, na sua maioria, desportivos, ou melhor, futebolísticos (é só ver o espaço reduzido que cabe aos outros desportos). O que não há mal nenhum! Como também não é negativo os portugueses gostarem de futebol. Todavia, é precisamente pelo gozo que o futebol proporciona aos portugueses que deveria existir uma efectiva equidade no tratamento dos clubes. Se tal acontecesse, provavelmente algumas dezenas de milhares das centenas de milhares de habitantes da cidade da Amadora estariam, agora, a encher o respectivo estádio ou a pagar, orgulhosamente, quotas ao clube da terra, em vez de as endereçar para... um dos dois grandes de Lisboa (em menor número, naturalmente, ao outro grande, do Porto).
De facto, estou propenso a crer que o principal defeito do futebol português é este olhar provinciano para o fenómeno desportivo. Para mudar este paradigma seria preciso uma autêntica revolução na totalidade da imprensa, principalmente na rádio e na televisão. Provavelmente, demoraria anos. Mas tenho a certeza de que lá chegaríamos. Porém, esta transformação das mentalidades poderia ser abreviada se existisse uma proeminente entidade reguladora. E para isso bastaria que a actual entidade reguladora fizesse cumprir os seus propósitos normativos, nos quais se incluem, por exemplo, a "regulação e supervisão dos meios de comunicação social"; a certeza do direito à informação; a "independência face aos poderes político e económico"; "o confronto das diversas correntes de opinião, fiscalizando o cumprimento das normas aplicáveis aos órgãos de comunicação social e conteúdos difundidos e promovendo o regular e eficaz funcionamento do mercado em que se inserem", e também funcionar como um dos "garantes do respeito e protecção do público, em particular o mais jovem e sensível, dos direitos, liberdades e garantias pessoais e do rigor, isenção e transparência na área da comunicação social".
Afinal, não é preciso mais nada.

(publicado no Público, em 07/03/2009)

terceira via

Custou-me 1 euro (benditas grandes superfícies) um livrito intitulado Terceira Via. Trata-se de um conjunto de artigos de personalidades da chamada esquerda moderna. Li a introdução. A apologia ao blairismo é por demais evidente. Estamos em 1999. Lêem-se coisas deste tipo: "A esquerda do futuro passa pouco pela capacidade de reorganizar o velho aparelho partidário e tudo pela capacidade de pensar o futuro". Ora, como nos finais do século passado e inícios do actual a União Europeia era governada maioritariamente por este novo olhar esquerdista (treze dos quinze estados membros eram de esquerda), não nos é custoso verificar que a perspectivação do futuro que apregoava não foi muito qualitativamente desenvolvido. Nesta perspectiva, é também dito que "Tony Blair tem um grupo de pessoas que o ajuda a pensar a esquerda do futuro" (!) e que "no mínimo, o assunto terá efeitos muito para além de um primeiro momento de hesitações, resistências, adesões e oposições pouco ou nada fundamentadas." Também se reflecte, na lógica panegírica ao blairismo, que "estar no poder não obriga a deixar as ideias numa gaveta que só se volta a abrir quando de novo se regressa à oposição. O poder permite suscitar novas sensibilidades, novos espaços, novas eficácias e novas responsabilidades. O poder deve ser pensado para fazer política e pensar a política."
Depois, surge o espaço português protagonizado por António Guterres. Aqui defende-se o Partido Socialista como o farol natural da Terceira Via, advogando que a mesma faz parte do código genético do partido, o qual, já com Mário Soares, lutou sempre contra qualquer tentativa de excessos, seja de igualitarismo esquerdista, seja de utilitarista liberalista.
De seguida, ainda nesta óptica introdutória, aparece isto, verdadeira preciosidade da retórica política: "Entre a sociedade de mercado e a sociedade do plano abre-se espaço a uma sociedade regulada, isto é, nem simplesmente administrada nem totalitariamente mercantilizada. Entre o rigoroso pragmatismo e o absolutismo dos valores abre-se espaço à convergência da ética com a política."
Convém salientar que para introdução, ainda por cima de três páginas e meia, é muito. Viro a folha. Aparece-me o primeiro artigo. É de Alberto Martins. Leio a primeira frase: "A regra de ouro da democracia apela ao debate contraditório, ao espírito crítico, ao incentivo da acção cívica esclarecida."
Alberto Martins?!... Aquele do PS?!... Líder parlamentar?!... Vou buscar o João Pinto, eterno capitão do FCP: "prognósticos só no fim!"

terça-feira, março 03, 2009

prós e contras

A Sr.ª D. Fátima Campos Ferreira, do Prós e Contras, anda para ali a inquirir os clientes do BPP como se estes fossem obrigados a saber autênticas minúcias financeiras.

domingo, março 01, 2009

a visão paroquial e provinciana, segundo teixeira dos santos

Independentemente do que se pense da importância da reunião informal de chefes de Estado e de Governo da União Europeia, para discutir a resposta dos 27 à actual crise financeira e económica, à qual José Sócrates faltou, o argumento usado pelo seu substituto - Teixeira dos Santos - foi deveras ridículo. Teixeira dos Santos andou às voltas com a teoria do ovo e da galinha. Disse isto: "se o primeiro-ministro de Portugal tem legitimidade para ser primeiro-ministro é porque ele é, antes de mais, secretário-geral de um partido" e que "se há alguém que pensa o contrário eu acho que tem uma visão muito paroquial e provinciana do que é a política". Pois não me parece que quem assim pensa tenha, forçosamente, uma visão provinciana da política. O contrário também podia ser apontado, ou seja, ficar na festa do partido em vez de seguir para Bruxelas. Marcelo acabou mesmo agora de afirmar, no seu programa, que Sócrates podia ter conciliado as duas coisas. E tem razão. É bem verdade uma proposta à Marcelo, mas não deixa de constituir um lapso na bem montada máquina socialista.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...