sábado, maio 31, 2008

passos coelho ganhou o futuro

É uma ideia errada a que está expressa no título deste post e que muitos comentadores - abrangendo praticamente a unanimidade - têm sistematicamente aventado. Na verdade, Pedro Passos Coelho não ganhou nada. Antes pelo contrário, perdeu as directas, ficando em segundo lugar no número de militantes que nele confiaram para liderar o partido. Por isso, esta espécie de futurologia em torno do ex-candidato sofre, antes de mais, duma clara miopia política. É que isto de reservas morais, principalmente quando o que está aqui em causa se liga à idade do candidato (tem futuro, ganhou o futuro, mais oportunidades terá, etc. etc. etc.) não é matéria de grande interesse político-partidário. A não ser, é claro, para aqueles que teimam, incessantemente, em alimentar uma imprensa que liga, cada vez mais, a este tipo de fait divers.

o ataque de menezes

Luís Filipe Menezes, no último dia da campanha, deu um ar da sua graça, ao proclamar que não apoiaria ninguém mas... mas que saberia muito bem em quem votar (ou não teria dúvidas) se, em vez de directas partidárias, tivéssemos perante eleições legislativas. É evidente que Menezes, com estas rasteirinhas de trazer por casa, referia-se a Manuela Ferreira Leite, quando esta hesitou à pergunta se tinha ou não votado em Santana Lopes (teria sido só ela a não votar em Santana?!...).
Mas o mais interessante, a meu ver, destas asserções menezistas, liga-se ao facto de ter garantido que, com ele na disputa da liderança, ganharia com larga margem de diferença face aos restantes candidatos. Ora, esta divagação leva-nos, invariavelmente, à seguinte pergunta: se tinha tanta fé na vontade e crença dos militantes, por que é que não se candidatou? A resposta reside, portanto, na auto-análise que o líder cessante faz do seu percurso como presidente do partido. Mais: com estas declarações, o autarca de Gaia remeteu-se, de forma definitiva (embora ele acredite ou tente passar a mensagem que assim não será), para o feudo autárquico. Deste modo, o presidente da Câmara de Gaia salientou o engano que foi a sua eleição a líder do partido. É, sem dúvida, um digno rebate de consciência que vai mesmo contra, segundo o próprio, a vontade dos militantes.

quinta-feira, maio 29, 2008

a moção de censura

Este post poder-se-ia chamar As moções de censura, isto é, alterá-lo para o plural, visto que o governo de José Sócrates já conta com três moções de censura, depois do PCP e o Bloco de Esquerda terem desencadeado essa prerrogativa parlamentar. Agora, foi a vez do CDS-PP, em nome do combate a políticas desastrosas (segundo as palavras de Portas) para áreas tão sensíveis como a saúde, a economia, a educação e segurança, apresentar a sua tentativa de derrube, por via parlamentar, do governo. Ora, uma moção representa, na vida democrática e parlamentar, uma atitude que se posiciona, dentro das várias formas de censurar o governo, como o recurso mais extremoso que os partidos com assento parlamentar possuem.
Por isso, ouvir o José Sócrates dizer que a moção de censura do CDS-PP é "puro oportunismo político" parece-me um argumento demasiado pobre e tubular. Até porque, obviamente, uma moção de censura representa, dentro do desenho estrutural de um grupo parlamentar, um acto político ou, se quisermos, um acto de oportunismo político. Mas não é por aí que o primeiro-ministro se deveria encostar. Uma moção de censura é um acto demasiado sério para ser discutido desse modo. De facto, com esta atitude pavorosamente superficial (se tivermos em linha de conta que Sócrates é o primeiro responsável do governo), José Sócrates contribuiu, decididamente, para a construção duma imagem que se posiciona entre a leveza e a saturação ou, se quisermos, entre um autismo e alguns tipos de tiques que completam aquilo que Mário Soares chamou, em tempos, ao governo de Cavaco Silva, ditadura da maioria.
E para ajudar à festa, veio o Alberto Martins, líder bem-falante da maioria parlamentar socialista, com aquela pérola da "linguagem imagética animalesca" referindo-se, sem ironia, a Francisco Louçã.

outra vez a avaliação

Temos, novamente, a avaliação dos professores na ordem do dia sindical. Agora, são as quotas, emanadas pelos teóricos do Ministério da Educação, os quais proclamam que as escolas só poderão atribuir um máximo de 10% de classificações de "Excelente" e 25% de "Muito Bom", no âmbito da avaliação de desempenho dos professores, mas só se tiverem nota máxima nos cinco domínios que compõem a avaliação externa. Ou seja: segundo a minha leitura (e confesso que começo a estar cansado desta gente do ministério, nem sei, aliás, a razão por que ainda permanecem nos lugares que, para mal de todos nós, ocupam), a avaliação dos professores estará sempre dependente da avaliação da escola, mesmo que aqueles que são avaliados não tenham uma relação directa com o último momento de avaliação externa do estabelecimento de ensino (por exemplo, os professores que, no ano seguinte, iniciam, pela primeira vez nessa escola, as suas aulas). Mas a culpa é também dos sindicatos que se deixaram enredar pelo canto da sereia do ministério e andaram por aí a cantarolar vitória que, afinal - sabe-se agora - não foi mais do que simpáticos recuos administrativos. Enquanto isso, a educação afunda-se cada vez mais neste lamaçal que o Ministério desenvolveu, em nome duma obtusa transparência, em nome duma hipócrita exigência.
Na verdade, o que, ao longo destes últimos anos, se tem andado a debater não é educação. Neste sentido, é paradigmático como é que este despacho que define a percentagem dos "Muitos Bons", dos "Bons", dos "suficientes", etc. que cada escola deve estabelecer, foi apresentado, em conjunto, pelos ministérios da Educação e da Finanças. Curioso, não é?

quarta-feira, maio 28, 2008

o aviso de soares

As declarações de ontem de Mário Soares, publicadas no DN, em que o fundador do PS aconselhou o governo a estar mais atento às questões sociais (como a pobreza, exclusão social, desigualdades, etc.) irritaram, segundo os jornais de hoje, algumas personalidades do partido começando, desde logo, por José Sócrates. Já ontem, Mário Lino, esse extraordinário ministro das Obras Públicas, referiu, num tom zangadito, que "o PS e o Governo não estão a dormir e à espera que Mário Soares faça um aviso para de repente dar conta do problema" (não sei se Mário Lino é militante do PS mas, mesmo que o seja, não lhe fica bem falar, simultaneamente, em nome do governo e do partido).
Mas o que estas declarações do ex-presidente da República revelam é que, afinal, Sócrates não conseguiu, ao eleger Mário Soares como o candidato natural do PS às presidenciais (e desastradamente anuído por este), fazer com que esta "voz incómoda" (obviamente já se imaginava que a "esquerda moderna", slogan de Sócrates nas directas do PS, colidia com o perfil identitário do partido, que Soares é o primeiro responsável) se tornasse uma "voz amansada". Seria, de facto, um resultado surpreendente, para quem conhece o pensamento político do fundador do Partido Socialista. Por outro lado, é também sintomático que, afinal, Alegre e Soares - os dois candidatos socialistas derrotados - fazem parte da mesma esquerda que, não sendo moderna, à Tony Blair, é, sobretudo, social. Por isso é que, em 2006, houve um confronto contranatura entre estes dois militantes socialistas. Daí que, paulatinamente, a reconstrução (vocábulo, porventura, demasiado carregado) do Partido Socialista se torne, cada vez mais, uma realidade. Nem que para isso seja necessário perder as eleições em 2009.

ribau apoia santana

Santana tem, finalmente, um apoio de peso, "um militante fervoroso do partido, secretário-geral eficaz e sobretudo um autarca com obra muito reconhecida", segundo as palavras do candidato. De facto, Ribau declarou, para surpresa do candidato, o apoio à candidatura de Santana Lopes. Não compreendo a surpresa de Santana. Se há alguém, entre os candidatos, que merece o apoio natural de Ribau, é o ex-primeiro-ministro. Quanto aos outros, fazem como John MacCain em relação a George Bush: fogem dele como o diabo da cruz!

(resposta a um leitor anónimo)

Não posso deixar de responder ao meu leitor anónimo, que reconhece o seu cansaço em me ler, devido, essencialmente, segundo o seu ponto de vista, à "tónica extremamente negativa e pessimista que corre nos seus [meus] apontamentos". Ora, em primeiro lugar, congratulo-me com o optimismo social do leitor. Sim, porque, rebatendo - como legitimamente o faz -, as minhas ideias, apelidando-as de pessimistas, concluo, sem grande exigência de análise, que o leitor anónimo é, de facto, um optimista crónico. O que não há mal nenhum, diga-se de passagem...
Mas o que se debate, aqui neste espaço, não é propriamente estados enlevados de alma. O que realmente interessa contemplar, neste nosso tempo, é o estado social da nossa contemporaneidade, com especial inclinação para a nossa portugalidade. Ou seja: importa debruçarmo-nos, atenta e lucidamente, sobre nós próprios, enquanto povo e país secular que já deu provas de grandes conquistas civilizacionais (não estou a falar de futebol) e tentar ultrapassar sintomatologias sociais negativas, as quais, devido à sua transversalidade, afectam, de modo igualmente negativo, o cidadão e, principalmente o país.
É por isso que eu, ser originariamente positivo, não posso olhar, com o mesmo optimismo com que nasci, a saúde, a educação e a justiça do meu país. Só para dar alguns exemplos padronizados. Por mera proposta intelectual, aconselho o meu leitor anónimo a ler o artigo do Mário Soares no DN de hoje. Ainda para mais quando se sabe que o ex-presidente da República de pessimista tem muito pouco.

terça-feira, maio 27, 2008

desigualdades sociais

Não posso deixar de estar de acordo com Medina Carreira quando advoga uma acréscimo de tributação fiscal para os ordenados duas vezes superiores ao do Presidente da República. As palavras dele vêm, de facto, ao encontro daquilo que é realmente um verdadeiro estado civilizacional e inclusivo. O exemplo que deu em que existem pessoas, nesta Europa de valores (em Portugal), que ganham mais num dia que muitos trabalhadores numa vida inteira é, simplesmente, uma forma vergonhosa do nosso tempo se mostrar.

o faz tudo

Curioso o apontamento de Basílio Horta quando afirmou, no programa Prós e Contras, que viu José Sócrates, na recente visita à Venezuela, sentado à secretária, discutir o macarrão e outras espécies alimentares com o interlocutor venezuelano. Ora, eu fico um bocado preocupado quando o primeiro-ministro de Portugal se debruça nestas questões menores. A explicação pode ser, simplesmente, baseada em termos de personalidade. Já Salazar, ao que parece, dava ordens à sua governanta para comprar a batata e o arroz em determinadas mercearias (criava também coelhos e galinhas nos jardins de S. Bento).
Mas o que realmente me assusta é esta vertente de tudo querer abarcar, o que pode ser revelador de um sintoma de fragilidade. Para além disso, parece óbvio que a confiança nos seus "ajudantes" (foi assim que Cavaco, um dia, se referiu aos seus ministros) já teve melhores dias.

segunda-feira, maio 26, 2008

(Reformulei o post de há três dias.)

domingo, maio 25, 2008

o neto de ferreira leite

O que quererá transmitir Manuela Ferreira Leite quando, orgulhosamente, afirma que, se o seu primeiro neto nascer por altura do debate televisivo da SIC, não fará parte desse encontro televisivo entre os candidatos a líder do partido? Na verdade, este tipo de linguagem desprendida por parte da candidata começa a maçar. Estou em crer que esta postura, por parte de Manuela Ferreira Leite, só a prejudica, pois os militantes social-democratas começam a olhar para ela como uma candidata que está numa eleição a contragosto, sem convicção alguma.
Apetece-me lembrar o episódio em que Mário Soares, com visita agendada à Hungria (?), recebeu a notícia que o seu filho se encontrava entre a vida e a morte, quando o avião que o transportava caiu em terras africanas. Mesmo assim, o então Presidente da República não adiou a visita oficial ao país da Europa Central. É por estas e por outras que a política anda como anda.
Neste sentido, podemos esboçar uma análise comparativa destes dois tempos ou destas duas espécies de políticos tendo em conta a derivação semântica de uma só palavra: missão. Ou de duas: causa pública.

culto ao líder

Sabemos que Santana Lopes, num assomo qualquer indecifrável, chamou socialista de meia-tigela ao primeiro-ministro José Sócrates. Na verdade, o homem anda em campanha eleitoral e, de repente, deu-lhe para um discurso cuja vertente social se encontra hiperconsciencializada. Aliás, esta viragem à esquerda, no que diz respeito às questões sociais, é comum a todos os candidatos. Este facto dá para vislumbramos como é que anda a política à portuguesa. Convém dizer que o epíteto de Santana a Sócrates tinha como base a referência à fome que ainda existe em Portugal, segundo o líder parlamentar do PSD, e a consequente falta de sensibilidade do primeiro-ministro para esta franja cada vez maior da população. Daí que o termo "socialista de meia-tigela" adquira, neste âmbito, um significado pertinente e lógico (Santana, ao colar, deste modo ingénuo, a vertente social ao Partido Socialista, presta um mau serviço ao seu próprio partido e a ele próprio enquanto ex-primeiro-ministro).
O que é de todo inconcebível, no meio desta poeira retórica e eleitoralista, é que o sr. Vitalino Canas, porta-voz do PS, venha, em defesa de Sócrates, erigir um saloio e inadequado culto ao líder do PS e líder do governo. Diz ele que não gostou de ouvir Santana e que esta expressão é de "baixíssimo nível". Para além disso, acrescentou que compreende que Santana não goste de Sócrates porque este já lhe infringiu uma pesada derrota eleitoral. É tudo, portanto, para Vitalino Canas, uma questão de sensibilidades e percepções vocabulares e semânticas. Não deveria, pois, Vitalino Canas ir por aí, logo numa altura em que o líder do seu partido foi condenado pelo tribunal a uma indemnização de 10000 euros a António Cerejo, jornalista do Público, precisamente por lhe ter apontado, em artigo escrito, sintagmas adjectivais que desprestigiam a honra e a idoneidade pessoal e profissional do jornalista. Pelo menos, foi assim que sentenciou o tribunal.

as justificações de jardim

João Jardim diz que reflectiu muito quando decidiu não se candidatar a líder do PSD. Em artigo no Primeiro de Janeiro, o líder madeirense aponta as razões por que não se candidata. Salienta, entretanto, que tinha já congregado as candidaturas necessárias, assim como recebeu centenas de telefonemas do continente, oferecendo-lhe o respectivo apoio incondicional. No entanto, decidiu não avançar. Só que Jardim tem essa capacidade, um tanto irrisória e patética, de mistificar o que não é mistificável ou, quando isso não acontece, de se auto-mistificar. Explicando: diz Alberto João Jardim, em tom crítico, que não aceita "posicionamentos que, pactuando com uma derrota em 2009, se baseiam num calculismo para o posteriormente". Muito bem! De facto, o PSD tem pago, de forma atroz, as diversas recusas politicamente cobardes dos chamados barões em se candidatarem a líderes do partido, precisamente em nome dum oportunismo político que, cedo ou tarde, acaba sempre por florescer. Daí se justifica como é que Santana Lopes chegou a líder e - mais espantosamente - a primeiro ministro, ou como Luís Filipe Menezes conseguiu, em directas, a vantagem sobre Marques Mendes. O tempo não corria, portanto, a favor da nobreza partidária. Por isso, Menezes tem razão quando faz deste facto um ponto de batalha (ou até de honra) política. Jardim está, assim, na linha de actuação do ainda líder do partido, isto é, contra os calculismos políticos que mais não fazem do que afundar cada vez mais o partido.
Só que Alberto João Jardim não é - nunca foi - um exemplo de coerência. Neste artigo, não deixa de deixar portas abertas para um futuro próximo. Ou seja: do mesmo modo que arrisca afirmar, categórico, que não aceita posicionamentos calculistas, pede, poucas linhas adiante, calma às centenas de cidadãos que, do continente, lhe enviaram mensagens de apoio. E a justificação que nos apresenta para esse pedido é que "estamos a atravessar uma situação que é um mero episódio". Ora, esta fase episódica, na razão do líder madeirense, terá o seu fim desejável no congresso do partido, que se realizará depois das directas.
Desgraçadamente, Jardim sonha com um levantamento nacional que levante o seu nome a um ponto incontornável. E para que isso aconteça, ele sabe que o melhor é ir espalhando, no seio desta família que é o PSD, ou melhor, as suas afamadas bases, pérolas retóricas que não fazem mais do que, como atrás referi, mistificar aquilo que não é mistificável.

sexta-feira, maio 23, 2008

desigualdades sociais

Segundo um relatório da União Europeia (Eurostat), Portugal é o país da União com maior disparidade na repartição dos rendimentos. No lado oposto, os países com uma vertente social e distributiva mais igualitária são os que se situam no norte da Europa, nomeadamente a Suécia e Dinamarca.
Não é, de todo, surpreendente, o resultado desta estatística. Confesso que, embora me sinta amargurado vendo que Portugal se posiciona em último lugar numa lista que é, provavelmente, a que maior pertinência possui para avaliar os índices civilizacionais de um país (basta reparar nos países do terceiro mundo e depressa verificamos que, no que diz respeito a desigualdades sociais, conseguem-nos superar), o que me realmente me espanta (e é espanto mesmo) é ouvir a justificativa do Secretário de Estado da Segurança Social, Pedro Marques, ao remeter o estudo do Eurostat para o ano de 2004 salientando que, actualmente, estas discrepâncias estão já diminuídas. Tem razão o Secretário de Estado: o mesmo estudo, mas reportando-se agora ao ano de 2006, coloca Portugal à frente da Letónia. Acrescenta ainda o membro do governo os desconchavos do costume, como a aposta em áreas prioritárias de intervenção, as quais se constringem a três: melhoria das qualificações (Programa Novas Oportunidades), rendimentos (com o salário mínimo "a atingir aumentos sem precedentes") e protecção social (apoio às famílias mais carenciadas).
Não creio que estas medidas, embora sejam consensuais e positivas, façam com que a situação social, em Portugal, se altere significativamente. Na verdade, com o aumento generalizado dos bens de consumo, a precariedade crescente nos empregos (recibos verdes, contratos a prazo ad eternum, etc.), os ordenados congelados e deploráveis, o mais certo é a verificação de um agravamento das desigualdades sociais, o que conduzirá, inevitavelmente, a um crescimento progressivo e preocupante daquilo que os cientistas sociais apelidam de exclusão social, entendida esta como a fase extrema dum paulatino processo de marginalização. Ora, como é fácil entender, a exclusão social, embora não esteja directamente ligada à pobreza (podemos ser pobres sem nos sentirmos socialmente excluídos), é, contudo, maioritariamente fomentada por situações de carência monetária, pois os recursos das famílias pobres ficam tão seriamente abaixo da média nacional que aquelas ficam, de facto, excluídas dos padrões de vida, costumes e actividades correntes, isto é, de alguns dos sistemas sociais básicos. Dentro desta perspectiva padronizada dos sistemas sociais básicos, podemos destrinçar, por exemplo, a área social (famílias, vizinhança, associativismo, mercado de trabalho, etc.), o domínio económico (salário, poupanças, etc.), o domínio institucional (sistemas educativo, de saúde, de justiça, direitos cívicos, etc.), o domínio territorial (o caso concreto das zonas marginalizadas das grandes cidades como os bairros de lata, ou, em concelhos rurais, as freguesias esquecidas pelo poder central, o que, muitas vezes, conduz a uma migração crescente para zonas mais desenvolvidas) e, finalmente, as chamadas referências simbólicas, isto é, uma dimensão subjectiva do fenómeno da exclusão, a qual se traduz numa perda de referências importantes que o excluído sofre, como a sua própria identidade social, a auto-estima, a auto-confiança, a capacidade de iniciativa, o sentido de pertença à sociedade e, sobretudo, a capacidade de visionar positivamente o futuro.
Assim, é importante relevar que a exclusão social, estimulada pelas desigualdades sociais, é também um problema político, pois constitui, eventualmente num primeiro plano, um problema de cidadania. Daí que a responsabilização do governo (e de todos os cidadãos, evidentemente) deva ser encarada como prioritária no sentido de atenuar as repercussões individuais (e colectivas) desta sombria conjuntura social. No entanto, os sinais que o actual governo tem vindo a esboçar neste combate fundamental para o equilíbrio civilizacional do país (através, por exemplo, da recusa em intervir na regulação de alguns nichos de mercado, como os combustíveis) são, ainda, muito ténues.
Veremos, pois, se conseguimos empreender, enquanto país, de uma vez por todas, um verdadeiro combate a situações que nos devem a todos envergonhar.

(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 29/maio/2008)

quinta-feira, maio 22, 2008

a condenação de sócrates

José Sócrates foi condenado, pelo Tribunal de Relação de Lisboa, a pagar 10 000 euros ao jornalista do Público António Cerejo. A sentença foi clara, ao atribuir que uma carta publicada pelo então Ministro do Ambiente, em 2001, no jornal, como resposta a uma notícia de António Cerejo (que anunciava que o governo de António Guteres subsidiou a Deco em 200 mil contas para a compra de uma nova sede), atentava contra a idoneidade profissional do jornalista.
Deixando de lado a sentença do tribunal (condenou, está condenado, ponto final e parágrafo), debrucei-me sobre a carta de José Sócrates publicada no Público, em 1 de Março de 2001. Na verdade, naquela carta-resposta do ainda inexperiente Ministro do Ambiente de Guterres prenunciava-se já o estilo verrinário, de pose altiva, do actual primeiro-ministro. Transcrevo apenas o primeiro e o último parágrafos:
"Quando um trabalho jornalístico tem imprecisões e falsidades, podemos legitimamente pensar que o jornalista foi simplesmente leviano e incompetente".
"Finalmente, o que este caso revela de mais preocupante é a forma tão leviana como se põem de lado valores básicos do jornalismo (…). Impressiona a ligeireza e a irresponsabilidade com que se coloca o poder que a comunicação social hoje detém e que devia estar ao serviço dos leitores, ao serviço de preconceitos, dos caprichos, de meras opiniões e da sublimação de várias frustrações".

quarta-feira, maio 21, 2008

importação de alimentos

Um péssimo sinal dos tempos que situa Portugal como um país que perdeu uma identidade própria, diz respeito ao estado da agricultura nacional. Descrevo os dados do INE:
  • apenas 16 por cento das necessidades são colmatadas pela agricultura portuguesa.
  • O país importa mais de 90 por cento do trigo e de cevada, cerca de 70 por cento do milho e mais de 60 por cento do centeio.
  • Há 18 anos, os campos nacionais de cereais e arroz produziam quase metade do que os portugueses consumiam.
  • Actualmente (treze anos depois), a produção destes produtos diminuiu, cobrindo apenas 27,4 por cento do consumo anual.
  • Há quase duas décadas, os portugueses produziam mais de metade das leguminosas secas necessárias. Em 2003, 87 por cento era importado.

Ora, olhando para estes extraordinários números, não é difícil percebermos que, também na agricultura (reforço o também, pois estou a lembrar-me do estado da educação em Portugal), os diversos governos que nos lideraram não tiveram, nunca, a capacidade de negar as tentações programáticas vindas de Bruxelas. Por isso, em vez de campos agrícolas (temos, provavelmente, o melhor clima agrícola da U. E.), fabricamos campos de golfe (temos, provavelmente, o melhor clima turístico da U. E.) e projectos de interesse nacional, os famosos PIN.

Na verdade, estes dados são reveladores da qualidade dos políticos e dos governos que, de há trinta anos para cá, têm vindo a delinear o futuro do nosso país.

penhorado por dívida de 75 euros

É um mau sinal dum Portugal ainda agarrado à mesquinhez intelectual de um Estado acabrunhado. Vem hoje na imprensa que a Direcção-Geral dos Impostos penhorou e colocou à venda dois imóveis (com um valor patrimonial superior a 38 mil euros) a um contribuinte com uma dívida de 235,88 euros. Deste montante, apenas 75,43 euros correspondem ao não pagamento da contribuição autárquica e o restante diz respeito a acréscimos legais, como juros de mora e custos do processo. Ao que parece, tudo já está formalizado e anunciado nos jornais e os imóveis serão, efectivamente, colocados em hasta pública.
Ora, não é difícil descortinar que, num caso destes, ou melhor, com uma dívida ridícula como esta, a penhora não é o processo que melhor se enquadra, tendo em conta uma óptica resolúvel do problema. Fundamentalismos.

portugal em sétimo lugar nos países mais seguros

Ora aí está uma boa notícia: Portugal reside nos dez primeiros lugares numa lista que avalia o índice de violência dos vários países à escala global. Os dez primeiros são: Islândia, Dinamarca, Noruega, Nova Zelândia, Japão, Irlanda, Portugal, Finlândia, Luxemburgo e Áustria. Virada de avesso, o Iraque, a Somália, Sudão e Afeganistão ocupam os lugares cimeiros. É, sem dúvida, um belíssimo sinal civilizacional.

o preço da gasolina

Fez bem Faria de Oliveira, presidente-executivo da Galp, apontar o dedo acusatório ao governo (aos governos) relativamente à excessiva tributação da gasolina. Ficámos, assim, a saber que a gasolina, em Portugal, é até mais barata da que é vendida em Espanha. Os impostos que o Estado arrecada é que são extraordinariamente diferenciados nos dois países. Aliás, não só na gasolina, mas também noutros tipos de bens de consumo (basta olharmos para os preços dos automóveis antes e depois da tributação fiscal).
Sempre me pareceu que um país que opte, no combate a défices e também como fonte de receita básica, por uma carga de impostos elevada, é um país que não tem confiança em si próprio, pois o raciocínio inerente será sempre o da receita garantida. Por isso, o capital de risco que os cidadãos são constantemente convidados a aderir, não é seguido pelo próprio Estado. E isso é um óbvio sinal de desencanto civilizacional, pois o sufoco que é diariamente exercido sobre o comum dos cidadãos, torna-se, gradualmente, insuportável.

moção de censura chumbada na madeira

É evidente que eu não pensava que a primeira moção de censura, em 30 anos de democracia, do Parlamento Regional da Madeira, tivesse o sortilégio de ser maioritária. Mas o que sinceramente também não me passava pela cabeça era que o PS e o CDS se abstivessem de forma vergonhosa. Até porque o fundamento da moção de censura - a fuga à prestação de contas e fiscalização política -, apresentada pelo PCP, tem todo o sentido, tendo em conta o enquadramento governativo do arquipélago, como, aliás, se comprovou no próprio dia em que a moção foi debatida, com a ausência dos elementos que fazem parte do governo regional. Deste modo, estes dois partidos oposicionistas revelaram não só uma cobardia política atroz, como também uma falta de respeito para com os seus eleitores, os quais, vêm lutando, através do voto, para uma mudança efectiva na região.

domingo, maio 18, 2008

josé sócrates

Algo se passa com José Sócrates. Primeiro, foi o cigarro fumado, às escondidas, num avião e a desculpa ridícula que esboçou em solo venezuelano. Agora, é a descrição da sua ida ao hospital, dos antibióticos que ingeriu, do que o médico lhe transmitiu a respeito da sua febre, dos cigarros que não fuma há já cinco dias, etc. Confesso que, havendo alguma coisa para entender, não estou a conseguir atingir esse mesmo entendimento.

"futebóis"

Em recente artigo no jornal Público, Pacheco Pereira discorre sobre o que ele chama uma cultura da irrelevância. Não posso deixar de concordar com as suas linhas fundamentais. Com efeito, este tipo de posicionamento cultural por parte dos nossos meios de comunicação social, com especial relevo para os três canais generalistas de televisão é, a meu ver, um sinal de preocupação nas sociedades actuais e, particularmente, nas que dizem respeito ao nosso espaço cultural que é o mundo ocidental. Por isso, fico perplexo quando olho para a televisão e vejo, em Cannes, uma série de pessoas que esperam horas e horas e horas por um actor ou actriz, aos gritos, frenéticos, com máquina fotográfica na mão, e com um desejo ainda maior de poder tocar num pedaço do vestido, das calças ou, com muita sorte, numa qualquer fugaz epiderme.
Do mesmo modo, imagino que, no que diz respeito às estrelas do desporto, se viva, nos Estados Unidos, uma situação análoga à que se assiste na Europa, com o basquetebol, basebol, futebol americano, etc. Por isso, estou certo que não me engano se afirmar que a massa popular que segue, com fervor, os diversos campeonatos destas modalidades seja, na interpretação obsessiva que a caracteriza, semelhante à Europa do futebol. Neste sentido, Portugal não foge, portanto, à regra (esta afirmação é exposta sem certezas, pois não sei exactamente se a parolice que grassa no nosso país relativamente à visão do fenómeno do futebol tem paralelo com os restantes países da União Europeia). Mas gostava, sinceramente, que as coisas se não passassem exactamente assim. Neste sentido, a educação escolar (que muitas vezes tem as costas largas) terá, aqui, um papel preponderante. Mas quando a própria escola não resiste ao impacto mediático da modalidade quando, por exemplo, convida uma estrela de futebol a visitá-la, fazendo desse dia feriado escolar, torna-se, assim, parte do problema e não da solução. A cultura da irrelevância grassa, também, no meio escolar.
Nunca mais me esqueço do dia em que me cruzei, na estrada, com o autocarro da selecção. Batedores à frente, de mota, mandando encostar os automobilistas que guiavam em sentido contrário. Mais batedores, de carro, com todas as luzinhas ligadas, com o mesmo sentido persecutório. Finalmente, o autocarro a ocupar mais de metade da estrada, a alta velocidade. Um espanto! A selecção iniciava, arrebatadamente, o seu estágio, em Chaves (não se deslocava, portanto, para jogo algum. A tarde findava e os jogadores, provavelmente, não podiam chegar atrasados para o... jantar). Os automobilistas que transitavam na estrada, ora em sentido contrário, ora no mesmo encaminhamento da selecção (acompanhar o autocarro era tarefa de muita dificuldade, visto que a velocidade ultrapassava, em muito, os limites legais) eram completamente marginalizados pela própria Brigada de Trânsito. Na cabeça dos polícias, o fito era apenas um: fazer com que o autocarro que transportava os jogadores chegasse a tempo ao que os jornalistas desportivos (uma outra espécie curiosíssima pindérica no panorama jornalístico) apelidam de quartel-general.
Agora, com novo euro, uma outra dose de futilidades assoma. Sabemos já os luxos exageradíssimos que esta gente tem em Viseu, nas pessoas que vão esperar horas e horas e horas para ver um autocarro cheio de pressa e cheio de assinaturas de famosos (os nosso famosos são uns pacóvios). O circo começa. O povo assiste. O governo agradece.
Por tudo isto, gostaria que a nossa diferença, enquanto povo e nação secular, se iniciasse precisamente na construção duma realidade social diferente, em que a inocuidade informativa não tivesse, conscientemente, lugar nas chamadas grelhas editoriais. Neste sentido, aposta de Portugal, enquanto país deste espaço europeu, deveria também enquadrar-se num âmbito sócio-cultural mais interveniente e, porque não, inovador. Seria, sem dúvida, uma boa forma de exportação. E quem sabe de receitas.

(publicado no jornal A Voz de Trás-os-Montes no dia 22/05/2008)

sexta-feira, maio 16, 2008

as surpresas, segundo santana lopes

Santana lopes diz que "não é tempo para entregar a governação de Portugal a quem, por força das leis e das condições da vida, não teve ainda tempo para se preparar" e que "já chega de surpresas e de exercícios inesperados de poder". Retenho o "já chega de surpresas e de exercícios inesperados de poder". Nunca Santana Lopes esboçou uma auto-análise crítica tão perfeita, apesar da retórica ser direccionada para Passos Coelho.

o cigarrito de sócrates

Fiquei enternecido com o pedido de desculpas de José Sócrates quando admitiu que sim, que fumou um cigarrinho no avião. Afinal, o homem também sabe pedir desculpas, também se engana. Temos, assim, um primeiro ministro que ficou a saber que os fumadores podem, inconscientemente, prevaricar.
Mas convém lembrar ao sr. primeiro-ministro que não são só os fumadores que podem, involuntariamente, transgredir. Por exemplo, no outro dia fui multado por conduzir a 100 km/hora quando não podia ultrapassar os 90. Deste modo, fiquei também a saber que os condutores podem, inconscientemente, ultrapassar limites de velocidade (eu juro que não sabia e prometo que não volta a acontecer).

quinta-feira, maio 15, 2008

quanto vale menezes?

Afinal, Luíz Filipe Menezes parece valer mais do que, a princípio, todos pensariam. Depois de Santana, foi a vez de Passos Coelho prestar vassalagem ao ainda líder do partido. Este candidato teve a esperteza de convidar o filho de Menezes para mandatário da juventude. Espertezas, pois claro. Não são mais do que isso. Entretanto, quem se ciumentou foi Santana Lopes que lá tornou a falar do Jorge Sampaio e do seu governo demissionário, etc. etc. etc. Logo ele, que frisou que este tipo de discurso passadista não iria fazer parte da sua campanha. Aguardam-se os próximos episódios.

quarta-feira, maio 14, 2008

pcp

A crónica de António Pina no Jornal de Notícias reflecte cabalmente o calcanhar de Aquiles do Partido Comunista Português ao longo dos últimos anos. Na verdade, enquanto existir, no seio deste partido, membros com responsabilidades que se pronunciam, a respeito da China, afirmando que "confirmámos aos camaradas chineses a nossa firme condenação às enormes acusações internacionais contra a China que estão a ser feitas utilizando o pretexto dos Jogos Olímpicos" e que, a respeito do Tibete, não é "uma questão de soberania, nem de direitos humanos, mas sim uma forma das potências imperialistas pressionarem a China, aproveitando o pretexto dos Jogos Olímpicos" e que "o papel cada vez mais importante da China na comunidade global, os êxitos inegáveis do país e os objectivos socialistas que Pequim se propõe alcançar são as razões que justificam a campanha internacional contra a política chinesa", enquanto esta gente falar desta maneira, o PCP não passará de um grupelho que se tornará, inevitavelmente, cada vez mais grotesco. Esperemos, sinceramente, que não.

jardim não se candidata

Jardim não se candidata a presidente do seu partido. Novidade? Só mesmo para os mais incautos e distraídos. O folclore do Presidente da Região Autónoma da Madeira não podia, obviamente, durar muito mais. Afinal, só faltam 15 dias para as directas. Neste sentido, é espantoso como a personagem conseguiu tanta mediatização em torno de uma fátua ameaça de candidatura. Sinceramente, pensava que Jardim só reinava na Madeira. Enganei-me. Os periódicos do continente, precisamente aqueles que ele sistematicamente descompõe, gostam, afinal, do homem.

terça-feira, maio 13, 2008

a coação, a corrupção, o futebol

Vi ontem o programa Prós e Contras dedicado inteiramente à recente deliberação da Comissão Disciplinar da Liga no âmbito do chamado processo Apito Final. Devo confessar que o programa, ao contrário do que esperava, foi, para mim, clarificador. As minhas dúvidas residiam, basicamente, na justiça do castigo tanto ao Boavista (descida de divisão), como relativamente aos dois anos de suspensão a Pinto da Costa. Neste sentido, fiquei um tanto perplexo com a conferência de imprensa dada pelo presidente da liga, um sr. chamado Hermínio Loureiro. Na verdade, a mediatização era completamente desnecessária. Mas esta espécie de marketing judicativo tem uma razão de ser, que é, suponho, a de transmitir uma credibilidade dos órgãos disciplinares da Liga. Mas não foi isso que aconteceu. Pelo contrário, quem decide com esta pompa fá-lo, por norma, com pouca determinação. Ainda para mais quando a possibilidade do recurso é já uma realidade. Por isto, tudo me pareceu estranho.
Não sou um apreciador do Valentim Loureiro. Não gosto da maneira como ele se orienta nas várias opções profissionais que desde há muito mantém. No entanto, não posso de lhe dar razão nos argumentos por ele evocados neste processo. Houve, de facto, uma interpretação abusiva, por parte dos decisores, na condenação tanto do Boavista como de Pinto da Costa. Uma coisa é a coação (que deve ser condenada), outra é o resultado dessa coação. E, pelos vistos, os jogos em que o Boavista participou impregnados de desconfiança arbitral, não foram avaliados como sendo favoráveis a este clube, isto é, os membros encarregues de avaliar a actuação do árbitro ajuizaram que este teve uma acção, durante o jogo, normalíssima, errando ora para um lado, ora para o outro (o melhor árbitro é aquele que erra menos, convém nunca esquecer isto).
Quanto a Pinto da Costa, a lógica é a mesma. Se dúvida houvesse sobre o que paira em redor do presidente do FC Porto e do seu presidente, dissiparam-se quando o advogado Dias Ferreira entrou em cena, com uma postura hipócrita, realçando que o que julga são factos e os factos dizem que Pinto da Costa recebeu um árbitro, em véspera de um jogo, em sua casa. Logo, o outro senhor, Dias da Cunha, até este momento envergonhado, iniciou também, titubeante, a sua tese, na qual a única coisa que se compreendeu foi que existem dirigentes há tempo a mais no futebol.
Deste modo, estes dois senhores contribuíram, decididamente, para uma clarificação do problema. Li o artigo de António Barreto no Público no último domingo. Pensava que estes dois ex-dirigentes do Benfica e do Sporting fossem mais capazes e não optassem por uma postura tão óbvia nas suas conjecturas e, consequentemente, não dessem razão ao que António Barreto escreveu na crónica.
Não sei se Lisboa convive mal com a hegemonia do FCP no futebol. O que tenho a certeza é que o ódio que certas personalidades destilam contra o Porto e, especialmente, contra Pinto da Costa, é, por demais, notória. Há gente que anda há demasiado tempo no futebol? Pois deve haver. Mas quem?

segunda-feira, maio 12, 2008

votou psd?

Ferreira Leite meteu o pé na argola ao afirmar que "obviamente não responde a essa pergunta", quando foi questionada, pelo jornalista, se tinha votado PSD nas últimas legislativas, com Santana Lopes à cabeça. Obviamente, com esta resposta, a candidata respondeu... que não... que não votou, naturalmente, em Santana. Este, perante o deslize semântico da sua opositora, aproveitou logo e sublinhou que ela deveria desistir desta corrida eleitoral. Vale o que vale e Santana já nos habituou a que o que diz valha muito pouco. É que Ferreira Leite não votou PSD como muitos outros milhares de militantes não o fizeram. Até porque isto de ser militante, requer, cada vez mais, um sentido crítico permanente. E, pelos vistos, os militantes do PSD tiveram-no quando encostaram o ex-presidente do partido a uns desgraçados 28%, a pior percentagem do partido desde que há eleições (basta converter estes 28% numa percentagem equivalente de militantes e verificar que a percentagem de votantes militantes no PSD diminuiu, enquanto que o eleitorado do PS cresceu à custa desse mesmo abandono). Por isso, aquilo que Manuela Ferreira Leite deveria, corajosamente, ter dito é que não votou em Santana Lopes. E toda a família social democrata compreendia. Mas vir a desdizer o que disse com frases como "o dr. Santana Lopes deve ser a única pessoa neste país que tem dúvidas que eu algum dia não votei no PSD. Toda a minha vida votei no PSD" é, de facto, uma acrobacia que lhe fica muito mal. Logo ela que anda para aí a fazer a apologia da verdade, da serenidade, do desapego ao poder pelo poder e até já afirmou que, por ela, não haveria campanha eleitoral. Realmente, está-se a ver porquê.

sábado, maio 10, 2008

o chefe da asae e a asae

António Nunes anda perdido. Tenho pena porque o homem representa bem os interesses da sua polícia, embora o faça de forma pouco convincente e, muitas vezes, risível (o paradoxo só o é aparentemente). De facto, quando ele foi à televisão jurar que os objectivos da ASAE nunca foram desenhados tendo em conta o número de detenções, de multas, de processos-crime, etc., de cada polícia, o Expresso apresenta, na última edição, o documento que programa a actividade de cada inspector, contrariando, portanto, a justificação de António Nunes. Por conseguinte - e somando a actividade de cada inspector - a ASAE deverá ter accionado, no final deste ano, 410 detenções, 25 420 processos por infracções, 1230 suspensões de actividade, 1640 processos-crime e 12 000 contra-ordenações.
Ora, o que me preocupa, no meio de tudo isto, é pensar se será este o procedimento, no que concerne aos objectivos a cumprir, das outras polícias. Logo eu que pensava que ainda há polícias compreensíveis na análise de determinadas situações de eventual transgressão. Afinal, os "compreensíveis" só o são porque já têm a sua quota de multas preenchida, presumivelmente por algumas semanas. Por outro lado, os outros, coitados, os que ainda não multaram, são os maus da fita, mas, na verdade, só estão a fazer pela vida, isto é, a cumprir, desesperadamente, a sua quota. Vou passar, daqui para diante, a enxergá-los com um maior entendimento.

durão barroso, o embaixador de portugal

A rematar o meu último post, leio agora no Expresso (estes jornalistas fabricam candidatos a Belém como quem cata bicharocos) que Durão Barroso sente que os portugueses o vêem "como um embaixador de Portugal".
Não sei se os portugueses olham para Durão Barroso e o sentem como alguém que representa Portugal. Estou em crer, sinceramente, que não. Conhecendo a personagem (o último no activo da "Cimeira das Lages", tirando Bush, em final de carreira), a única representação eficaz que o Presidente da Comissão Europeia é capaz de digerir é a ele próprio.

as chaves de lisboa para barroso

Eu até podia compreender - embora mal - a entrega das chaves da cidade de Lisboa a Durão Barroso, mesmo que seja o terceiro português a congratular-se de tal oferenda (pelo que leio nos jornais, as chaves da cidade estão mais predestinadas a chefes de estado estrangeiros). Eu até podia compreender que a Câmara de Lisboa quisesse agraciar um lisboeta que agora é Presidente da Comissão Europeia e não vislumbrasse uma outra maneira de o fazer. O que eu sinceramente não compreendo é a pacovice de António Costa ao afirmar, com o penduricalho ao pescoço, que "pela primeira vez, um cidadão português residente na cidade de Lisboa desempenha o elevado cargo de presidente da Comissão Europeia" e que tal cargo "constituiu uma honra para Portugal e para a cidade de Lisboa".
Mas quem disse a António Costa que constitui uma honra par Portugal? Que ele, como cidadão e presidente da Câmara Municipal de Lisboa, se sinta orgulhoso por ter Barroso como presidente da Comissão Europeia é um assunto que só a ele (e à Câmara) diz respeito. O que não pode é falar em nome do país.
Pela parte que me toca, continuo a achar que o que Durão Barroso fez, naquele ano de 2004, ao combinar, com o Presidente da República Jorge Sampaio uma ida para Bruxelas (depois de outros primeiros-ministros, de outros países, terem consciente e patrioticamente recusado o cargo de presidente da Comissão), com a condição de deixar a chefiar o governo o inenarrável Santana Lopes, representou uma vergonha para o país, visto que foi eleito um primeiro-ministro que, ao mínimo aceno, virou as costas a um mandato para o qual tinha sido escolhido. É que isto de ser primeiro-ministro de Portugal não é o mesmo que ser treinador de futebol, em que, de uma maneira ou de outra, todos sonham em treinar o Manchester United. Até porque, para um português que se preze - e, felizmente, ainda deve haver muitos - poder estar à frente de um governo da República deve constituir, acima de tudo, uma honra que só com um forte sentido de missão deve ser desempenhado. Durão Barroso demonstrou, portanto, que, em Portugal, só serve mesmo para ficar com umas chaves no bolso. Ainda que não abram porta alguma.

(esboço do artigo publicado na Voz de Trás-os-Montes em 15/5/2008)

quinta-feira, maio 08, 2008

manuela ferreira leite

Ouvir Manuela Ferreira Leite, antiga Ministra das Finanças e antiga "dama de Ferro" portuguesa, acusar José Sócrates de insensibilidade social face aos desígnios a que se propôs cumprir relativamente ao défice, é paradigmático do que é uma campanha eleitoral. Logo ela que afirma, categoricamente, que não sabe fazer política com espectáculo!

quarta-feira, maio 07, 2008

o regresso de vasco graça moura

Confesso que já tinha saudades de olhar para Vasco Graça Moura assim tão animado. De facto, desde a última campanha para as presidenciais que o autor da excelente tradução dos Sonetos de Shakespeare anda por aí, sem grandes estados de alma, limitando-se a ser um dos principais porta-vozes que se posiciona contra a Acordo Ortográfico. Mas agora tudo mudou. Hoje, no seu habitual artigo semanal no DN, Graça Moura inicia, logo pelo título ("Uma mulher de ideias claras"), o seu habitual registo panegírico que eu pensava, sinceramente, estar exclusivamente reservado a Cavaco Silva. Assim, as retumbantes e límpidas doses adjectivais sucedem-se num fluxo estonteante. O ímpeto sebastianista, carregado de uma espécie de ultimato, transferiu-se (de Cavaco) inteirinho para a candidata a líder do PSD. Vale a pena escutá-lo:
  • "Em todo o País renasce não só uma esperança mobilizadora dos sociais-democratas, mas também, para muitos mais, uma expectativa de mudança eficaz do protagonismo da vida política e da governação que se ficará a dever ao seu empenho"
  • "Tem dado provas mais do que sobejas de coerência, de isenção, de coragem e de militância"
  • Ferreira Leite afirmou as posições que defende com a simplicidade, a decisão, a firmeza e a elegância que a caracterizam".

E é isto que vamos ter, até ao fim da campanha, do escritor e cronista. No entanto, convém notar que a mesma exuberância verbal que utiliza na caracterização de Manuela Ferreira Leite é proporcional à empregada para denegrir os seus (Manuela) adversários. Até 31 de Maio vamos ter, decerto, mais Vasco.

terça-feira, maio 06, 2008

a ministra e a educação

Estou propenso a crer que uma passagem pelo Ministério da Educação, superior a dois ou três anos, pode causar uma espécie de síndrome linguístico, em que os ministros e secretários de estado iniciam e desenvolvem uma vertiginosa e estranha linguagem, vazia de sentido, incapaz de objectivar conceitos e realidades.
Ouvi há pouco a entrevista da ministra e não a entendi. Por mais voltas que dê, Maria de Lurdes Rodrigues não passa do "é preciso arranjar soluções e motivações", seja para os alunos, para os professores, para a escola, para os pais, para a autarquia... em suma, para todo o sistema. Mas é no que concerne ao insucesso escolar que esta frase é mais redita. Só que estamos, mais uma vez, no meio privilegiado do eduquês. Não a ouvi, por exemplo, no sentido de diminuir o insucesso (não os níveis de reprovação, obviamente, pois estes já estão num "bom" patamar estatístico), sublinhar que é preciso alterar os currículos (tanta Formação Cívica, tanto Estudo Acompanhado, tanta Área do Projecto!...), reformar completamente determinados níveis de ensino (a estrutura curricular do 2º ciclo é simplesmente absurda e incoerente), acompanhar, se necessário fôr, individualmente os alunos, diminuir drasticamente o número de alunos por turma (mais uma vez o 2º ciclo) e, finalmente, deixarmo-nos de experimentalismos pedagógicos. Por falar em experimentalismos, não há-de tardar para nos depararmos com uma disciplina chamada Educação Sexual (basta, para isso, continuarmos a ouvir, reverentemente, Daniel Sampaio), o que originará, indubitavelmente, mais um reajustamento curricular por causa destes hibridismos não disciplinares. A insignificância desta proto-disciplina reside, numa lógica antagónica, numa outra que se chama Ciências da Natureza. Com efeito, basta olharmos para o programa de Ciências dum 6º ano para verificarmos que a importância duma educação para a sexualidade pode muito bem ser ministrada no âmbito programático da disciplina de Ciências da Natureza. Até porque o corpo humano, na sua vertente sexual, faz já parte dos conteúdos da disciplina. Daí a pertinência da pergunta: o que se ensinará numa suposta Educação Sexual que não possa ser ensinado nas Ciências da Natureza.

à procura duma legitimidade

Afinal, quem anda sempre, obcecado, atrás dum passado que, para ele, será sempre ilusão, é Santana Lopes. Logo ele que, quinzenalmente, nos debates parlamentares com o primeiro-ministro, acusa José Sócrates (com alguma razão) de reviver sistematicamente o que representou a liderança social-democrata para o país. Mas agora Santana Lopes diz, claramente, ao que vem: a demanda de uma legitimidade para governar que, segundo ele, não conseguiu quando, em 2004, substituiu Durão Barroso na liderança do partido e do Governo.
Santana anda perdido e afunda-se nas suas contradições. É evidente que nunca se deixará submergir completamente: a sua áurea permanecerá, não só na sua própria cabeça, com também na cabecinha de alguns indefectíveis. O problema é que ele se auto-convence dos seus argumentos absurdos. Daí a sua incapacidade de discernir que o desastre do seu espantoso governo, após a fuga de Barroso, não teve a ver com legitimidade. Afinal, quanto vale um Presidente da República se nem para conferir legitimidade institucional a um governo serve?!... O problema do seu governo residiu, simplesmente, na previsível incompetência de Santana em chefiar um governo da República sem, primeiramente, se deslumbrar. E o deslumbramento, quando encima o nosso entendimento, é sempre sinal de inaptidão. Santana jura que está, agora, mais previsível. Eu acredito, obviamente, nele.

segunda-feira, maio 05, 2008

crises

Ainda não saímos duma crise económica e já se prevê (ou já lá estamos) uma outra crise, mas desta vez alimentar. Vi há pouco, na SIC, uma família que tem, para alimentação, pouco mais de 100 euros por mês. Alguns membros dessa família não davam, envergonhados, a cara. Outros, mais corajosos, mostravam-se no telejornal. A minha pergunta é simples e está destituída de qualquer retórica demagógica: por onde pára o tal défice que já conseguimos, brilhantemente, segundo o governo, ultrapassar?

sábado, maio 03, 2008

o que vale alberto joão jardim

Afinal, o que é que vale Alberto João Jardim? Decididamente, vale muito menos do que os abrangentes opinion makers e demais jornalistas configuram. Aliás, o Presidente da Região Autónoma da Madeira é o único que tem a noção do seu próprio limite, o qual é, desastradamente, muito curto. O triste exemplo em que ele próprio se afundou (ou deixou que outros o submergissem), em que num dia nos aparece um Alberto João vigoroso, capaz de uma candidatura corajosa a líder do seu partido e, no dia seguinte, reaparece a mesma entidade, cabisbaixa, medrosa, cobarde, arranjando mil desculpas para justificar a negação da véspera, ou a sua desgraçada postura titubeante no desapoio e apoio a Santana Lopes é paradigmático duma falsa mistificação que, desde sempre, foi construída em torno desta personagem.
E a culpa é, obviamente, de todos, mas, principalmente de alguns. À cabeça estão, naturalmente, os diversos chefes de governo e presidentes da república que nunca foram capazes de discernir a pacovice de Alberto João Jardim. A última visita de Cavaco Silva à Madeira pode ilustrar o que acabo de afirmar. Depois, embora numa posição mais secundária, os jornalistas que, apesar dos espasmos sistemáticos de alguns, sempre olharam para Alberto João como muitos olham para o Benfica e o seu presidente: vende bem.
Deste modo, olhamos para o senhor da Madeira e vemos uma personagem já apagada que não faz mais, neste momento, do que lutar por si próprio, para não cair cada vez mais num ridículo que nem mesmo os seus súbditos da ilha lhe possam valer, pois até estes, sentido o ocaso do chefe, serão os primeiros a sair à rua, gargalhando como nunca o tinham feito anteriormente.

o impulsivo santana

Santana Lopes, neste seu ressurgimento eleitoral (somente eleitoral porque o ex-presidente da Câmara de Lisboa é daquelas personagens que nunca saiem verdeiramente de cena, pois têm o temperado hábito de andarem sempre "por aí"...), afirmou, aprazivelmente, o seguinte: "Já não reajo por impulso. Estou muito mais previsível".
Ontem, questionado por uma jornalista sobre uma eventual desistência a favor de Alberto João Jardim, respondeu desta maneira: "Desistir? Eu?... Sorry?!..."
Pela minha parte, é-me difícil escolher qual das duas declarações do candidato melhor o ilustram. Fica, pois, ao critério de quem as ler.

sexta-feira, maio 02, 2008

um anacronismo

Pedro Passos Coelho relata que é um anacronismo a ideia de que os empregos, actualmente, devam ser considerados para a vida toda. É, de facto, um dogma que o neo-liberalismo emergente tem vindo a advogar com insistência de há uns anos para cá. O argumento é sempre o mesmo e liga-se à própria transformação do tecido social e profissional, comparativamente ao que se passava anteriormente. Há, contudo, nesta posição normativa, ideias que é preciso combater.
Uma delas tem a ver com a própria fundamentalização do problema. Se é verdade que antigamente havia a ideia que bastava estar quietinho no seu posto de trabalho e deixar, simplesmente, o tempo fazer o seu percurso normalizado até ao momento que, por imperativo da própria natureza humana, a reforma surgisse como o término de toda uma vida profissional (e muitas vezes pessoal), também é verdade que criar uma espécie de fundamentalismo liberal, em que aparece como paradigma económico a ideia que não há empregos para toda a vida se torna, efectivamente, uma falsidade. Primeiro, porque, felizmente, continuam a existir empregos para toda a vida. Aliás, não me parece crível que um indivíduo que esteja num emprego com dedicação e que, ao longo da sua vida, se dedique a um melhoramento da sua actividade profissional através, por exemplo, de leituras, de acções de formação, etc., se veja, agora, remetido para uma mudança de emprego pela simples mudança de teorização laboral. Se assim for, não tenho dúvidas que mudou - no que diz respeito à realidade profissional - para pior.
É preciso, pois, não criar esta ideia de contínua precariedade profissional (social, psicológica, etc.) e fomentar um emprego que pode ser, realmente, para toda a vida.
(Nota final: é curioso verificar que os paladinos destes normativos são pessoas que, na sua maior parte, se mantêm nos seus empregos há décadas, como, por exemplo, alguns directores e comentadores de jornais...).

(esboço do artigo publicado em A Voz de Trás-os-Montes do dia 8/5/2008)

quinta-feira, maio 01, 2008

confusão social democrata

Reina, por aqui, alguma confusão ideológica. Eu sei que a ideologia anda um bocadinho irradiada do debate político, não se sabendo onde termina a esquerda e começa a direita (e vice-versa), ou mesmo se esquerda e direita realmente têm, actualmente, legitimação política. Naturalmente, para alguns, interessa que esta dicotomia, construída ao longo de todo o século XX e que teve o seu zénite, em Portugal, na revolução de Abril, seja definitivamente apagada da discussão política. São estes os chamados liberais, ou neo-liberais (ou ultraliberais), os quais alicerçam toda a sua "ideologia" na chamada economia de mercado, confiando, cegamente, nas suas capacidades de auto-regulação. O Estado, para estes, não é mais do que uma entidade economicamente apagada, porventura a mais fraca de todos os intervenientes na área exclusivamente económica. Pelo contrário, outros defendem um Estado forte. O PCP forneceu, há bem pouco tempo, um exemplo paradigmático, ao defender que 50% da banca deveria estar nas mãos do Estado. Deste modo, a esquerda e a direita, em Portugal, começam e acabam nestas duas perspectivas existencialistas.
Vem isto a propósito do primeiro debate de ideias que a candidatura de Pedro Passos Coelho promoveu. O tema era sugestivo e direccionável: "Portugal, que Futuro na Economia". O que me surpreendeu (e baralhou), lendo na imprensa o resumo do encontro, foi os argumentos apresentados pelos mais próximos do candidato relativamente às críticas expostas ao actual executivo PS e também à mais directa rival na campanha, Manuela Ferreira Leite.
Assim, foram perfilhados pontos de vista admiráveis como, por exemplo, quando se defendeu que a solução para a actual crise económica não passa por opções contabilísticas, mas antes pela "estratégia e visão de estadista" (Nogueira Leite, antigo Secretário de Estado de... Guterres, Mira Amaral e Miguel Frasquilho). Passos Coelho foi mais longe: "Portugal fixou-se na obsessão do défice, estamos a reduzir o défice, mas a destruir a economia e as empresas".
Confesso que já tive mais certezas quanto ao que vai sair das directas do PSD. Não sei o que aquela gente pensará disto tudo. Ou, pelo contrário, será isto que faz o PSD reconhecidamente o partido mais popular de Portugal?

a hipervalorização das casas em portugal

Em resposta a um proposta de Pedro Santana Lopes, ontem no Parlamento, que sugestionava a criação de um Plano de Impulso à Actividade Económica, à semelhança do que Zapatero fez em Espanha, com uma injecção de dois mil milhões de euros para o financiamento de Pequenas e Médias Empresas, José Sócrates respondeu que a realidade de Portugal era diferente da de Espanha. O primeiro-ministro baseava-se, no seu argumento, na conjectura imobiliária dos dois países. Assim, defendeu que aqui ao lado, em território espanhol, existe uma grave crise do sector imobiliário, o que originou, portanto, a intervenção do governo espanhol em defesa do sector. Em Portugal, adiantou ainda Sócrates, as coisas são diferentes, visto que as casas não estão ainda hipervalorizadas.
Fiquei surpreendido. Não tenho dados que me permitam comparar a realidade portuguesa e espanhola quanto à compra e venda de casas. Mas afirmar que, em Portugal, não existe uma hipervalorização na construção de casas revela um desconhecimento preocupante não do sector (tenho a certeza que Sócrates, antes da sua entrada no Parlamento, fez duas ou três perguntitas sobre quanto custava um apartamento de três assoalhadas em Lisboa, no Porto, em Bragança, etc.), mas da realidade socioeconómica da maioria das famílias portuguesas. Bastaria olhar para duas vertentes: os sinais de riqueza dos empreiteiros (dos grandes e dos pequenos) e os empréstimos à habitação concedidos pelos bancos, que já alastraram o prazo do empréstimo para os... cinquenta anos. Se isto não é um sinal de gravíssima crise no sector (no sentido da hipervalorização e da especulação imobiliária, claro), então o que será?

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...