sexta-feira, fevereiro 29, 2008

o problema de comunicação

A ideia que se vem criando, a respeito de algumas derivações desastradas de alguns ministros, é que tudo se resume a um problema de comunicação. Foi assim com Correia de Campos e tem servido de justificação para com Maria Lurdes Rodrigues. Por isso, os comentadores da nossa praça (a maioria) apoiam panoramicamente as medidas deste ministério da educação. O problema, dizem, é que não se explica convenientemente.
Claro que, com este pensamento enviesado, os professores ficam absolutamente com o ónus da culpa: as reformas são boas, eles é que não entendem ou (outra possível derivação interpretativa) querem continuar com os privilégios que desde há muito vêm usufruindo. No entanto, esta simplificação explicativa contraria, de certo modo, a tese que aponta para uma falha comunicacional. Ou seja: os únicos que não entendem são os professores. De resto (a maioria do comentadores, capazes de análises prodigiosas), todos são capazes de compreender na plenitude a limpidez administrativa (não é mais do que isso: medidas administrativas) que paira na cabeça da equipa do ministério da educação.
Ora este raciocínio não pode ser naturalmente verdade. Nenhuma classe profissional - nem mesmo a política! - é capaz de uma tal união se não considerasse completamente injustas estas impensáveis medidas, as quais têm também a sua fonte em preconceitos que urge desfazer.

quinta-feira, fevereiro 28, 2008

menezes, o processo de avaliação dos professores e os partidos políticos

O que me custa é ver o líder do PSD, potencial primeiro ministro (inerência do cargo), em esquemas de uma inocuidade lastimável e rica num hipotético oportunismo político que nem isso chega a ser. Antes pelo contrário, Menezes, com declarações do género (a respeito da avaliação ds professores) "mandava o bom senso que se parasse para pensar, para ouvir os sindicatos, para ouvir os pais, para ouvir os agentes educativos em geral e se partir para um sistema justo", afunda-se cada vez mais não na tabela classificativa (porque não existe), mas numa credibilidade que nunca foi tão inexistente como agora.
Na verdade, ele é incapaz de vislumbrar o que realmente está em causa neste momento, o qual naturalmente não passa por uma (singular) atitude dialogante com os diversos parceiros educativos. Esta reforma da avaliação dos professores, projectada por uma equipa incompetente, não deve ser sequer considerada, pois o ministério já deu provas de uma total inépcia educaconal. Aliás, a equipa ministerial encontra-se, no que à credibilidade diz respeito, ao nível do líder do PSD.
O que se pretende neste momento do maior partido da oposição (e, já agora, dos restantes) não são "frases-clichés", do tipo que Menezes proferiu (isso é mais tarefa para o Presidente da República). O que realmente interessava, no momento em que atravessamos, ao nível do projecto educativo (?) do governo, o período mais conturbado do seu consulado, era que as declarações dos diversos partidos da oposição se orientassem para os seguintes pressupostos: exigir a demissão de toda a equipa do ministério da educação e/ou apresentar uma proposta concreta relativametne ao assunto em causa. Ninguém, até agora, descobriu o caminho...

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

ministro da agricultura

Aos poucos, começa uma espécie de implosão (não será ainda social) do governo. É a velha lógica que para derrubar um governo basta simplesmente que ele se desmorone por ele próprio. Não me incomodava muito esta ideia se no lado de lá houvesse efectivamente um grupo de pessoas capazes de iniciarem um conjunto de medidas equilibradas, dentro de um paradigma verdadeiramente nacional (o país é este e não outro).
Na verdade, os disparates adensam-se e tornam-se cada vez mais patéticos. Quatro nomes: Mário Lino, Manuel Pinho, Nunes Correia (é o do ambiente), Alberto Costa, Lurdes Rodrigues e agora Jaime Silva. Com efeito, as declarações deste último a respeito de Paulo Portas não lembram ao diabo. O homem não conseguiu esboçar um único ataque político, dentro de parâmetros verdadeiramente democráticos. Até do branqueamento dos dentes de Paulo Portas se lembrou!

pobreza (argumentativa)

Até nisto - por falta de prática democrática - a segunda República contribuiu para a pobreza argumentativa que hoje se vive na política portuguesa. Não é que Augusto Santos Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, se lembrou, esta terça-feira, nas jornadas parlamentares do Partido Socialista (Guarda), de enfaticamente afirmar que os portugueses têm duas opções: o caminho das reformas ou o regresso ao passado ("se querem continuar neste caminho, sabem quem têm de apoiar e escolher, mas se querem voltar para trás, os responsáveis pelo dantes estão cá").
Este tipo de argumentário político reflecte sobretudo um ponto interessante: Augusto Santos Silva trata os portugueses como se estes fossem estúpidos. Na verdade, ele sabe muito bem que ninguém volta ao passado, mesmo se considerarmos a história dentro deu uma perspectiva cíclica. Os intervenientes podem até ser os mesmos, mas a história é irrepetível. Mesmo que concepções néscias como a que esboçou na Guarda nos façam crer que assim não é.

agressão a rui santos, jornalista desportivo

Para quem não saiba, Rui Santos é um jornalista desportivo que, como lhe compete e é usual neste tipo de profissão, elabora raciocínios sobre tácticas, sobre estruturas, sobre equipas, sobre presidentes, sobre treinadores, sobre jogadores, sobre empatia futebolística, sobre adeptos, sobre golos que entraram, sobre golos que não entraram, sobre árbitros... enfim, sobre o universo futebolístico. Rui Santos foi alvo recentemente de uma tentativa de agressão. Ao que parece, a tentativa não passou disso mesmo e, portanto, não chegou felizmente a ser totalmente concretizada. Mas Rui Santos aproveitou este "tempo extra" para iniciar uma prodigiosa declaração de princípios sobre... o estado do país, afirmando que é motivo de reflexão o clima de impunidade que se vive em Portugal. Ainda bem que Rui Santos, como verdadeiro homem da bola, reflecte sobre o estado da justiça. De uma coisa Rui Santos está certo: não vai deixar que este (seu) caso se torne mais um caso Bexiga. Nem nós esperávamos outra coisa!

terça-feira, fevereiro 26, 2008

lurdes rodrigues no prós e contras

Chega a ser confrangedor a incapacidade da ministra da educação nas questões que dizem respeito à... educação. Quando muito, Lurdes Rodrigues desempenha um papel proactivo em parâmetros administrativos, de regulação de normas burocráticas e afins. Agora naquilo que concerne ao verdadeiro fim de todo o projecto educativo (que passa incontornavelmente pela junção de variadas valências de uma comunidadade escolar, como, por exemplo, o aluno, o professor, a sala de aula, a escola...), a presente ministra revela-se cada vez mais como uma ministra a prazo.

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

psd queixa-se de manipulação da ministra no prós&contras

Nem uma palavra do programa Prós&Contras da RTP relativamente às acusações do PSD que apontam para uma manipulação da ministra no sentido da não aceitação de deputados da oposição no debate. Para a sua correcta clarificação, convinha que a jornalista Fátima Campos Ferreira tivesse, logo no início do programa, uma palavra esclarecedora.

domingo, fevereiro 24, 2008

ana gomes e a sua admiração por antónio costa

Ana Gomes habituou-nos a a uma oratória límpida, correcta e sem subterfúgios semânticos. Neste sentido, a eurodeputada pode considerar-se uma das (poucas) vozes livres dentro do PS. É neste pressuposto que se deve observar a entrevista que deu ao programa Diga lá Excelência.
No entanto, não posso concordar com o seu ponto de vista (de admiração) relativamente à posição de António Costa quando decidiu trocar o lugar de ministro pelo de candidato à Câmara de Lisboa. Em primeiro lugar, porque ele jurou cumprir um mandato como Ministro da Administração Interna (era também Ministro de Estado e número dois do governo). Tinha, portanto, obrigações acrescidas. Depois, porque a sua decisão não revelou, como prenuncia Ana Gomes, coragem (Carmona Rodrigues era um presidente moribundo e o seu sucessor pelo PSD - Fernando Negrão - estaria sempre condenado a uma derrota inglória), mas, pelo contrário, um mero e banal tacticismo político (ganha as eleições e fica por lá mais um mandato e, quem sabe, bilhete para outras paragens mais apetecíveis...).
O exemplo de coragem política que Ana Gomes esboçou enquadra-se com mais propriedade em João Soares que, após ter sido um (bom) presidente da Câmara de Lisboa, aceitou uma disputa eleitoral em Sintra, com resultados previsivelmente mais incertos.

visita de cavaco ao interior do país

Não resisto (não posso resistir) a transcrever o que Cavaco Silva disse a respeito das desigualdades que continuam a grassar em Portugal.
O presidente visitou, como se sabe, os concelhos de Ribeira de Pena e de Boticas (entre outros), os quais - como também se sabe - são exemplos de um Portugal fatal e tragicamente esquecido pelo poder central.
O que é espantoso é que ninguém tenha dado o devido relevo a estas extraordinárias afirmações. Ou por que ninguém liga ao que o presidente diz (e eu não acredito), ou então por que Cavaco Silva não fez mais do que repetir o que muitos anteriores a ele já esboçaram e, por isso, as suas declarações não são mais do que pura hipocrisia política, ou então por que os nossos jornalistas estão muito mais interessados em saber se o presidente está zangado com Filipe Menezes, por este ter ameaçado romper de vez o acordo com o PS para o chamado "Pacto para a Justiça". Vamos, então, pousar um olhar sobre o que o presidente disse:
Em Ribeira de Pena, Cavaco quis dar "uma palavra de alento e de solidariedade" aos que vivem numa situação de interioridade, ao mesmo tempo que elogiou todos aqueles "que não se vergam nem resignam face à distância a que se encontram dos centros de decisão política, à desertificação, ao abandono escolar e ao envelhecimento das populações".
Já em Boticas, elogiou o "Vinho dos Mortos" que outrora "serviu como resistência ao invasor francês e hoje serve como símbolo face ao esquecimento a que os poderes públicos votam as localidades mais afastadas do litoral."
Ora são realmente espantosas estas declarações. Não só porque Cavaco Silva faz parte, desde há décadas, de muitos centros de decisores políticos (foi, ministro das finanças, primeiro-ministro e agora presidente da república), como também são uma crítica directa e clara ao presente executivo, no que a uma verdadeira descentralização diz respeito. Se repararmos bem nestas frases, notamos que elas se enquadrariam na perfeição durante uma qualquer visita presidencial a tropas portuguesas estacionadas no Líbano, no Kosovo ou Timor.
E é, portanto, com todos estes ingredientes que se faz a popularidade de um Presidente da República.

(publicado nos jornais Público no dia 27/02/2008 e A Voz de Trás-os-Montes do dia 28/02/2008)

entrevistando Sócrates

Leio a generalidade dos comentários à entrevista de Sócrates na SIC, com a espantosa e abúlica performance de Nicolau Santos e Ricardo Costa, e o que se releva diz respeito à boa prestação do primeiro-ministro. Os jornalistas são, assim, defensados por outros jornalistas, os quais alegam que aqueles não podem fazer o trabalho que compete à oposição, isto é, remeter o entrevistado para um plano de respostas mais incisivas e acutilantes. Ora tudo isto parece ser verdade. No entanto, convém também lembrar que os tratamentos não são iguais para todos. Basta olhar para o Expresso da Meia-Noite e verificar que o duo jornalístico sabe, afinal, automatizar posturas intervencionistas mais audazes.
Mas o que se cria com tudo isto é a construção duma personagem que supostamente vai emergindo em direcção a um plano cada vez mais inatingível. Na verdade, José Sócrates vai cair por ele próprio. Basta que apareça alguém do lado de lá capaz de com ele ombrear e vamos ver os jornalistas, estes mesmos que agora o bajulam, serem os primeiros a apontarem-lhe os maiores defeitos do mundo. Injustamente, é claro.

sábado, fevereiro 23, 2008

novas fronteiras

Pelo que se viu na abertura de mais uma sessão do forum Novas Fronteiras, esta não passou de mais uma sessão de "show off" do primeiro-ministro.
O programa Novas Fronteiras nasce com um mérito proclamado: o de pretender mobilizar sectores alargados da sociedade portuguesa que não desenvolvam uma actividade política ou partidária regular. Ora o pior que pode acontecer a este fórum é o de se transformar num mero objecto laudatório do governo. Hoje, Sócrates discursou durante 30 minutos e de "fórum" o seu discurso teve muito pouco. Nestes sentido, é curioso compararmos os anteriores discursos do ministro nestes encontros para verificarmos que há de facto uma mudança na estratégia comunicacional (e quão importante ela se torna actualmente!) de Sócrates. Na verdade, a dissertação de hoje assemelhou-se muito mais a uma comunicação eleitoral (crítica aos críticos, ao PSD, etc.) do que a uma intervenção marcada por pressupostos ideológicos ou racionalistas.

sexta-feira, fevereiro 22, 2008

outra vez santana

Não posso estar mais de acordo com Fernanda Câncio, jornalista do DN, que, em artigo de opinião, esboçou uma análise crítica, a roçar eventualmente as fronteiras da análise psicanalítica, sobre Santana Lopes. Este, em entrevista à SIC, recorreu à imagem paterna para se automartirizar com as críticas que lhe têm sido feitas a propósito da denúncia, feita pelo jornal Expresso, de um alegado favorecimento da Estoril-Sol efectuado pelo seu governo. "O meu pai fez 75 anos e no jantar de aniversário tive de estar a explicar isto", atirou, lastimosamente, o líder da bancada parlamentar do PSD. E continuou: "cada vez que ponho a cabeça de fora, começa o tiroteio".
Sejamos justos: Santana tem uma certa razão. Na verdade, o homem é um político permanentemente na mira dos jornalistas que, ao mínimo desconchavo (comportamental, verbal...), todos lhe saltam em cima. O problema é que estas personagens se põem sempre a jeito, pois não resistem a luz efémera dos holofotes.

quinta-feira, fevereiro 21, 2008

yes, we can!

Sócrates podia-nos ter poupado do "sim nós conseguimos, como se diz na América". Até aqui era Tony Blair o leitmotiv do nosso primeiro ministro. Mudam-se os tempos... Yes, you can, josé!

presidente promulga decreto lei

O Presidente da República promulgou o decreto que estabelece os regimes de vinculação, carreiras e remunerações dos trabalhadores da Função Pública. No entanto, fê-lo com dúvidas! Estranhei, pois pensei: se tem dúvidas, por que é que o promulgou?!...
Fui ao site da presidência da república. Cavaco explica: O referido diploma suscita dúvidas em dois planos, as quais, na altura devida, foram expressas pelo Presidente da República, designadamente no pedido de fiscalização preventiva da constitucionalidade enviado ao Tribunal Constitucional.
Assim, por um lado, o diploma em apreço continua a consagrar soluções que, por pouco claras e transparentes, podem criar dificuldades de percepção por parte dos respectivos destinatários, potenciando situações de conflitualidade no seio da Administração Pública.
Por outro lado, subsistem dúvidas quanto à remissão para simples portaria da regulação de matérias de carácter inovatório e ainda quanto à preferência concedida a pessoas colectivas na celebração de contratos de prestação de serviços, o que pode implicar uma excessiva e injustificada dependência da Administração Pública relativamente a grandes empresas privadas.

Anoto os adjectivos: "pouco claras e transparentes", "excessiva e injustificada dependência da Administração Pública".
Sr. Presidente, desculpe lá, mas isto não era para promulgar! (ou então justificava doutro modo...)

quarta-feira, fevereiro 20, 2008

os sinais do bloco

Estou propenso a crer que o Bloco de Esquerda anda aqui e ali a manifestar sinais de uma possível coligação com o PS nas próximas legislativas, caso este partido não consiga a maioria absoluta que é um cenário, aliás, cada vez mais provável. Francisco Louçã já referiu (e com razão) o famoso rotativismo do chamado bloco central. Mas é na Câmara Municipal de Lisboa que o cozinhado se prepara. Basta ouvir José Sá Fernandes a propósito do empréstimo que o Tribunal de Contas chumbou e ficamos por momentos na dúvida sobre quem é o presidente.

terça-feira, fevereiro 19, 2008

solidariedade de costa

A solidariedade de António costa aos credores da Câmara Municipal de Lisboa não ficou bem ao presidente da autarquia, na sequência do chumbo do Tribunal de Contas (TC) do pedido de empréstimo de 360 milhões de euros para pagar dívidas antigas. Para além de sugerir uma lapidagem extremosa de uma hipocrisia política insustentável, António Costa deveria saber que esta era uma das possíveis considerações do TC, sob pena de um parecer positivo deste órgão poder originar uma catadupa de pedidos de empréstimos pelas mais variadas razões de outras autarquias do país.

lurdes rodrigues

É - não tenho dúvidas - a próxima ministra a ir embora. Ouvi-a hoje no forum da TSF e parece-me inacreditável como não se consegue extrair uma única ideia realmente direccionada para o processo ensino-aprendizagem. Daquela cabecinha só sai mesmo o simplex virado do avesso: burocracias, eduquês, medidas administrativas, punições.
Lurdes Rodrigues não é capaz de compreender que a educação, numa realizada interacção pedagógico-didáctica, continua a ser um professor numa sala de aulas a transmitir conhecimentos aos alunos. É tão simples quanto isso. O que está para além disso é já outra coisa. O pior cego é aquele que não quer ver.

os entrevistadores da entrevista

Aos poucos começam aparecer os críticos de Ricardo Costa e Nicolau Santos, os dois entrevistadores que deviam entrevistar José Sócrates. Com efeito, anda por aí (não é só o Santana...) um não sei quê de comprometimento envergonhado em relação ao primeiro-ministro que tem, efectivamente, poderosos aliados. Confesso que sou daqueles que tremem só de pensar que Luís Filipe Menezes pode um dia vir a ser primeiro-ministro (já tremeliquei com Santana Lopes), mas não posso concordar com toda esta panóplia propagandística que Sócrates desenvolve com a conivência dos diversos órgãos de comunicação social.

segunda-feira, fevereiro 18, 2008

reacção dos partidos à entrevista

O que leva os partidos políticos a assumirem estas figurinhas de comentarem uma entrevista segundos após ela ter acabado? Zita Seabra meteu dó; Frazão, do PCP, não disse nada (dizer ele disse...); João Semedo, do Bloco de Esquerda, foi contido e mais acertado; do CDS-PP, ninguém se ouviu!

Sócrates na SIC

Ouço o José Sócrates na entrevista da SIC e fico perplexo por várias razões. A primeira é, desde logo, a falta de carisma dos entrevistadores. Com efeito, Ricardo Costa (o tal que trata o ministro por tu, como já por várias vezes referiu) e Nicolau Santos estão para ali numa amena cavaqueira com o primeiro-ministro. Este é, na verdade, o que conduz a entrevista. Sócrates disse o que queria dizer e não o que os entrevistadores gostariam que ele disesse, ou melhor, o que os portugueses desejariam ouvir. Estamos, portanto, perante uma falsa entrevista (acabei agora de ouvir Sócrates: "...eu queria ainda falar da gestão das escolas". Oposição de Ricardo Costa: "mas não temos tempo..." Sócrates falou da gestão escolar sem algum alinhamento indigador, isto é, desenvolveu o que quis, como quis, o tempo que quis).

a existência pingada de nunes correia

Afinal, o ministro do ambiente também opina. E opinou logo hoje, com algumas zonas da área da grande Lisboa completamente inundadas das chuvas torrenciais que não pararam durante algumas horas. Acusou as autarquias de não fazerem o que lhes compete, isto é, de fazer as limpezas regulares para evitar cheias. Por outro lado, os autarcas acusam o ministro de ignorante remetendo esta competência para o ministério do ambiente. Em que ficamos?

domingo, fevereiro 17, 2008

o país de vital moreira

Um dos últimos posts de Vital Moreira no seu blogue revela um autor exaustivamente compelido a analisar a situação do país de forma obstinadamente comprometida. De facto, o eminente consititucionalista não precisava de chegar tão longe: "o crescimento económico é o mais elevado desde há vários anos, o desemprego deixou de crescer há vários meses e dá sinais de inversão, a protecção social contra a pobreza e o desemprego melhorou (suplemento para pensionistas pobres e subvenção social de desemprego) e os sistemas de saúde e de educação apresentam melhores resultados, etc."
Pela minha parte, gostei do etc.!

as companhias de menezes

Luís Filipe Menezes tem que escolher melhor as companhias, principalmente aquelas que, entusiasmadas, ao jantar, se imaginam no alto de uma retórica ilusória e iniciam uma série de disparates, os quais afectam sobremaneira o líder do PSD. Vem isto a propósito do discurso do presidente da câmara de Alvaiázere que acusou José Sócrates de ser um ditador, com a seguinte frase apatetada: "António Oliveira Salazar era um aprendiz de ditador ao pé de José Sócrates". Imagino os sorrisos da assistência e imagino a flutuação existencial de Menezes que, entre o rir e o sorrir, preferiu completar o número deste modo: "É fundamental fazer do prestígio dos nossos presidentes de Câmara o grande patamar para ganhar o Governo de Portugal [e em Alvaiázere] temos um excelente exemplo de como deve ser exercido o poder social-democrata. [Trata-se de um] jovem presidente muito qualificado que ficará por muitos e bons anos à frente dos destinos de Alvaiázere".
Pobre Menezes!... Ele não sabe, não consegue entender que uma frase como a que o sr. Paulo Morgado proferiu revela não só um atroz conhecimento do que foi o Estado Novo e de quem foi Salazar, como também não vislumbra que afirmações deste teor num jantar em que ele próprio é o convidado de honra revelam uma deprimente desconsideração ao líder do partido que tradicional e teoricamente se costuma designar como alternativa ao poder.

sábado, fevereiro 16, 2008

protestos de professores

José Sócrates poderia ter sido mais original quando esgrimiu os seus argumentos relativamente à manifestação de um grupo significativo de professores à porta da sede do PS. O primeiro-ministro referiu que este tipo de exteriorização (ruidosa) por parte dos professores tem um cunho partidário e que é anti-democrático que se façam manifestações à porta de partidos, limitando, desse modo, a vida interna da organização partidária.
Acontece que esta inesperada reunião com "professores militantes do PS" configura um paradigma comunicacional que este governo tem amiudadas vezes cultivado, que é a propaganda cirurgicamente aplicada quando lhe convém. Todavia, desta vez os cálculos sairam-lhe trocados. Os professores fizeram muito bem em "condicionar" a vida do partido socialista. Até porque também não se entende muito bem por que raio Sócrates reuniu com meia dúzia de professores militantes.

falcatrua

Ouço o antigo ministro do turismo e ouço o representante do Casino Lisboa mais visível nesta contenda (Assis Ferreira) e uma palavra me atordoa a cabeça: falcatrua. Esta palavra, de origem decerto popular, não implica necessariamente um significado que comporte uma ilegalidade declarada. Um sujeito falcatrueiro é um chico-esperto. Dois sujeitos falcatrueiros são dois chicos-espertos.
O que se passou com o negócio do Casino Lisboa, em que foi aceite pelo extraordinário governo presidido por Santana Lopes a reversão do espaço para a Estoril-Sol no fim da concessão do jogo, não é mais do que a prova de como o poder se sobreleva na cabeça de pessoas que objectivamente não estão preparadas para desempenhar decentemente cargos da importância que Telmo Correia exercia quando assinou esta alteração ao artigo 27 da Lei do Jogo (esse governo, aceite por Jorge Sampaio após a fuga de Barroso para a Comissão Europeia, foi, de facto, uma autêntica fábrica de dislates políticos, os quais se têm vindo a descobrir de forma completamente desaustinada).
A começar, desde logo, pela carta que a Estoril-Sol enviou a Telmo Correia, afirmando que a mudança da lei seria uma "mudança cirúrgica (...) totalmente imperceptível [e] insusceptível de ser interpretada como relacionável com a clarificação da situação." Com esta singular construção frásica, ou Mário Assis Ferreira queria dar a volta à cabecinha deslumbrada de Telmo Correia, ou então os negócios do jogo fazem-se mesmo assim, com intervenções cirúrgicas insusceptíveis de serem interpretadas.

quinta-feira, fevereiro 14, 2008

economia em boa recuperação

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística revelam que o Produto Interno Bruto está em crescimento. Ainda bem. Só que o eixo semântico da questão não deve ser alicerçada nesta base de crescimento desumanizado. Daí a demagogia do primeiro ministro ao afirmar que "os portugueses devem compreender que valeu a pena o nosso esforço nos últimos três anos". Só que os portugueses não só não compreendem como também não devem compreender (pelo menos no sentido propagandístico da retórica política da frase).
O problema destes políticos é que não sabem que o que deve basilar o verdadeiro crescimento de um país não são números, mas pessoas (lembram-se dum extraordinário slogan da campanha de Guterres, "os portugueses não são números, mas pessoas"? Era Cavaco Silva chefe do governo - coadjuvado pelos seus "ajudantes" - e estou em crer que esta frase ajudou - e muito - Guterres a chegar à vitória. Aliás, umas das suas primeiras declarações foi precisamente de agradecimento ao publicitário Athaíde). Por isso não compreendem verdadeiramente (apesar de imperativamente afirmarem o contrário) a angústia de milhares de pessoas que trabalham precariamente, que perdem emprego, que auferem ordenados miseráveis, que contam os cêntimos no final de cada mês. Mas tudo isso não interessa quando a economia cresceu uma décima acima das previsões.

quarta-feira, fevereiro 13, 2008

farinha do mesmo saco

A respeito do post sobre a teimosia da ministra da educação a respeito da avaliação de desempenho dos professores, anote-se as declarações de José Sócrates hoje no Parlamento: "Não passarei por este exercício governamental sem instituir um sistema de avaliação de professores". A demagogia (palavra que José Sócrates utiliza muito) extrema-se: "a existência de um sistema de avaliação é fundamental para o país, desde logo para fazer justiça aos professores." Os professores, claro, agradecem, mas só o vão fazer quando atingirem o zénite de toda esta construtura pseudo-pedagógica.
Quem é que diz que as maiorias absolutas são benéficas?!...

terça-feira, fevereiro 12, 2008

avaliação de desempenho da ministra da educação

"O processo não será adiado", defende-se a ministra da educação a respeito da contestada avaliação de desempenho dos professores. Vale a pena ouvir com atenção as declarações da ministra. Dizem muito a respeito da personagem e da sua total incapacidade de assumir um diálogo construtivo com os vários parceiros eductivos.

vera jardim e o ps

Vera Jardim reflectiu sobre a actual condição do PS enquanto partido de poder e chegou à brilhante conclusão de que é normal o défice de debate político nos partidos que estão no governo e que o PS não foge, portanto, à regra (Público, 12/02/08, p. 9). Ora é precisamente contra este raciocínio que os apoiantes e militantes do PS (os mais inconformados) se insurgem. Perde-se, pois, uma oportunidade de fazer diferente e com isso contribuir para uma maior credibilização de todo o sistema partidário e político.

segunda-feira, fevereiro 11, 2008

"era só o que faltava", diz Santana

Santana Lopes bem se esforça por passar a mensagem: as visitas que organiza como líder parlamentar do PSD por esse país fora estão combinadas com o presidente do partido, Luís Filipe Menezes. Reforçando a convicção que empresta à sua própria convicção, atalha: "era só o que faltava". Mas por que é que Menezes não seguiu os conselhos de Ângelo Correia a respeito da situação (previsível) do comportamente irrequieto de Santana na liderança parlamentar do PSD? Deste modo, Luís Filipe Menezes tem uma tarefa muito grande, maior do que as suas capacidades: de um lado, Sócrates; do outro, Santana. Era só o que faltava!

professores fumadores

Hoje vi professores fumar o seu cigarrito do lado exterior do portão de entrada do recinto escolar (alguns portões distam a uns bons 500 metros da entrada da escola). Eu não fumo, mas fiquei um pouco incomodado com o espectáculo. Não bastaria a proibição de fumar fora de recintos cobertos (sala de aulas, sala de professores, átrio, cantina, ginásio, etc.)? Não houve ninguém da classe que se insurgisse contra esta (mais uma) discriminação profissional? Por acaso os deputados (é só um exemplo) vão para as escadarias da Assembleia da República esfumarar os seus cigarros?

domingo, fevereiro 10, 2008

expo 2008 em saragoça

Um atavismo recorrente de Portugal: qualquer evento com impacto internacional (e até nacional) é disputado invariavelmente por Lisboa e, por vezes, lá aparece o Porto. Contrariamente, nos outros países europeus (Alemanha, Holanda, Grécia, França, Inglaterra...), mesmo os de dimensão semelhante ao nosso, esta postura decadente não se passa (basta lembrar os nomes dos tratados europeus que já foram assinados nesses países). O exemplo vem agora de Espanha, em que a Expo 2008 vai ser em Saragoça, a quinta maior cidade espanhola.
Depois andamos por aqui a queixarmo-nos das nossas desigualdades sociais e geográficas...

2018 e o campeonato do mundo de futebol

Um sr. chamado Gilberto Madaíl e que é presidente da Federação Portuguesa de Futebol anda por aí, há já algum tempo, a gravitar em torno de uma ideia, daquelas em que não custa nada verbalizar, mas que afecta a cabecinha de muita gente com responsabilidades. Diz ele (parece que já propôs ao seu homólogo espanhol!) que vai lutar pela organização conjunta (com Espanha) do Campenato do Mundo de Futebol de 2018. Ficámos também hoje a saber que para Cavaco Silva esta questão não se coloca, pois o país tem "outras prioridades" e que, já no seu tempo de primeiro-ministro, esta questão (da organização de um campeonato do mundo de futebol, se lhe tinha colocado sem sucesso. Ficou o aviso.

descentralização, autonomia educativa e... António Barreto

António Barreto (Público, 10/02/08) giza uma sociedade perfeita no que concerne às coisas da educação. Advoga uma descentralização completa no sentido de conferir uma maior capacidade de decisão ao poder autárquico e às escolas. Em defesa da sua tese, desafia-nos: "Já se pensou no que poderia ser um ministério da educação sem nomeação de professores, sem definição de horários, sem autoridade sobre os técnicos de apoio, sem concursos de aquisição de bens, sem capacidade para aprovar, dia sim dia sim, regulamentos pedagógicos e normas de execução?"
Caro António Barreto, em que país é que vive?!... Sabe que em concelhos que fogem duma determinada área urbana (pequenos concelhos do interior), o sonho de qualquer presidente executivo duma escola é um dia chegar a presidente da autarquia! Por isso, as guerras entre os respectivos órgãos executivos são, muitas vezes, degradantes. Um exemplo concreto: existem câmaras municipais e escolas do mesmo concelho que se digladiam para conseguirem o Centro Novas Oportunidades (CNO), prometendo uns o 9º ano em 3 meses, outro, tendencialmente mais pedagógicos, em ano e meio e há por aí quem tire o 9º ano em... 2 dias (promessas, pelo menos, existem). Agora imagine o que seria essa utópica descentralização educativa. Com o nível que temos de responsabilidade civil, não me parece exequível esse seu projecto.

(publicado no jornal Público no dia 12/02/08)

sábado, fevereiro 09, 2008

A avaliação dos professores

Não consigo entender muito bem esta convergência a respeito da avaliação dos professores. O ministério, como se sabe, encetou já um plano de avaliação que não é mais do que gizar irresponsavelmente uma pseudo reforma no âmbito da selecção do pessoal docente, ao abrigo de uma suposta nobreza de intenção que se resume no glorificado futuro da nação (“queremos portugueses mais competentes”, bradam de vez em quando a ministra e José Sócrates). Por outro lado, os sindicatos, com medo de perder a face, dizem que sim, sim senhor, somos a favor de uma avaliação, mas não somos a favor desta avaliação.
Ora bem, o que ninguém diz com clareza é que uma avaliação do pessoal docente – seja em que arquétipo for – é irresponsável, contraproducente e eventualmente originadora de tremendas injustiças (como qualquer avaliação, argumentarão alguns, embora se esqueçam que os graus de injustiça são naturalmente variáveis quer estejamos a lidar com critérios objectivamente mensuráveis ou não). É que existem profissões com as quais não se adequa um registo de avaliação meramente quantitativo. E a de professor é, seguramente, uma delas.

as desculpas de menezes


Torna-se anedótico, patético, confrangedor, ler e ouvir as desculpas de Menezes para as promessas não cumpridas que tem vindo a fazer neste seu breve consolado à frente do PSD. Dizia ele lá para novembro: a partir de janeiro o governo vai andar com as orelhas quentes da perseguição que o PSD lhe vai encetar através do seu governo-sombra, isto é, dos chamados especialistas para as áreas-chave de qualquer governação.
Entra janeiro e entra fevereiro e o único porta-voz que se ouve é aquele que foi desde o início escolhido para essa representação.
Mas também se ouve Santana Lopes. Mas este porta-voz permanente do PPD-PSD, ora mais ou menos apagado (e agora está em alta) corre noutra pista e até noutra corrida. E aqui entram mais desculpas do líder na tentativa de iludir o que parece iniludível: Santana, como presidente do grupo parlamentar do PSD, torna-se uma constante assombração para o líder do partido. Só Menezes, na sua inocência (e é de inocência que se trata), não viu isso. Bastava um pouco mais de tacto cultural para vislumbrar estes episódios que sistematicamente enchem as páginas dos jornais. Bastava, dizia, lembrar que Santana foi primeiro-ministro (apesar de ter sido um primeiro-ministro não eleito) e um primeiro ministro como Santana quando regressa é para causar estragos, seja em Cavaco, em Sampaio (o homem não consegue esquecer Sampaio), em Portas, no PSD (no outro PSD) e, se tiver que ser, até em José Sócrates (aqui só mesmo se tiver que ser). Tudo para que fique claro que a sua demissão foi um erro gravíssimo para o regime democrático e ele foi (mais uma vez) um injustiçado (apesar, é claro, de continuar um menino-guerreiro). Agora é vê-los em agendas paralelas, com as presidências abertas de Santana (esta denominação só poderia vir desta cabecinha e por aqui também se percebe que Santana não precisa de agências de comunicação) e a volta pelo país de Menezes.
Mas o que me preocupa não são estes dois interlocutores políticos. O que realmente interessa tem a a ver com a falta de resposta que o maior partido da oposição revela com todas estas (desculpe o plágio, dr. Menezes) novelas venezuelanas.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

prova de acesso carreira docente

Sem querer (ainda) esboçar juízos de valor definitivos sobre a prova de acesso à carreira docente, copio (sem autorização da autora) alguns pontos (pertinentes) que Susana Castilho levanta a esse respeito no Público (7/02/08): «O Decreto Regulamentar n.º 3/2008 estipula que, doravante, para se exercer actividade docente num estabelecimento de ensino público pré­‑escolar, básico ou secundário não chega o grau académico de mestre. É preciso passar numa prova de avaliação de conhecimentos concebida e organizada pelo Ministério da Educação. Procedendo assim, o Ministério da Educação vem dizer, entre outras, duas coisas: que não confia nas instituições de ensino superior que formam professores e que nós, portugueses, não devemos confiar no Estado». Termina, depois, deste modo: «Não cabendo nesta crónica uma análise detalhada do articulado do diploma, não quero concluir sem dois comentários circunstanciais, a saber: 1. Será melhor professor um candidato com 14, 14, 14, nas três componentes da prova, que outro com 20, 20, 13? Pois o primeiro passa e o segundo é excluído. 2. A leitura conjugada dos artigos 12.º e 14.º permite antecipar que entre a prestação da prova e a divulgação ‘dos programas e bibliografia de leitura recomendada’ mediarão 20 dias. Vinte dias para tratar uma bibliografia? Será isto credível? Será isto sério?».
Pois é: sério, realmente, não parece. Excluo neste ponto de vista o argumento que, agindo o Ministério da Educação deste modo, nos remete para uma posição de desacreditação do próprio Estado (não vislumbro, embora perceba o viés argumentativo, a lógica deste raciocínio). É talvez mais uma prova de que as reformas do sistema educativo (reformas e contra-reformas, convém que se sublinhe) são feitas basicamente tendo em conta uma verdadeira obsessão legislativa em que os verdadeiros pressupostos educativos são sistematicamente postos de parte. Voltarei a este assunto.

maria jose morgado responsabiliza equipa de investigação

Parece que as declarações de Alípio Ribeiro estão a fazer escola. Agora foi a vez da responsável pela Equipa de Coordenação do Processo Apito Dourado (ECPAD), liderada por Maria José Morgado, responsabilizar o Departamento de Investigação e Acção Penal do Porto pelo insucesso do inquérito às agressões a Ricardo Bexiga, ex-vereador da Câmara de Gondomar, ocorridas num parque de estacionamento da zona da Ribeira. Por este andar, não há departamento de investigação que resista. Alberto Costa terá, novamente, que intervir. Que chatice!...

quinta-feira, fevereiro 07, 2008

alberto costa ou as (des)virtudes do laconismo

À pergunta do jornalista sobre se Alberto Costa, ministro da justiça, manteria a confiança no director da Polícia Judiciária Alípio Ribeiro depois das suas declarações (estranhas) nas quais revelou (um estado de alma? Uma opinião fundamentada?) que houve uma precipitação "por parte da PJ ao atribuir o estatuto de arguido ao casal Mc-Cann" (TSF), respondeu o ministro do seguinte modo: "o facto de o director nacional da PJ continuar em funções significa tudo o que penso sobre essa matéria." O jornalista, ou não entendendo ou não ouvindo à primeira, repetiu a pergunta. Conseguintemente, a resposta foi a mesma.
Ora este tipo de evasões discursivas revela bem o que esta gente pensa da maneira de estar na vida pública e nos altos cargos que ocupam. O sr. Alberto Costa tem de entender que estas respostas não dizem objectivamente nada. A questão levantada pelo jornalista merecia uma resposta clara, sem subterfúgios semânticos, dentro de uma lógica discursiva adequada ao acto locutório criado. Agora esta coisa de repetir que "o facto de o director nacional da PJ continuar em funções significa tudo o que penso sobre essa matéria" é igual a zero. E os zeros não encaixam lá muito bem com cargos deste tipo, embora às vezes haja erros de "casting" político. Alberto Costa é um deles.

(publicado no jornal Expresso na edição de 16/02/08)

terça-feira, fevereiro 05, 2008

as críticas de júdice

O que Miguel Júdice diz de Marinho Pinto soa mal. Bastava somente o facto de ter sido bastonário da Ordem dos Advogados para se coibir de esboçar comentários de índole pessoal ao seu sucessor no cargo.
Entretanto, ouvi a sua justificação no caso do restaurante "Eleven", uma luxuosíssima casa de pasto para quem tem dinheiro e que Júdice é sócio com mais dez parceiros. Para que conste, o restaurante paga de renda cerca de 500 euros mensais. Segundo o jornalista, há garrafas de vinho que fazem parte do menu do "eleven" que custam mais do que isso. Aos poucos se vai descobrindo a careca de uns e de outros. Marinho Pinto tem contribuído para isso.

explosão social em moçambique

Quando Garcia Leandro usou esta expressão (v. post 3 de fevereiro "Portugal em risco de explosão social") um tanto áspera no seu sentido sociológico, não sabia que, poucos dias depois, se daria uma (pequena) explosão social em Moçambique. Tudo por causa dos preços dos transportes que subiram vertiginosamente (um acréscimo de 12 euros e cinquenta cêntimos por mês para quem faz uma viagem de ida e volta por dia da periferia à capital e onde o ordenado mínimo é de 50 euros).
De qualquer modo, servem estes acontecimentos como material de estudo para os nossos investigadores sociais e também (sobretudo) para os políticos que nos governam. Os de cá e os de lá (de Bruxelas, entenda-se).

telmo correia assina 300 despachos na sua última madrugada

Uma pergunta impõe-se: o que faz um ministro do Turismo assinar, nas últimas horas ministeriáveis, cerca de 300 despachos, entre os quais um que regulamenta que o Casino de Lisboa passe para as mãos da Estoril Sol no fim da concessão do jogo, contrariando uma primeira versão que anunciava o contrário, isto é, o retorno do edifício do Casino para as mãos do Estado? Esta discussão levanta novamente a dicotomia entre a lei e a ética: o que legal não é muitas vezes ético e o que é ético pode não ser muitas vezes legal. Por isso, já que estes senhores (ou por desprezo da coisa pública, ou mesmo por inocência) não se revelam capazes de superar uma eventual alarvice signatária de última hora, deve ser regulamentado o que um ministro deve ou não fazer nas últimas horas do seu mandato. Sei que por uns pagam os outros (sempre assim foi), mas começamos todos a estar fartos destes truquezinhos de palmatória, em que tudo se resume a uma boa retórica.

os 800 mil euros de ronaldo

Quando um jogador de futebol aufere 800 mil euros por mês (mais uma panóplia de recursos: publicidade, representações, etc.), podemos desafectadamente afirmar que se torna necessário uma regulação nos ganhos que giram em volta deste desporto. É que não se percebe muito bem que a União Europeia, preocupada com o tamanho dos carapaus, não se indigne com os milhares de euros que gravitam em volta do futebol, ao nível dos ordenados, transferências, empresários, etc. Chamar a esta minha indignação demagogia é pouco e curto. A isto se chama capitalismo selavagem.

domingo, fevereiro 03, 2008

desfiles de carnaval em portugal

Uma coisa que sempre me meteu confusão: os desfiles de carnaval, à brasileira, em Fevereiro, no nosso país. Aquelas rapariguinhas de tanga e mal vestidas, a dançarem para aquecerem do frio invernoso do início deste mês é qualquer coisa que faz parte, no meu modesto entendimento, do anedotário nacional.

os regicidas vistos por um republicano

Não se entende muito bem o raciocínio de João Soares quando advoga um voto de louvor da República ao rei D. Carlos e aos seus assassinos Alfredo Costa e Manuel Buíça. É que as duas partes são completamente adversas. Convém lembrar que os dois regicídas foram o que se chamaria hoje de terroristas suicídas e, independentemente duma verdadeira assunção da causa republicana, jamais a monarquia deveria ter sido derrubada através do assassinato do monarca. Na verdade, também o não foi, visto que o regime ainda se aguentou um pouco mais de dois anos. E convém também não esquecer que a instauração da República em 1910 não alterou uma sociedade que se encontrava moribunda. Pelo contrário, o que veio a seguir foi, em muitos aspectos, pior do que era antigamente. Neste sentido, poderemos sempre idear que sem o regicídio, a monarquia cairia na mesma e não teríamos jamais a implementação, dezasseis anos depois, daquilo que viria a ser o verdadeiro descalabro nacional: o estado corporativista de Salazar.

portugal em risco de explosão social

É o título de uma notícia do jornal Expresso e diz respeito ao descontentamento dos portugueses sobre a prática de regalias notoriamente excessivas que se tem vindo a desenvolver na nossa sociedade, nomeadamente em muitas empresas públicas e privadas. Assim, segundo o jornal, citando o director do Observatório de Segurança, Garcia Leandro, "vão ocorrer movimentos de cidadãos que já não podem aguentar mais o que se passa." Tudo porque, quando se olha em volta a paisagem não é serena: de um lado, observamos uma promiscuidade tradicional entre o público e privado, chorudas indemnizações de gestores, reformas acumuladas dos nossos políticos, lucros de milhões dos bancos; do outro, uma classe média cada vez mais apertada, pobreza encapotada e vergonhosa, hipotecas de casas... Em suma, uma distância cada vez maior entre os mais ricos e os mais pobres (tal como acontece, aliás, naqueles países que nos habituámos a ver como um exemplo de corrupção activa).
Neste contexto, retenho uma frase consensual do último programa A Quadratura do Círculo: em Portugal quem vive da política não consegue viver, mas sobreviver. Eu entendo o contexto com que esta afirmação foi proferida (entretinham-se os comentadores na abordagem às recentes declarações do Bastonário da Ordem dos Advogados). No entanto, exigia-se por parte dos três elementos que compõem o programa, um pouco mais de bom senso e de rigor: é que, por exemplo, o ordenado bruto de um deputado é de 3524,85 euros. Se juntarmos os subsídios, leva para casa todos os meses cerca de três mil euros. Nada mal, para quem anda por aqui a sobreviver.

sábado, fevereiro 02, 2008

ainda a extraordinária chamada do inem para os bombeiros de Favaios e Alijó

A Inspecção-Geral das Actividades da Saúde ordenou um inquérito à extraordinária conversa telefónica entre uma operadora do INEM e os bombeiros de Favaios e Alijó. Ao que parece, esta inspecção quer saber como foi tornada pública a chamada para os bombeiros. Depois, averiguará as condições de socorro do homem que morreu.

sexta-feira, fevereiro 01, 2008

os estorcegões das obras públicas no governo

Afinal, o que se passa com o governo no que às grandes obras públicas diz respeito? Será que temos um outro Mário Lino na justificação do injustificável, apesar do ministro do ambiente não ser responsável por traçados como o do TGV ou da nova ponte sobre o Tejo? Será por aqui que a oposição consegue fazer tremer o governo irremediavelmente? É que vendo e ouvindo Francisco Nunes Correia (sim, é este o ministro do ambiente) ficamos com a sensação que é muito parecido a Mário Lino no argumentário utilizado.

os projectos de engenharia de Sócrates

A notícia arrolada pelo jornal Público de que José Sócrates assinou, durante a década de oitenta, projectos de arquitectura (?) e engenharia que não eram seus e que foram depois aprovados pela Câmara da Guarda deve ser lida à luz daquilo que constitui uma prática comum da maior parte das câmaras municipais do país, isto é, das chamadas "assinaturas de favor". Esta prática consiste em engenheiros técnicos assinarem projectos dos quais nunca fizeram parte. Vale somente pela assinatura, recebendo dinheiro por isso. Ao que parece, as "assinaturas de favor" não constituem crime, apesar de serem consideradas uma espécie de fraude (à lei). Nada, portanto, que seja estranho à nossa prática de esbatimento das fronteiras entre o que é ético e o que é legal.

coisas

vamos pela estrada e sentimo-nos bem. lá fora, o vento sopra, a neve cai, voam duas aves perdidas. eu sei que tenho de chegar a algum lugar...


neste momento...